Alexia estava deitada em sua cama, de olhos fechados, mas não estava dormindo:
“E cá estou eu sozinha com meus pensamentos. Um domingo chuvoso que eu não faço questão de sair da cama. E nem sei se quero. O beijo que Juliana me deu, foi algo, totalmente louco, fora de cogitação e mais…mais…maravilhoso que já ganhei. Ela me parecia tão ingênua, tão mansa, tão passiva.
Eu sinto atração por ela, confesso. Mas sempre achei que ficar com ela, seria uma decisão minha. E não dela.
Eu nunca me senti com ninguém, como me sinto com ela. Já tive muitos namorados, vários amantes, mas nenhum chega perto, do que eu sinto quando estou com ela. Desde o primeiro olhar. Não sei o que tem naqueles olhos que me encanta, me fascina, me chama. Eu nem sabia que eu era lésbica. Ou bissexual, ou sei lá o que sou nesse momento.
Eu nunca me imaginei casando, tendo filhos. De fato, essa não é minha praia. Mas ficar com mulher?? Não entendo como isso pode acontecer comigo.
Também não imaginei que Juliana fosse lésbica. Tirando o momento antes de dar umas porradas naquele safado, quando achei ela que tivesse transando com a Mary, nunca achei isso dela.
Eu não sei o que eu faço. Já quis por várias vezes descer, aproveitar que a amiga dela ainda não está aí e conversar sobre isso. E beijá-la mais uma vez. Mas…e se ela não quiser? Por que Juliana? O que você fez pra me deixar assim?
CHEGA!!!! Sou uma mulher de 26 anos! Não posso deixar que uma menina, que não deve ter mais que 20 dizer pra mim o que eu vou ou não fazer! Sempre gostei de homem, e vai continuar assim. Tenho que tirar essa história a limpo e é agora! Só preciso de um banho antes, estou podre.
Calma Alexia, você vai olhar aquela menina e irá perceber que não passou de uma mera atração. ” Levantou na cama num supetão que assustou sua colega de quarto:
– Que isso Alexia! Aonde pensa que vai num domingo chuvoso como esse??
– Ah! Vá se catar!! – Alexia levantou o dedo da discórdia para sua colega e se dirigiu ao banheiro.
– Ih!!! Isso é falta de sexo! – resmungou
De dentro do banheiro, Alexia escutou e respondeu:
– Vai tomar conta da sua vida Marcela!! E ligou o chuveiro.
—–
No andar debaixo, Juliana também estava deitada, mergulhada em seus pensamentos:
“ O que você fez sua idiota!? Que ideia louca foi aquela! A garota deve tá achando que você é sapatão! Tudo bem que acho Alexia linda. Aqueles olhos, o sorriso, aquela boca…a i aquela boca. OPA! ACORDA JULIANA! PARA DE PENSAR NO BEIJO!
Mas, o que significou aquele beijo? Que atração irresistível me fez ter uma atitude daquelas. Sempre fui tão tranquila, sempre me policiei tanto em relação aos meus desejos. Desejos?? Meu Deus!! Eu sou sapatão!!! Ai que termo feio.
Como eu devo me chamar então? Lésbica? Gay? Homossexual? E se foi apenas uma vontade de experimentar algo novo. Vai ver foi isso. Não sei o que faço! Como queria o ingrato do Carlos nesse momento pra me ajudar.
Será que ela gosta de mim? Ela me pareceu tão paradona. Nem fez nada. Não correspondeu. Vai ver que aquela pose toda é só pra botar banca. Me pareceu meio frouxa – riu.
Ou ela ficou sem graça pela sua atitude imbecil e quis ser educada. – o sorriso se desfez
Ai que confusão! Não sei o que falar nem o que pensar. Preciso resolver isso! Vai ver foi uma atração passageira, por ela ter te salvado do Guilherme. Deve ser isso. Mesmo assim, preciso falar com ela.
Quero nem saber o que ela vai achar!! Vou lá no quarto dela e tirar essa história a limpo. Só preciso de um banho antes, pois estou cheirando igual ao peixe de ontem, azedinha, azedinha”
—
As duas se arrumaram pra ir de encontro uma com outra. Mas Alexia, que era menos vaidosa, ficou pronta primeira e desceu antes de Juliana sair do quarto.
Pensamentos dos dois lados se faziam presentes: “Vamos Juliana, Coragem! Vamos resolver isso.”
“Qual é Alexia, que frio na barriga é esse.”
