Eras

Capítulo – 14 – A guerra

Quando acordei pela manhã, nua sobre a cama, lembrei da noite anterior. Meu sorriso abriu em meu rosto. Mesmo consciente do que estava por vir, com a guerra se aproximando, não conseguia segurar a minha felicidade de ter o amor de Arítes em minha vida. Olhei para ela, adormecida. Tinha trocado de roupa e estava apenas com uma camisa folgada para cobrir os contornos de seu corpo. Olhei para janela, pois havia permanecido aberta e o sol da manhã penetrava aquecendo o dia. Pela luz, já devia estar quase chegando na metade da manhã. Olhei-a novamente. Eu estava com fome, mas a minha fome dela era maior.

Comecei a beijá-la, bem de leve, nos pés, nas pernas e quando aproximei das coxas, ela resmungou algo. Reparei que ainda estava parcialmente dormindo, naquele sono entre o despertar e o dormir. Continuei minha trilha de beijos, agora molhados, indo de encontro a intercessão de suas coxas. Passei minha língua pela coxa, chegando próximo as dobras de seu sexo. Ela gemeu mais forte, enquanto eu chegava ao meu objetivo.

— O que… Tália… aahh!

Resvalei minha língua pelo meio da vulva e senti seu líquido escorrer.

— Quer que eu pare?

Perguntei cínica, voltando à minha tarefa de fazê-la gozar.

— Nãoo…

A voz arrastada e rouca, me deu a certeza de que fui bem na minha escolha da forma de acordá-la.

Burilei lentamente o bulbo, que aumentava de tamanho, sob os toques de minha língua. Deslizei rapidamente para a sua entrada e retornei ao ponto rígido, me deliciando com os gemidos cada vez mais fortes. Quando ela gemia, meu próprio corpo acordava e se excitava com os sons e o gosto dela em minha boca.

— Mais forte, Tália.

Aumentei o ritmo e novamente reduzi.

— Não… mais… mais forte…

Ela começou a arfar e eu não consegui levar adiante a minha intenção de tortura-la mais. O prazer dela me enlouquecia. Era como se uma corrente elétrica atravessasse meu corpo e houvesse uma ligação do sexo dela diretamente com o meu. Gemi alto.

— Ahh!

— Vai, Tália, faz forte! Forte, vai!

Não neguei a ela e nem a mim. Suguei com força para logo depois estocar violentamente o seu ponto com minha língua. Ela começou a sacodir num espasmo intenso, enquanto gritava meu nome. Recebi em minha boca o sumo do seu amor.

Subi pelo seu corpo e ela me abraçou. Ficamos durante um tempo mudas, escutando apenas nossas respirações e o barulho que a vida do lago e da floresta festejavam à luz do dia, lá fora.

Pensei na minha primeira vez com ela, e depois, pensei na noite anterior. Foram momentos tão diferentes e ao mesmo tempo, tão igualmente mágicos. O primeiro pela sutileza e intensidade de sentimentos. Como se estivesse comungando com o celeste. O segundo pela intensidade do prazer carnal. Como se estivesse comungando com vida material. Duas formas da mesma ação. O ato de amá-la.

****

Passamos o restante da manhã e boa parte da tarde estudando, decorando, cada linha e cada desenho do pergaminho que, talvez, nos levaria a descoberta do esconderijo da “Espada Macha”. Quase ao fim da tarde, arrumamos as coisas e queimamos o pergaminho. Estudamos tanto aquele pergaminho que seria capaz de fechar meus olhos e vê-lo inteirinho.

Pegamos nossos cavalos e retornamos pelo caminho, para encontrar com o grupamento que montava guarda na entrada da floresta. Os cavalos alados não estavam lá, mas sabíamos que quando estivesse na hora, eles chegariam até nós. Apesar de me sentir feliz com meu relacionamento com Arítes, meu coração começou a ficar apertado. Esses maravilhosos dias ficariam para trás e outros nebulosos estariam por vir.

****

— Mãe!

Cheguei e fui direto para o seu quarto. Arítes foi se trocar e disse que iria até o comando, para se inteirar do que havia acontecido no reino por estes dias que estivemos fora.

— Oi, minha filha!

Ela abriu um grande sorriso que rivalizava com o meu. Nos abraçamos forte. Não conseguia parar de sorrir.

— Estou vendo que alguém está nas nuvens. — Brincou comigo.

