Eternizado Pelas Estrelas

Capítulo 19 – PASSAGEM DO TEMPO I

Eu pensei que o mundo fosse abrir sob meus pés. Descobrir que meu irmão tinha AIDS, foi talvez o pior momento da minha vida. Por ser mais velha, apesar de ter 1 ano e meio de diferença apenas, sempre me senti responsável por ele. Sempre zelei pelo bem-estar dele.

Depois que nós dois acalmamos, ele me explicou como aconteceu e como tinha descoberto.

Roberta, a namorada dele há cinco anos, havia experimentado uma droga injetável numa dessas Raves que os dois adoram ir. A diferença é que Carlinhos nunca se drogou, e até aquele dia, Roberta também não tinha. E não é preciso ser um gênio para adivinhar como se deu a transmissão. Eles transavam sem camisinha há mais de um ano, pelo o que ele me contou.

Achava que depois de cinco anos, a confiança é algo inquestionável.  E não…meu irmão não sabia que Roberta tinha se drogado, pois eles haviam se perdido em um dado momento da festa.

Num exame rotineiro, descobriu que era soropositivo. Ficou completamente desesperado pois não sabia como aquilo poderia ter acontecido. E a parte mais difícil seria contar para Roberta. Isso era o que mais o desesperava. Pois ele se culpava.

O dia que ele descobriu que tinha AIDS, foi no dia depois da minha viagem. Me explicou que ficou revoltado no dia do meu embarque, pois sabia que sentiria muita saudade. Mas no dia seguinte, com essa descoberta dele, ele esqueceu isso. Não falava comigo, pois sabia que não conseguiria mentir para mim. E não queria me preocupar nem atrapalhar meus estudos.

Enquanto papai e mamãe, ele manteve a desculpa que sem querer montou no dia do aeroporto,  para não levantar suspeitas. Ele estava completamente só.

Contou-me como foi o término com Roberta, quando descobriu que a culpa havia sido dela.

Enfim a vida do meu irmão, agora, estava de pernas pro ar. Mas eu não poderia deixá-lo sozinho. Demorei dois dias, mas o convenci a contar a verdade pro pai e pra mãe: Outro choque. Nenhum deles esperava por isso. Minha mãe passou mal e teve que ser acudida com um copo de água com açúcar e remédio para pressão. Meu pai nada falava, só escutava. Perguntamos sobre o tratamento, e ele disse que já havia começado.

Voltei para Portugal sexta à noite, com o coração totalmente partido. Mas de certa forma, tranquila por saber que agora ele teria toda a assistência do mundo.  Eu amo meu irmão, mais que tudo nessa vida. E agora ele tava de volta na minha vida graças a Deus. E com pensamentos positivos, e muita fé em Deus que meu irmão ficaria bem, que eu voltei a pisar em terras lusitanas.  E o que reacendeu  meu  coração,  foi um lindo  par  de  olhos  azuis,  que  estavam  à  minha  espera, ansiosamente e apaixonadamente, no portão de desembarque.

Assim que a vi, corri pros seus braços e chorei, tudo que não pude chorar aqueles dias em casa. Precisava ser forte  e passar segurança para todos, mas, agora, eu precisava ser cuidada. E foi isso que Alexia fez comigo. Cuidou de mim. Me acudiu. Cada dia que passava, ficávamos mais e mais próximas uma da outra.  E o tempo foi passando.

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Eu estava indo para o quarto mês de intercâmbio, quando soube que minha bolsa seria renovada. De início, pensei em não aceitar. Queria ficar com meu irmão. E minha família precisava de mim. Mas Carlos disse que se eu voltasse pro Brasil, e perdesse essa oportunidade, ele jamais teria algum sentimento de culpa equivalente ao que ele iria sentir. Resolvi renovar a bolsa. Minha vida foi se arrumando. Estava bem encaminhada com as recomendações do Sr. Alvarenga e do Sr. Macieira. Mary a esse ponto,  já era minha  melhor  amiga.  E Alexia,  cada  vez mais e mais apaixonante.  E surpreendentemente, ninguém suspeitava da gente. Até um boato maldoso sobre mim, se espalhar ao final do semestre.



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