Meia hora mais tarde, depois de ter interrompido o conselho, minha mãe estava no quarto de Arítes, lhe dando um chá de algumas ervas que misturara e eu estava em meu quarto agoniada. Fui proibida por minha mãe de sair dos meus aposentos, pois no desespero, utilizei a desculpa de que eu passava mal. Tudo para que ela saísse do conselho, sem levantar suspeitas.
O diálogo entre minha mãe e Arítes foi muito interessante, mas só tive conhecimento dessa conversa tempos depois.
****
— O que houve, Arítes? Não deveria estar se sentindo tão mal. Acordou bem, pelo que Tália me falou, tomou seu banho sozinha. Sentiu o esforço por ter se levantado?
— Não. Já estou melhor. Não se preocupe, comandante. Desculpe por pedir a Tália que lhe chamasse.
— Não tem importância. No momento, você é minha preocupação, mas devo dizer que, pela desculpa que Tália deu, complicou um pouco. Ela falou que estava passando mal e mandei que ficasse em seu quarto, para não levantar suspeitas. Não poderei ficar com você e ela não poderá mais vir para cá. Hoje à tarde Astor atende o povo em audiência pública. Tenho que estar a seu lado e estabelecer minha presença novamente perante o povo. – Minha mãe suspirou, pensando nas consequências daquele chamado. — É uma situação delicada e preciso deixar implícito para nossos “protegidos”, que estou cumprindo meus deveres como a comandante do exército, diante da situação tensa que envolve Eras e Terbs. Mandar chamar Tétis e tirá-la do regimento, só se fosse para ficar com Tália, como sua guarda pessoal. Como ela estaria supostamente doente e em seu quarto, não justifica. Tétis só poderá montar guarda depois que terminar seus exercícios na escola do exército.
— Desculpe por complicar tudo…
— Não é sua culpa estar machucada e nessa situação. Já pensei em uma forma que nos facilitará. Removerei você para o quarto de Tália de alguma forma. Para ser sincera, nos facilitará e muito, para escondermos você até depois de amanhã.
— Não! Por favor, comandante. Eu posso ficar sozinha.
A comandante Êlia fechou o cenho, em sinal de incompreensão diante da reação da Tenente-Coronel.
— Desculpe, Arítes, mas não há outra maneira. Já estamos mudando demais a nossa rotina e isso poderá levantar suspeitas. Hoje Galian já encontrou Tália aqui no corredor. Você ficando com minha filha e ela estando adoentada, é a desculpa perfeita. Treinaremos no jardim interno do quarto dela.
Minha mãe sabia que algo havia ocorrido pela atitude de Arítes. Queria força-la falar.
— Se não me der um bom motivo para não levar você para lá, é no quarto de Tália que irá ficar.
Arítes se calou e minha mãe suspirou.
— Arrumarei suas coisas então. Quando a tenente Tétis chegar para o almoço, ela poderá vigiar o corredor e nos ajudar a chegar no corredor real em segurança.
— Comandante, eu não posso falar. É algo pessoal de Tália, mas por favor, me deixe aqui.
— Tenente-Coronel, eu não posso permitir que coisas pessoais interfiram nesse momento. – Minha mãe usou o título da Arítes num tom severo. — Se me falar, poderei até compreender e de alguma forma remediar. Não falarei nada a Tália e nem a repreenderei, se acaso ela lhe causou algum mal.
— Ela não me causou qualquer mal… pelo menos por querer. Ela nem sabe o por que de meu mal-estar.
— Então ela lhe causou algum mal sem querer? Por favor, Arítes, não podemos ficar as voltas com enigmas! Ajude-me a compreender.
— Foi algo que me contou. Eu, realmente, fiquei surpresa, principalmente por ser sua guarda pessoal e nunca ter notado qualquer aproximação.
A comandante já perdia a paciência. Queria entender toda aquela confusão e dar andamento ao que planejara.
— Notado a aproximação do que, ou de quem?
Arítes se remexia na cama, travando uma luta interna, tentando decidir se contava para minha mãe. Sentia-se ridícula.
— Ela me falou que estava apaixonada por uma mulher.
A minha mãe se lembrou da conversa que teve comigo na noite anterior e da conversa que tivera com Arítes dias antes. Teve uma enorme vontade de rir diante da situação. Pensava na confusão que devia ter se instaurado na mente de Arítes, mas não queria tripudiar sobre seus sentimentos e nem poderia revelar o meu segredo.
