As coisas transcorreram tranquilamente durante a semana. Alexia e Juliana conseguiam dar suas fugidas e roubar uns beijos. A desculpa da biblioteca sempre funcionava.
A prova de gramática do Sr. Macieira foi na sexta-feira, e estava fácil, o que tranquilizou Juliana. No Domingo, Juliana já havia comprado as passagens para voltar para o Brasil e fazer uma visita surpresa a sua família, já que não haveria aula na semana que iria chegar. Falou poucas vezes com a mãe. De propósito.
Mary não pode acompanhar a amiga no aeroporto, pois tinha um trabalho atrasado para fazer. Alexia – que adorou a notícia – se ofereceu prontamente para levá-la.
– Vou sentir falta de você essa semana minha pequena! – Disse a morena ainda dentro do carro, no estacionamento coberto do aeroporto.
– Também vou sentir falta de você. Mas logo a semana passa e já estarei de volta. Qualquer coisa é só me ligar no rádio.
– Mas não é a mesma coisa que ter você aqui comigo, poxa.
– Eu sei, mas preciso ir. Melhor você não entrar comigo. Odeio despedidas desse jeito.
– Como quiser minha lindinha. Agora, eu mereço um beijo não mereço?
Aproveitando o vidro escuro do carro, Juliana deu um beijo de tirar o fôlego em Alexia. Que reagiu:
– Não faz isso. Você sabe que me deixa louca quando me beija assim. E aqui é covardia.
– Aqui? Ou em qualquer lugar, já disse que eu não sou uma garota fácil! – sorriu
– Não tô dizendo isso, mas é que…nossa…como eu te quero. E você me provoca ainda!
– Mas vamos com calma Lexy, eu tô indo viajar agora. – sorriu – Mas eu adoro te provocar. Você é tão cafajeste! – deu um tapinha de leve no ombro de Lexy.
– O vidro é escuro. Me dê mais um beijo. Seu voo só sai em uma hora.
– Só mais um hein!
Beijaram-se, apaixonadamente, por um tempo maior do que pretendiam. Alexia foi tomada por seu instinto, e o sutil gesto de acariciar a barriga de Juliana durante o beijo, tomou rumos diferentes, e encontrou um de seus seios. Juliana soltou um gemido bem baixinho, mas perfeitamente captado pela morena que se empolgou mais ainda, e tentou pôr a mão embaixo da blusa de Juliana, que a brecou:
– Não…Lexy! – Dizia uma Juliana ofegante e com a fala pausada – Aqui não…Desse jeito não. E agora não… Já disse pra você esperar meu tempo…por favor.
– Tudo bem, tudo bem. Mas, me dê outro beijo! – dizia totalmente tomada pelo desejo
– Não! Chega! – foi firme – nos veremos em uma semana.
– Tudo bem. – Disse desoladamente – Mas eu venho te buscar! Sábado? Não é?
– Isso, depois passo informações do voo direitinho.
– Tá ok, meu bem. Boa viagem!
– Fique com Deus e comporte-se hein!
Beijaram-se rapidamente e Juliana saiu, para seguir sua viagem.
——–
Ao desembarcar no Galeão, Juliana quase desmaiou com o Calor. Já ambientada com o Inverno Europeu, lembrou-se de como era o verão carioca. Foi rapidamente acudida por uma aeromoça que lhe deu água gelada e um leque.
“Não me lembrava que era tão quente! Meu Deus”
Juliana chamou um taxi, e foi rumo a Olaria visitar sua família, ela não aguentava mais de saudades deles.
—-
Judith estava passando roupa, quando a campainha toca.
– Carloooos! Vá abrir a porta que deve ser o homem do gás!
Carlos visivelmente abatido, levanta de má vontade e caminha em direção a insistente campainha, gritando:
– Porra!! Já vai!!
E quando abre a porta. Tem o choque:
– Ju..ju..ju…
– Já esqueceu o nome da sua irmã preferida?
Carlos correu para abraçar a irmã e desabou de tanto chorar. Juliana também começou a chorar e o abraçou de volta. Judith estranhou o silêncio e veio até a porta conferir quando gritou:
– JESUS MARIA JOSÉ! FILHA!!!!!
E correu para abraçá-la também! Depois de um tempinho Juliana disse:
– Sei que estavam morrendo de saudade de mim, mas posso entrar?
– Claro filha, claro, claro! Desculpe! Entra!
Juliana entrou e reparou em cada parte da sua casa. Estava fora há quase 3 meses, mas parecia que estava há muito mais tempo.
