Já se passara uma semana do ocorrido. No decorrer desta, Mary acompanhou Juliana até a Sala da Diretora Roberta que ficou assustada com o relato da menina. Imediatamente chamou a segurança do campus, e foi aberto um inquérito para apurar os fatos. Com algumas câmeras do circuito se segurança, não foi muito difícil perceber as atitudes estranhas do rapaz. E o mesmo acabou confessando, sob garantia de não ser processado, porém, fora jubilado da universidade, não podendo cursar nenhum curso em nenhuma faculdade federal em Portugal, sob alegação de comportamento indevido. Além de uma indenização informal à Juliana, que apesar de ter se relutado a aceitar, foi convencida por Mary, que aconselhou a usar o dinheiro para pagar o curso de línguas que ela tanto precisava – por mais que na universidade fosse gratuito, o material era bastante caro.
Juliana não viu Alexia aquela semana. O que achou estranho. Estava ansiosa por vê-la e agradecer de uma forma decente. Foi no apartamento dela duas vezes, mas a colega de quarto dela disse que nada sabia do paradeiro de Alexia.
Chegou o final de semana. Mary, como sempre, arrumou algo para fazer, disse que passaria o final de semana na casa de uns amigos. Chamou Juliana que recusou. Ela só foi depois de muita insistência da própria Juliana, que tranquilizou Mary, dizendo que nada aconteceria novamente, e que estava querendo um tempo pra relaxar sozinha mesmo. E assim, Mary foi ao encontro dos amigos e Juliana ficou.
Aproveitando a calmaria do quarto, resolveu ligar para sua mãe. Não falara com ela desde o dia anterior do problema todo com Guilherme. E resolvera que não contaria nada, pois não era necessário preocupar ninguém, com um problema já resolvido:
– Alô mamãe?
– Juliana!! Minha filha!! Você sumiu essa semana, nem deu notícias. Não quis ligar, porque imaginei que você tivesse ocupada estudando. Como você está?
– Estou bem mãe. Cansada, mas bem. Foi uma semana difícil na faculdade. Muito estudo. E como estão todos aí?
– Tá todo mundo bem minha filha. Seu pai está trabalhando hoje, e vai ficar muito chateado em saber que perdeu de falar com você. Ele todo dia reclama de saudades suas.
– Estou morrendo de saudade dele também. Dê um beijo nele por mim. E Carlos? Tá por aí?
– Olhe minha filha, ele está. Mas sabe como é seu irmão. Não quer falar. Juliana teve seus olhos repletos de lágrimas e começou a chorar.
– Filha? Você está chorando? O que houve?
– Poxa mãe. Daqui a pouco completa dois meses que estou aqui, e não consegui falar com o Carlos. Porque ele tá fazendo isso comigo? – dizia entre soluços.
– Juliana. Seu irmão é cabeça dura. Cismou que você abandonou todo mundo.
– Pois fale pra ele, que se na próxima ligação, ele não falar comigo. Não precisa falar mais!!!
-Calma filha. Porque você está tão nervosa?
– Nada mãe. Só to de saco cheio do Carlos. Só isso. Ele não tem o direito de me torturar assim!
– Vou conversar com ele filha. Pode deixar. Mas fica calma, por favor! Para de chorar.
– Vou desligar mãe. Quero ficar sozinha com meus pensamentos. É maldade o que meu irmão tá fazendo.
– Se você prefere assim. Mas se acalma por favor. Vou conversar com ele.- Tudo bem mãe. É melhor ele atender mesmo da próxima vez. Se não, esqueço dele. Não dá pra ficar triste toda vez que ligo pra vocês. – Juliana já não chorava mais.
– Tudo bem Ju, deixe seu irmão comigo.
– Beijo mãe. Um bom final de semana pra vocês.
– Pra você também filha. Te amo! Tchau.
– Também te amo. Tchau.
Juliana desligou o telefone muito sentida. Já não bastava tudo o que ela teve que passar aquela semana, e ainda tinha que aguentar o gelo que o irmão dava nela. Ela não entendia o porquê que ele acharia que ela a abandonaria. Ela estava pensando no futuro dela.
Passou a tarde toda lembrando do irmão. Da cumplicidade que eles tinham. E desejou que ele tivesse ali com ela, para que ela pudesse contar todo o susto que havia passado. E claro, como Alexia a salvou. Essa era outra que povoava seus pensamentos e a fazia sorrir sem perceber.
Batidas na porta a tirou de seus devaneios, e ela se levantou:
– Já vai!! Só um momento!!
Arrumou rapidamente o quarto e abriu a porta.
– Menina linda!!
– Seu Manô!! Quanto tempo!
– O tempo é longo quando tens apreço por alguém! Como estás a rapioqueira predileta de todo campus?
– To bem. E o senhor?
– Tirando os problemas de velho!
– E que bons ventos o trás?
– Como é? Juliana riu
– Ahaaa! – fez apontando para Manoel – tá aí uma expressão que o senhor não conhece.
– Não mesmo! Que dizes?
– Significa: que bom que o senhor está aqui, qual o motivo?
– Ahh, entendi. Bom gaja, trouxe aqui um envelope lacrado para tu leres, a pedido de uma pessoa que não quis se identificar. Disse-me que saberias o que fazer.
– Mas quem era a pessoa?
– Ora pois, menina, acabei de dizer que pediram-me pra ficar de bico fechado.
– Vindo do senhor, tenho certeza que não é nada de ruim.
– Claro que não. Bom, é só isso mesmo. Preciso voltar aos meus afazeres. Foi bom te ver gaja. Tu lembras muito minha neta.
– Bom te ver também seu Manô. Lembro é? E como ela é?
– Uma rapioqueira loirinha como tu!
– E aonde está ela?
– Nos EUA. Conseguiu uma bolsa de estudos e está por lá. Raramente falo com aquela desnaturada.
– As vezes é a correria. Logo logo, ela estará batendo na sua porta.
– Assim espero, ela é a coisa mais importante pra mim. Mas, deixe-me ir agora. Um bom restinho de dia pra você Juliana.
– Pro senhor também.
Juliana fechara a porta já rasgando um envelope. Era uma carta:
“Juliana,
Sei que você deve ter estranhado meu sumiço essa semana. Mas espero que entenda que tudo o que aconteceu foi um pouco chocante pra mim. Estou te esperando aqui atrás do prédio principal, em frente ao lago. Espero que possa vir.
Beijo, Alexia “
E o coração de Juliana disparou.