Eternizado Pelas Estrelas

Capítulo 16 – GÊNESE ACADÊMICO

Sr. Alvarenga chegaria a qualquer momento com as notas das provas, e ela não conseguia tirar isso da cabeça.  Alexia ainda não havia chegado pra aula, e preferiria que fosse assim até saber da nota. Ainda não sabia como lidar com esse tipo de situação, e não queria pensar nisso agora. Quando sentiu um cutucão no ombro:

– Oi !!! Era Mary.

– Oi amiga. Não veio pra casa ontem. Fiquei preocupada. Você tá chegando agora?

– To! Foi demais Ju! Me diverti a beça. Tenho tantas novidades pra te contar!

“Nenhuma superaria a minha, com certeza!” – Juliana riu internamente com seu pensamento

– Que bom Mary. Depois você me conta então. – disse séria

– Ihhhh! Que bicho te mordeu?

“ Uma Alta, de olhos azuis e beijo arrebatador” – divertiu-se com seus pensamentos novamente.

– A nota-bomba que estou prestes a receber. To muito preocupada. Se eu for mal, posso perder a bolsa.

– Tá maluca garota?? Você é a gaja que mais estuda aqui nessa sala! Não tem como se ferrar!

– Gaja??  – riu – Olhaa, já tem gente pegando as gírias lusitanas!!

– Ih! Ha ha. Saiu sem querer. É a convivência.  Você não convive muito com ninguém aqui. Só vive enfurnada nos seus estudos. Todos sempre perguntam de você, pra mim. E outros nem sabem que você existe. Você nunca aparece em nada.

– Ahh, é meu jeitinho, Mariana.

– MARIANA?? Ninguém me chama de Mariana, Ju. O que tá acontecendo? Tá chateada comigo? Eu só passei o final de semana fora porque você me garantiu que não teria problema e além do mais …

– MARY! Calma! Não tô chateada com você só muito tensa com … – nesse momento Sr. Alvarenga adentra a sala de aula com a pior cara que já fez nos últimos tempos – … com o que vai acontecer agora.

Sr. Alvarenga jogou sua pasta pesada em cima e a turma inteira calou-se. E ele começou seu discurso:

– Nem vou preocupar-me em dar “Bom Dia”. Pois vocês não terão. Principalmente com o que eu tenho a falar… Um barulho de porta se fechando interrompe a fala de Alvarenga.

– Bom Dia, professor! Desculpe o horário. – disse Alexia com a voz mais sonada possível

Alexia chegara atrasada. E o “Bom Dia” que ela deu, logo depois da declaração ameaçadora do professor, fez a turma inteira querer rir, mas foi censurada pelo olhar matador do mesmo, que falou:

– Já que a senhora chegou atrasada, srtª Alexia Bettencourt, será a primeira a ter sua nota divulgada.

– Oi? Mas foi só um minuto e …

– Melhor não se complicar mais.

Alexia estava pronta pra responder o Pinguim, mas olhou pra Juliana e viu um olhar suplicante pra ela ficar quieta. Engoliu a raiva e respondeu:

– Como quiser, senhor. – sentou-se rosnando, mas permaneceu quieta. Alvarenga prosseguiu:

– Como estava a falar antes de ser interrompido, – olhou pra alexia e depois voltou a turma –  as notas estão um verdadeiro lixo. É digna de uma turma medíocre como a de vocês. Por tanto, para aprenderes a estudar, falarei todas as notas altas. Quem sabe não farão vergonha na próxima avaliação. Lembrando aos brasileiros, que o sistema de notas no nosso país a nível universitário, vai de 0 a 20. Começando pela Srª Bettencourt.

Alexia apesar de marrenta, não gostava de tirar notas baixas, e ficou nervosa ao escutar, e o veredito foi dado:

– Nota 13! Nada mal para uma aluna relapsa. Tiveste sorte. Embora eu ainda acho que possas ter colado naquela prova. Bom, prossigamos.

Se era possível instalar-se um silêncio maior do que o que já estava, isso se fez. Podiam quase que ouvir os batimentos do coração acelerar a cada nome que ele chamava. As notas estavam baixíssimas. Alguns zeros. Mary havia tirado 11. A turma tinha média 8. Juliana estava tendo arrepios de nervoso. Consolada muitas vezes pelo olhar de Alexia. Todos os alunos já tinham sido chamados, falta apenas Juliana. Alvarenga se pronunciou:

– Pois bem. Agora tenho em mãos, uma prova que me desagradou profundamente. Srtª Teles, levante-se.

Juliana já tinha vontade de chorar. Mas levantou com firmeza, e não deixou transparecer a fragilidade. Ficou silenciosa.