— Deixe-me ver se entendi. Tália falou a você que estava apaixonada por uma mulher e por conta disso, você passou mal. Foi isso que aconteceu?
Um rubor estampou o rosto da tenente-coronel. Parecia que sua alma estava desnuda diante de sua comandante.
— Mais ou menos…
Arítes se viu num impasse, mas resolveu contar tudo que ocorreu e tudo que foi falado por nós. Minha mãe não conseguiu conter o sorriso em seus lábios. Ela entendeu que eu estava tentando me abrir com Arítes, mas o súbito mal-estar da tenente-coronel me fez recuar.
— Arítes, por que não perguntou quem era a mulher? Se Tália se abriu com você, certamente tem confiança o suficiente para contar por quem está apaixonada.
— Eu não quero saber por quem ela está apaixonada!
Arítes falou de súbito e de forma alterada. Quanto mais a conversa se aprofundava, mais minha mãe tinha ímpetos de rir. Achava tão ridícula a situação, quanto belo era o nosso despertar.
— Mas deveria e por dois motivos. O primeiro motivo é porque a ama e daria a você a oportunidade de lutar por seu amor. O segundo e o mais importante, é que você é a guarda pessoal dela. Como você não quer saber por quem ela está apaixonada? É seu dever saber quem se aproxima de Tália.
A comandante pensou estar machucando terrivelmente Arítes por dentro e isso lhe doía também, porém sabia que se não a forçasse pela sua obrigação, Arítes se esconderia por trás de um muro e, depois que isso ocorresse, as coisas ficariam mais difíceis de se esclarecer entre nós.
Olhou o rosto da tenente-coronel contraído e duvidava que a dor que demonstrava, seria uma dor física. Aproximou-se e agachou a seu lado, próxima a cama. Pousou uma de suas mãos, nas mãos de Arítes, que se encontravam pressionando seu estômago, e com sua outra mão, afastou os cabelos que lhe caíam nos olhos, num afago terno.
— Arítes, já perguntei isso antes e vou perguntar novamente. Você confia em mim?
A tenente-coronel a olhou com olhos marejados.
— Confio.
— Então vou lhe falar uma coisa. Nem tudo na vida é o que pensamos, ou o que parece. Muitas vezes o que você vê ou escuta, não é realmente o que ocorre. Tudo é uma questão de ótica e nossos fantasmas pessoais nos levam a acreditar em ilusões.
— Eu sei o que escutei.
— Mas não sabe quem ela ama, ou se ama de verdade. Você precisa saber para, ou afastar seu coração desse amor, ou conquistar o coração dela. Se calar e se anular, fará você sofrer mais.
Arítes meneou a cabeça em aceitação. Compreendia o que a comandante lhe dizia, mas estava dilacerada por dentro.
— Vou arrumar suas coisas. Realmente temos que levar você para lá e creia-me, se houvesse um jeito mais fácil, eu o faria. Não gosto de ver sofrimento em seus olhos, mocinha.
Minha mãe levantou, beijou a cabeça de Arítes carinhosamente e foi arrumar algumas roupas para que a tenente-coronel se alojasse em meu quarto.
****
Eu estava nervosa desde a hora que Arítes passou mal. Estava impaciente e resolvi praticar exercícios solo com a espada, em meu jardim particular. Tinha que dissipar minhas frustrações. Escutei três batidas na porta, sinal que minha mãe tinha voltado. Corri e quando abri, Arítes entrou rápido, amparada por minha mãe e seguida por Tétis.
— Arítes, você está bem?
Falei preocupada, enlaçando sua cintura e acariciando seu rosto. Ela baixou a cabeça e se desvencilhou de meu abraço, caminhando até a cama.
— Estou melhor, mas a comandante quer que eu fique aqui com você. Facilitará em meus cuidados.
Apesar de ter em mente a gravidade da situação, eu não cabia de tanta felicidade
— Tália, vou ter que retornar à tarde para a audiência, — minha mãe falou — mas antes trarei o almoço de vocês, bem como todas as refeições. Ninguém questionará, já que você se encontra supostamente indisposta. Possivelmente seu pai deverá vir vê-la. Tranque a porta por dentro e fique atenta. Quando ele chegar, leve Arítes para seu quarto de leitura e estudos e só depois abra a porta. Tétis voltará a fazer a sua guarda e se tudo correr bem, ninguém desconfiará de nada.
