— O que temos para comer, irmã? – Perguntou Bridma, a “Senhora do Fogo”.
Bonan abriu um sorriso e respondeu.
— Não pode esperar nem um pouco, Bridma?
— Para que esperar? A minha caminhada foi longa e temo que não tenhamos muito tempo com as duas. Afinal, terão que retornar ainda hoje; ou quer atrapalhar o pequeno descanso das duas, antes que retornem à Eras?
— Nunca!
A leve insinuação de nossa atividade na cabana, deixou a mim e a Arítes encabuladas, mas parecia que elas se alegravam por nós.
— De qualquer forma, não temos muito tempo mesmo. – Falou Bonan, se dirigindo a nós. – Quando retornarem, terão muito trabalho pela frente. – Seu semblante ficou sério. – Vamos sentar à mesa e enquanto comemos conversamos.
Sentamos à mesa, e Veras e mais uma garota depositaram pratos, talheres e um caldeirão de guisado. Trouxeram mais duas cadeiras e se sentaram conosco. Tudo era muito simples. Os pratos eram cuias talhadas em madeira e apenas os talheres eram forjados em metal, sem muito luxo. As taças também eram feitas de metal sem qualquer desenho adornando. A outra moça levava o nome de Catena e tinha braceletes interessantes em forma de corrente.
— Como Bonan já deve ter falado a vocês, não somos deusas. Somos mulheres designadas para proteger os reinos e manter a paz. – Falou Fidae, a Senhora da Floresta. – Vivemos neste plano, que foi separado do reino de vocês pela “Divina Graça”, para que pudéssemos observar e manter o equilíbrio. Mantemos a magia de nossos ancestrais e temos o dever de zelar para que ela fique segura, sem que pessoas, que não tem entendimento sobre essa responsabilidade, se apropriem e a utilizem de forma indiscriminada. No entanto, sabíamos que chegaria o tempo em que, mais uma guerra sangrenta viria colocar a harmonia e a segurança dos planos em desequilíbrio.
— Por que acham que temos capacidade de interferir nos acontecimentos? Minha mãe foi “Guardiã dos Escritos” toda uma vida e certamente está muito mais preparada do que nós. – Falei.
— Sua mãe é uma mulher valorosa e certamente é uma grande “Guardiã” e guerreira, mas há um problema. A “Espada Macha” só poderá ser empunhada por aquela que detém a marca da “Protetora”. Ela deverá ser aquela que tem em seu coração o amor carnal e o amor espiritual pela “Guardiã dos Escritos e dos Reinos”. Esse papel da “Guardiã” é seu agora, Tália. Com toda a certeza, sua mãe lhe protegeria, pois o amor por você é imenso, mas não poderia empunhar a “Espada” e nem seu pai. – Falou Bonan.
— A “Espada Macha” tem o poder sobre quem a empunha. Ela traz o melhor dos sentimentos dentro de um coração bondoso, mas traz também o pior, quando segurada por quem não tem a bondade e o mais importante, o amor pela vida, o respeito pelo próximo.
— E vocês acham que eu tenho essa característica? Se ela é tão poderosa, eu poderia me perder facilmente também. – Argumentou Arítes.
— Você até poderia se perder, mas tem algo muito importante que a faria voltar. Você tem Tália ao lado. – Respondeu Badotê. – Ela pode ter um temperamento impulsivo, quando contrariada nas suas certezas, mas é branda e tem um coração condescendente diante de julgamentos. No fundo de seu coração, ela sabe que não há certo ou errado. Sabe que as pessoas são transitórias em seus sentimentos. Te traria de volta. O problema é que ela também precisa de você, pois você é o contraponto dela. Você sabe que muitas pessoas não podem mudar naquele momento. Não existe a “Guardiã da Indulgência” sem a “Protetora” e vice-versa. Ela a ama e você a ela em todos os aspectos.
— E onde está a “Espada Macha? – Perguntei.
— Aí é que começam nossos problemas. “A Espada Macha” não pôde ser guardada conosco, aqui em Tir. Ela pertence ao seu plano e é atrelada à energia do seu plano. Ela só poderá entrar em Tir se estiver sob a mão de vocês, Tália, mas nunca poderá ser guardada aqui. Desestabilizaria sua energia e não sabemos o que poderia acontecer. – Bonan esclareceu e continuou, serenamente, sua explicação. – Ela está escondida nos poços de lava das covas do pântano de “Tevé”, que antecede as montanhas de “Kardoshara”.
