– Mããããããe!!! Juju tá na TV! – Carlos sai gritando do escritório
– Como assim menino?? Que papo é esse? – Judith que estava na cozinha fazendo a comida foi pra sala
Carlos ligou a TV e lá estava Juliana, manipulando maravilhosamente o comandante da polícia.
– Essa menina ainda vai me matar do coração! Que doida!! – sentou no sofá com a mão no coração, mostrando surpresa
– Parece que um milionário aí foi encontrado morto. Tá o maior fuzuê!
Eles terminam de escutar a notícia e gelam ao ouvir o nome do pai de Alexia, um dos causadores de tanto sofrimento a filha:
– Foi esse infeliz que morreu!!??? Já foi tarde! – diz agora sentado ao lado da mãe e apontando com desdém pra televisão.
– Não fale assim, as palavras podem se voltar contra você. – Judith repreende o filho
– Ele humilhou minha irmã, não me arrependo em dizer que foi tarde!
– Será que Juliana sabe quem é o tal cara que morreu?
– Claro que sabe mãe!
– E o que ela tá fazendo lá? Ela tem que se afastar dessa gente e…
– É o trabalho dela mãe. Vai ver ela quer saborear a morte do desgraçado…
– CARLOS! Para de falar isso. Sabe que sua irmã não faz esse estilo. Me preocupo que ela encontre com aquela mulher de novo. Ela demorou tanto pra superar
– Tenho minhas dúvidas se superou – diz Mary saindo do banheiro
– Por que fala isso? Ela tá bem, trabalhando, tem um bom futuro… – pergunta Judith
– Juliana não é mais a mesma que conheci. Vocês conhecem Juliana a vida toda, mas eu a conheço como amiga, conversou comigo sobre coisas que ela não conversa com vocês. E sempre que toco no nome de Alexia, o olhar dela mostra que não está tudo completamente superado.
– Esse é um problema. Se ela encontrar com Alexia… – Carlos pensa alto
– Bom, ela tá fazendo o trabalho dela. Provável que esse encontro aconteça. E ela sabe disso. Se tá nessa, é porque é profissional o suficiente pra fazê-lo – conclui Mary
Carlos respira fundo, e decide mudar o foco do assunto:
– Minha irmã tá tão bonitona na TV. Que orgulho!
– Etaa irmão babão!! – ameaçou fazer cócegas em Carlos
– Não fique com ciúmes amor. Já já você também vai estar na TV.
– Que ciúmes o que? Lindo! To brincando – beija Carlos
– Bom, já que a reportagem acabou e vocês vão ficar de sarrinho aqui mesmo, vou para a cozinha terminar de cozinhar.
– Mãe!!! – Carlos diz, rindo da cara vermelha da namorada e da irreverência da mãe – você é uma figura!
Judith volta para cozinha e Carlos e Mary ficam num chamego só no sofá quando o rapaz diz:
– Amorzinho meu, preciso voltar pro escritório. Tenho que conseguir os fundos para a ONG. Se eu não telefonar, isso nunca vai sair do papel.
– Ah não! Você passa o dia todo lá poxa. Fica aqui comigo mais um pouquinho…
– Não posso. E a senhorita tem que trabalhar também né?
– Você tá me expulsando?
– Claro que não – beijou rapidamente Mary – eu adorei a surpresa, mas você tem que trabalhar! E eu tenho que terminar de conseguir algum dinheiro pra ONG. E ainda tenho que passar na faculdade mais tarde.
– Tudo bem! Mas depois da faculdade, vamos fazer alguma coisa?
– A gente vê, tá bom minha lindinha?
– Ai ai! Que noivo complicado o meu!
– Você que me quis! – deu língua! Estavam incontestavelmente apaixonados.
——-
Existem momentos que duram a eternidade de um segundo.
Depois de todo aquele tempo, lá estavam aqueles olhares, indo de encontro um ao outro: Um verde límpido mas opaco, revelando a quantidade de mágoa, tristeza carregados, encarando o azul imponente, altivo, mas com um toque de melancolia e ódio que os escurecia.
