FREYA: A RECONSTRUÇÃO

Capítulo 25 – E As Loucuras Não Param

Freya: A Reconstrução

Texto: Carolina Bivard

Revisão: Naty Souza e Nefer

Ilustrações: Táttah Nascimento


 

Capítulo 25 – E As Loucuras Não Param

Um zunido incômodo no ouvido trouxe a Tenente-Brigadeiro à tona. Abriu os olhos devagar. Sentia enjoo e a luz vermelha do painel do caça a incomodava atrozmente. Parecia estar à deriva no espaço, mas quando focou melhor, viu que a nave estava estabilizada. Gemeu, ajeitando-se no banco e sacudiu a cabeça para tentar dispersar aquele barulho do ouvido. 

— A senhora está bem? 

— O que aconteceu, Divena?

— Tive que retirá-la para longe num salto ponto-a-ponto, pois seria destruída. 

— Como…? Eu não poderia saltar novamente em tão pouco tempo.

Sinto muito. Ou era isso ou a sua morte e estou programada para decisões extremas. Não se preocupe, foi calculado. Tive que reprogramar seu genoma para trazê-la de volta à vida. 

— O quê?! Nunca mais faça isso sem pedir permissão para mim, entendeu bem?

— Sim, senhora. Mas devo advertir que seria insensato. Sua morte seria iminente. 

Edith grunhiu, resmungando. Sentia um cansaço imenso e dores por todo o corpo. 

— O que aconteceu com a nave freyniana de guerra?

Antes de reanimá-la, atingi os motores, incapacitando a nave completamente. Reboquei-a para a superfície da lua e a coloquei no escudo de contenção que a senhora havia planejado. 

 — Hum! Gostei dessa parte que fez. O problema é que agora, tenho que esperar umas oito horas, vagando por esse espaço que não conheço, até poder retornar. 

— Poderei colocá-la em alguma área segura do planeta Terra, Senhora.

— Eles não largaram o planeta por terem saturado o ar e destruído os recursos naturais? Pelo que soube, o planeta todo é insalubre para um humanoide respirar. Eu teria que ficar de traje para andar nele.

— Isto seria verdade há algumas centenas de anos, senhora.

 — Está preparada, Brid? Vou abrir agora.

— Manda ver, Kara.

A comandante se posicionou ao lado esquerdo da porta com a sua pistola em punho, enquanto sua noiva desobstruia o compartimento da trava da porta para tentar abrí-la. 

— Por Eiliv! Essa trava é mais fácil de abrir que as das portas dos alojamentos da nossa nave.

— Não fala mal da nave. Decrux não é “facinha”, não.

Bridget gracejou, fazendo Kara morder os lábios prendendo o sorriso.

— Está pronta?

Bridget inspirou fundo e acenou com a cabeça. A porta se abriu e ela entrou preparada para atirar. Foi inútil. Um humanoide grande e de couraça a segurou pela garganta, suspendendo-a no ar. Kara assustada, logo atrás dela, reagiu, atirando em outras duas criaturas que vinham ao seu encontro. Eles também estavam transmutados em perissodeus. 

A ministra se jogou para a direita, rolando sobre seu corpo, para escapar das mãos dos rivais. A carga elétrica das pistolas não penetrava na couraça e eles sentiam somente um pequeno impacto. Também tinham armas nas mãos e começaram a disparar. Ela correu em ziguezague para se esconder atrás de um console ao fundo da sala. Imediatamente trocou a carga de sua pistola para o modo de phaser e disparou dois tiros na direção dos brutamontes. Tinha que ganhar tempo. Ouviu o gemido de Bridget sendo estrangulada pelo primeiro homem. 

— Merda! – Bridget exortou engasgada. – Por que vocês sempre transmutam para essa “coisa”?

Atirou na linha da cintura do homem, pois ainda tinha a pistola na mão, e ele somente se dobrou um pouco sobre o tronco, absorvendo o impacto. A comandante se debateu diante do aperto mais forte em seu pescoço. O agente sentiu uma dor aguda no abdômen e afrouxou a pegada, permitindo que Bridget se soltasse de suas garras. Olhou para baixo para ver que a comandante retirava a faca de campanha que havia cravado nele e estocava-o novamente. O sangue morno e pegajoso correu pelos dedos de Bridget e o agente andou para trás com as mãos sobre as perfurações. Ele perdia as forças e começava a retornar à sua forma natural. 

