Eternizado Pelas Estrelas

Capítulo 48 – AQUELES OLHOS

– Mããããããe!!! Juju tá na TV! – Carlos sai gritando do escritório

– Como assim menino?? Que papo é esse? – Judith que estava na cozinha fazendo a comida foi pra sala

Carlos ligou a TV e lá estava Juliana, manipulando maravilhosamente o comandante da polícia.

– Essa menina ainda vai me matar do coração! Que doida!!  – sentou no sofá com a mão no coração, mostrando surpresa

– Parece que um milionário aí foi encontrado morto. Tá o maior fuzuê!

Eles terminam de escutar a notícia e gelam ao ouvir o nome do pai de Alexia, um dos causadores de tanto sofrimento a filha:

– Foi esse infeliz que morreu!!???  Já foi tarde! – diz agora sentado ao lado da mãe e apontando com desdém pra televisão.

– Não fale assim, as palavras podem se voltar contra você. – Judith repreende o filho

– Ele humilhou minha irmã, não me arrependo em dizer que foi tarde!

– Será que Juliana sabe quem é o tal cara que morreu?

– Claro que sabe mãe!

– E o que ela tá fazendo lá? Ela tem que se afastar dessa gente e…

– É o trabalho dela mãe. Vai ver ela quer saborear a morte do desgraçado…

– CARLOS! Para de falar isso. Sabe que sua irmã não faz esse estilo. Me preocupo que ela encontre com aquela mulher de novo. Ela demorou tanto pra superar

– Tenho minhas dúvidas se superou – diz Mary saindo do banheiro

– Por que fala isso? Ela tá bem, trabalhando, tem um bom futuro… – pergunta Judith

– Juliana não é mais a mesma que conheci. Vocês conhecem Juliana a vida toda, mas eu a conheço como amiga, conversou comigo sobre coisas que ela não conversa com vocês. E sempre que toco no nome de Alexia, o olhar dela mostra que não está tudo completamente superado.

– Esse é um problema. Se ela encontrar com Alexia… – Carlos pensa alto

– Bom, ela tá fazendo o trabalho dela. Provável que esse encontro aconteça. E ela sabe disso. Se tá nessa, é porque é profissional o suficiente pra fazê-lo – conclui Mary

Carlos respira fundo, e decide mudar o foco do assunto:

– Minha irmã tá tão bonitona na TV. Que orgulho!

– Etaa irmão babão!! – ameaçou fazer cócegas em Carlos

– Não fique com ciúmes amor. Já já você também vai estar na TV.

– Que ciúmes o que?  Lindo! To brincando – beija Carlos

– Bom, já que a reportagem acabou e vocês vão ficar de sarrinho aqui mesmo, vou para a cozinha terminar de cozinhar.

– Mãe!!! – Carlos diz, rindo da cara vermelha da namorada e da irreverência da mãe – você é uma figura!

Judith volta para cozinha e Carlos e Mary ficam num chamego só no sofá quando o rapaz diz:

– Amorzinho meu, preciso voltar pro escritório. Tenho que conseguir os fundos para a ONG. Se eu não telefonar, isso nunca vai sair do papel.

– Ah não! Você passa o dia todo lá poxa. Fica aqui comigo mais um pouquinho…

– Não posso. E a senhorita tem que trabalhar também né?

– Você tá me expulsando?

– Claro que não – beijou rapidamente Mary – eu adorei a surpresa, mas você tem que trabalhar! E eu tenho que terminar de conseguir algum dinheiro pra ONG. E ainda tenho que passar na faculdade mais tarde.

– Tudo bem! Mas depois da faculdade, vamos fazer alguma coisa?

– A gente vê, tá bom minha lindinha?

– Ai ai! Que noivo complicado o meu!

– Você que me quis!  – deu língua! Estavam incontestavelmente apaixonados.

——-

Existem momentos que duram a eternidade de um segundo.

Depois de todo aquele tempo, lá estavam aqueles olhares, indo de encontro um ao outro: Um verde límpido mas opaco, revelando a quantidade de mágoa, tristeza  carregados, encarando o azul imponente, altivo, mas com um toque de melancolia e ódio que os escurecia.

