Eternizado Pelas Estrelas

Capítulo 45 – A DOR DA PERDA

Marcela e Giovanna estavam em altos chamegos dentro do quarto. Namoravam e faziam carícias quando Juliana entrou feito um furacão. As meninas se assustaram e logo perguntaram o que tinha acontecido. Juliana trazia um olhar vermelho, e o rosto molhado por lágrimas.

Entrou para o banheiro e se jogou debaixo da ducha fria. Queria que aquela água que escorria pelo seu corpo, levasse junto com ela toda a dor que sentia.  Mas, o que na realidade ela sentia? Era orgulho ferido, por saber que estava sendo sustentada? Era a mentira que o seu amor inventara e escondera dela esse tempo todo? Naquele momento, a única coisa que ela realmente sentia era que não ficaria ali naquela faculdade nem mais um segundo. Não conseguia encadear nenhum pensamento além desse.  Chorava silenciosamente.

Na porta do banheiro, batidas insistentes de Marcela e Giovanna eram ignoradas, na verdade, não eram nem escutadas. Marcela acabou arrombando a porta e se deparou com Juliana sentada no chão do Box, abraçando as pernas e chorando. Imediatamente Giovanna pegou uma toalha e cobriu a amiga. Perguntavam o que tinha acontecido, mas Juliana nada respondia. Deduziram que era algo com Alexia, e Marcela resolveu ir até o quarto de cima, enquanto Giovanna tentava acalmar a amiga.

Chegando no quarto, se deparou com o Inspetor na porta de seu quarto. Pediu licença e foi abrir a porta, e imediatamente foi impedida, sob a desculpa que tivera ordens expressas pra que ninguém entrasse ou saísse daquele quarto. Marcela irritou-se, pois disse que aquele era o quarto dela, ninguém poderia impedi-la de nada. O inspetor insistiu. Marcela ameaçou acionar a Polícia do Campus, a reitoria, coordenação e quem mais pudesse. O inspetor acabou não resistindo aos argumentos da menina, e disse:

– Você pode entrar, mas a menina que tá lá dentro não pode sair! E quanto a isso você não pode fazer nada, pois o dinheiro pode comprar até os maiores cargos aqui dentro.

Marcela não entendia absolutamente nada e entrou no seu quarto. Eis a cena que viu: Alexia, deitada em sua cama, e ao seu lado, a sua cartela de remédios para dormir.  Se desesperou achando que ela tinha dado cabo a própria vida, mas se acalmou, percebendo e só tomara um comprimido da cartela.

“Mas que diabos está acontecendo aqui?”

Tentou sair do quarto, mas lembrou que esquecera a chave do lado de fora do quarto. Agora era tarde demais e também se encontrava presa lá dentro.  Seu celular estava no quarto de Juliana, e na pressa, não se lembrou de pegar. Pensou em gritar na janela por ajuda, mas ficou com as palavras do inspetor na cabeça:

“O dinheiro pode comprar até os maiores cargos aqui dentro.”

E ficou com medo do que aquilo significava. Lembrou que Giovanna provavelmente a procuraria e poderiam dar um jeito de sair dali. Afinal ela era neta de uns dos funcionários mais honestos que todos já conheceram. O Dia foi passando, e Marcela foi ficando preocupada com o sumiço de sua namorada, até que seus pensamentos de preocupação com as duas loiras do quarto de baixo foram momentaneamente esquecidos com o despertar, ainda bem sonolento de Alexia. Marcela a sacudia, e perguntava o que havia acontecido. A levou pra debaixo do chuveiro e lhe deu um banho gelado, capaz de despertar rapidamente qualquer um.

Alexia estava visualmente abatida, disse que queria tomar outro remédio para dormir. Marcela a impediu, e perguntou novamente o que estava acontecendo, contou a cena em que vira com Giovanna e praticamente exigiu uma explicação. A Morena disse:

– Sabe Marcela, as vezes cometemos pecados, só por queremos demais o bem do outro. – dizia olhando um ponto fixo na parede

– E o que você fez?? – sentou de frente pra amiga, no chão

Alexia tomou fôlego e ainda com a voz meio grogue, começou a explicar tudo:

– Quando conheci Juliana, sabia que ela tinha algo diferente.  E conhecendo ela só pude admirar o esforço dela, e o quanto ela estudava para ter uma vida melhor, e deixar a família orgulhosa. Quando defendi Juliana daquele canalha do Guilherme, algo dentro de mim me disse que eu poderia ajudar mais aquela menina. Parece absurdo pra quem escuta, mas pela primeira vez tinha vontade de fazer algo maior por alguém. Como sabe, meu pai doa muito dinheiro a essa escola, e eu com meu jeitinho persuasivo, acabo sendo bem informada de coisas aqui dentro. No dia seguinte ao episódio  do quase estupro, quando perguntei  a Diretora Roberta a situação de Juliana aqui, ela disse que apesar do aparente esforço e prováveis boas notas, era quase impossível conseguir uma renovação de bolsa. Ainda mais com todo o ocorrido, ela preferia não manter uma aluna que com menos de um mês quase gerou um escândalo para a Universidade. Revoltei-me, disse que a culpa não havia sido dela, mas ela parecia irredutível.