Ela pôde constatar o que já imaginava. Aquele era o agente Desmond. Não teve tempo para pensar muito sobre o que acontecia. Os dois outros agentes já se aproximavam para pegá-la. Bridget tentou retirar o fuzil das costas, mas eles estavam praticamente sobre ela. Um dos agentes caiu.

Tudo ocorreu muito rápido e a comandante somente reagiu. Pulou para o lado, rolando no chão, para escapar do tiro que o agente-perissodeu desferiu contra ela e, quando conseguiu alcançar a sua pistola, que havia caído no ataque de Desmond, viu o agente que a atacava tombar.

Kara estava com o seu fuzil em punho e do outro lado da sala, via o agente Barns de pé com uma pistola na mão. Ela relaxou. Barns havia matado o primeiro agente e Kara a livrara do segundo. Ela suspirou em alívio. 

— Fico feliz que esteja vivo, agente Barns. – Olhou para Kara. – E que você não tenha hesitado em matar o outro agente.

— Acha mesmo que deixaria de atirar naquele traidor cretino, Brid? Não compare essa situação com a que ocorreu, há três anos, com o general da República. Pode deixar que, dessa vez, não terei nenhuma dor na consciência. 

— Isso é ótimo, pois ainda temos trabalho a fazer. – Virou-se para Barns. – Você está bem? 

— Não estou no meu melhor, mas também não estou arrasado como eles pensavam. Fingi, na maior parte do tempo, a minha debilidade para que se esquecessem de mim. Saga me dava pouca água e comida e quase não me deixava dormir. Fiquei preso nessas algemas, aqui no canto, e dormia no chão. Passaram a me levar para fazer minhas necessidades, depois que eu não aguentei mais e fiz aqui mesmo. Como era o centro de controle deles, permitiram que eu tomasse banho e me deram essas roupas.

Ele mostrou as roupas em que estava vestido. Via-se o abatimento e a palidez de seu rosto, além da blusa e calça surradas e sujas. Quando Bridget retornou a sua atenção para Kara, ela já havia largado o fuzil sobre o console e tentava salvar as informações arquivadas nele. Tudo seria importante para que conseguissem descobrir, processar e condenar todos os envolvidos. 

Bridget colocou a mão no bolso e viu que, felizmente, ainda tinha os transmissores. Entregou um deles ao agente Barns.

— Pegue isto. É um decodificador de seu DNA e Decrux precisará para removê-lo daqui. 

O agente o pegou olhando para o objeto oval em sua mão. 

— Vocês desenvolveram a T.I.M.?

 — Acho que a ciência de Freya nunca avançou tanto em tão pouco tempo, agente. 

Kara respondeu, enquanto copiava os dados do terminal para o seu dispositivo de arquivos e ele se aproximou para se amparar no equipamento. Estava fraco.

— Quando chegar na nave, quero beber uns dez litros de água. – Comentou.

— Decrux. – Bridget acionou o seu comunicador. – Transporte Barns para a enfermaria. Ele precisa de atendimento médico.

— Transportando, comandante!

 Barns sumiu aos poucos.

A comandante sentiu uma dor aguda nas costas, gemeu e caiu de joelhos. A ministra tentou pegar o fuzil sobre o console, entretanto foi alertada pelo agressor.

— Parada aí, Kara! Nem tente transportá-las para a nave, porque a flecha que alvejei em sua queridinha está empapada de veneno e ela morrerá muito em breve, se eu não der o antídoto. 

Rurik tinha uma “besta” na mão, engatilhada na direção de Kara. Ela levantou as mãos, agoniada por ver que Bridget tinha desacordado. Via a flecha fincada na parte detrás do ombro dela e o sangue escorrendo. Se apavorou. 

— Calma, Rurik! Podemos fazer uma troca. Eu vou com você se deixá-la ir para a nave.

— Você não tem o que negociar, Kara. Vocês duas vem comigo. Ela não sobreviverá mais que duas horas, se eu não aplicar o soro para o veneno. 