– Pois bem Srtª Teles. A sua prova é o que eu chamaria de ofensa a todos os meus anos de dedicação a esta profissão. Simplesmente, disseste tudo ao contrário do que ensinei até agora. Mudou completamente os pontos de vistas, como se a opinião de um Professor PhD não estivesse a valer nada.

Juliana estava com o rosto vermelho de tanta raiva. Mas decidiu que só falaria quando lhe fosse solicitada. Alvarenga prosseguiu:

– E por consequente de sua inconsequência, lhe dou a nota 20! A turma tão incrédula quanto a loirinha, em uníssono disse:

– O QUE?????

Juliana resolveu se manifestar:

– Desculpe Senhor, mas não entendo. Se está tão ruim, por que a nota máxima? Alvarenga abriu o primeiro sorriso naqueles dois meses de aula e disse:

– Senhorita, isto é um curso de Jornalismo. A senhora mostrou total imparcialidade, e preocupou em não transcrever minha opinião. Deu o seu ponto de vista nas questões mais conceituais. O que eu venho tentando passar para vocês é que: Jornalista que se preze, jamais trai a sua verdade quando uma opinião lhe é pedida, ou sua imparcialidade quando lhe é devida. Fiquei extremamente revoltado com as críticas aos meus pontos de vistas, mesmo que não tiverdes percebido, fizestes isso. E ganhou o meu respeito, e minha admiração. Foi a primeira graduanda a ter essa coragem em 15 anos que leciono. Parabéns.

Juliana olhava estupefata para o professor, assim como toda a turma. Depois de alguns segundos de silêncio, Alvarenga encerrou:

– Pois bem. Era isto. Tenham uma boa semana. Lembrando que semana que vem é a Semana Acadêmica, por tanto, não haverá aula durante os 5 dias da semana.  Até mais ver.

E saiu.

– “Ai vou bombar na prova…bla bla bla” – Mary imitava a amiga, debochando dela saudavelmente

– Eu não estou acreditando ainda nisso. – Disse Juliana, completamente chocada!

– Deixa de ser boba! Eu sabia que você ia arrebentar. Isso pro seu currículo var ser um estouro!

– É eu sei. Nossa, tenho que agradecer muito a Deus.

Mary deu um abraço na amiga, que acabou deixando uma lágrima fujona aparecer. Foram interrompidas.

– Será que posso dar os parabéns as meninas dos olhos do pinguim? – era Alexia. Seu rosto transparecia orgulho.

– Mas é claro! – disse Juliana, se jogando nos braços da morena.

Mary olhou a cena, e nada falou. Pelo menos não naquele momento. Alexia se desfez do abraço e disse:

– Vocês duas, querem almoçar comigo? Só tínhamos o chato do Alvarenga hoje mesmo. E ele terminou mais cedo – Mary olhou com certo espanto pra tanta intimidade:

– Er…obrigada Alexia, mas acho que eu e Juliana vamos comer no refeitório mesmo. Juliana discordou:

– Não aguento mais aquela comida Mary. Vamos com Alexia. Vai ser divertido!

Alexia insistiu:

– Sim, vamos. Eu tô de carro, não vamos precisar pegar condução alguma. Vamos até o centro, almoçamos e depois voltamos para cá.

Juliana já estava totalmente convencida, e não restou alternativa para Mary, se não ir.

Foram a um restaurante Português chamado Docas de Coimbra. E para um simples almoço, até que o papo rendeu.

– Ah não! Pior do que a aula do Pinguim do Batman é aguentar a Juliana falando de Botafogo sempre! – reclamava Mary

– Qual? O Bairro bonito da Zona Sul do Rio de Janeiro? – debochava Alexia

– Não, engraçadinha, Botafogo de Futebol e Regatas!  – deu a língua para Alexia, que achou o gesto terno e meigo

– O clube mais bonito do Rio e mais encantador do Brasil. Eu amo, sou completamente apaixonada por futebol. É horrível ficar acompanhando pela internet os Jogos. Eu sou torcedora de estádio. De gritar, cantar!

– Nossa Juliana, não imaginava que fosse tão fanática

– Eu é que aguento Alexia. Essa aí é apaixonada mesmo. Qual seu time Alexia?

– Como capixaba, não tenho boas opções de times pra torcer, então eu torço pro Flamengo do Rio mesmo.

– Ah nãããão! Não acredito, Alexia. Que decepção! – dizia Juliana com cara de desprezo

– Ih Alexia, isso é motivo pra fim da amizade hein! – riu – Você é capixaba também? De que parte do ES você é?

Alexia pareceu por um momento preocupada com a declaração de Juliana, e nem deu muita atenção para a pergunta de Mary, mas logo entendeu que foi uma brincadeira.  Juliana disse:

– Calma Alexia, não vou parar de falar com você por conta disso. Mas… logo Flamengo? Você ao menos gosta de futebol?