Marcela ouvia tudo atenciosamente, sem ter reação alguma, apenas olhava para a amiga, que continuou:

– Não serei hipócrita. Queria ela mais tempo aqui, para que eu a conhecesse melhor. Queria me aproximar dela. E então, fiz a proposta a Dona Roberta, que eu pagaria o curso de Juliana, e sobre uma quantia considerável, “por fora” da mensalidade, que seria depositada diretamente na conta de Roberta, ela alegaria renovação de bolsa, para que Juliana não suspeitasse de nada e não informaria ao meu pai disso. Ela sabia que não haveria negócios com Eduardo, e ela não queria perder o dinheiro que receberia na sua conta, enquanto Juliana estivesse na UFL. E assim foi se arrastando o tempo. Até que, não sei se por descuido, ou maldade, enviaram uma carta ao meu pai, cobrando o pagamento semestral da matrícula de Juliana. Ele veio aqui, nos humilhou, expôs toda a verdade, e Juliana agora nunca mais vai acreditar em mim. Não menti pra fazer mal a ela, só queria que ela tivesse uma oportunidade, ela é brilhante! E queria ela perto de mim…

E dizia isso tudo, mexendo na aliança, melancolicamente. Marcela agora sim parecia chocada. Não sabia muito que dizer. Mas tentou começar:

– Então, todo esse tempo, Juliana nunca conseguiu uma renovação?

– Não… – dizia com a cabeça baixa

– Olha amiga, sei que você teve a melhor das intenções, mas, se coloca no lugar dela um pouco. Ela deve estar se sentindo incapaz, incompetente nos estudos, enganada por você, e ainda mais com as coisas que seu pai deve ter dito a ela…

– Mas ela tem que me entender Marcela. Pelo amor de Deus, não há outro jeito. Eu não posso viver sem ela… – trazia desespero na voz, ao mesmo tempo em que um forte cansaço tomava conta do seu corpo

– Calma amiga. Isso tudo é muito sério. Você se envolveu num esquema de suborno garota. Se isso vem a tona, você tá perdida.

– Meu pai com certeza pagou pelo silêncio de todos. – seus olhos cerraram ao lembrar do pai que tanto a fazia sofrer

– E pelo Inspetor João também. Quase não consegui entrar aqui, montou guarda na sua porta. – apontou para a porta com o polegar –  Mas vamos dar um jeito de falar com Juliana, vamos!! Temos que enfrentar: ele e ela e…

– Não. – fechou a cara

– O que?? – perguntava incrédula

– Não posso. –  o olhar se tornou triste novamente

– Como não pode??? Fez isso tudo com a Juliana, e não vai ao menos dar uma explicação decente a ela… – Marcela começou a se revoltar com a situação apática da amiga

– Não posso. Tenho que me afastar, é o melhor pra ela. Não posso colocar ela em risco… – disse sem pensar

– Em risco??? Como assim?? – disse em um tom bastante preocupado

Alexia lembrava do que seu pai disse. Era melhor que ninguém soubesse mesmo. Apesar de confiar na Marcela,  não queria arriscar a vida de sua amada.

– Não quero correr o risco de perdê-la de vez. Um dia, ela saberá me perdoar, e retomaremos do ponto que paramos. Não posso forçar nada agora…

– Deixa de ser covarde e vai atrás dela! Agora!! – Marcela já perdera a paciência de vez com a amiga

– Como, se não posso sair? E nem você? Marcela, vamos ficar aqui. Ela deve ir embora hoje mesmo, e deveremos ser “libertadas”. Eu queria ao menos, vê-la uma ultima vez, antes que ela partisse – disse a ultima frase num fio de voz.

– Então vamos lá! Isso não pode ficar assim. Seu pai não pode vencer Alexia! – levantou-se puxando a amiga pela mão

– Ele já venceu…como sempre. – largou da mão de Marcela, permanecendo sentada no chão

Marcela debatia com Alexia a ponto de quase discutirem. Não entendia o porquê da submissão dela ao pai. Não imaginara que ele fosse tão louco a ponto de ameaçar a vida de outro ser humano. Alexia fez um único pedido a Marcela: Que ela nunca contasse nada do que se passou naquele quarto pra Giovanna, e nem pra Juliana. Marcela não entendia o porque do pedido, mas Alexia implorou e ela acabou cedendo. A noite chegou e um barulho de buzina de carro chamou atenção. Elas andaram em direção a janela, e avistaram Giovanna colocando as malas de Juliana na traseira do carro. Juliana apareceu no campo de visão das duas morenas, e visivelmente frágil, virou-se, como que chamada pelo olhar de Alexia. Os olhares se encontraram.  Alexia não conseguiu conter e lágrimas escorriam pelo seu rosto. Juliana a olhava friamente, parecia cansada de chorar. E realmente estava. Entrou no carro. Logo depois, antes de entrar no carro, Giovanna entrou também, sem esconder a decepção com Alexia estampada em seu rosto. Estava com raiva dela também. Olhou para Marcela, e fez um sinal de que depois conversariam. E o carro partiu rumo ao aeroporto.



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