– Estamos um pouco longe amor. Já faz uma hora que estamos rodando de carro. O jantar que comemos já está querendo conversar com meu esôfago. Você tá perdida?
– Claro que não. Estamos chegando…
– Mas estamos longe da UFL, e são 3h da manhã! Pra onde a senhorita está me levando??
– Já já você verá….
Não demorou muito pra Juliana perceber que estavam chegando num Píer em Portugal. O Nome era Píer da Rosa, e logo se percebia um grande movimento vindo dos grandes galpões.
Juliana perguntou curiosa:
– O que essa gente faz nesse lugar a uma hora dessas?
– Tá acontecendo a “Exposição Anual de Barcos e Navios”. É maneiríssimo. Funciona 24h durante três dias…
– Por que estamos aqui? – perguntou intrigada
– Você já vai ver!
Alexia estacionou o carro no pátio do Píer. Abriu a porta para Juliana que saiu ainda sem entender:
– Cara, você me trouxe pra ver barquinhos? Por que não deixou isso pra amanhã durante o dia – debochou
– A noite é tudo mais bonito aqui… e barquinhos?? Você verá os barquinhos… – riu levantando uma sobrancelha.
Chegaram ao primeiro galpão e Juliana ficou maravilhada com o que viu.
– Nossa Alexia! Que lindo! Olha aquele ali – apontou para um Iate – é o mais bonito daqui!
– É esse mesmo que eu queria te mostrar… vamos entrar?
Juliana fez uma cara engraçada como de quem não estava entendendo nada e perguntou:
– Entrar? Tá doida Alexia. Por que você adora me levar para lugares proibidos?
– Não é proibido meu amor, é uma exposição, os barcos estão abertos para visitação. Venha!
Juliana deu a mão para Alexia, e após a morena falar rapidamente com o segurança, entraram no Iate na frente de algumas pessoas que esperavam, Juliana estava maravilhada:
– Nossa Alexia…isso aqui é muito… muito lindo!
– Também acho. Por isso quis te trazer aqui…
– Como assim? Você já veio aqui?
– Como te disse amor, eu não era muito enturmada aqui até sua chegada. Fazia muito desses passeios que ninguém entende, num desses, encontrei essa exposição.
– Como você conseguiu passar na frente de toda essa gente? – pergunta inocente
– Ah, eu tenho muitas habilidades!
– Ah sim, como fui boba. Claro que você molhou a mão do segurança…isso não se faz Alexia
– Calma meu amor. É porque quero aproveitar o tempo aqui com você, e além do mais, ás 5h estará amanhecendo e teremos uma corrida de lanchas que eu quero muito ver!
– Corrida de lanchas? Sério? E depois reclama do meu futebol.
– É engraçado amor, por que são todos muito ruins! Ano que vem eu me inscrevo para participar, aí não vai ter pra ninguém.
– Tá bom tá bom. – Juliana olha para algum lugar e exclama incrivelmente fascinada:
– Lexy…olha que lindo! É um quarto, e que lindo quarto! Eu poderia morar aqui o resto da vida…
De fato, era um belo quarto, situado na parte mais baixa do Iate. Tinha uma cama de casal, frigobar, e estava especialmente decorado com flores.
– É a mesma decoração do ano passado. É lindo mesmo…- sorriu maliciosamente
– Ah não.;.Alexia…eu não acredito que você me trouxe aqui para…
– Ah…é um fetiche meu desde o ano passado Ju, por favor, realiza esse meu desejo?
– Você pirou de vez??? Qualquer pessoa pode entrar aqui!
– Claro que não. Eu pedi privacidade ao segurança, ele vai segurar as pessoas por um tempinho, só temos que ser rápidas e…
– Alexia!! O segurança sabe que eu…. você… nós estamos aqui…ALEXIA!!!
– Ahh o que tem? Nunca mais vamos ver o cara na vida. Agora, vem aqui…
– Ale…- a morena começou a beijá-la com furor, já arrancando o vestido de Juliana que obviamente cedeu as investidas de Alexia.
A morena arrancava seu próprio vestido, e tinha sua barriga sendo deliciosamente beijada por Juliana, que também estava sem o vestido. Estavam ainda com suas roupas de baixo, quando se ouve um barulho e vozes vindo da entrada da embarcação:
– Oh! Mas que belo!
– Muito mais que o anterior, querido!
Alexia e Juliana paralisaram, Juliana começou a reclamar sussurrando desesperadamente:
– E agora??? O que a gente faz! Não quero outras pessoas vendo a minha bunda de novo!! Já basta o seu Manô e ….
