Mary e Carlos resolveram consultar um especialista, para saber como seria o relacionamento deles, já que eram sorodiscordantes. Marcaram um encontro com o Médico e Coordenador da ONG “AME COM RESPONSABILIDADE”, que Carlos fazia parte: Dr. Célio Lopes.
– Bom doutor, obrigada por nos receber, temos muitas dúvidas. – disse Mary
– Imagina. É só o meu trabalho. – virou-se para Carlos – Você eu conheço. Sempre te vejo no atendimento 24h, para os portadores de HIV que descobrem o vírus e ligam para cá pedindo ajuda.
– Sim senhor, gostaria muito que tivesse descoberto esse lugar antes, passei um sufoco ao saber que tinha AIDS.
– Então o vírus em você, já se desenvolveu?
– Infelizmente sim, já inspiro alguns cuidados com meu sistema imunológico.
Dr. Célio perguntou para Carlos sobre sua história, de como fora a forma de contágio e todos os detalhes. Carlos contou a história, remexendo num passado doloroso. Ao findar da história, o médico perguntou:
– Antes de tudo, é importante ressaltar uma coisa pra você Mary, o que Carlos já deve saber. Tenha muito cuidado ao dizer que alguém tem AIDS. Afinal, há uma grande diferença entre quem tem o vírus, e quem tem o vírus manifestado. Muitos acham pejorativo chamá-los de “soropositivos”, preferimos no geral usar o termo “imunossuprimidos”. Porém, no caso de vocês não tem como usar outro termo a não ser sorodiscordantes. E como todo casal, querem saber os riscos de ter uma relação sexual saudável, não é isso?
Os dois assentiram com a cabeça, e o Dr. Célio prosseguiu:
– Não posso falar pra vocês que será fácil. Porém digo a vocês que é perfeitamente possível conviver, de maneira segura, saudável e feliz, com quem se ama, independentemente da sua sorologia para o HIV.
– Ai que bom doutor. Apesar de estar aqui sempre, nunca tinha me interessado por essa parte de sorodiferenças, por que nunca me imaginei nessa situação. Nós temos medo…
Dr. Célio continuou:
– Sentir medo é normal. Afinal, há muitos conflitos nessas relações sorodiscordantes, pelo portador do vírus HIV sempre se diminuir em relação ao parceiro ou parceira. Como se fosse menos por conta disso. Se esse sentimento te invadir Carlos, converse imediatamente com Mary. Mas todo casal tem seus conflitos, vocês não são especiais nisso.
– E o sexo doutor? – perguntou Mary, diretamente, fazendo arrancar um sorriso envergonhado de Carlos
– Ah sim! Claro. Nas relações sexuais é imprescindível o uso de preservativo. Tanto pra sexo vaginal, oral ou anal. É muito importante não haver contato entre as secreções, pois é aí que se dá a transmissão. Da mesma forma os casais homossexuais também devem se comportar.
– Mas pra eles, o risco não é maior? Principalmente pros homens? – perguntou Mary
– O risco é igual pra todos. E a única forma de prevenção é o uso da camisinha. A diferença, é que entre homens, todos acham mais agressivo pelo contato anal, pois é mais fácil abrir pequenas fissuras. Mas usando o preservativo corretamente, não há problema algum. Como disse, o risco é igual para todos, independentemente de orientação sexual.
– E duas mulheres? Como faz? Camisinha feminina? – agora a curiosidade atingiu Carlos
– Sim. Mas para um maior conforto, pode-se criar “barreiras” feitas com uma camisinha normal cortada, luva ou com um pedaço de PVC. É importante não haver contato de nenhuma secreção, principalmente se a mulher estiver menstruada. E uma dica que serve pra vocês, se forem praticar sexo oral, não escovem os dentes antes, pois é mais fácil ter pequenas feridinhas na gengiva, depois de uma escovação, o que aumentaria os riscos de transmissão.
– Mas e se acidentalmente, acontecer um contato direto. A camisinha de o Carlos estourar, escapulir, sabe lá! O que faremos?
– Nesse caso, existe uma coisa chamada “profilaxia com anti-retrovirais”. Mas devem estar se perguntando “O que é isso?”. Nada mais é do que tomar uma determinada dose de medicamentos anti-retrovirais o mais rápido possível após a exposição ao HIV , pra tentar impedir a infecção pelo vírus. Procurando o médico mais próximo o mais rápido possível.