Kara sentiu seu corpo formigar e, quando se deu conta, estava no hangar da nave.

— O que você fez, Decrux? Ele envenenou Brid! Vai matá-la!

— Você não está pensando direito, Kara. Se eu a deixasse lá, vocês duas morreriam. Agora temos uma chance de salvar Brid. Ele não deixará que ela morra, pois quer você.

— Você não sabe disso! Me devolva para lá.

Ela correu para pegar o plate de controle da T.I.M. das mãos da IA e Helga a interceptou, segurando-a pelos ombros. Helga e os demais viam que Kara estava histérica. As lágrimas escorriam pelo rosto e a face alva estava mais branca que o de costume. 

— Vem comigo, Kara. Decrux está monitorando Brid e podemos fazer o mesmo da ponte. Decrux está certa. Se vocês duas fossem com ele, não as resgataríamos com vida.

— E se ele a deixar morrer, o que vamos fazer?

Decrux se aproximou de Kara e mostrou o plate.

— Ela está viva, Kara, e sabe que eu amo Brid, tanto quanto você. Se Rodan foi um pai para mim por me criar, Brid foi praticamente minha mãe. No início de meu desenvolvimento, o único contato que eu tinha era com ela. Ela me ensinou como evoluir a minha humanidade. Eu não a deixaria se não tivesse calculado que a maior chance dela viver seria ficando com ele. Agora vamos para a ponte que temos que nos camuflar e seguir a nave dele.

— A nave dele?

— Detectei uma nave partindo do complexo. Certamente ele não acha mais seguro permanecer lá, tanto por nós, quanto pelos seus amigos traidores do governo.

— Ele não tem nenhuma ligação com essa ideologia dos freynianos alomares. Somente quer a mim. – Kara especulou, tentando se acalmar. – Então, vamos dar a ele o que quer.

— O que está pensando em fazer, Kara? 

— Estou pensando que quem quer Rurik nas mãos agora sou eu.

Kara assumiu uma expressão dura e sombria, passando por todos os amigos para sair do hangar e tomar o lugar de Bridget na ponte. 

 Rurik estava desconsolado e raivoso. Deixara Kara escapar mais uma vez, todavia tinha certeza de que ela entraria em contato para negociar uma troca. Tinha ganas de matar a comandante. Bridget representava, naquele momento, o desprezo da ministra por ele, entretanto ainda não podia acabar com a vida dela. 

Prendeu-a num pequeno alojamento, retirou a seta envenenada sem muito cuidado, fazendo-a gemer mesmo estando febril e delirante. Cauterizou a ferida, também sem qualquer zelo. A comandante sangrara muito até chegarem à nave. Certamente havia rompido alguma artéria e ele precisava estancar o sangue para mantê-la viva.  Por último, aplicou o antídoto. Ela demoraria um pouco para acordar, pois a substância que ele havia usado se espalhou rapidamente pelo corpo. 

Saiu do alojamento e foi para a cabine de comando. Tinha que sair o mais rápido possível dali e garantir a sua própria segurança. Não podia ficar no antigo esconderijo também, pois a tripulação da nave Decrux conhecia a localização dele.

— Tenho que, pelo menos, passar lá para pegar algumas armas e explosivos. 

Alçou voo.

Helga foi até a carceragem. Precisava ver se Saga havia mudado de ideia e aceitado a sua proposta. Quando entrou, escutou Knut berrar dentro da solitária que Decrux tinha feito para ele. Parecia um louco.

Caminhou tranquilamente até a cela de Saga e a viu deitada sobre a cama de olhos fechados. 

— Como conseguiram um medicamento que bloqueasse a transmutação por tanto tempo?

Saga perguntou sem abrir os olhos. Era como se percebesse a entrada da Olaf. 

— Temos bons cientistas na nave que, por sinal, não são alomares. 

Saga voltou seu rosto para a cortina magnética da cela, fitando Helga intensamente. 

— Quer saber a minha resposta a sua proposta? 

— Sim, e não.

