Um mês havia se passado desde a entrevista reveladora de Alexia. Ela ganhou destaque nos principais jornais, telejornais, programas de TV e rádio.
Ela não escapou de ser investigada pela morte do pai, depois de tais declarações, mas seu álibi era totalmente compatível e por falta de provas, retiraram as suspeitas. Misteriosamente o caso fora arquivado de forma rápida, sendo declarado que Eduardo se suicidou com sua própria arma. Aos poucos, a mídia foi substituindo o papo da morte do milionário, por outros assuntos do cotidiano. Mas o mistério do grande amor secreto de Alexia sempre rondava os programas de fofoca.
Hugo e Isabela ganharam o cargo fixo de Jornalistas – Repórteres Investigativos e Juliana ficou com a tão sonhada vaga em esportes. E ainda ficou responsável pela cobertura dos jogos, no camarote dos estádios, de seu time de coração na TV ESFERA.
Não tinha um dia sequer que Alexia não esperasse ansiosamente Juliana vir vê-la, e não tinha um dia que Juliana não pensasse em ir esclarecer tudo com a morena, o que lhe faltava era coragem. Até que o destino voltou a agir, colocando uma em frente a outra novamente, na verdade, o destino teve uma força dos Deuses do Futebol, e da perspicácia de Alexia.
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Domingo, 15:30, Estádio Olímpico João Havelange, Final do Campeonato Brasileiro: Botafogo x Flamengo
Juliana estava ansiosa, afinal seu time estava na final com o seu maior rival, e ela deveria demonstrar toda imparcialidade possível. Já estava arrumando os equipamentos no Camarote, de onde faria alguns comentários e entrevistaria os convidados.
Sorria docilmente para todos os que chegavam. Alguns artistas famosos,e outras personalidades da mídia.
A bola rolou as 16:00 pontualmente e Juliana fez um discreto sinal da cruz. Depois de 15 minutos de jogo, Juliana foi chamada a fazer uma entrada ao vivo:
– Olá amigos da TV ESFERA, estou aqui com o ator Pélio de La Heña, grande Botafoguense que não para de roer as unhas…
– É muito nervosismo, mas tenho certeza que sairemos vitoriosos hoje daqui!!
– É o otimismo imperando nos Botafoguenses, aqui no camarote, Sérgio! – falava diretamente com o narrador do jogo
– E o que você tá achando do jogo Teles? – Perguntou o narrador
– O jogo tá truncado, sem oportunidade pros dois lados e muitas faltas desnecessárias dos dois lados. Mas o jogo tá só no início e as equipes estão se estudando…
– Falou e disse Teles. Nossa musa que entende tuuuudo de futebol! Voltando ao jogo… – Sérgio continuava a narrar quando um lado do estádio explodiu em êxtase: Gol do Flamengo. Juliana tentava disfarçar sua decepção e revolta quando escuta uma voz:
– Parece que sou pé-quente!
Juliana se virou e não acreditou no que seus olhos viram: Era Alexia, com uma calça azul escura e a blusa rubro-negra do Flamengo. Nunca ela pensou que acharia a camisa do Flamengo tão bonita em alguém, mas logo voltou para a realidade, e sem muito o que fazer acabou falando:
– Comprou o jogo também? – disse num tom arrogante
Juliana se arrependeu do que falara no instante que terminou a frase, e o sorriso no rosto de Alexia sumiu, dando lugar a um olhar triste e decepcionante. Juliana se virou para o campo novamente, onde o jogo já havia recomeçado.
Juliana fora chamada mais uma vez no intervalo do Jogo, aonde foi obrigada a entrevistar uns artistas Flamenguistas que estava cantando vitória sobre o Botafogo, Juliana sentia seu rosto ficar vermelho, mas disfarçou falando que estava muito calor no ambiente.
O segundo tempo do jogo recomeçou e outro gol do Flamengo logo no início. Juliana parecia desolada, e olhou para trás, e viu uma Alexia esfuziante comemorando o gol:
“Isso porque ela disse que não gostava de Futebol”
Ao ver o olhar de Juliana direcionado a ela, ela na mesma hora murchou e voltou a sentar. Lembrou-se de como Juliana era fanática pelo Botafogo, e aquilo não a ajudaria.