Alexia tapou rapidamente a boca de Juliana:
– Cala a boca e me segue!
Alexia, catou os vestidos e correu para uma portinha, um pequeno closet que tinha na suíte do Iate. Juliana coube perfeitamente, mas Alexia que era bem mais alta, ficou um pouco curvada. Elas ficaram uma de frente para outra, com os corpos totalmente colados um ao outro devido ao espaço ser bem pequeno, Juliana voltou a falar:
– Nunca mais me mande calar a boca novamente ouviu!! Olha a situação que você me colocou!
– Você é a quase pelada aqui né?
– Não… mas você não tem vergonha, sem falar que podemos ser presas e…
– Shii
– Não faz “Shii” pra mim!
Alexia tapou novamente a boca da loirinha, mas dessa vez com um beijo. Juliana por um momento ia continuar beijando mas lembrou do absurdo da situação:
– Pelo amor de Deus Alexia!!! Tem pessoas vindo pra cá
Ouviu-se a porta da suíte abrir e as vozes se tornaram um motivo pra desespero de Juliana, que nem tinha mais coragem de falar. A loirinha pingava de suor, de tamanho nervoso. Alexia demonstrava certo nervosismo, mas se divertia com a cara da loirinha. E as vozes falavam:
– Mas que quarto lindo!! Será que este barco está a venda?
– Não sei Malu, mas vamos fazer o que viemos pra fazer. Dei uns euros para o segurança, teremos privacidade.
Alexia e Juliana se entreolharam chocadas. Conseguiam ver o casal se despindo, através de frestas cegas que o closet possuía:
– Gente, o que o cara tá… MEU DEUS! – disse virando a cabeça para ao lado a fim de entender a posição que eles faziam
O casal estava quase de ponta a cabeça, o cara penetrava-a com furor e dizia palavras indecifráveis, enquanto a tal da Malu falava igual a um bebê:
– Oti cavalinhuu…mete a pitiquinha na sua bebexinha mete…a i ti gotosuu!
Alexia e Juliana se controlavam ao máximo, rindo silenciosamente e conversando sussurrantes:
– Lexy, que coisa bizarra!
– E o sotaque deixa tudo pior! Eu nunca vou esquecer essa cena!
– Culpa sua se eu ficar traumatizada!
– Calma “bebexinha”
– Para com isso – ria
E a mulher do lado de fora continuava a falar naquele tom de voz irritante, e anunciava que chegava ao orgasmo, quando algo não saiu do jeito que ela esperava:
– Oti boooooom…delixinhaaaa….u i..ihhh…ahhh… OPA NA BUNDA NÃO!
A mulher rapidamente levantou da cama e o homem falou:
– Só por hoje Malu. Tu não vais fazer essa vontade ao teu maridinho?
– Disse que se isto acontecesse, não faria mais nada…
– Mas eu ainda não gozei amor…falta tão pouco…estamos num iate… não quebre o momento…
– Estragaste meu orgasmo, agora fique brincando com os cinco anões de tua mão!
Alexia e Juliana não aguentaram e explodiram numa gargalhada escandalosa. Rapidamente os dois se assustaram e o homem abriu a portinha de onde vinham as gargalhadas:
– Mas que porra está a acontecer aqui??? Quem são vocês??
Alexia e Juliana se assustaram, mas não aguentaram e voltaram a rir. Até Juliana de quem se esperava morrer de vergonha, ria. A mulher falou:
– Suas pervertidas!!
Alexia acalmou o riso e falou:
-Calma! Podemos explicar…
As duas voltaram a rir muito. Juliana se curvava de tanto rir. O Homem estourou:
– Olha cá, suas imbecis!! Vocês não podem se intrometer na nossa intimidade assim!
– Você se meteu na nossa primeiro! Mas fiquem tranquilos, que estamos de saída!
Vestiram-se rapidamente, e saíram aos risos do Iate. Não sem antes Alexia passar perto do Segurança e pedir seu dinheiro de volta, afinal o trato não foi cumprido. O segurança questionou, mas o olhar de Alexia era tão amedrontador que acabou devolvendo o dinheiro.
Ainda riam, quando o homem surgiu novamente atrás delas, agora já no caminho que elas faziam para visitar o outro galpão da exposição:
– SAPATONAS! ESTOU A CHAMAR POR VOCÊS!