— Está bem, mãe. Arítes precisa tomar algum medicamento?
Minha mãe olhou para Arítes que estava ao lado de minha cama. Ela demonstrava cansaço.
— Só se alimentar bem e descansar muito. Está sem febre e já tratei do corte. Sei que terá que dividir a cama com ela, mas acredito que não ficarão desconfortáveis pelo tamanho de sua cama.
Nesse momento, Arítes levantou a cabeça e seus olhos estavam alarmados.
— Eu posso deitar no sofá do quarto de leitura. Tália não precisa ficar…
— Não senhora, Arítes. Pode ficar quietinha na cama.
Minha mãe apenas sorriu para mim e se despediu, nos deixando a sós. Hoje rememorando os acontecimentos, sei que minha mãe conhecia muito mais coisas do que nos contava.
****
A tarde chegou e após o almoço ficamos a sós novamente. Estávamos absortas em nossos pensamentos. Tentei ajudar Arítes a se acomodar e ela se irritou comigo.
— “Me deixe”, Tália. Não estou tão mal assim.
— Arítes, o que você tem? Estou tentando lhe ajudar e se você não percebeu, gosto de fazer!
Falei com raiva.
— Mas não precisa!
Ela devolveu na mesma entonação.
— Preciso sim!
Encarava-a irritada. Ela discutia comigo, qual criança.
— Poupe suas forças. Quem sabe sua amada precisará de você e estará esgotada com os cuidados que está me dispensando!
Ela quase gritava. Fiquei chocada com a agressividade com que soltou as palavras.
“Ela está chateada por nunca ter percebido que eu tinha me apaixonado por alguém? Então é isso? Seus brios, enquanto guarda pessoal, estão feridos? Como sou idiota achando que ela pudesse me amar”!
— Não preciso poupar minhas forças, pois parece que minha amada não quer minha ajuda, mesmo estando toda machucada. Além de tudo, é uma cega que só enxerga seu precioso trabalho. Se enraivece, por se achar ludibriada, por nunca ter enxergado a verdade. Ou será que está irada, por odiar saber que eu sempre nutri um sentimento por você e que não era o que esperava de mim?
Meus olhos marejaram e falei de uma só vez, enquanto corria para o quarto de leitura. Tranquei a porta e me joguei no sofá, chorando. Amar era uma porcaria. Sofri calada tanto tempo para no fim, despejar tudo e ter que suportar o desprezo dela por mim.
Alguns minutos depois, escutei Arítes pedindo para eu abrir a porta. Disse que queria falar comigo.
— Vá descansar, Arítes. “Me deixa”.
— Tália, por favor, abra a porta. Eu quero falar com você.
Sua voz era suave. Possivelmente, estava com pena da coitada aqui. Mais lágrimas rolaram por meu rosto e eu não conseguia controlar o soluço.
— Não quero falar com você e não quero que tenha pena de mim.
— Não estou com pena de você, Tália. De onde tirou isso? Abre essa porta que a gente precisa conversar.
— Não quero conversar com você agora. Vai deitar.
Escutei batidas na porta principal do quarto. Só faltava mais essa, para acabar com o resto do meu dia. Levantei rápido, pois sabia que Arítes não poderia abrir. Enxuguei minhas lágrimas, o melhor que pude, e abri a porta para que Arítes se escondesse e eu atender quem me chamava. Ela passou por mim e me lançou um olhar suave. Aquilo me matou. Eu queria morrer, mas não queria seu compadecimento.
Ela fechou a porta e fui até a porta de entrada. Bateram mais uma vez, mas estava tentando me recompor, para que meu rosto não transparecesse que tinha chorado tanto. Abri a porta e vi Tétis pelo vão.
— Desculpe, Tália, mas sua mãe pediu que eu avisasse assim que montasse guarda.
Suspirei, pois parecia que o mundo resolvera conspirar contra mim. Agora teria que encarar Arítes.
— Obrigada, Tétis.