Saga enrugou o cenho e Helga suspirou, sentando-se na cadeira que havia colocado ali, na visita anterior. Ela conhecia Saga o suficiente para saber que ela tentaria não demonstrar seus sentimentos ou interesse, entretanto, os novos tempos trouxeram esses medicamentos e não adiantava muito. A Olaf conseguia ler os sentimentos da prisioneira como se fossem os seus. 

Helga não fustigaria alguma revolta para que Saga se contrariasse e se fechasse para o acordo.

— Você sabe que conseguimos tudo que é necessário para pegar todos.

— Invadiram o complexo? Me diga que mataram Desmond. Ele era um arrogante e pé no saco. – Saga sorriu.

— É, ele morreu, mas não era exatamente isso que queríamos. Você viu o vídeo?

— Não era exatamente isso que queriam? – Saga se sentou na cama. – Por Eiliv! Isso que me irrita em vocês! Ele era um traiçoeiro, escroto e pouco se importava com a sua vida, estimada Olaf. Queria mais que você morresse para colocarem Kevin no poder com uma criança alomar primordial e manipulá-la.

— Não, Saga. Você é que não entende. Talvez você não seja a perversa que acredita ser nessa história toda, e sim, nós é que somos. Você mata alguém e tudo acaba ali. Já nós, colocamos esse indivíduo exposto para toda a sociedade, julgamos, destruímos a sua credibilidade, reputação e o destituímos de tudo que é prestigioso. O anulamos como cidadão perante a todos para depois matá-los, humilhados. Quem é mais cruel? Nós ou você?

— Bom ponto. Mas a verdade é que você sofre com isso, e eu não. Para mim, eles merecem.

— E você? Acha que não merece?

— Pelas vidas que tirei sim, mas não por meus ideais, Olaf. 

— Entendo e realmente vejo uma diferença entre você e eles, Saga. Somente não concordo com a forma com que pleiteou isso. Na antiga Freya, assim como agora, tínhamos uma forma de você reivindicar às suas aspirações sem as mortes e toda essa luta que empregou para isso.

— Sim. Apesar de termos um Olaf, as decisões são do plenário. Você é só uma administradora de decisões conjuntas e agora vejo isso. De qualquer forma, sabia que nunca conseguiria ganhar essa disputa, pois nunca teria a maioria, mesmo se eu conseguisse apoio e me candidatasse em eleições.

— Como sabe disso?

— A população hoje, em sua maioria, são freynianos típicos. Simples assim. Ninguém quer a volta dos clãs e eu queria.

— Mesmo assim, os congressistas Teldar, Vidar, Treinush e Beyor foram eleitos. Isso não é desculpa. Alguns de nossa sociedade concordam com você e esse é o ponto em que somos divergentes. Você poderia ter atuado de forma legal para conseguir o que quer, mas preferiu apelar para o terrorismo e o extremismo. Ou esse pensamento era, na verdade, o de seu pai? 

Helga olhou para a arma de família, alguns segundos antes de fitar a prisioneira novamente.

— Eu estou cansada, Olaf. Apesar de, pela primeira vez, estar gostando de uma conversa com você, não vou discutir questões familiares.

Helga sentiu um apreço sincero da parte da prisioneira e sentiu-se alegre internamente. Estava conseguindo quebrá-la. 

— É justo. Quem sabe tenhamos futuramente oportunidade de discutir mais coisas. 

— Pelo cosmo! Percebo em seus gestos um interesse genuíno pelas minhas opiniões, Olaf?

Saga gracejou, sem uma entonação de desprezo.

— Quando nos enfrentamos pela primeira vez, nós duas éramos muito jovens. Você também mudou e não pode contestar isso. Você não me respondeu se viu o vídeo?

— Porque foi uma pergunta retórica sua, e essa é mais uma coisa que me irrita em vocês. Odeio quando dão voltas numa conversa. Você sabe que vi. Como não veria? A cela inteira ficou tomada com uma projeção holográfica do vídeo.

— Assumo a culpa. Fui eu que quis colocar o vídeo desta maneira e você sabe o motivo.

— Salvaram tudo que tinha no console do complexo?

— Sim. Na verdade, agora mesmo Oton está lá para pegar todas as informações.

— Ué? A ministra Kara e a comandante não pegaram? 