— Ninguém sabe a sua localização exata. — Emendou Fidae. – Nem mesmo a nós foi dada essa informação para que, em hipótese alguma, ela viesse a ser descoberta por mãos erradas.
— Então, por que a preocupação?
Arítes tentava entender e argumentar, pois sabíamos que nossas responsabilidades aumentariam muito, a partir do momento em que saíssemos dali e tomássemos em nosso poder a “Espada”.
— Porque “Serbes”, o mesmo que tem sido chamado de “Deus”, em seu plano, tenta acha-la há séculos. Ele não é um deus. Ele é como nós e é filho de Temor, que foi o mago que incitou a revolta contra o nosso sistema, precipitando na “Guerra do Caos”. Ele era da nossa casta, Arítes. – Fidae falava com pesar. – Temor era meu marido e Serbes é meu filho.
Aquela informação nos chocou. O semblante daquela mulher se banhava em tristeza. Os olhos verdes perderam o brilho e os lindos contornos negros de seu rosto pareciam perder a cor, dando um tom pálido e abatido. Senti uma dor pungente em meu peito e Arítes se curvou sobre seu tronco arfando.
— Fidae, controle-se! – Pediu Badotê.
— Perdoem-me, minhas crianças. É uma dor que, por vezes, ainda toma meu coração. – Explicou Fidae.
Eu não senti uma dor tão forte, mas Arítes parecia abalada. Começou a respirar melhor e aprumou seu corpo.
— Quer dizer que o que vocês sentem, nós sentimos? – Perguntei chocada.
— Não exatamente. Só quando nos encontramos no mesmo espaço físico e apenas as dores do coração, não as dores do corpo. Tir é um plano que emana energia e conduz energia. Por isso que a magia propaga e é presente naturalmente no nosso plano. O tempo também é diferente aqui. A contagem é a mesma; dias, meses, anos, mas o envelhecimento de tudo se dá de forma muito lenta. – Concluiu Badotê.
— Serbes ainda mora aqui?
Eu queria saber tudo que enfrentaria e tirar todas as minhas dúvidas.
— Não, Tália. Quando a “Divina Graça” separou os planos, meu ex-marido foi banido e ele raptou meu filho, levando-o junto. A “Divina Graça” tinha a intenção de que ele aprendesse com seus erros e recuperasse a razão. Sabia também que o tempo seria outro para ele. Temor também sabia que não viveria o mesmo tempo que nós, estando em seu plano, mas tinha conhecimentos suficientes para retardar seu envelhecimento. – Fidae suspirou. — Ele estava tão cego em sua certeza de que poderia ser elevado a “Senhor”, como nós quatro, que nem cogitou refazer seus pensamentos. Deixou que Serbes crescesse normalmente e aplicou a mesma magia. Doutrinou Serbes para substituí-lo e quando ele se foi, deixou seu legado. Serbes conquistou adeptos, pois tinha conhecimentos mágicos e no plano de vocês, faz as pessoas pensarem que ele é um “Deus”. Agora ele tenta concluir o que Temor iniciou. Descobrir a “Espada Macha” e tomar para si a magia vinda dela. Ela tem o poder da vida e da morte. A vida, pois representa a fertilidade e a criação e, paradoxalmente, tem o poder da morte, pois pode levar campos férteis, pessoas e animais, a esterilidade completa. Além da própria força mágica para quem tem o conhecimento, ela) é uma fonte Inesgotável de energia.
Eu e Arítes estávamos paralisadas diante de todas as revelações. Alguns dias atrás, víamos as “Senhoras dos quatro reinos” como divindades e agora, que sabemos a verdade, nada mais parecia ser o mesmo. Eu pensava sobre tudo e concluí que o pior das coisas a acontecer, seria Serbes achar a “Espada” e então questionei.
— Por que querem que achemos a “Espada”? Seria muito melhor que fique onde está. Escondida e sem a possibilidade de qualquer pessoa chegar até ela.
Arítes me olhou em acordo e completou.