– Sou de Vitória Mary – disse olhando para Mariana e voltou o olhar para Juliana –  e não sou fanática como você, Ju. Assisto às vezes. Mas como estou em Portugal há um ano, nunca mais ouvi falar.

– UM ANO?? – disseram Mary e Juliana

– Sim! Um ano.

– E como conseguiu renovação da bolsa? – Perguntou Mary.

Alexia sabia que estava entrando em um terreno perigoso, mas, não tinha mais porque ficar escondendo sua situação:

– Bom, na verdade, meu pai paga pra eu ficar aqui!!

– Como assim?? Isso é dinheiro sujo!! – Disse Mary se revoltando. Juliana continuou sentada ouvindo tudo, enquanto Alexia se explicava:

– Mas é claro que não. Ele não paga a Universidade, ele paga a estadia. Olha, deixe explicar uma coisa. Vocês são duas meninas inteligentes, que ralaram muito pra conseguir uma bolsa de intercâmbio. Eu, não ralei pra estar aqui. Meu pai contatou uma agência de intercâmbio, e fez o trâmite legal nesta, para que eu terminasse aqui meu curso de Jornalismo. A Universidade é Nacional. Mas pra intercâmbio, ela é paga.

– Nossa, seu pai deve ser cheio da grana hein! – Disse Mary, voltando ao normal

– Sim. Ele é. Cheio de dinheiro e pobre de sentimento.  – Alexia trazia um misto de rancor, tristeza e raiva no olhar

– Entendi – disse agora, uma Mary envergonhada. Juliana mudou de assunto:

– Voltando ao Futebol …

– NÃÃÃÃO! – disseram as outras duas que estavam a mesa.

– Poxa gente, eu só queria falar um pouco. Sinto falta do meu irmão nessas horas, ficávamos conversando horas sobre futebol.

– Ele ainda não fala com você? – perguntou Mary

– O que aconteceu, Ju? Se você quiser falar claro.

– Nem eu sei gente. A única coisa que sei é que ele tá me ignorando completamente desde o dia que eu cheguei aqui.

– Eu já falei pra ela, que é inveja!

– Discordo de você Mary, eu acho que é ciúme.

– Bom, eu já não acho nada. Semana que vem vou aproveitar a semana acadêmica e ir ao Brasil. Vou usar uma parte do dinheiro da indenização do Guilherme. Vou fazer surpresa. E tentar resolver essa história com o Carlos, meu irmão.

– Faça isso sim! Eu que sei como é ruim não resolver as coisas com quem amamos. – Dizia Alexia, com o mesmo olhar de momentos atrás.

Foi a vez de Mary tagarelar:

– Então gente, deixe eu contar do meu final de semana pra animar o ambiente!

Mary começou a tagarelar, mas não foi ouvida por nenhuma das duas. Apesar de parecerem distantes, o que mais queriam era estar sozinhas, se curtindo, se beijando. Elas apenas se olharam, como se pudessem encontrar tudo que era necessário para elas, nos olhos uma da outra. Para disfarçar as vezes, Juliana olhava para Mary, acenando com a cabeça e rindo mecanicamente, enquanto Alexia rabiscava algo no guardanapo e respondia á Mary, da mesma forma que Juliana.

Em dado momento, elas de fato começaram a prestar a atenção no papo de Mariana e se divertiram. Foi um almoço, que acabou sendo acompanhado de um lanche. Um dia surpreendentemente agradável para as três.

—-

Na chegada ao Alojamento, a noite começava a cair. Mary e Juliana começaram a despedir de Alexia a medida que a porta do apartamento delas se aproximava:

– Obrigada mesmo pelo almoço, pelo lanche, pelo papo. De fato, você não é aquele horror todo que eu pensei. – sorriu

Mary para Alexia

–  Eu sei que é difícil achar isso de alguém depois do que eu te fiz. Mil desculpas pelo dia da Toalha, mas, não era um bom dia pra mim. – diz com sinceridade

– Aquilo foi muita sacanagem mesmo. Mas não há necessidade de desculpas, fiz você passar aquele papelão da briga lá em cima. Apesar de eu ter levado a maior parte da vergonha.

– A i nem lembra aquilo. Me dá raiva de vocês duas! Vocês me dão muito trabalho – Juliana fingiu estar zangada e deu uma tapinha no ombro das duas.

As duas exclamaram:

– AIIII!!!!

– Depois eu que sou a bruta!

– Acho melhor eu ir pro meu quarto antes de ser mais agredida! – riram – Obrigada pela companhia Juliana. – Sorriu de uma forma terna para Juliana. Queria beijá-la mas sabia que não podia. –  Obrigada a você também Mary.