— Isso é outra história. Rurik fugiu, extraímos a ministra… Agora Oton está lá, pegando tudo.

— Então, Rurik escapou, hum? – Saga sorriu. – Bom menino…

— Ele é um freyniano típico, mas você gosta verdadeiramente dele. 

A Olaf a confrontou. Havia dualidade nos sentimentos da rebelde e a prisioneira esmoreceu. Nutria um sentimento de decepção e conforto, ao mesmo tempo.

— Ele foi o único que esteve verdadeiramente ao meu lado, você sabe. Quando tudo deu errado em Freya, seus “amigos políticos” nos abandonaram à própria sorte. Ele sempre esteve lá, embora por motivos errados. Vingança nunca é um bom motor para nossas ações. Ele não se alinhava com meus ideais, mas gostava de mim. Me protegeu no Espaço Delimitado. 

— E você não foi movida por vingança? – Helga enrugou o cenho, incrédula. – E sua mãe? Não tem nada a ver com isso?

— Por que quer estragar nossa conversa, Olaf? Estávamos indo tão bem…

Helga espalmou as mãos em sinal de rendição.

— Está bem. Voltemos ao prático. O que diz de minha proposta?

— Você não precisa mais da minha contribuição. Assim que Oton retornar, já terá tudo para pegar todos. Poderá me expor, me julgar e humilhar publicamente e depois apreciar a minha morte.

— Pode não acreditar, mas não me interesso pela sua morte. 

— Prefere me prender até que eu morra naturalmente? – Saga gargalhou. – Você tem razão. É muito mais cruel que eu. 

— Eu que digo agora: você não entendeu nada do que sou. Não me interesso pelo seu sofrimento. Você é muito diferente deles, Saga. 

— Mais uma coisa que me irrita em você! – Saga bufou. – Eu matei muita gente. Não seja condescendente. 

— Eles mataram muito mais, quando tramaram no antigo planeta. Eles tinham poder, e você não. Perdemos bilhões de freynianos. Pense sobre a proposta, Saga. Não seja precipitada.

Helga se levantou para sair. 

— Eu aceito, só porque você está sendo direta e sincera… Bom, porque os quero mortos também. – Saga sorriu jocosa para logo depois tomar uma atitude mais firme. – Nunca foi a minha vontade que o nosso planeta fosse destruído. Sofri com isso e saiba que não estou mentindo. 

— E eu acredito, Saga. Eu acredito… 

— Julga que tenha sido mais um erro meu, não é, Olaf? Me aliar com eles, quando poderia ter essa conversa com você antes.

— Você continua sem me entender. Não penso no que poderia ter sido. Só estamos tendo esta conversa por tudo que passei e tudo que você passou também. Em outros tempos, ela nunca teria ocorrido. Ah, mais uma coisa: prepare-se porque tenho certeza de que a comandante não deixará barato 

 A IA Divena orientou a Tenente-Brigadeiro a pousar em um continente do hemisfério sul no planeta Terra, pois o clima era mais agradável naquela época. Ela pousara no nordeste do continente em uma praia, onde existia o entroncamento de um rio. Poderia se banhar e recuperar as energias, antes de fazer novamente o salto. 

Divena orientou Edith a levar sua arma, pois detectara algumas formas de vida animal. Umas pequenas e outras tão grandes quanto um “Jadar”, uma espécie de felino selvagem de Ugor que chegava a um metro de altura. Assim ela fez. 

Quando suas botas tocaram a areia da praia, elevou a sua visão para vislumbrar todo o horizonte à sua volta. O mar cristalino e calmo lambia a areia com as ondas tão suaves que convidava para o seu regaço. Seguindo o olhar mais adiante e para a direita, viu o rio que desembocava na praia. Atrás, uma vegetação rasteira que encorpava à medida que se afastava da praia, entremeava árvores de tronco longo e folhas grandes, onde frutos grandes, verdes e redondos prendiam-se na copa. 

Ela nunca havia visto um planeta com uma beleza natural maior que aquele. Estava impressionada. 