— Ah, mãe! Tenho tanta coisa para contar…

— Sem essa de me contar sua intimidade. Mmm… pensando bem, pode contar sua intimidade que vou amar ouvir.

Falou rindo e apesar de envergonhada, ri também empurrando seu ombro, repreendendo-a.

— Nada de contar minha intimidade. – Olhei para ela e pensei por um segundo. – Eu acho que posso contar só um pouquinho…

Ela gargalhou e me puxou para sentar nas poltronas.

— Vem. Senta aqui. Vejo que se entrosaram e não tiveram dificuldades.

— Hum…. Quando chegamos, discutimos por coisas do passado, mas a gente não consegue ficar muito tempo brava uma com a outra. Mãe, foi lindo…. Foi mágico! Eu nem sei como explicar.

— Só não dar detalhes. Diga como se sentiu e como ela sentiu.

Parei um momento para pensar. Não sabia como conseguiria explicar o sentimento que me invadiu quando fizemos amor pela primeira vez.

— Estava um entardecer lindo e sentamos na beira do lago para ver a noite cair. Ela foi tão delicada, mãe. Tão amorosa… Não consigo descrever o que senti, mas posso dizer que nunca vou esquecer, mãe.

Minha mãe sorriu e, pela primeira vez em minha vida, vi seus olhos marejados. A emoção estampava seu rosto também.

— É um dos momentos mais lindos na vida de uma mulher, filha, se acontece com amor. Eu estou tão feliz por você. Quando isso acontece, a “Divina Graça” consegue sentir, e aí, tenho certeza que ela abençoou o caminho de vocês.

— Eu tenho certeza que sim, mãe, pois nós fomos agraciadas com a visão do outro plano.

— Como?

Ela me olhou com espanto.

— Quando coroamos nosso amor, vimos os seres da “Divina Graça” em volta de nós. Eles brincavam e voavam perto e estavam tranquilos. Parecia que festejavam.

Uma lágrima escorreu pelo rosto de minha mãe, como se aquilo fosse algo tão importante para ela, como foi para mim. Ela segurou minhas mãos apertando entre as suas.

— Tenho tanta coisa para te contar de nossa descendência, minha filha. Nós Guardiãs temos uma ligação muito forte com nossas origens e com o povo de Tir. Eu fui educada por sua avó desde muito nova. Assumi responsabilidades muito cedo. – Ela suspirou. — Sua avó falava, que se arrependia de ter me imposto, logo na infância, nossas responsabilidades. Eu me ressentia também disso, mas não deixei de amar menos nossa história. Tentei fazer diferente com você, mas acho que também errei na dose. Não era minha intenção que chegasse a esse momento, tão crua.

— Mãe, não fica assim. Embora eu tenha me magoado por ter me deixado de fora de tantas coisas, você também me deu muito amor e me ensinou tantas outras, através das lendas que contava, dos estudos que fazíamos. Lembro muito pouco da vovó, mas no que me lembro, ela estava sempre sorrindo para mim…

— Sua avó sabia mais de você do que eu mesma, filha. Quando nasceu, ela falava que eu ainda ia me orgulhar muito de você, mas que me deixaria com alguns cabelos brancos também. — Minha mãe gargalhou com gosto. – Lembra quando tinha seis anos e Morak, filho de Mirdes, pegou seu takubi?

Ela gargalhou, novamente me levando a rir. Eu não me arrependi do que fiz, mas hoje, me causava vergonha.

— Você roubou as roupas dele, enquanto ele se banhava no rio, e se escondeu para que não a obrigássemos a entregar. Só apareceu no dia seguinte e o menino voltou nu, se escondendo para que ninguém o visse.

— Voltei só porque tinha fome. Mas ele mereceu. – Falei rindo. – Só que depois fiquei um dia inteiro sem poder sair do quarto.

— E você queria que eu não te repreendesse?

— E por que não? Ele que começou e não queria devolver. – Minha mãe estreitou os olhos com um sorriso de lado. – Tá, eu sei. Tenho que resolver as coisas de forma mais pacífica, antes de tomar atitudes mais drásticas, mas… mas eu tentei falar com ele antes e Morak só ficava rindo de mim e escondendo o meu takubi nas costas. Aí eu deixei ele fazer o que quisesse com o takubi, só isso…

Revidei, cínica. Minha mãe sorriu e me abraçou.

