Eternizado Pelas Estrelas

Capítulo 13 – MUDANÇAS

– Aí está a senhora viciada-em-bilhetes!

Alexia, que se encontrava sentada na grama, próxima ao lado, virou-se rapidamente, como num susto. Ao ver Juliana, lhe deu seu melhor sorriso:

– É. Tenho algumas manias!

– Já percebi! – sorriu

– Vai ficar em pé aí? Senta aqui. Quero falar com você.

Juliana encaminhou-se para o lado de Alexia, e assim sentou.

– Em dois meses de UFL, não sabia que tinha um lago aqui.

– É por que você se não está na sala de aula, está na biblioteca ou no quarto. Não tem muito tempo pra socializar né? Juliana riu:

– Nossa, você faz o tipo sociável?

– Nem um pouco, mas prefiro lugares mais bonitos pra me isolar, do que nos livros!

– E i! Eu gosto de estudar tá! – Sorriu

As duas se olharam um bom tempo. Sem saber o que dizer, até que Juliana quebrou o silêncio constrangedor:

– Olha Alexia, eu realmente queria te agradecer. Você me salvou daquele infeliz. Só Deus sabe como eu estaria agora. Não quero nem pensar que aquele filho da mãe poderia ter…

– Shiii… mas não fez. E não tem o que agradecer. Eu fiz o certo. Como você está?

– Estou bem. Mary tem me ajudado muito. Também gostaria de te agradecer pela ajudinha na prova do Sr.Alvarenga. As notas só saem segunda, nem sei se fui bem. Mas, se não fosse por você, eu não teria destravado.  Obrigada mais uma vez.

– Eu que tenho que te agradecer, por ter me defendido. Se não nem nota eu teria pra contar história. Apesar de eu parecer não ligar, tento me esforçar pra não fazer vergonha.  – riu

– Não tem o que agradecer também. – fez uma cara interrogativa meio engraçada, meio charmosa e continuou – Sabe, eu não entendo você. Você é tão segura pra umas coisas, cheia de si, bate de frente, chuta traseiros como o do Guilherme, e enfrentou até o pinguim do Batman. – arrancou uma risada de Alexia. Por que você não mostra pra todo mundo, o que você realmente é? Você não é o diabo encarnado como Mary acha, e nem a chata mal-educada que eu achei que você fosse.

– Isso é um papo muito longo, e não te trouxe hoje aqui pra isso.

Juliana sentiu seu coração acelerado.

“Meu Deus! Pra que ela me trouxe aqui hoje?”

– Então, pra que foi?

Alexia olhou nos olhos de Juliana, que nesse momento, já estava perdida em sentimentos que nem fazia ideia. Alexia por um momento ficou paralisada com os olhos de Juliana. A única coisa capaz de tirar-lhe as palavras, eram aqueles verdes tão lindos.

“Ah menina! O que você tá fazendo comigo? Nem me reconheço mais!” Juliana, se recobrando do momento, perguntou de novo, meio sem jeito:

– Err..então. Pra que foi?

– Ah, hoje eu vou te levar a fazer algo, que você já deve ter feito, mas não desse jeito diferente que eu vou te propor! Juliana arregalou os olhos, e perguntou, com um pouco de receio, e um pouco de agitação:

– E o que seria?

Alexia levantou como num pulo e falou alto:

– PESCAR!!

Juliana ficou surpresa. Olhou pra um lado. Olhou pro outro, e fez uma cara confusa, o que divertiu muito Alexia. Ela virou pra morena e indagou:

– Mas…as varas? Aonde estão as varas? As iscas? Não tem nada aqui!

– Ah Juliana, nem sempre se precisa de varas pra se fazer o que precisa!

Juliana achou a frase um pouco dúbia, riu internamente, mas continuou a falar:

– Então…tô dentro! Mas…como vai ser?

– Com as mãos claro! Vou te ensinar!! Vem comigo! Juliana ainda relutante, perguntou:

– Mas tá frio! E eu nem trouxe outra roupa! Vou ter que andar molhada até o Alojamento e… Alexia empurrou a loirinha na água! Que berrou:

– Sua maluca!!!! – rindo

– Ahhhh! Assim você para de falar! E mergulhou em seguida!

– Você tem toda razão! Que frio!!

– Pois é! Se eu ficar doente a culpa é toda sua!

– Deixa de ser frouxa! Vamos lá! Deixa eu te ensinar como faz!

Juliana e Alexia ficaram um bom tempo na água. Apesar do frio, elas se divertiam muito! Mas a noite já havia caído há um tempo, e com isso, o lago se tornou um pouco sinistro. Resolveram voltar! Mas com a destreza de Alexia, traziam o jantar! Caminhavam-se em direção ao alojamento.