Caminhou até o rio, atenta aos possíveis animais que poderiam abordá-la por estar invadindo seu santuário. Sondava através de sua pulseira interativa, para não ser pega desprevenida. Chegou ao rio de águas transparentes e verificou pela sua pulseira-interativa a pureza da água e possíveis animais aquáticos perniciosos. Queria usufruir de um banho merecido em segurança. 

A água era tão limpa que poderia bebê-la se o quisesse, e não havia perigo quanto aos animais. Retirou seu macacão de voo, permanecendo com as roupas íntimas e se jogou na água.

— Pelo cosmo! Isso aqui é um paraíso! O planeta se refez em poucos séculos. Como puderam estragá-lo a ponto de terem que o abandonar?

Acomodara-se sentada no solo, pois o rio era raso e deixou que a corrente passasse por ela, apreciando o frescor. Sentia-se diferente. Talvez por saber que a vida se esvaíra de seu corpo horas antes e que fora reanimada por uma IA que tomara decisões por ela. Tentava relaxar a musculatura rígida com os olhos fechados, quando sua pulseira começou a apitar. 

Tornou a ficar alerta, observando o perímetro, e lentamente elevou o punho para ver o que seu rastreador indicava. Eram animais que pareciam estar sobre ela e devagar olhou para o alto, para verificar com o que lidaria a partir dali. Expirou o ar que havia prendido nos pulmões. 

Era uma família de pequenos primatas, alojados em galhos de uma árvore, que se projetavam sobre as margens do rio. Alguns dos pequenos animais pegavam as frutas e comiam com prazer. Ela teria que permanecer naquele lugar muitas horas até poder retornar. Resolveu que exploraria um pouco a região, descansaria e talvez comesse alguns desses frutos. Embora o sabor das rações de campanha não fosse ruim, não convidava a uma alimentação prazerosa. 

 Kevin procurou Murchada no gabinete da Frota de Freya. Estava agitado. Não olhou para o oficial que fazia a recepção, entrando diretamente na sala. O suboficial se levantou de seu posto, seguindo os passos do ministro. Assim que Kevin entrou no gabinete, o suboficial começou a se desculpar com o Comandante.

— Desculpe-me, senhor, mas…

— Saia daqui, seu idiota!

Murchada dispensou o suboficial, irritado. Odiava ter que lidar com freynianos típicos, entretanto, não colocaria um alomar numa posição tão desprezível quanto a de um secretário qualquer.

Kevin deixou que o homem saísse para começar a falar de suas preocupações. 

— Não deveria tratá-los dessa forma, pelo menos, por enquanto.

— Durante muito tempo tive que tratá-los como se fossem iguais. Tive que engolir meu asco, então não me venha com essa conversa mole. O que está acontecendo, Kevin? Knut fazia nossa interlocução e agora tem uma miserável típica no lugar dele. Já não bastou o tempo que estava sob as ordens dela?

— Pois é exatamente disso que venho tratar. Não poderia usar nossas comunicações. Há algo acontecendo, Murchada, que saiu de nosso controle.

— Você tem influência no plenário, Kevin. Não pode mudar isso? Javer é medíocre e ninguém nunca o escutou. Por que agora?

— Porque o pressionaram para resultados. Confiar naquela renegada foi um erro.  Ela falhou na antiga Freya e falhou agora. Devíamos tê-la descartado antes. Mandei Desmond dar um jeito nela. 

— E como faremos com a Ministra Lucrétia?

— Não precisamos mais dessa maluca, Murchada. Ela já fez o que queríamos. Deixe a frota dos nossos de sobreaviso. Como disse antes, não estou gostando do que está acontecendo. O plenário aprovou um novo período da Lei de Proteção. Vander não poderá assumir, em definitivo, o Ministério da Defesa. Ele ainda está como interino. 

— Ele já sabe disso?

— Sim, sabe. Conversei com ele mais cedo e ele concorda comigo em deixar a nossa gente de sobreaviso. Por isso vim aqui falar pessoalmente com você. 

— Por que quiseram renovar o período?

— Isso é o que não consegui definir com nossos aliados. Eles também não sabem. O congressista Venir apresentou o pedido e foi votado emergencialmente, pois, amanhã cairia o decreto. 

— Não tem notícias de Knut?