Fechei a porta. E agora? O que eu falaria com Arítes? Como eu a encararia? Fui até a porta do quarto de leitura e abri. Virei-me em direção a cama sem nada dizer. Sentei abraçando um dos travesseiros, coloquei outro em minhas costas e me recostei na cabeceira.
Arítes saiu e veio de encontro a mim. Sentou-se a meu lado se recostando também.
— Sinto muito, eu não queria ser grosseira com você.
— Para, Arítes! Não quero que sinta pena ou compaixão. Se me desprezasse, talvez fosse melhor.
— Porque eu te desprezaria ou sentiria pena? Tália, eu…
— Agora vem a hora do “você é bonita, inteligente, mas não sinto o mesmo por você”? Pode ficar calada. É mais digno para mim, Arítes.
Estava irritada. Talvez se ela falasse que eu era bonita e inteligente, mas não sentia nada por mim, me confortasse. Só que eu estava dilacerada e queria brigar com o mundo.
— Tália, você quer me ouvir?
— Para falar a verdade, não!
Eu me alterava e ela também. Comecei a me levantar e ela me segurou pelo braço, impedindo que saísse e me puxou de volta para a cama. Desequilibrei-me e fui de encontro ao seu corpo. Comecei a protestar.
— O que você está…
Ela me segurou pela nuca e me calou com seus lábios. A princípio, fiquei sem ação. Senti sua boca colada a minha e um calor subiu por meu corpo. Suas mãos enlaçaram minhas costas e senti sua língua abrir passagem através de meus lábios. Não controlei minha emoção e um gemido rouco ressoou por nossas bocas. Meu corpo tremia inteiro e um enorme sentimento acalentador encheu meu peito. Eu não acreditava no que estava acontecendo.
Minha mente estava anuviada e lembro apenas que pensava no quanto desejei este momento. Agarrei seus cabelos e capturei gulosa sua língua. Nunca havia beijado alguém em minha vida. Achei-me desajeitada, mas não conseguia controlar minhas ações. Arfava descontroladamente. Meu ventre se contraía e comecei a me ajeitar sobre seu corpo, quando Arítes me empurrou de súbito, soltando um gemido de dor.
— Desculpa. Perdoa, Arítes. Eu não queria te machucar.
Ela me sorriu com um misto de dor e alegria. Pousava sua mão na perna em que havia o corte.
— Arítes, te machuquei?
— Não foi nada. Apenas seu joelho que encostou em meu corte, mas já está passando a dor. Vem aqui.
Ela me puxou para que deitasse a seu lado e me abraçou. Comecei a imaginar se Arítes não teria me beijado para me calar, ou por pena.
— Arítes…
— Desde quando está apaixonada por mim?
Ela tinha me aconchegado em seu peito e eu olhei para cima para ver seu rosto. Ela sorria, enquanto me encarava, esperando pela resposta. Seus olhos estavam num verde escuro intenso. Não havia ali sarcasmo ou nada que pudesse demonstrar que ela estaria zombando.
— Desde antes que eu consiga me lembrar.
Falei e ela me sorriu, me estreitando mais em seu abraço, suspirando.
— Por que fomos tão imbecis? Eu tinha tanto medo do que sentia por você. Achava que você nunca me olharia como mulher.
Eu a olhei espantada.
— Você? Você nunca deixava me aproximar!
— Eu sou responsável por sua segurança, Tália. Fomos amigas de infância, sua mãe foi amiga de minha mãe e todos sempre me viram tão perto da comandante, que não podia… não devia misturar as coisas. Além do mais, você nunca me olhava diretamente, sempre estava irritada comigo.
— Você me irritava, pois não me deixava aproximar e ainda por cima, apoiava meu pai, quando ele me cerceava de fazer algo, que é tão normal para qualquer garota.
–Você não fazia coisas normais de qualquer garota.
— Ele queria me tolher. Nem entrar para o exército ele me deixou.
— Ele achou que fosse capricho seu.
— E você? O que achou? Achava que era capricho também?
— Na verdade, peço desculpas, pois nunca pensei sobre isso. Só queria que estivesse em segurança. Não queria ver você se machucando.
— Então pensa como meu pai? Que sou uma princesa que não tem que ter preocupações?
Eu me espantava com o que ouvia, pois achava que ela se importava em como eu me sentia.