— Sim, concordo com Tália. Estando escondida, não temos o que temer. Se formos atrás dela, a possibilidade de indicarmos o caminho é muita.
— Esse pensamento seria o correto, se não soubéssemos que ele está próximo de achar. Temos meios de saber seus passos. O vigiamos e mesmo sem sabermos a localização exata, quando um mago se aproxima de uma fonte de energia como essa, ele fortalece e emana essa energia. Embora ele esteja em seu plano, nós continuamos ligados pela natureza de nossa criação. Não conseguimos saber onde ele está ou se esconde, pois ele usa de encantamentos para se encobrir, e nem sabemos a sua real fisionomia, mas o sentimos quando se aproxima de uma fonte de energia por estarmos ligados. Por isso a “Divina Graça” delegou a guarda da “Espada Macha” e dos “Escritos Sagrados”, a pessoas do seu plano. Se vocês se aproximarem e tomarem posse da “Espada” não emanam a energia, consequentemente, não temos como localizar ou saber se foi transferida para algum outro lugar ou não.
— Entendo. – Falei, raciocinando sobre o que Bridma acabara de revelar. – É como se vocês fossem condutores e propagadores e nós não.
— Sim. – Bonan sorriu.
— Mais uma vez a “Divina Graça” manteve os dois planos entrelaçados. Nós precisamos do seu plano e vocês do nosso. – Arítes pontuou.
— Isso mesmo, Arítes. Quando ela separou os planos, não foi uma punição; apenas os ancestrais ligados a vocês, aderiram às ideias de Temor. Fizeram coisas que provavelmente desequilibraria e tudo acabaria sendo destruído. Ela o fez para que o equilíbrio retornasse, mas temos que zelar pelo seu plano e vocês tem que contribuir para estabilidade também.
— Tudo bem. — Falei. – Por onde poderemos começar a procurar? As covas de lava do pântano de Tevé são extensas. Aliás, esse é o reino de Bridma, certo? É o reino da “Senhora do fogo”.
Bonan me olhou e mais uma vez sorriu meneando afirmativamente a cabeça, acompanhada das outras “Senhoras”. Ao longo da conversa estávamos comendo e havíamos terminado de jantar. Permanecemos sentadas à mesa e Fidae começou a falar da estratégia.
— Bem, vocês retornarão hoje para a cabana, pois seu tempo de recolhimento acaba amanhã à tarde. Levarão com vocês um pergaminho que dá indícios da localização. Este pergaminho permaneceu aqui e foi expressamente proibido, pela Divina Graça, ser aberto em nosso plano. Era para ser entregue diretamente à “Guardiã da Indulgência”. Temor sabia da existência dele, mas também sabia que eu nunca revelaria, mesmo sob pena de morte. Na verdade, o local onde ele foi lacrado só poderia ser aberto pelas quatro “Senhoras”, unidas em um só encantamento.
— Com toda essa proteção, ele não revela a posição exata em que a “Espada Macha” se encontra? A “Divina Graça” podia ter facilitado um pouco as coisas para a gente, né?
Falei rebelde e todas começaram a rir de mim. Qual era a graça? Não entendia. Afinal, não seria melhor se ali tivesse um mapa? Mesmo que fosse um pequeno mapa, mas podia ter.
— Tália, sei que parece exagero, mas pense na possibilidade de alguém, através de magia, subjugar nós quatro para que abríssemos o lacre do local onde ele se encontrava. – Falou Badotê.
— Tudo bem. Mas há de se convir, que essa possibilidade é remota, né? Quem teria força mágica suficiente para subjugar vocês quatro? Tá certo. Eu concordo, que sempre tem um espírito atravessado, que enfia ideias malucas na cabeça, e sempre encontra um jeito para tudo!
Falei inconformada e agora, Arítes, Catena e Veras se juntaram a elas para rirem do que eu falava.