O mundo em volta das duas parecia estar passando em câmera lenta, até as duas serem chamadas de volta pra realidade. Alexia foi puxada por Oliveira, o velho senhor que a acompanhava no carro, amigo da família. Já Juliana acabou sendo derrubada pelo o turbilhão de repórteres que tentavam se aproximar da mulher.

– A senhora pode nos dar um esclarecimento sobre a morte de seu pai?

– Vocês tinham uma boa relação?

– Você é casada? Esse homem é seu marido?

Perguntavam os jornalistas ensandecidos com a presença da morena. Ela lançou um olhar gélido para eles e se desvencilhou, entrando na casa com Oliveira.

– Juliana!! Você tá bem?? – Perguntou Hugo preocupado ao ver a loirinha se levantando vagarosamente- Sim..eu to sim..eu acho…

– O que houve? Por que você não se mexeu? Parecia tá vendo assombração! – Isabela também a ajudava a levantar

– É..que..eu…não sei gente. Olha, eu preciso ir pra casa, vocês podem continuar sem mim?

– Ir embora?? Ju, essa é…

– Nossa oportunidade, eu sei. Mas eu achei que podia dar conta dessa situação mas não posso.

– Do que você tá falando Juliana? – Isabela pergunta, levando a amiga a se sentar na calçada do outro lado da rua.

Juliana decide contar para eles toda a situação, resumidamente é claro. Ao final de tudo, Hugo e Isabela estão completamente chocados. Não pela sexualidade da amiga, coisa que todos já sabiam, mas por toda história e situação em si.

– Juju, eu nem sei o que te dizer. Isso parece roteiro de filme!

– E dos bons… – completou Hugo

– Pois é. E agora eu não sei o que fazer. A melhor chance de alcançar a minha sonhada promoção está atrelada na pior situação que eu poderia me meter.

Os dois abraçaram a loirinha, e Isabela disse:

– Olha Juliana, nós vamos entender se por acaso você não quiser mais trabalhar nessa reportagem. Explicamos para o Silveira, ele gosta de você e sabe ser compreensivo.

– Eu também vou saber entender, mas eu acho que essa é a chance de você tirar algum proveito dessa situação toda. – constatou Hugo

– Tirar proveito? – perguntou Juliana, confusa

– Mas é claro! Olha, essa mulher tentou te ajudar de fato, mas de boa intenção o inferno tá cheio. Você foi humilhada pelo homem que foi morto nessa casa…o pai dela. E ela, deve se sentir em dívida com você. Dê um jeito de arrumar uma entrevista exclusiva com ela, e garanta nossas promoções!

– Hugo!! Isso é um absurdo! Você tá querendo tirar proveito de uma situação dolorosa pra ela, se quer  uma exclusiva consiga você mesmo…

– É tirar proveito da riquinha!! Essa mulherzinha enganou a Juliana, o pai dela a ridicularizou, ela teve que sair pela porta dos fundos da universidade, e depois nem pra dar um telefonema, pra saber se ela tava viva ou morta. Ela é uma ridícula e…

– CHEGA! – Juliana já estava cansada daquela discussão

– Juliana, mas eu só tava… – Hugo tenta se explicar

– Tava falando a verdade! E concordo com você. Ela já me deixou mal durante um bom tempo, e eu não vou perder a chance da minha carreira, por conta de sentimentalismos. Já abandonei meu coração há muito tempo. To com o seu plano Hugo! – Juliana levanta a cabeça e respira fundo

– Juliana, pense bem… – Alerta Isabela

– Já pensei. Minha decisão é essa. Você está comigo ou não Isa?

– Se é isso que você realmente quer fazer, tudo bem.

– Então… vamos pensar numa forma!

——

– Você está bem, Alexia?

– Estou Oliveira. Não se preocupe. Eduardo encontrou o seu destino! – seus olhos demonstravam desprezo

– Quanta frieza! – criticou

– Não é frieza, é apenas falta de sentimento. Não sinto pena, não sinto raiva, não sinto absolutamente nada!