— Estou realmente feliz por você, filha. Mas agora devo conversar com você a respeito de tudo que está acontecendo aqui. Batedores disseram que avistaram o exército de Terbs se agrupando perto da fronteira e…

— Mãe! – Falei alarmada. – Você tem que impedir o início da batalha. Eles estão na mesma situação que nós, por desconhecimento do que está acontecendo!

— Por que diz isso?

Contei à minha mãe, tudo que eu e Arítes passamos nestes três dias e nosso encontro em Tir com a “Senhora das Águas”, e as outras “Senhoras” dos reinos da natureza. Ela me escutou paciente e calada. Tinha se levantado e ficado de frente à porta que dava para o seu jardim interno. Minha mãe sempre assumia essa postura para pensar ou escutar algo com atenção.

— Então Tórus está do nosso lado e Serbes não é um Deus. Quem diria…. Os vermes venenosos são mais espertos do que pensamos, hum? Chame Arítes, mas leve-a para a sala de treinamentos, ou melhor, leve-a para seu quarto. Não podemos ser vistas conversando, a toda hora, principalmente agora. No seu quarto, temos sempre a desculpa de que ela é sua guarda pessoal.

— Mas acabamos de chegar.

— Está na hora de vocês se mostrarem também. Chega desses jogos. Não escondam o relacionamento de vocês. Não vamos esconder algo em que acreditamos e algo tão bonito que é o sentimento de vocês.

 ****

Quando chegamos ao meu quarto, não vimos minha mãe. Arítes procurou no jardim e eu fui direto à minha sala de estudos. Ela já estava sentada na poltrona, com um cálice de vinho na mão. Arítes se juntou a nós.

— Aqui também não é um lugar seguro para falarmos, se os guardas viram a senhora entrar.

Arítes falava isto, pois haviam dois guardas no corredor. Cheguei a estranhar quando voltamos do meu recolhimento, pois nessa ala, não costumavam manter guardas. Nunca foi necessário.

— Por que tem sentinelas aqui, mãe?

— Quando fomos avisados da movimentação de Terbs, Galian designou guardas para esta área.

— Certo.

— Não fui vista entrando, Arítes.

Minha mãe sorriu e olhou para mim e depois para o painel em madeira trabalhada que havia ao lado de minha estante.

— Ah, não acredito que aquela porta ainda abre! – Falei indignada.

— Todas as portas deste castelo, pelas quais me interesso, ficam livres para mim, Tália. Mas não se preocupe. Há muitos anos que não passava por ela. – Sorriu novamente.

— Que porta?

Arítes perguntava sem entender nossa conversa. Caminhei até a lateral da minha estante de pergaminhos.

— Isto não é um painel decorativo, Arítes. É uma porta que minha mãe utilizava, quando eu ainda era criança, para ver o que eu estava fazendo em meu quarto. Logo que cheguei à adolescência, ela me disse que havia trancado.

— Falou corretamente, Tália. Eu disse que havia trancado e não que havia acabado com ela.

— Depois que isso tudo acabar, eu quero ela trancada novamente, mãe.

Falei autoritária.

— Depois que isso tudo acabar, talvez você já esteja dormindo em meu quarto, Tália.

— Mãe, não fale uma coisa dessas!

Meu coração apertou e ela balançou a cabeça, espanando os pensamentos.

— Estou apenas falando da possibilidade dos acontecimentos que as guerras nos levam, mas vamos ao que interessa. Sei que estão cansadas, mas preciso que vocês sigam agora à noite na direção de Terbs. O exército deles está acampando na fronteira, a uma noite de viagem daqui. Nossos batedores falaram que Belard está junto com o exército. Eu não confio em ninguém para ir e também não poderei ir, senão o faria. Tenho que distrair seu pai até vocês estarem longe.

— E acha que o Rei Astor não mandaria ninguém atrás de nós?

— Ele não o fará, Arítes, por dois motivos. O primeiro é que confia em mim, me ama e sabe que sou a pessoa que mais zela por Eras. Conhece a minha competência no comando também. Já batalhamos lado a lado. O feitiço que lançaram sobre ele, está controlado por conta do antídoto que a sacerdotisa-curandeira deu a Tália.

A comandante levantou e foi até a minha mesa de estudos. Minha mãe parecia diferente aos meus olhos. Mais séria e compenetrada.