— Não. Só que… que eu queria você perto de mim sempre, e que, para mim, sua segurança e seu bem-estar, era tudo que mais me importava. Desculpe-me se fui egoísta, vendo apenas o que eu sentia.
Ela me segurou com os dois braços, como se sentisse medo de que me afastasse. Me aconcheguei mais a seu corpo, tomando cuidado para não machuca-la. Um pensamento passou por minha mente e eu sorri. Sabia que era tímida e resolvi perguntar para provoca-la.
— Arítes, já se imaginou estando comigo?
— Ãh?
— Tendo um relacionamento comigo. Já imaginou estando junta comigo, me namorando?
Ela tomou um alento e a vi envergonhada. Amei seu rosto ligeiramente rubro.
— Sim.
— E o que você imaginava?
— Tália, por favor. Acho que não cabe ficar falando as coisas que eu imaginava, não é?
Meu sorriso abriu mais. Minha resposta estava dada, mesmo que ela não tivesse falado. Ela devia ter os mesmos pensamentos que eu. Dei um beijo rápido em seu rosto. Ela me olhou por uns segundos, puxando-me logo em seguida para beijar meus lábios. Deixei-me levar e que ela me ensinasse o caminho. Levei minha mão até seu rosto, acariciando sua pele macia, aprofundando o beijo. Novamente meu corpo aquecia com seus carinhos sobre minha pele. Suas mãos passeavam por meu abdômen e eu pensava que não deveria estar com a minha roupa de treinamento, pois o colete justo de couro, impedia que sentisse totalmente seu toque. Meu corpo ansiava pelo seu, porém sabia que não poderíamos avançar nas carícias. Ela ainda estava muito dolorida e os cortes que tinha na pele estavam no início da cicatrização.
Comecei a sentir uma pontada de medo. Eu nunca tinha estado com alguém intimamente. Apesar de ter todo conhecimento teórico, pois a educação sexual fazia parte do ensino de adolescentes erianos, não tinha a menor ideia de como me portar. E quando nossa relação avançasse para algo mais íntimo? Desvencilhei do beijo e escondi meu rosto na curva de seu pescoço.
— O que foi?
Ela perguntou baixinho.
— Você já…
Dei uma pausa, pois queria perguntar, porém não sabia como me expressar, ou mesmo se queria realmente saber a resposta.
— Eu, o quê?
— Você já esteve com alguém antes?
— Sim.
Ela falou abafado e não estendeu o assunto. Uma pontada de dor se fez em meu peito e uma pitada de ciúme e inveja desenhou em minha mente.
— Com quem?
— Você não conhece. Não foi aqui no reino.
Eu elevei minha cabeça na altura da sua e a fitei.
— Onde foi?
— Em Kamar. Nas diligências que fiz para a segurança dos comerciantes de Eras.
— Foi uma vez só?
Acho que meus olhos transmitiam a minha angustia, pois ela me olhou com certa aflição e tentou que o assunto fosse findado.
— Tália…
— Eu gostaria de saber, Arítes. Fale, por favor.
Não sei porque era importante para mim, mas eu queria saber e queria que nosso relacionamento começasse livre de segredos.
— Não, não foi.
— Foi com uma única pessoa?
Ela estava visivelmente constrangida.
— Não. Foram duas mulheres diferentes.
— Você ainda se encontra com elas?
— Tália, preste atenção. Eu não amei nenhuma delas. Só não tinha esperanças de um dia ficar com você. Muitas vezes tentei esquecer o que sentia por você, pois nunca vi a possibilidade de algo acontecer entre nós.
— Arítes, não estou censurando. Para mim dói saber? Claro que dói. Mas também sei que não posso te criticar. Somos educados para entender que o sexo é saudável após certa idade. Só que eu sonhava com você e… bem, não consegui ir além com ninguém. Além do que, me sentia desconfortável procurar alguém, tendo você fazendo minha guarda. Você escolheu essas duas, por quê?
Eu falava debilmente.
— É, acho que não me sentiria bem para procurar alguém, tendo uma pessoa me vigiando…
Falou encabulada, diante de minha situação. Acho que ela nunca pensou sobre este fato e lembrou as inúmeras vezes em que eu me rebelava diante da escolta. Talvez ela compreendesse agora, porque sempre a despistava para ter momentos só meus.
Insisti na minha pergunta. Ela não me escaparia.