Não demorou muito para o Botafogo fazer seu primeiro gol da partida e diminuir o placar. Juliana foi imediatamente chamada pelo Narrador do jogo:
– Olha Sérgio, aqui o clima está mais quente do que panela de feijão no domingo! A rivalidade se acendeu com esse gol do
Botafogo, um lindo gol por sinal, e renova-se as esperanças alvinegras…
No momento em que Juliana falava,a transmissão voltou rapidamente para o jogo, num contra-ataque perigoso e não deu em outra: gol do Botafogo! Juliana não se conteve em abrir um grande sorriso e comemorar discretamente com um sinal da cruz.
Juliana recebeu instruções no rádio para entrevistar um Flameguista, e não deve dúvida em ir falar com Alexia, justamente pelo comentário sobre ser “pé-quente”, assim que chegara:
– E então Alexia, o que está achando do Jogo?
– Agora complicou né? Mas eu adoro coisas complicadas!
– Porque?
– Dá um maior gostinho de vitória quando conseguimos ganhar no final!
Juliana respira fundo e os olhos se cruzam mais uma vez, profundamente, como nas primeiras vezes que elas se viram, o câmera fica sem saber o que fazer com aquele momento e o narrador volta a transmissão pro jogo, e o diretor entra em contato com Juliana para saber o que tinha acontecido. Ela deu uma desculpa qualquer e voltou sua atenção para o jogo.
Já estavam nos acréscimos quando uma falta na intermediária é comedida pelo jogador do Flamengo. O melhor batedor de faltas do Botafogo havia saído, expulso. O estádio todo em silêncio. Expectativa levando os corações a mil. O camarote todo de pé, e Juliana já nem estava mais ligando para as câmeras em sua volta.
A bola foi batida de forma firme e forte, só que estourou na trave, e voltou na cabeça do artilheiro Botafoguense que só fez cabecear a bola para dentro, tirando-a completamente do goleiro rubro-negro. Fim de jogo. Botafogo Campeão de forma cinematográfica, em cima do maior rival. Festa no camarote.
Juliana se vira para sacanear Alexia e encontra a morena olhando pra ela de forma terna, como se tivesse feliz pela felicidade dela. Juliana perde as forças de provocar negativamente Alexia, e depois de encerrar sua transmissão, corre para o Banheiro, para festejar o título sem que ninguém a veja. Mal sabia que alguém estava seguindo-a.
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– Ai!! Não acredito!! Chuuupa Flamengo!! “Botafogooo Botafogooo Campeão… desde 1907!!!!”
Juliana comemorava efusivamente, pulando e cantando o hino do clube, quando Alexia entra no banheiro:
– Cuidado pra não ser vista! Pode custar se emprego!
Juliana na mesma hora congela, fica completamente sem reação.
– Permita-me apresentar: Alexia Cavalcanti!
– Cavalcanti?
– Resolvi parar de me apresentar com o sobrenome tão conhecido devido ao meu… ao Eduardo. Agora só me apresento com o sobrenome de minha mãe.
– Tirou o Bettencourt?
– Não. Tirei o Mourão. Provei legalmente que ele não era meu pai. E o Bettencourt era da minha mãe, mas até isso aquele cafajeste roubou dela, quando casaram, ele que se registrou com o nome dela, não ao contrário. Logo, preferi me apresentar com o outro sobrenome da família.
– Entendi…bom, prazer conhecê-la
Juliana ia se retirando do banheiro, quando Alexia segurou seu braço.
– Juliana, vamos conversar por favor? Sei que prometi esperar, mas, eu não aguento mais. Preciso saber se ainda tenho alguma chance? Se ainda restou algo de nosso amor dentro de você!
– Alexia, hoje não. Por favor, meu time acabou de ser campeão Brasileiro. Deixa eu comemorar hoje, por favor. Depois falamos sobre isso!
– Depois?? Eu to esperando há mais de um mês!!!
– EU TE ESPEREI POR QUASE DOIS ANOS!!!
Um silêncio sepulcral se fez no banheiro, e o barulho da torcida, ainda fazendo festa, pode ser ouvido.
– Eu já expliquei o que aconteceu…
– Mas as coisas não funcionam assim… você não sabe o que eu passei. Como foi a minha vida…
– E a minha, você acha que foi ótima?? Você viu meu depoimento! Você soube de tudo…
– Preciso de tempo, Alexia, preciso de tempo!!
– Mas Juliana…
Juliana se desvencilhou da morena, e saiu do banheiro, caminhando rapidamente. Alexia a seguiu até o lado de fora do estádio, implorando para elas conversarem, quando uma briga entre duas torcidas organizadas, A Super-Fla e a Fogo- MAIS, começou.
Tiros foram ouvidos, só não foram mais altos que um forte grito de desespero ao ver um corpo caído no chão:
– JULIANA!! NÃO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!