— O outro motivo é que ele ama Tália demais, para arriscar a vida dela, mandando batedores atrás. Vocês levarão a insígnia de paz e um pergaminho lacrado com o selo da “Senhora das Águas”.

— E o que nos garante que Terbs respeitará a insígnia de paz?

— Se eles realmente estão sendo instigados como nós, como falaram para vocês, Belard e Badir não titubearão ao ver a insígnia. Quererão saber o que temos para falar, principalmente depois de Belard olhar o selo. No mínimo, vão querer ler o que está contido no pergaminho. O fato é que vários emissários diplomatas nossos, já foram tentar estreitar as relações comerciais com eles, mas dois deles foram quem mais entraram em contato. E vocês tem a missão de descobrir de onde vieram essas intrigas. Quero saber se de quem eu desconfio, é que está por trás disso.

— De quem desconfia, mãe?

Ela me olhou com um fraco sorriso.

— Dos integrantes do conselho, Vergás.

— Vergás?

Eu e Arítes falamos juntas, espantadas.

— Ele era o único que estava junto, quando Astor chamou Arítes para pedir a ela que fosse a Terbs, naquela noite. Astor não tinha premeditado nada. Quem teria tempo de arregimentar uma emboscada naquele tempo mínimo? Os outros conselheiros só tomaram ciência no dia seguinte. E ele foi algumas vezes a Terbs como um de nossos emissários.

— Entendo… Ele foi bem enfático também, quando me apresentei e contei o ocorrido. Parecia que queria instigar para irmos de encontro a Terbs. – Arítes falou.

— Se isso ocorresse, Natust teria a oportunidade perfeita para nos atacar. Nosso exército estaria dividido entre Terbs e as nossas muralhas. – Completei.

Minha mãe assentiu com a cabeça.

— Tudo bem, comandante. Nós iremos hoje, mas depois que chegarmos na fronteira pela manhã, não conseguiremos voltar em menos de quatro dias. Isso se Belard aceitar nos levar ao rei Badir. Levaremos mais um dia para chegar e depois um dia e meio para voltar.

— Vocês não retornarão. – Minha mãe sorriu sinistramente. – Vocês rumarão na direção de Kardoshara para chegarem a Tevé. Não quero que, nem de longe, os seguidores de Serbes imaginem que estão indo para lá à procura da “Espada Macha”. Então é melhor que façam a partir de Terbs. É a oportunidade perfeita.

— E o que falará para o comando e para o conselho? Eu e Arítes teríamos que nos apresentar.

— Aliás, hoje o general Hian falou para me apresentar amanhã bem cedo, pois estão montando os esquadrões para a defesa das muralhas e para avançar até a fronteira. – Falou Arítes.

— Se o que estamos planejando der certo, os esquadrões estarão prontos para a chegada de Natust, mesmo que tenham se preparado para a batalha contra Terbs. Mas amanhã falarei que enviei vocês ao santuário da “Divina Graça”. É tradição mulheres guerreiras, ligadas aos clãs das “Senhoras da Natureza”, fazer orações durante alguns dias no santuário, antes das batalhas.

— Pode ser, mas acha que engolirão? – Perguntou Arítes.

— E por que não?

— Porque somos nós, mãe. Acabei de ingressar no exército e Arítes está numa patente maior.

— Na batalha contra Natust, quem foi fazer as orações fui eu e Ravine. Ficamos dez dias no santuário e retornamos. Não me questionarão, pois justamente vocês, venceram obstáculos para galgar seus postos. São boas-venturanças.

— E quem fará as orações se não vamos para lá?

Minha mãe e Arítes me olharam incrédulas, como se eu tivesse falado um absurdo.

— Ah, “Tá”. Desculpa, desculpa. — Falei me redimindo da bobagem que pensei. — Já estamos trabalhando para a harmonia dos planos e pela “Divina Graça”. Entendi a relação.

Minha mãe balançou a cabeça sorrindo. “Poxa, também não vão querer que eu me atine para tudo, né? Só estou começando a entrar nessas coisas de estratégia agora”. – Pensei.

Minha mãe me entregou o pergaminho com o selo e me deu um cordão com um pingente que tinha o símbolo da “Senhora das Águas”.

— Esse é o cordão das Guardiãs, Tália. Foi de sua avó e passou para mim. Leve e quando chegar a Terbs e for encontrar o rei Badir, coloque-o. Ele pode não saber o que representa o cordão, mas vendo o símbolo em você, saberá que ainda é devota da “Senhora” do seu clã.

