Eternizado Pelas Estrelas

Capítulo 52 – A LIGAÇÃO

Eu nunca fui uma pessoa aproveitadora, e tão pouco fria. Tentar tirar proveito de Alexia para promoção pessoal e dos meus amigos, não era do meu caráter.  Mas até aonde é capaz de ir uma mulher com o coração ferido?

Eu estava longe quando vi Alexia saindo em seu carro, da porta da delegacia, para aonde todos os repórteres foram, após a saída da viatura da porta da mansão. Ela saiu cantando pneu, como se estivesse com pressa. Meu coração apertou. Mas não amoleci. Alguns jornalistas foram indo embora, mas eu sabia que o trabalho não chegara ao fim. Pedi para Hugo e Isa montarem guarda ali na porta e fui aos fundos da delegacia, constatar o que eu imaginara: o senhor de terno e grava azul estava saindo pela saída de incêndio e eu o abordei. De princípio ele ficou assustado, mas logo tratei de explicar que eu era uma velha amiga de Alexia, e que estava preocupada com ela.  Dei-lhe o meu cartão e pedi que o entregasse a ela.

Ele ficou meio desconfiado no início, mas quando leu meu nome, empalideceu. Disse que a última coisa que a menina dele precisava agora, era de mais problemas do seu passado. Indignei-me: ela tinha sido o problema da minha vida, e não ao contrário. Mas com a paciência que me era peculiar, o convenci a pelo menos ele levar o cartão.

Voltei para a porta da delegacia, e contei o ocorrido aos dois, que mais uma vez me parabenizaram pela perspicácia. Mal sabia que eu tremia por dentro, de raiva de tristeza.  Arrependi-me, mas era tarde demais!

——

– Menina!! Te procurei a madrugada inteira!! Onde você estava?

– Saí por aí pra pensar!

– Fiquei muito preocupado, logo que você saiu da delegacia eu vim para o Hotel te procurar e…

– Tá bom Oliveira! Olha só, eu quero que você convoque toda a mídia, e me entregue a carta de minha mãe. Quero lê-la em público, assim como ela desejou…

– Mas Alexia, não é melhor …

– Faça o que eu mandei. Convoque a imprensa.

– Seria algo muito escandaloso, pareceria que você teria algo com o assassinato de Eduardo e…

– E se eu tivesse? Qual o problema? Me sacaneou a vida toda… E agora sim finalmente entendi o porque do esforço dele em eu me formar. Por mais que tivesse horror dele, eu simplesmente tenho asco, nojo, desprezo! Que vá para o inferno junto com toda a arrogância e maldades dele.

– Alexia você não seria capaz…

– Eu não o matei, Oliveira. Mas gostaria de tê-lo feito!

– Ainda bem menina, mesmo por que já estão cogitando a hipótese de suicídio, afinal uma cópia desse testamento foi encontrado no mesmo cômodo da morte…

– Tenho coisas maiores para me preocupar agora. Primeiro lerei a carta em público, e depois, vou buscar a minha felicidade novamente. Eu a vi hoje Oliveira, eu a vi. Em meio aquele mar de repórteres, meus olhos reconheceram os dela!

– Sobre isso Alexia – Oliveira esticou o cartão – se for a moça que eu to pensando, ela me entregou esse cartão, e pediu para que você entrasse em contato.

– Como??? – olhou confusa – Mas…eu vou ligar pra ela já!

– Cuidado Alexia! Quando a esmola é muita o santo desconfia. Essa menina pode tá querendo tirar proveito de você. Ela é jornalista, e uma exclusiva dessas, lhe daria um salto na carreira.

– Se é isso que ela quer. É isso que ela vai ter. Eu lhe devo isso!

– Deixe de ser boba menina…

– Oliveira! Esqueça a coletiva. Ligue para ela, e mande vir aqui no final da tarde. Lhe darei a entrevista que quer, lerei a carta, e esclarecerei tudo.

– Como quiser, menina.

——

– Juliana!! Telefone para você!!

– Transfira pra minha mesa….- atende o telefone – Alô?

– Olá Juliana, sou Oliveira, o senhor que você abordou e deu o cartão para eu entregar a Alexia, tudo bem?

Juliana petrificou. Não sabia que aquilo realmente daria certo. Hugo e Isa perceberam a reação da menina e logo foram sentar ao seu lado, do outro lado da linha, ela colocou no viva-voz e ouviram o  homem insistir:

– Alô? Tem alguém aí?

– Oi! Sim, é com a Juliana Teles que o senhor está falando. Em que posso ajudá-lo?

– Alexia quer encontrar com você para uma entrevista, umas 18:00, aqui no Hotel Marriot, em Copacabana. Podemos contar com sua presença?

– Sim, claro! Estarei aí! – disse meio hesitante e roboticamente

– Ótimo, tenha um bom dia.

Desligou. Os três estavam em choque:

– Não acredito!!! Você conseguiu! E nem precisou de esforço, ela mesmo se ofereceu pra dar uma entrevista! – dizia um Hugo empolgado

– Eu não posso…- Juliana constatou

– É O QUE? – Hugo mudou a aparência – como não pode?? Estamos com a faca e o queijo na mão, Ju!

– Veja o que fica melhor pra você Juliana – Isa sempre compreensiva

– Calma Hugo! A entrevista irá acontecer, mas vocês que a farão. Darei um jeito de convencê-la.

– Você que sabe! – Hugo saiu de perto dela, indo para a sua mesa.

– Juliana, não se sinta pressionada a nada…

– Não é pressão, é o meu trabalho. Eu consegui a entrevista, mas preferiria que vocês a fizessem.

– Tudo bem Ju, não será nenhum sacrifício pra mim.

Juliana levantou-se e avisou a uma das secretárias da redação:

– Por favor, você pode retornar pro número que acabou de me ligar? E depois passar pra minha mesa?

– Sim claro!

– Obrigada.

————-

– Você está bem Alexia?

– Ler essas palavras, da minha mãe, escritas em próprio punho depois de tantos anos…não tem como não ficar muito emocionada.

– É a primeira vez que te vejo tão emocionada assim…

– Tem coisas que simplesmente valem a pena…apenas valem a pena…

Oliveira deu um abraço em Alexia, quando seu celular começa a tocar:

– Alô? Oi Juliana, tudo bem?

Alexia gelou ao ouvir o nome. Era ela aqui do outro lado da linha!! Tomou o celular da mão de Oliveira e atendeu:

– Alô Juliana??? É você??? – dizia num tom meio desesperado, meio esperançoso

Silêncio do outro lado da linha.

– Juliana…fala comigo!

-Oi…

– Tudo bem?

– Sim, e você?

– Tô ótima!

– Palavras estranhas pra quem acaba de perder um pai…

– Você sabe muito bem que…

– Não sei de nada Srtª Alexia, na verdade estou ligando pra avisar que surgiu um imprevisto e não eu poderei realizar a entrevista pessoalmente, mas estou enviando dois jornalistas que darão conta do recado.

– Juliana, eu só dou essa entrevista para você.

– Então, melhor deixarmos pra lá. Tenha um bom dia… Em questão de segundos, Alexia pensou e respondeu:

– Não! Tudo bem..pode mandá-los. Mas..poderei conversar com você algum dia?

– Não sei Srtª Alexia…não sei.

Juliana desligou o telefone e deixou uma Alexia sentimentalmente confusa. Inebriada por ouvir tão doce voz novamente, mas triste pela frieza e formalidade com que fora tratada.

– Você saberá de toda a verdade Juliana, eu quero você de volta pra mim!

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