Eternizado Pelas Estrelas

Capítulo 18 – CARLOS – II

As coisas transcorreram tranquilamente durante a semana. Alexia e Juliana conseguiam dar suas fugidas e roubar uns beijos. A desculpa da biblioteca sempre funcionava.

A prova de gramática do Sr. Macieira foi na sexta-feira, e estava fácil, o que tranquilizou Juliana. No Domingo, Juliana já havia comprado as passagens para voltar para o Brasil e fazer uma visita surpresa a sua família, já que não haveria aula na semana que iria chegar. Falou poucas vezes com a mãe. De propósito.

Mary não pode acompanhar a amiga no aeroporto, pois tinha um trabalho atrasado para fazer. Alexia – que adorou a notícia – se ofereceu prontamente para levá-la.

– Vou sentir falta de você essa semana minha pequena!  – Disse a morena ainda dentro do carro, no estacionamento coberto do aeroporto.

– Também vou sentir falta de você. Mas logo a semana passa e já estarei de volta. Qualquer coisa é só me ligar no rádio.

– Mas não é a mesma coisa que ter você aqui comigo, poxa.

– Eu sei, mas preciso ir. Melhor você não entrar comigo. Odeio despedidas desse jeito.

– Como quiser minha lindinha. Agora, eu mereço um beijo não mereço?

Aproveitando o vidro escuro do carro, Juliana deu um beijo de tirar o fôlego em Alexia. Que reagiu:

– Não faz isso. Você sabe que me deixa louca quando me beija assim. E aqui é covardia.

– Aqui? Ou em qualquer lugar, já disse que eu não sou uma garota fácil! – sorriu

– Não tô dizendo isso, mas é que…nossa…como eu te quero. E você me provoca ainda!

– Mas vamos com calma Lexy, eu tô indo viajar agora. – sorriu – Mas eu adoro te provocar. Você é tão cafajeste! – deu um tapinha de leve no ombro de Lexy.

– O vidro é escuro. Me dê mais um beijo. Seu voo só sai em uma hora.

– Só mais um hein!

Beijaram-se, apaixonadamente, por um tempo maior do que pretendiam. Alexia foi tomada por seu instinto, e o sutil gesto de acariciar a barriga de Juliana durante o beijo, tomou rumos diferentes, e encontrou um de seus seios. Juliana soltou um gemido bem baixinho, mas perfeitamente captado pela morena que se empolgou mais ainda, e tentou pôr a mão embaixo da blusa de Juliana, que a brecou:

– Não…Lexy! – Dizia uma Juliana ofegante e com a fala pausada –  Aqui não…Desse jeito não. E agora não… Já disse pra você esperar meu tempo…por favor.

– Tudo bem, tudo bem. Mas, me dê outro beijo! – dizia totalmente tomada pelo desejo

– Não! Chega! – foi firme – nos veremos em uma semana.

– Tudo bem. – Disse desoladamente – Mas eu venho te buscar! Sábado? Não é?

– Isso, depois passo informações do voo direitinho.

– Tá ok, meu bem. Boa viagem!

– Fique com Deus e comporte-se hein!

Beijaram-se rapidamente e Juliana saiu, para seguir sua viagem.

——–

Ao desembarcar no Galeão, Juliana quase desmaiou com o Calor. Já ambientada com o Inverno Europeu, lembrou-se de como era o verão carioca. Foi rapidamente acudida por uma aeromoça que lhe deu água gelada e um leque.

“Não me lembrava que era tão quente! Meu Deus”

Juliana chamou um taxi, e foi rumo a Olaria visitar sua família, ela não aguentava mais de saudades deles.

—-

Judith estava passando roupa, quando a campainha toca.

– Carloooos! Vá abrir a porta que deve ser o homem do gás!

Carlos visivelmente abatido, levanta de má vontade e caminha em direção a insistente campainha, gritando:

– Porra!! Já vai!!

E quando abre a porta. Tem o choque:

– Ju..ju..ju…

– Já esqueceu o nome da sua irmã preferida?

Carlos correu para abraçar a irmã e desabou de tanto chorar. Juliana também começou a chorar e o abraçou de volta. Judith estranhou o silêncio e veio até a porta conferir quando gritou:

– JESUS MARIA JOSÉ! FILHA!!!!!

E correu para abraçá-la também! Depois de um tempinho Juliana disse:

– Sei que estavam morrendo de saudade de mim, mas posso entrar?

– Claro filha, claro, claro! Desculpe! Entra!

Juliana entrou e reparou em cada parte da sua casa. Estava fora há quase 3 meses, mas parecia que estava há muito mais tempo.