–  Que isso hein Alexia! Que peixão você pegou!  Não sei como conseguiu fazer aquilo!  É muito difícil, eles são tão, molhados e escorregadios!

– Nossa! Realmente, peixes molhados não são muito comuns né?- riu

– Não foi isso que quis dizer! – disse mostrando a língua e franzindo o nariz durante um sorriso

“Meu Deus, como é linda” – Pensou Alexia, que cortando o pensamento disse:

– Eu estou congelando! Vamos subir logo!

– Janta comigo? Eu preparo! – Juliana perguntou timidamente.

– Claro, mas onde? Sua amiga, apesar de ter me agradecido, não gosta de mim! E minha colega de quarto é um porre!

– Mary não está em casa, só volta amanhã de noite. Vamos! Eu preparo o peixe! Apesar de estar com pena dele, estou morrendo de fome!

– E por acaso tem fogão no seu quarto?

– Ihh! É verdade. E agora, como a gente faz?

– No meu tem! Eu comprei aqueles de dois bocais, que liga na tomada, pra emergências como essa. Eu odeio a comida daqui. Façamos o seguinte: Você vai pro seu quarto, toma um banho, troca de roupa. Eu vou pro meu quarto, tomo um banho, troco de roupa, e pego o fogãozinho.  Tenho tudo lá, talher, prato e facas afiadas, pois não é a primeira vez que pesco aqui, apesar de ser proibido!

– COMO?? É PROIBIDO?? ALEXIA!!! Eu posso perder minha bolsa por conta disso!

– Ih relaxa. Ninguém nos viu lá. Como disse, quase ninguém vai lá.

– Ai ai, não tô gostando dessa ideia. Mas já que estamos com a mão na massa mesmo, não dá mais pra voltar atrás!

– Na verdade é mão no peixe. – Alexia fez uma cara de debochada

– Ok! Parabéns, você conseguiu fazer a pior piada do dia!

– Desculpa, foi mais forte que eu!

E riram descontraidamente.

De repente, as duas ficaram sérias. Juliana, com um olhar terno disse para a morena:

– Sinto que vamos ser grandes amigas!

– Também sinto o mesmo!

E subiram para seus respectivos quartos. 40 minutos depois, Alexia bateu na porta do quarto de Juliana:

– Já vai!!!

Juliana tinha acabado de sair do banho, e buscava algo bonito pra vestir.

“Eu queria muito saber o porquê de eu estar tão preocupada com o que eu vou vestir. É só uma amiga Juliana, se ainda fosse algum gatinho. Eu hein! Você anda muito estranha!”

Abriu a porta.

Alexia carregava o fogãozinho e todos os utensílios culinários que podia no colo. Mas eis o que Juliana viu:

“Dios Mio! O que essa mulher consegue fazer pra ficar mais linda cada vez que eu vejo. Esse vestido, esse cabelo molhado. Nossa, que gata! … Juliana, acho que você tá mudando de time! Não! Isso não é possível! Eu sempre gostei de…”

Alexia interrompe o pensamento da loirinha com um pigarro:

– Er…olha..não sei que bicho te mordeu, mas isso aqui tá pesado! Uma ajudinha não cairia tão mal!

– Eita! Perdão! Eu tô meio aérea hoje! Acho que foi a água salgada!

– Entramos num Lago. É água doce!

– Isso isso, que seja! Ponha isso aqui! – apontou uma mesinha improvisada – preparo o peixe aqui, e você coloca o fogão perto da janela. Se não o cheio de peixe não vai sair daqui por semanas.

Enquanto Juliana falava, Alexia a apreciava da mesma forma com que Juliana fez anteriormente. Reparava no vestido justo, porém simples que a menina usava. Olhava como se ela fosse mulher mais linda do mundo.

“Não tem jeito. É oficial. Estou atraída por ela. Só não entendo como isso foi acontecer. E o que eu faço agora?”

– O jantar!

– Oi???? – Alexia perguntou assustada, como se achasse que Juliana pudesse ter lido os pensamentos dela.

– O jantar! Vamos preparar!

– Sim claro! O que você quer que eu faça?

– Instala o fogãozinho. Eu vou limpando o peixe.

– Deixa comigo!

– Ah!! Olha o que eu achei aqui! Vinho! – Disse com uma carinha de sapeca

– Olha só, a jovem loirinha gosta de biritas! – divertiu-se

Juliana deu um tapinha de leve no ombro da amiga e a explicou:

– É da Mary! Ela adora! Vamos beber, depois explico para ela!

E assim o jantar foi sendo preparado. Por trás de uns olhares mais ousados, claro, sem uma perceber a reciprocidade da outra, o jantar foi sendo feito. No final, fizeram um risoto simples com peixe e arroz. Comeram, conversaram, se divertiram. Pareciam ser amigas de anos.

– Olha! Já são 3 da manhã! E a gente aqui fazendo essa bagunça.