Elas pararam. E se viraram para o homem. Os risos de ambas, se transformaram em duas caras perplexas. A de Juliana foi se transformando em um misto de tristeza e revolta, enquanto a de Alexia se tornou em uma expressão de raiva, que só aumentou quando percebeu o olhar triste de seu amor. As pessoas em volta olhavam curiosamente, e muitas obviamente as julgando. A morena andou em direção do homem, com a altivez que lhe era peculiar e falando:
– Do que você nos chamou?
– Sapatonas! Não é isto que vocês são? Não tem vergonha não?
– Olha aqui, meu senhor! Ninguém fala assim de mim e da minha mulher! Não use esse tom pejorativo…
– Vocês são duas sem vergonhas que tão precisando de um pau pra curar vocês e…
O homem nem chegou a terminar quando o primeiro soco foi dado em seu queixo. O homem caiu no chão e colocou instantaneamente a mão no maxilar. Sua mulher, que vinha correndo foi socorrer o marido, fazendo um escândalo. Uma pequena multidão começou a se formar em volta e Alexia se preparava para chutá-lo quando Juliana a segurou:
– Amor..não!!!!
Alexia olhou para Juliana, ela olhava suplicante. Desistiu. Deu as costas quando o homem, já de pé falou:
– Vá embora mesmo sua mulher-macho! Você e essa sua piranhazinha…
Alexia não aguentou e deu-lhe um soco no nariz, quebrando-o. O homem caiu cinematograficamente. A tal da Malu berrava pela polícia do local. O homem, com a blusa, mãos e rosto completamente ensanguentados falou:
– Você não tem ideia com quem se meteu!
– E nem você seu verme, você sabe com que tá falando?
– Não, com quem eu tô falando? – disse desafiadoramente
– Beatriz!
– Beatriz?? Que Beatriz?
– BEATRIZ! AQUELA QUE TE QUEBROU O NARIZ!
A multidão que estava em volta, explodiu em risadas da piada pastelão de Alexia. Juliana que assistia a cena amedrontada, cedeu às risadas! O casal olhava estapafurdiamente para as moças, e Juliana ainda falou:
– Não esquece de levar ele no posto de saúde, “bebexinha”!
E as duas saíram rapidamente, antes que a segurança local chegasse. Obviamente desistiram de ver a corrida de Lanchas, e já no carro conversaram:
– Vamos processá-lo amor? – Perguntou Juliana
– Não ele já teve o que merecia. Beatriz já mandou o recado! E com o estrago que ela fez na cara dele, é mais fácil nós levarmos um processo do que ele – riram se lembrando da piada
– Péssima piada amor, péssima piada! – Juliana ainda ria
– Eu precisava de uma piada tão ruim quanto a dele – disse rindo, mas com um tom sério – Não consegui realizar meu fetiche com você, mas pelo menos você teve um bom tempo perto do lugar de sua concepção…
– Oi? Lugar de minha concepção… não entendi…
– Ué Ju, seu pai não se chama Mário?
– Sim e daí?
– Ah…
Juliana demorou alguns segundos para entender a piada e reagiu:
– ALEXIA!! QUE NOJO!!! A piada do armário!!! Que piada velha! Pelo amor de Deus.
– Não resisti! Estou para trocadilhos com nomes hoje!
– Ah é? Então diga mais um…
– Toc Toc…
– Sério que você quer fazer essa brincadeira?
– Sério….Toc Toc…
– Quem bate?
– É a Malu..
– Que Malu?
– Aquela que não quis dar o …
– ALEXIA!!!!!
– Essa foi boa!! Assume!!
– Tá bem! Mas chega! Por hoje chega.
E riam se divertindo, quando uma expressão mais séria tomou conta das duas mulheres. Cada uma pensava, no que de fato tinham passado. Será que de agora em diante seria assim? Enfrentariam esse tipo de preconceito? Se meteriam em brigas de rua? Isso não, e Juliana falou com a morena:
– Amor, você sabe que o que passamos hoje. Vamos passar mais vezes né…
– Sim, eu sei.
– E você não pode sair batendo em todo mundo por conta disso – segurou a mão de sua amada, que estava no volante – promete que vai se controlar mais?
– Prometo que vou tentar…eu te amo Juliana.
– Eu também te amo…
Apesar da piada e dos socos dados por Alexia, merecidamente, Juliana estava triste com o comentário. Percebeu finalmente que seu conto não era tão de fadas assim. E que situações como aquela, iriam se repetir mais vezes. Naquela noite ao ficar sozinha, ela chorou.