Eternizado Pelas Estrelas

Capítulo 30 – OS TRÊS DESEJOS

Marcela e Giovanna observaram todo o desenrolar da história através da janela da cozinha:

– Ora…parece que elas se entenderam!

– Pelo visto sim! Que bom, Alexia, apesar de minha amiga, é chata naturalmente. Quando briga com Juliana é pior ainda! – Marcela esboçou um sorriso.

Giovanna e Marcela estavam sentadas em dois banquinhos na mesa da cozinha.

– Marcela, tenho que ser sincera. Eu estou a achar essa festa um …como vocês brasileiros falam mesmo? Ah sim…um saco!!

– Que isso amiga, tá super animada. As pessoas não param de dançar, a sala tá lotada!!

– Eu sei, mas, eu não conheço metade das pessoas que estão aqui. Sabe, é como se eu tivesse sozinha no meio dessa gente. I’m so sad! (estou tão triste) – Giovanna tapou a boca – desculpe, odeio quando falo inglês sem querer. Pode achar-me esnobe.

– Hey baby!  I don’t care! ( Ei querida! Eu não me importo)  – sorriu

– Good! – sorriu de volta – eu tinha outra ideia de despedida.

– Conte-me então. Essa noite, eu faço questão de ser seu gênio da lâmpada! Você tem três desejos! – fez uma reverência teatral!

– Podes ser a “Jeannie, é um gênio”? Eu adorava ela!

– Serei o que você quiser! – imita o gesto da Jeannie, personagem de uma série da década de 60 que é reprisada até hoje – me diga, qual seu primeiro desejo? Giovanna faz cara de pensadora e responde:

– Quero sair dessa festa! – pediu juntando as mãos como numa prece

– Seu desejo é uma ordem!

Marcela pegou na mão da loirinha e sentiu uma estranha sensação percorrer seu corpo, e saiu puxando ela, pela mesma saída escondida que Alexia e Juliana saíram. Chegando na calçada da casa, Giovanna disse:

– E então, como vamos embora se estou sem auto?

– Já ouviu falar em pernas?

– Ah não!! – fez beicinho – teremos que andar muito até o centro!

– E o que você quer fazer no centro há uma hora dessas?

– Meu segundo desejo! – sorriu sapecamente

– Opa! Então diga, oh fiel ama, o que desejas?

– Um grande, gostoso e suculento – fez uma pausa dramática a ponto de fazer Marcela pensar bobagens –  cachorro-quente!

– Mas é claro. Só não falo novamente o “é pra já”, pois andaremos uma meia-hora ainda!

– Não importa. Vamos, estou em ótima companhia!

Marcela sorriu de satisfação e foi andando ao lado de Giovanna. Apesar de já ser madrugada, as ruas eram bem iluminadas e não estavam completamente desertas. Não tiveram grandes problemas para chegar no centro de Lisboa. Encontraram uma lanchonete 24h e se deliciaram com um cachorro-quente, que era tão grande que um só bastou para as duas.

– O melhor cachorro-quente da minha vida! – Dizia Giovanna com a boca ainda suja ao redor

– Gi!! Sua boca tá toda suja! – ria – limpe dos lados! Tá cheio de molho!

E como nos grandes clichês, Giovanna não conseguiu limpar direito e Marcela se ofereceu:

– Vem aqui, deixa que eu limpo.

Pegou um guardanapo que tinha na mesa e delicadamente limpou a boca da menina. Naquele momento, com aquela proximidade dos seus dedos dos lábios da loira, ela percebeu o que não queria aceitar há um tempo. Ela achava que era influência do relacionamento mágico de Alexia e Juliana. Ou até mesmo uma curiosidade nunca saciada. Todas as vezes que as quatro saiam juntas, ela se sentia confortável em parecer o par de Giovanna. E esta sempre a tratou reciprocamente.  Mas naquele momento ela percebeu que estava querendo e muito beijar aqueles lábios doces e rosados que ela limpava com tanto carinho. Giovanna percebeu o olhar da menina, e pareceu pensar em muitas coisas em um só instante, e sorriu, meio timidamente. Marcela despertou e se deu conta da situação que estava, e pigarreando disse:

– Bom, acho que já está limpo o suficiente – riu timidamente

– É. Eu também acho. Vamos pra casa?

– Sim, claro. – disse meio desanimadamente

Foram caminhando pela rua, quando uma fina chuva começou a cair sobre a cidade. As duas estavam quietas, quando Marcela perguntou:

– Então, qual vai ser o terceiro desejo? Um guarda-chuva? – riu

– Ora pois! Não seria de todo mal!

Marcela soltou uma rápida gargalhada, e intrigou Giovanna:

– Mas, de que estais a rir?

– “Ora pois” – continuava rindo – isso é tão piada de português! Giovanna fingiu ficar brava:

– Ora! É nosso jeito de falar!- deu a língua

A chuva aumentou de volume e as duas começaram a andar mais apressadamente, até começarem a correr. Correram por 20 minutos até o alojamento. Estavam exaustas e se jogaram na grama do campus!

– Eu… nunca mais… vou correr… tanto assim – dizia uma Marcela esbaforida

– Eu… estou… fora de forma… completamente!  – dizia entrecortadamente pela necessidade de respirar.

Ficaram assim um tempo, recebendo a água da chuva que ensopava suas roupas:

– Não tem sentido isso! – riu

– O que não está a ter sentido nessa sua caixolinha, Marcela?

– Corremos igual a duas desesperadas pra fugirmos da chuva, e estamos aqui deitadas. Nunca estive tão molhada! A frase soou estranho e arrancou risada das duas, apesar do aparente rubor na face na morena. Quando as risadas cessaram, Giovanna sentou na grama e disse para Marcela:

-Gênia! Meu terceiro desejo!

– Ah é verdade! Diga, oh soberana ama, o que queres?

Giovanna olhou para o céu e falou mais alto com os braços abertos:

– Quero ver as estrelas!

Marcela, que permaneceu deitada, achou o pedido curioso:

– Oh ama, eu não sou astrônoma, mas olhe o tempo como está! Isso será impossível essa noite!

– E quem estás a dizer que é necessário olhar para o céu sempre que quisermos vê-las? – disse virando-se para Marcela

E num ato totalmente surpreendente abaixou seu corpo e beijou a morena.



Notas:



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