O mundo em volta das duas parecia estar passando em câmera lenta, até as duas serem chamadas de volta pra realidade. Alexia foi puxada por Oliveira, o velho senhor que a acompanhava no carro, amigo da família. Já Juliana acabou sendo derrubada pelo o turbilhão de repórteres que tentavam se aproximar da mulher.
– A senhora pode nos dar um esclarecimento sobre a morte de seu pai?
– Vocês tinham uma boa relação?
– Você é casada? Esse homem é seu marido?
Perguntavam os jornalistas ensandecidos com a presença da morena. Ela lançou um olhar gélido para eles e se desvencilhou, entrando na casa com Oliveira.
– Juliana!! Você tá bem?? – Perguntou Hugo preocupado ao ver a loirinha se levantando vagarosamente- Sim..eu to sim..eu acho…
– O que houve? Por que você não se mexeu? Parecia tá vendo assombração! – Isabela também a ajudava a levantar
– É..que..eu…não sei gente. Olha, eu preciso ir pra casa, vocês podem continuar sem mim?
– Ir embora?? Ju, essa é…
– Nossa oportunidade, eu sei. Mas eu achei que podia dar conta dessa situação mas não posso.
– Do que você tá falando Juliana? – Isabela pergunta, levando a amiga a se sentar na calçada do outro lado da rua.
Juliana decide contar para eles toda a situação, resumidamente é claro. Ao final de tudo, Hugo e Isabela estão completamente chocados. Não pela sexualidade da amiga, coisa que todos já sabiam, mas por toda história e situação em si.
– Juju, eu nem sei o que te dizer. Isso parece roteiro de filme!
– E dos bons… – completou Hugo
– Pois é. E agora eu não sei o que fazer. A melhor chance de alcançar a minha sonhada promoção está atrelada na pior situação que eu poderia me meter.
Os dois abraçaram a loirinha, e Isabela disse:
– Olha Juliana, nós vamos entender se por acaso você não quiser mais trabalhar nessa reportagem. Explicamos para o Silveira, ele gosta de você e sabe ser compreensivo.
– Eu também vou saber entender, mas eu acho que essa é a chance de você tirar algum proveito dessa situação toda. – constatou Hugo
– Tirar proveito? – perguntou Juliana, confusa
– Mas é claro! Olha, essa mulher tentou te ajudar de fato, mas de boa intenção o inferno tá cheio. Você foi humilhada pelo homem que foi morto nessa casa…o pai dela. E ela, deve se sentir em dívida com você. Dê um jeito de arrumar uma entrevista exclusiva com ela, e garanta nossas promoções!
– Hugo!! Isso é um absurdo! Você tá querendo tirar proveito de uma situação dolorosa pra ela, se quer uma exclusiva consiga você mesmo…
– É tirar proveito da riquinha!! Essa mulherzinha enganou a Juliana, o pai dela a ridicularizou, ela teve que sair pela porta dos fundos da universidade, e depois nem pra dar um telefonema, pra saber se ela tava viva ou morta. Ela é uma ridícula e…
– CHEGA! – Juliana já estava cansada daquela discussão
– Juliana, mas eu só tava… – Hugo tenta se explicar
– Tava falando a verdade! E concordo com você. Ela já me deixou mal durante um bom tempo, e eu não vou perder a chance da minha carreira, por conta de sentimentalismos. Já abandonei meu coração há muito tempo. To com o seu plano Hugo! – Juliana levanta a cabeça e respira fundo
– Juliana, pense bem… – Alerta Isabela
– Já pensei. Minha decisão é essa. Você está comigo ou não Isa?
– Se é isso que você realmente quer fazer, tudo bem.
– Então… vamos pensar numa forma!
——
– Você está bem, Alexia?
– Estou Oliveira. Não se preocupe. Eduardo encontrou o seu destino! – seus olhos demonstravam desprezo
– Quanta frieza! – criticou
– Não é frieza, é apenas falta de sentimento. Não sinto pena, não sinto raiva, não sinto absolutamente nada!