– Gostou da surpresa mãe? – ainda chorosa
– Filha, não tenho nem palavras – chorava Judith – Vou ligar pro seu pai agora mesmo! – E saiu para o seu quarto, para fazer a ligação para Mário.
Só Juliana e Carlos na sala.
– Posso saber o motivo de o meu irmão ter me ignorado durante 3 meses, sendo que nunca tinha ficado durante 20 anos sem falar comigo todos os dias?
– Juliana, não é isso. Precisamos conversar depois. Longe da mamãe. Por favor.
– Você tá me deixando preocupada. Foi algo que eu fiz?
– Mana, não é nada com você. Depois conversamos. Judith voltou cheia dos sorrisos:
– Filha, seu pai disse que está saindo do trabalho mais cedo só pra te ver! Como eu estava com saudade de você!!!
Judith não desgrudou mais da filha o dia inteiro, sendo acompanhada pelo Mário. Carlos se isolou num quarto e de lá não saiu mais naquele dia.
Com a noite chegando, e Juliana muito cansada da viagem, todos foram dormir. No meio da madrugada, Juliana acorda com o barulho do celular. Era Alexia:
– Oi!! Tudo bem? Que saudade!! – Dizia a voz saudosa da morena do outro lado da linha.
– O…O…Oi Lexy. – Bocejava
– Estava dormindo? Nem me liguei no fuso horário desculpe. É que aqui já é de manhã, e você sabe como acordo cedo.
– Não, tudo bem. Tô meio enrolada com esse fuso também. Como estão as coisas por aí?
– Tudo bem, sem novidades. E por aí? Como foi a surpresa?
– Ahh! Nem te conto. Uma choradeira! Até meu irmão chorou!
– Falando nisso, conversou com ele?
– Ainda não. Não me deram sossego ainda aqui. Vou aproveitar que você me acordou, e vou acordar ele pra conversar.
– Vai lá então. Saudade! Volta logo!
– Oh mulher grudenta essa! – riu – daqui a pouco tô aí com você!
– Então tá. Beijos meu bem.
– Beijos linda.
Desligou o celular e se encaminhou em direção ao quarto de Carlos. Bateu na porta. Ninguém atendeu. Resolveu entrar assim mesmo. Carlos dormia. E foi acordado com um cafuné na cabeça, o que desde criança funcionava muito bem para os dois.
– Mano! Acorda. Só agora teremos descanso pra conversar.
– Ai. Sério Juliana? Eu tô com tanto sono.
– Sim, é sério. LEVANTA!
– Ok ok! Tô sentado.
Carlos e Juliana sentaram um de frente para o outro e deram-se as mãos.
– Agora me conta Carlinhos, o que tá havendo com você.
– Juju, o assunto é meio sério. Não queria estragar sua visita surpresa.
– Meu irmão, essa viagem eu fiz muito mais por sua causa. Assim que tive uma folga na faculdade resolvi vir.
-Então, antes de eu falar. Gostaria que você me contasse como consegui dinheiro para vir pra cá assim. Arrumou namorado rico? – perguntou marotamente.
Juliana riu em pensar na palavra “namorado”. Mas não resolveu contar de Alexia para o irmão. Ainda era muito cedo para isso. Elas nem estavam namorando ainda. Mas, resolveu falar a outra verdade, e respondeu:
– Olha, não conta pro pai nem pra mãe. Mas aconteceu uma coisa meio sinistra comigo lá na faculdade.
E contou a história toda do Guilherme, desde a cena dele dormindo na escadaria esperando por ela, até a tentativa de estupro e a indenização. Carlos revoltou-se:
– Quem é esse puto!!! Vou acabar com ele!! Tenho um amigo meu que trabalha na Interpol! Ele tá fudido!!!
– Calma Carlinhos!! Por favor!! Isso faz tempo já!
– E como você não me contou isso!!! Desde quando você anda escondendo coisas de mim??
– DESDE QUE VOCÊ DESAPARECEU DA MINHA VIDA!
Carlos gelou. E começou a chorar. Juliana sabia que precisava falar aquilo. Ela estava magoada. Mas acudiu seu irmão:
– Eu não atravessei o oceano pra falar de mim. O que tá acontecendo com você meu irmão. – Dizia chorosa, porém firme.
– Juliana…eu…eu…descobri…
– Descobriu o que meu Deus?
– Eu…sou soropositivo!!
– O QUE??? Que papo é esse agora?
– Eu tenho AIDS…Juliana.