“ É só pedir desculpa pela confusão! É simples! Foi só uma atração besta! ”
“Mostra pra ela quem manda! E fala pra ela que foi um erro. É uma atração sem sentido, e só isso. ”
Juliana pôs a mão na maçaneta e no mesmo momento veio a memória do beijo que ela roubou da morena. Seu coração acelerou novamente. Ela balançou a cabeça como quisesse afastar o pensamento, a lembrança, tudo. Abriu a porta. Petrificou. Alexia estava em frente à porta dela prestes a bater na mesma. Um clichê simplesmente delicioso de se presenciar. Uma mergulhou profundamente nos olhos da outra. Pareciam estar em transe. Na mesma hora, pensaram concomitantes: “Não…é..só….atração”
Alexia se projetou para entrar no quarto, Juliana recuou. Nenhuma das duas falava nada. Apenas se olhavam. Batendo a porta do quarto, a Morena se inclinou, e puxou Juliana para si , beijando-a da forma mais profunda que possa existir. E a loirinha, retribuiu o carinho. Era um beijo de entrega, de declaração. A cada toque dos lábios, das línguas, ondas de sensações diferentes tomavam conta das duas: Prazer, excitação, confusão, desejo, medo, paixão. O beijo findou-se quando o ar se fez necessário. Se afastaram bruscamente. Juliana abriu a janela do quarto para tomar um ar e lá permaneceu, de costas para a morena. Estava com o rosto completamente vermelho. Alexia sentou na cama, um pouco surpresa com a própria atitude.
Permaneceram alguns minutos em silêncio. Alexia resolveu falar:
– Juliana. O que está acontecendo com a gente?
– Eu não sei Alexia. Não sei explicar isso. – respondeu sem se virar
– Posso te fazer uma pergunta?
– Se eu puder respondê-la…
– Como você descobriu que era…assim.
– Como “assim”?
– Gay.
– Alexia!! Eu não sou gay! Pelo menos, era o que eu achava, até ontem. – virou-se rapidamente, apenas pra responder. Voltou a ficar de costas.
“Sabia que ela ia achar que eu era lésbica. E das atiradas ainda por cima” – pensou Ju
– Ah não? Mas eu pensei …
– Não sou. Bom, não sei mais. Você foi a primeira mulher que eu…que eu..
– Beijou?
– Sim.
– Isso faz de mim lésbica também?
– Não sei nem o que eu sou Alexia, quanto mais vou saber o que você é.
Alexia nesse momento se levantou da cama, foi em direção a Juliana. Segurou em sua mão, o que fez a loirinha se virar e ficar de frente pra ela.
– Sabe Juliana. Eu não tenho ideia do que está acontecendo com a gente. Mas, quando eu estou com você, eu sinto como se já nos conhecêssemos há muito tempo. – Disse olhando profundamente para ela.
– Eu sinto o mesmo Alexia. Não é de hoje que eu sentia uma coisa, sei lá. É alguma coisa nos seus olhos, eles me deixam…perdida. – abaixou a cabeça, como se tivesse com vergonha.
– E o que você quer fazer? Eu não sei. Eu sempre gostei de homens, nunca me imaginei num relacionamento com uma mulher. Minha cabeça não queria que isso tivesse acontecendo, mas meu corpo, meus sentimentos, eles, pedem por você.
“Oh Deus, eu estou parecendo aqueles garotos virgenzinhos apaixonados. OPA!! Apaixonado!!??” – pensou Alexia
– Eu quero…quero você Alexia. – disse levantando apenas os olhos verdes que encontraram rapidamente os azuis.
– Eu também quero você Juliana.
Sorriram uma para a outra. Juliana tomou fôlego e falou:
– Mas, vamos com calma, ok?
– Como assim?
– Isso tudo é muito novo pra mim. Vamos fazer da forma tradicional. Ficamos, nos conhecemos melhor, e daí, se vermos que vai dar certo, namoramos. Só não acho legal explanarmos nada agora. Isso é um assunto delicado.
– Uau! Você é bem direta! – fingiu uma cara de espanto
– Sou uma menina séria Alexia. Seja lá com homem, ou com mulher, não sou qualquer uma. – disse séria
– Calma, calma! Eu já entendi. Nunca achei que diria isso, mas, adoro mulher difícil. – deu uma piscadinha para Ju.
– Olha só que safada! – riram juntas
– Será do jeito que você quiser, linda.
“E lá se foi a Alexia durona! Como você consegue isso menina” – pensou e sorriu a morena Olharam-se mais uma vez, e se beijaram de uma forma calma e delicada. Aproveitando cada minuto do beijo. Estavam nas nuvens.