– Acho melhor eu ir pro meu quarto. Se o inspetor bate aqui, e vê a zona que a gente fez! Vamos nos dar mal! Eu não tenho problema com isso, mas você que é bolsista, precisa ser uma menina exemplar!

– Você não é bolsista? Jurava que …

– Tem muitas coisas sobre mim que você não sabe.

– Tô vendo! Mas tô doida pra descobrir.

A frase de fato saiu mais provocante do que Juliana gostaria. Alexia, dona de olhos azuis penetrantes, teve os mesmos escurecidos pela frase da loirinha. Sentiu um arrepio profundo, e um desejo incontrolável de beijá-la. Juliana, por outro lado, ficou com o rosto ardendo, de tão envergonhada que ficou. Não que não tivesse desejo de beijá-la, mas não entendia o que estava acontecendo. Precisava de tempo. Alexia se controlou, respirou fundo e disse calmamente:

– Bom, acho melhor eu ir indo então.

– É, melhor… certamente.

– Então…boa noite!

– Boa noite! Até…amanhã?

– A gente se fala sim!

– Ok. Tchau!

Alexia ia abrindo a porta, quando foi impedida por Juliana:

– Espera!!!!

Alexia olhou pra Juliana mais uma vez, com um misto de esperança e confusão. A loirinha se explicou:

– Dizem que se você não abre a porta pra visita, quando ela vai embora, ela não volta mais.

– E você quer que eu volte?

– Se eu não quisesse, deixaria você ter aberto a porta.

Juliana abriu a porta pra Alexia.  Olharam-se intensamente.  E como  se  fossem dois  imãs,  os  rostos  foram se aproximando,  seguida  pela  batida  do  coração  das  duas.  De fato, nunca eles tinham batido tão rápido.  Os olhares alternavam-se, ora nos olhos, ora para a boca, quando uma voz as interrompeu:

– O que vocês fazem acordadas essa hora?

As duas se afastaram bruscamente. Era o inspetor.

– Sabe que as regras daqui são muito rígidas? Eu poderia advertir vocês. O que poderia prejudicar muito se uma das duas fosse bolsista. São 3 horas da manhã! Isso é hora de fofocas?

As duas soltaram a respiração. O Inspetor não havia percebido nada.  Alexia interveio:

– Olha João, tá tudo bem. Ela estava com uns problemas, e eu estava ajudando. Já estava indo pro meu quarto. Por favor, quebra essa pra gente!

O Inspetor João fez cara de mau, mas respondeu:

– Que seja a última vez! Mas vamos logo.

Alexia se despediu com dois beijinhos de comadres e seguiu para o quarto.    Juliana fechou a porta, um tanto quanto esbaforida e pensou:

“Eu quase beijei uma mulher? Foi isso mesmo? Meu Deus, o que está acontecendo com você Juliana!”

Juliana arrumou a bagunça que elas tinham deixado. E deixou tudo organizado para entregar para Alexia no dia seguinte. Quando uma batida forte na porta foi facilmente ouvida, ela abriu meio receosa. Era o Inspetor:

– Moça, desculpa tá batendo essa hora, mas a morena ali falou que esqueceu uma coisa no seu apartamento, e veio buscar.

– Ok, deixe-a entrar.

Alexia entrou e fechou a porta. Juliana perguntou:

– O que foi? Agora que percebeu que esqueceu tudo aqui?

– Sim, mas estou procurando uma coisa específica

– O que?

– Meu celular! Não sei aonde o deixei.

– Vocês têm CINCO MINUTOS – Falava o Inspetor de fora do quarto. Procuraram e rapidamente acharam.

– E não é que essa coisa de abrir a porta pra pessoa voltar, funciona mesmo? – Disse Juliana

– É você tinha razão. Mas agora tenho que ir mesmo!

– Vai logo, se não esse chato do Inspetor vai ficar reclamando!

– Ok. Boa noite! Fui!

E quando ia abrir a porta, Alexia se virou pra Juliana:

– Faça as honras da casa, senão eu não volto mais.

Juliana pôs a mão na maçaneta e lentamente levantou o olhar sem movimentar a cabeça para Alexia e disse:

– Vou fazer melhor!

Puxou a morena pela nuca, e deu-lhe um suave beijo nos lábios. Alexia ficou paralisada com a atitude da loirinha. Ao mesmo tempo, o corpo das duas reagiram, e enquanto uma sentia o rosto arder, de excitação e medo pelo o que tinha acabado de fazer, Alexia simplesmente havia ficado sem reação. Quando a boca das duas se separam, a morena apenas conseguiu dizer:

– Err…então…boa noite…Juli..ana!

– Boa Noite Alexia. Juliana abriu a porta, e Alexia saiu, ao som dos resmungos do Inspetor. O sono não chegou pra nenhuma das duas.

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