Alexia e Oliveira estavam na porta do escritório onde Eduardo foi encontrado morto. Havia uma poça de sangue no tapete e espirrado na cortina, denunciando que veio a óbito por meio de um tiro na cabeça.
O Cabo Teixeira, se aproxima da Morena para passar as informações:
– A senhora é a filha da vítima não é?
– Vítima!? – deu uma risada sarcástica
– Não entendi…
– A única vítima aqui sou eu meu senhor! Mas pode falar, o que quer comigo?
O cabo olhou desconfiadamente para Alexia e Oliveira começava a suar de nervoso. Ele conhecia muito bem o temperamento de Alexia. Sempre podia se esperar o pior:
– Bom Srª Alexia…
– Senhorita… – lançou um olhar escuro e gélido para o Cabo
– Ok. Desculpe. Senhorita. – o cabo que estava claramente intimidado pela morena, pigarreou e deu continuação – seu pai foi encontrado morto pelo caseiro. Segundo o relato dele, ele estava caído de rosto no chão, com…
– É realmente necessários esses detalhes? – perguntou Oliveira visivelmente desconfortável
– Desde quando você fala por mim, Oliveira?
– Desculpe, Alexia. Mas eu pensei que…
– Você pensou certo. Eu não quero saber detalhes. Quero reconhecer o corpo e dar o fora daqui o mais rápido possível. – disse num tom monótono e firme
– O corpo já foi levado para o necrotério da delegacia senhora…perdão..senhorita. Permita que a viatura lhe acompanhe por favor…
– Viatura? Para que se tenho meu carro? – questionou confusa
– É que nós queremos fazer umas perguntas para senhora… – disse prevendo a reação ruim
– Perguntas? Que papo é esse? Por acaso acham que tenho algo com isso?? – Se exaltou, chegando a um tom de gritar
– De forma alguma mada… mada… madame… é apenas… roti… rotina…
– Então vou com meu carro. – virou-se para o senhor com a testa completamente encharcada pelo suor, de nervoso – Oliveira ,vamos! Esse cheiro de morte tá me fazendo mal.
O cabo, que por pouco não urinou na própria farda, sentiu um alívio muito grande ao ver a mulher saindo dali. Nunca tinha visto pessoa tão rude e fria quanto aquela. Sentiu um arrepio na espinha e continuou conversando com a perícia que terminava de examinar o local.
Ao sair da mansão, ela procurou pelos verdes tão conhecidos, mas nada achou.
—–
Eu a vi! Tinha certeza. Apesar de seus cabelos mais curtos, e a roupa mais formal do que de costume: Era ela! Eu jamais iria confundir aqueles olhos.
Eu não conseguia pensar mais em nada. Não via à hora de sair daquela casa, com aquele cheiro de defunto. O que eu queria estava lá fora! E bem vivo!
Finalmente, com a morte de Eduardo – sim, eu nunca mais o chamei de pai desde o episódio na UFL – meu caminho estava livre para correr atrás de Juliana!
Mas, será que ela ainda iria me querer?
Desde o dia em que a vi partindo, entrando no carro de Giovanna, minha vida declinou. Prolonguei até mês passado a faculdade, pois vivia repetindo as matérias. Mas finalmente me formei em Jornalismo.
O que me fez terminar a faculdade, foi justamente as ameaças constantes que Eduardo fazia a vida de Juliana. Ele encontrou meu ponto fraco, e usou e abusou para conseguir o que queria.
Tive que fazer um esforço incrível para não tentar usar de meus artifícios a fim de saber notícias dela. Eu realmente estava acuada e cercada pelas ameaças de Eduardo. Giovanna e Marcela se afastaram vagarosamente de mim e perdemos o contato após a graduação de Marcela. E tudo isso por culpa de Eduardo. Mal consigo contar quantas vezes ansiei e esperei pela sua morte!
Enquanto ela não chegava, só me restava fazer o que ele queria e aguardar o momento de conseguir me libertar daquele imundo. E finalmente esse momento chegou: Estou livre!!! E vou poder ir atrás do meu grande amor. Foi o fim da vida de Eduardo… e o recomeço da minha.
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