Conversamos mais um pouco, recebendo instruções de minha mãe e fomos para além dos portões, por um caminho que minha mãe nos indicou. Um caminho que só ela e meu pai conheciam. Eu ainda me surpreendia com a minha mãe.

****

Chegamos no rancho de Arítes, meia hora depois de termos deixado o castelo.

— Por que nunca me trouxe aqui?

— Você já veio aqui.

— Eu?

Ela sorriu.

— Sim, esse era o rancho de meus pais. Vínhamos com meu avô quando éramos crianças. Não lembra?

— Nossa! Era o rancho do conselheiro Cétriz!

Divaguei pensando nos tantos dias felizes que vivi quando passeava com Arítes e o seu avô.

— Está tão diferente…

— Eu aumentei a casa um pouco. Só tinham dois cômodos. Montei também esse campo de treinamento para cavalos. Eu adestro meus próprios cavalos para a infantaria e acabei fazendo para alguns amigos de espada.

Ela falava feliz e com orgulho.

— Acho que a gente vai ter que voltar a se conhecer. Vejo que sabe tudo de mim, mas eu, quase nada de você. – Falei um pouco sentida.

— Ainda não sei tudo que gostaria sobre você. Muito de você, passava longe do que eu percebia e eu ainda me achava uma boa observadora. – sorriu. — Sabe que eu me choquei quando me falou que eu era a mulher pela qual você se apaixonou?

Caminhávamos em direção à casa, pois tivemos que sair sem nada para não levantarmos suspeitas. Tínhamos que pegar mantimentos. Sorri ao ouvir ela falar sobre isso.

— Acho que nós duas tínhamos tanto medo do que sentíamos, achando que seriamos rechaçadas pela outra, que esquecemos de ver o que era tão óbvio.

— Mesmo com sua mãe falando com todas as letras. – ela sorriu outra vez. – Eu achei tão absurdo ela me dizer que eu te amava, que eu fugi dela.

Eu gargalhei e ela me acompanhou.

— Como somos idiotas.

Entramos na casa. Aquele era o verdadeiro lar da mulher que eu amava. Havia uma parede, em que várias armas estavam presas, como se fosse um pequeno arsenal. Elas ficavam disposta, harmonicamente, como peças decorativas. A sala era espaçosa e tinha uma poltrona grande de frente para a lareira, e um pequeno móvel, em que havia alguns pergaminhos empilhados.

— Vamos até a cozinha pegar carne seca e um pouco de vinho. Está esfriando muito e temos que manter a temperatura. Vou pegar também casacos de peles no quarto para nós.

— Vá até o quarto pegar os casacos que me viro na cozinha.

— Está bem.

Peguei mantimentos necessários, arrumei nos alforjes e fui para a sala. Arítes chegou com os casacos. Rumaríamos até quase a fronteira sem nossos uniformes para não levantarmos suspeitas. Quando chegássemos próximo, nos trocaríamos e cavalgaríamos com a insígnia da paz. Teríamos que ter cuidado com os batedores de Eras, para que não nos descobrissem também. Arítes foi até a sua parede e pegou uma espada que estava presa. Tirou a que usava na bainha e trocou pela que havia pegado. Olhou para as outras armas. Pegou um punhal, colocando-o em uma pequena bainha presa na outra perna. Pegou uma lança. Fiquei olhando aquele ritual todo e pensei que, para mim, estando com meu arco, estava valendo, mas ao ver aquilo, levei minha mão até o punho da minha espada, acho que para me certificar que estava ali. O arco já fazia parte de meu corpo e nem precisava conferir.

— Tália, temos que nos adiantar. Quanto mais tempo demorarmos, mas chances terão de nos descobrirem. Vamos ao estábulo que eu tenho dois cavalos velozes.

Quando saímos, tivemos uma surpresa boa. Épona e Équinus nos esperavam do lado de fora.

— Ei garota, vocês vieram.

Falei acariciando o focinho de Épona. Arítes se aproximou de Équinus o acariciando também.

— Vamos selá-los. Nada melhor que uma ajuda vinda de Tir…

Selamos e montamos, e quando já estávamos bem longe de Eras, os dois cavalos alçaram voo.  Certamente chegaríamos à fronteira, antes da madrugada alta.



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