– Gostou da surpresa mãe? – ainda chorosa

– Filha, não tenho nem palavras – chorava Judith – Vou ligar pro seu pai agora mesmo! – E saiu para o seu quarto, para fazer a ligação para Mário.

Só Juliana e Carlos na sala.

– Posso saber o motivo de o meu irmão ter me ignorado durante 3 meses, sendo que nunca tinha ficado durante 20 anos sem falar comigo todos os dias?

– Juliana, não é isso. Precisamos conversar depois. Longe da mamãe. Por favor.

– Você tá me deixando preocupada. Foi algo que eu fiz?

– Mana, não é nada com você. Depois conversamos. Judith voltou cheia dos sorrisos:

– Filha, seu pai disse que está saindo do trabalho mais cedo só pra te ver! Como eu estava com saudade de você!!!

Judith não desgrudou mais da filha o dia inteiro, sendo acompanhada pelo Mário. Carlos se isolou num quarto e de lá não saiu mais naquele dia.

Com a noite chegando, e Juliana muito cansada da viagem, todos foram dormir. No meio da madrugada, Juliana acorda com o barulho do celular. Era Alexia:

– Oi!! Tudo bem? Que saudade!! – Dizia a voz saudosa da morena do outro lado da linha.

– O…O…Oi Lexy. – Bocejava

– Estava dormindo? Nem me liguei no fuso horário desculpe. É que aqui já é de manhã, e você sabe como acordo cedo.

– Não, tudo bem. Tô meio enrolada com esse fuso também. Como estão as coisas por aí?

– Tudo bem, sem novidades. E por aí? Como foi a surpresa?

– Ahh! Nem te conto. Uma choradeira! Até meu irmão chorou!

– Falando nisso, conversou com ele?

– Ainda não. Não me deram sossego ainda aqui. Vou aproveitar que você me acordou, e vou acordar ele pra conversar.

– Vai lá então. Saudade! Volta logo!

– Oh mulher grudenta essa! – riu – daqui a pouco tô aí com você!

– Então tá. Beijos meu bem.

– Beijos linda.

Desligou o celular e se encaminhou em direção ao quarto de Carlos. Bateu na porta. Ninguém atendeu. Resolveu entrar assim mesmo. Carlos dormia. E foi acordado com um cafuné na cabeça, o que desde criança funcionava muito bem para os dois.

– Mano! Acorda. Só agora teremos descanso pra conversar.

– Ai. Sério Juliana? Eu tô com tanto sono.

– Sim, é sério. LEVANTA!

– Ok ok! Tô sentado.

Carlos e Juliana sentaram um de frente para o outro e deram-se as mãos.

– Agora me conta Carlinhos, o que tá havendo com você.

– Juju, o assunto é meio sério. Não queria estragar sua visita surpresa.

– Meu irmão, essa viagem eu fiz muito mais por sua causa. Assim que tive uma folga na faculdade resolvi vir.

-Então, antes de eu falar.  Gostaria que você me contasse  como  consegui dinheiro  para vir  pra cá  assim.  Arrumou namorado rico? – perguntou marotamente.

Juliana riu em pensar na palavra “namorado”. Mas não resolveu contar de Alexia para o irmão. Ainda era muito cedo para isso. Elas nem estavam namorando ainda. Mas, resolveu falar a outra verdade, e respondeu:

– Olha, não conta pro pai nem pra mãe. Mas aconteceu uma coisa meio sinistra comigo lá na faculdade.

E contou a história toda do Guilherme, desde a cena dele dormindo na escadaria esperando por ela, até a tentativa de estupro e a indenização. Carlos revoltou-se:

– Quem é esse puto!!! Vou acabar com ele!! Tenho um amigo meu que trabalha na Interpol! Ele tá fudido!!!

– Calma Carlinhos!! Por favor!! Isso faz tempo já!

– E como você não me contou isso!!! Desde quando você anda escondendo coisas de mim??

– DESDE QUE VOCÊ DESAPARECEU DA MINHA VIDA!

Carlos gelou. E começou a chorar. Juliana sabia que precisava falar aquilo. Ela estava magoada. Mas acudiu seu irmão:

– Eu não atravessei o oceano pra falar de mim. O que tá acontecendo com você meu irmão. – Dizia chorosa, porém firme.

– Juliana…eu…eu…descobri…

– Descobriu o que meu Deus?

– Eu…sou soropositivo!!

– O QUE??? Que papo é esse agora?

– Eu tenho AIDS…Juliana.



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