– Olha doutor, a minha irmã acertou em cheio em nos perturbar para virmos aqui. Eu confesso que estava um pouco envergonhado, mas, vejo que foi a melhor decisão que tomei.
– Depois de me pedir em namoro, foi sim! – Mary sorriu e deu um rápido beijo
– Você não se incomoda em que nunca vamos poder ter filhos Mary? Você sempre disse que queria ser mãe e… – Carlos perguntou meio cabisbaixo
Dr. Célio interrompeu:
– E quem disse pro senhor, que vocês não podem ter filhos?
Olharam confusos, e Mary falou:
– Mas doutor, o esperma dele não pode entrar em contato comigo. E eu não quero ter filho de outro homem.
– Aí que você se engana minha jovem. Há procedimentos que podem ser feitos, de forma a praticamente garantir a saúde a futura mamãe e seu bebê.
– Sério?? Mas… que ótima notícia!! – Mary demonstrou com muita animação a nova notícia que recebera
– Mas, como faremos então?
– É o seguinte, nesse caso aqui, o homem é quem porta o vírus, logo tem uma técnica chamada “lavagem de esperma” que é feita junto com a inseminação artificial. Diminui acintosamente o risco de contaminação de ambos.
– Ah, mas então, não é seguro o suficiente. – Mary disse desanimando
– A vida não é segura o suficiente minha cara. É claro, que uma série de exames e fatores devem ser levados em consideração, mas é perfeitamente possível sim. A única coisa ruim, é que é um procedimento bem caro, e não disponibilizado, ainda, pelo SUS.
– Entendemos. Então, podemos levar uma vida normal?
– Normalíssima. É só usar camisinha e evitar contato com secreções, sangue e feridas. Tirando isso, podem fazer o que quiserem e quando quiserem, claro, respeitando determinadas restrições do seu namorado, já que ele de fato tem o vírus ativo em seu corpo.
– Entendemos. Muito obrigado doutor. Essas informações deveriam ser mais divulgadas. Fico imaginando quantos casais não estão com o mesmo problema que o nosso, e acabam não vivendo plenamente, ou até se separando, por falta de informação.
– É verdade. Posso fazer uma pergunta indiscreta? – arriscou o médico
– Claro, o que quiser. – Mary acompanhou a opinião do namorado
– Vocês são um casal novo, estão juntos há muito tempo?
– Não. Estamos juntos a pouquíssimo tempo.
– Nossa, e por que tantas preocupações, com filhos e tudo mais.
Mary olha pra Carlos, que lhe dá um sorriso afetuoso. Esta devolve o sorriso e fala para o médico:
– Por que desde a primeira vez que eu o vi. Eu sabia que ele era único. Era quem eu tanto procurei, em toda minha vida. Já ouviu falar em alma-gêmea doutor? Pois então, ele é a minha.
Beijaram-se rapidamente, pois ali não era lugar para uma demonstração de afeto mais intenso. Dr. Célio concluiu:
– Viva ao amor então! E sejam felizes…
Mary ia preparar para se levantar, quando foi impedida delicadamente por Carlos:
– Ante de irmos, doutor… tem mais uma coisa que eu gostaria da opinião do senhor!
– Claro! Pode falar!
– Há um tempo eu to com um projeto na cabeça, e venho trabalhando nele. E essa pequena aula sobre Sorodiferentes, me deu o tema que eu tanto buscava enfatizar.
Mary se surpreendeu com o namorado, e Dr. Célio imediatamente disse:
– Venha semana que vem ao meu escritório e traga seu projeto. Vamos dar uma olhada e te digo minha sincera opinião. Mas não esqueça de registrá-lo em cartório antes.
– Ok doutor. Estarei aqui então na segunda-feira da semana que vem!
E assim se despediram com o coração renovado de esperanças: Aquela relação realmente tinha futuro.
As Informações a respeito de parceiros sorodiferentes foram retiradas da cartilha: “Casais sorodiscordantes: Dicas para uma vida saudável, segura e feliz”. Para maiores informações a cartilha está disponível no link :
http://www.aids.org.br/media/Image/Banco%20de%20IEC/ABIA/Publicacoes/cartilha%20sorodiscordantes.p