Alexia e Oliveira estavam na porta do escritório onde Eduardo foi encontrado morto.  Havia uma poça de sangue no tapete e espirrado na cortina, denunciando que veio a óbito por meio de um tiro na cabeça.

O Cabo Teixeira, se aproxima da Morena para passar as informações:

– A senhora é a filha da vítima não é?

– Vítima!? – deu uma risada sarcástica

– Não entendi…

– A única vítima aqui sou eu meu senhor! Mas pode falar, o que quer comigo?

O cabo olhou desconfiadamente para Alexia e Oliveira começava a suar de nervoso. Ele conhecia muito bem o temperamento de Alexia. Sempre podia se esperar o pior:

– Bom Srª Alexia…

– Senhorita… – lançou um olhar escuro e gélido para o Cabo

– Ok. Desculpe. Senhorita. – o cabo que estava claramente intimidado pela morena, pigarreou e deu continuação – seu pai foi encontrado morto pelo caseiro. Segundo o relato dele, ele estava caído de rosto no chão, com…

– É realmente necessários esses detalhes? – perguntou Oliveira visivelmente desconfortável

– Desde quando você fala por mim, Oliveira?

– Desculpe, Alexia. Mas eu pensei que…

– Você pensou certo. Eu não quero saber detalhes. Quero reconhecer o corpo e dar o fora daqui o mais rápido possível. – disse num tom monótono e firme

– O corpo já foi levado para o necrotério da delegacia senhora…perdão..senhorita. Permita que a viatura lhe acompanhe por favor…

– Viatura? Para que se tenho meu carro? – questionou confusa

– É que nós queremos fazer umas perguntas para senhora… – disse prevendo a reação ruim

– Perguntas? Que papo é esse? Por acaso acham que tenho algo com isso?? – Se exaltou, chegando a um tom de gritar

– De forma alguma mada… mada… madame… é  apenas… roti… rotina…

– Então vou com meu carro. – virou-se para o senhor com a testa completamente encharcada pelo suor, de nervoso – Oliveira ,vamos!  Esse cheiro de morte tá me fazendo mal.

O cabo, que por pouco não urinou na própria farda, sentiu um alívio muito grande ao ver a mulher saindo dali. Nunca tinha visto pessoa tão rude e fria quanto aquela. Sentiu um arrepio na espinha e continuou conversando com a perícia que terminava de examinar o local.

Ao sair da mansão, ela procurou pelos verdes tão conhecidos, mas nada achou.

—–

Eu a vi! Tinha certeza. Apesar de seus cabelos mais curtos, e a roupa mais formal do que de costume: Era ela!   Eu jamais iria confundir aqueles olhos.

Eu não conseguia pensar mais em nada. Não via à hora de sair daquela casa, com aquele cheiro de defunto. O que eu queria estava lá fora! E bem vivo!

Finalmente, com a morte de Eduardo – sim, eu nunca mais o chamei de pai desde o episódio na UFL – meu caminho estava livre para correr atrás de Juliana!

Mas, será que ela ainda iria me querer?

Desde o dia em que a vi partindo, entrando no carro de Giovanna, minha vida declinou.  Prolonguei até mês passado a faculdade, pois vivia repetindo as matérias. Mas finalmente me formei em Jornalismo.

O que me fez terminar a faculdade, foi justamente as ameaças constantes que Eduardo fazia a vida de Juliana. Ele encontrou meu ponto fraco, e usou e abusou para conseguir o que queria.

Tive que fazer um esforço incrível para não tentar usar de meus artifícios a fim de saber notícias dela. Eu realmente estava acuada e cercada pelas ameaças de Eduardo. Giovanna e Marcela se afastaram vagarosamente de mim e perdemos o contato após a graduação de Marcela.  E tudo isso por culpa de Eduardo. Mal consigo contar quantas vezes ansiei e esperei pela sua morte!

Enquanto ela não chegava, só me restava fazer o que ele queria e aguardar o momento de conseguir me libertar daquele imundo. E finalmente esse momento chegou: Estou livre!!!  E vou poder ir atrás do meu grande amor. Foi o fim da vida de Eduardo… e o recomeço da minha.

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