— Não. Isso é o que está me intrigando, Murchada. Há algo acontecendo e não sabemos o que é. Nenhum de nossos agentes conseguiu descobrir até agora, e Desmond está isolado no esconderijo de Saga. Assim que ele conseguir eliminá-la, entrará em contato. 

Murchada abanou a cabeça em negativa. Previa algo ruim em curso. Levantou-se passando a mão pela barba bem aparada. 

— Acione todos os nossos aliados, Kevin.

— Não acho necessário.

— Não passaremos, outra vez, pelo que passamos no antigo planeta por nossa cautela extremada! É hora de agir. Sabe que tenho razão!


Nota: Espero que estejam tod@s bem. O próximo capítulo tentarei não atrasar e colocá-lo na quinta-feira.

Um beijão e cuidem-se!



Notas:



O que achou deste história?

8 Respostas para Capítulo 25 – E As Loucuras Não Param

  1. A descrição do planeta recuperado, fez-me lembrar da música Aos nossos filhos, do Ivan Lins.
    Ansiosa para ver o resgate de Bridget e tudo no ventilador pra derrubar estes racistas facistas radicais rsrs.
    Bjs

    • Oi Ione!

      “Quando brotarem as flores
      Quando crescerem as matas
      Quando colherem os frutos
      Digam o gosto pra mim
      Digam o gosto pra mim”

      Pois é. Espero que não cheguemos a esses termos. A frase “Salvem o Planeta” parece ter encontrado um lugar comum.

      A bagaça e a guerra já está na porta de Freya. Hoje tem brigaaa! rsrsr

      Valeu, Ione! Brigadão pelo carinho de sempre!

      Um beijão e Boa Páscoa!

  2. Carol,

    quero mto ver Kara pegar o Rurik, como uma x pedi… implorei e fui atendida por uma autora amiga q estava escrevendo uma trilogia: QUERO Q ELE SOFRA MTO… nada de morte rápida.
    Qto a parte do cap. onde estão relacionados Murchada, Kevin e outros o tico e teco não elaborou a ideia, fiquei flutuando na imensidão da ignorância.
    Espero q os cap. vindouros tragam luz ao meu entendimento.

    Mto bom…
    Bjs,

    • Oi, Nádia!
      Pode deixar que ele vai ter o que merece e é hoje!!!
      Não, não foi ignorância sua, não. Na verdade, reli o capítulo e essa parte ficou um pouco confusa. Assim que reformular eu reposto e aviso, ok?

      Valeu, Nádia!
      Um beijão pra você e Boa Páscoa!

  3. Nossa!!!! Agora o negócio ficou sério. Vejo uma grande guerra a caminho. Brid vai conseguir inutilizar esse Rurik, tô apostando nisso.
    Parabéns por mais um belo capítulo
    Boa semana

    • Oi, Blackrose!
      Está vendo certo! rsrs Vai ter guerraaaa! rs
      Obrigadão, Blackrose e espero que esse capítulo de hoje fique a altura da expectativa. rs
      Um beijão e Boa Páscoa!

  4. Ooee, muito bom!!
    Me fez sofrer com a comandante…mas Kara pode ser pior que Brid agora lkkk. Tá enfurecida..
    N entendi qndo Kevin falou q n precisava mais de Lucrécia…ele conseguiu pegar o q QR dela?!
    Vamos ver como resgataram Brid..
    E os aliados esses…vais de uma guerra!!! As mulheres deveriam ter se preparado c armas c matassem alomarea qndo transmutavam, mas n seria engraçado..adagas sempre resolve…rs
    Fique de boa com o tempo que posta…
    Fique bem, Carol!Sua esposa e família TB. Cuidem-se!
    Abraços celestiais!!

    • Oi, Lailicha!
      Kara está desesperada e furiosa! rsrsr Ainda bem que ela tem o pessoal para ajudar. rsrs
      Cara, vou reformular essa parte e repostarei. Ficou um pouco confuso. Na verdade ele se referia a Saga.
      Cara, você ama porradaria. kkkkkk Vai ter hoje! he he he
      Valeu, Lailicha!
      Boa páscoa pra você e Mocita e fique na paz!

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