– Que isso Alexia, obrigada você pelo convite e por ter bancado a gente ainda. Vou saber retribuir isso um dia. Pode ter certeza. – Piscou discretamente o olho para Alexia que se controlou para não rir.

As duas amigas deram beijos de comadre e entraram para o quarto. Não sem antes Alexia pegar discretamente as mãos de Juliana e lhe dar um papel amassado em forma de bolinha.

Assim que entraram, Mary foi logo tomar banho e Juliana desembolou o papel apressadamente. Estava louca para saber o que era. De fato era um bilhetinho, no maior estilo Alexia.

O almoço foi maravilhoso, mas prefiro ainda o nosso final de semana. Enrola a Mary e me encontra daqui há 1 hora no Lago. Preciso te dar um beijo.

Alexia

Juliana sorriu como uma adolescente apaixonada e tratou de dar um sumiço no bilhetinho. Enquanto esperava Mary sair do banho, resolveu ligar para sua mãe.

– Oi mãe!!

– Oi Juliana, meu amor! Como está meu bebê? – dizia uma voa saudosa do outro lado do telefone

– Não sou mais um bebê, mãe! – reclamava Juliana

– Pra mim sempre vai ser.

– Estou bem, liguei pra contar uma novidade. Tirei nota máxima no primeiro exame. E fui elogiada pelo professor também!

– Ai minha filha!! Você me mata de orgulho. Foi na prova daquele professor chato?

– Sim mãe! Tô tão feliz!

– Estou vendo pela sua voz filha! Ah! Quando vou te ver? Você até hoje não abriu aquele negócio que aparece você. Tal de “iscaique”!

– É Skype mãe! – riu da tentativa da mãe em falar o nome do programa

– Isso! Isso!

– A internet aqui é fraquíssima mãe. Nem dá pra usar. Vou ver se vou numa lan house, e tento abrir por lá essa semana ok?

– Tá bom filha. Seu pai tá no trabalho mas sempre deixa um beijo pra você!

– E Carlos mãe?

– Olha filha. Eu não sei o que se passa com seu irmão. Até com a Roberta ele terminou!

– A beta??? Que isso mãe!!!

– Pois é. Mas estamos tentando. Fazemos de tudo.

– Ai mãe! Tô tão preocupada com ele.

– Calma filha! Vai dar tudo certo!

Mary saiu do banho. Juliana começou a se despedir da mãe, prometendo ligar mais e conseguir entrar no programa de web conferência. Mary logo falou com Juliana, assim que esta desligou o celular:

– Ok. Agora me conta o que aconteceu aqui esse final de semana.

– Como assim?? – Perguntou Juliana Petrificada

– Ihhh! Que cara de assustada é essa? Tá me escondendo o que? – ela insistia.

– Nada. Não aconteceu nada. Fiquei no meu quarto estudando e só – respondeu sisudamente.

– Ah claro. E Alexia resolveu nos levar pra almoçar do nada. Virou amiga dela?

“ E agora? O que eu faço? Será que poderia confiar na Mary a ponto de contar para ela?”

-Ah. Ela veio aqui agradecer a vez que eu ajudei ela na aula do Sr. Alvarenga. E eu aproveitei para agradecer decentemente a ajuda que ela me deu com o Guilherme. Ficamos conversando. E foi só isso.

– Hum…entendi. Que bom então. Ela parece ser uma pessoa legal.

– É sim. Surpreendente né?

– Nem me diga.

Juliana levantou para tomar banho e avisou:

– Amiga, vou na biblioteca depois que sair do banho. Preciso muito pegar um livro pra prova do Sr. Macieira.

– Ah! Se incomoda de eu ficar aqui? Tô precisando muito dormir!

“Ahhh! Perfeito” – pensou aliviada

– Claro que não amiga. Eu ia sozinha mesmo. Sei que não é chegada em uma biblioteca.

– Tudo bem. Boa noite. E bom “estudo” – deu uma risadinha sacana

– Boa Noite. Tá rindo que?

-Nada não – riu de novo e deitou – até amanhã, pois vou estar dormindo profundamente quando você chegar. Sabe como é né. Você começa a estudar, a se envolver, e perde a noção do horário.

– Eu sei. Bom, até amanhã então.

Juliana tomou banho, se arrumou com uma calça jeans preta, e uma blusa de manga comprida com um casaco e cachecol. Fazia frio aquela noite e ela sabia que perto do lago era pior ainda.

Chegando ao local marcado estranhou por não ver Alexia. Estava muito escuro, com apenas as luzes da Universidade Iluminando o local de rebarba. Tomou fôlego para chamar o nome de Alexia, sentiu, por trás, uma mão tapando sua boca e dizendo em seu ouvido:

– Não…grite!



Notas:



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