— Bom, continuando. – Bridma falou, tentando parar de rir. – Vocês levarão o pergaminho e ele deverá ser aberto somente na cabana. Abram, decorem o que tem escrito e queimem. Vocês voltarão com Épona. Ela e mais outro cavalo alado que nós lhes daremos, permanecerão com vocês para ajudarem nessa busca. Veras, filha de Bonan, Tuli, minha filha, Miray, filha de Fidae se encontrarão com vocês, quando estiverem prontas para irem para as covas. Não se preocupem que elas as encontrarão no caminho, quando chegar o momento. Catenas também ficará atenta. Será a ligação de vocês conosco. Estará monitorando daqui, através de um portal. Ela poderá, eventualmente, entrar em contato com uma de vocês, caso consiga entrar em sintonia. Nem sempre é possível e o portal requer energias de seu plano também. É perigoso esse contato constante, com o risco de serem detectadas.
— Só tem dois problemas nisso tudo.
— Diga, Arítes.
— Como apareceremos com dois cavalos alados? E outra, Tália acabou de entrar para o exército e numa patente alta e eu, galguei a patente de general de exército, fazendo com que fique atrelada ao alto comando de Eras. Como faremos para irmos sozinhas procurar a “Espada Macha” perto de Kardoshara, sem ninguém desconfiar? Convenhamos que ninguém pediria licença para fazer um passeio as covas de Tevé. Desculpe, senhora, mas existem lendas sobre seu reino…
Arítes falou, constrangida, se dirigindo a Bridma, mas era a mais pura verdade. Muito pouca gente se atrevia chegar próximo ao pântano e às covas de Tevé, mesmo quem era da linhagem do povo do fogo. Os tributos prestados à “Senhora do Fogo” eram feitos em um santuário no planalto que antecedia Kardoshara e o pântano.
As quatro senhoras gargalharam. Possivelmente, existiam muito mais lendas do que verdades sobre as histórias fantásticas de seres desfigurados que puxavam as pessoas para dentro dos poços e dos rios de lavas.
— Os cavalos não são problema. Eles serão cavalos comuns aos olhos de todos. Colocaremos um encantamento neles. Diga que você os criou em seu rancho, Arítes, e que deu um deles de presente à Tália. Na volta da cabana, voltem com os cavalos de vocês e depois, pegue-os no seu rancho. Eles estarão lá esperando por você. Quanto a vocês estarem no exército, infelizmente os seguidores de Serbes estão infiltrados no reino de Eras e o primeiro conflito está bem próximo de acontecer, mas haverá um momento certo para irem a Tevé. Pode confiar, Arítes. – Falou Bridma ainda sorrindo. – Realmente as lendas superam o que é real, mas garanto a vocês duas que não há monstros desfigurados. Apenas tomem cuidado, pois os poços e rios de lava são perigosos. Nunca visitei os que ficam em seu plano, não os conheço, pois na separação dos reinos, não sei o que se configurou para seu plano, porém tenho certeza que a “Divina Graça” não colocou qualquer monstro ou pessoa desfigurada para viver ali.
— A guerra com “Terbs” começará?
Perguntei aflita. Bonan sorriu e tanto eu como Arítes, não entendemos nada.
— Na verdade, se vocês conseguirem conter a guerra, não será contra Terbs. Os seguidores de “Serbes” vem do Norte. Haverá outra guerra contra Natust. O que acontece, hoje, em Eras, é que quem está tramando contra o reino, está desviando a atenção para Terbs, pois este é outro reino que mantêm as tradições e cultura ainda intactos. – Bonan suspirou. — Querem desestruturar Eras e Terbs, jogando um contra o outro, enquanto o exército de Natust avança. Por conta dos conflitos comerciais e a situação difícil que Terbs se encontra, conseguiram tramar essa intriga. Kamar estará com vocês também, mas precisarão se apressar. Fale com a sua mãe, Tália, pois ela saberá como agir, neste caso, para trazer Terbs para o lado de vocês. Estaremos sempre vigilantes e, em contato e temos as sacerdotisas que nos auxiliam no seu plano. Prestem atenção, ainda não sabemos quem em Eras está por trás disso, pois o feitiço de Serbes o esconde, mas sabemos, pelo menos, que Tórus não é o traidor. Apesar de suas atitudes, verão que ele sempre lutou para trazer a paz, talvez de uma forma torta, mas ele é um bom homem e mantem a cultura. Ele mantém conversas com a sacerdotisa-curandeira toda semana, numa forma de se orientar. Foi ele quem avisou à ela, que você poderia estar em perigo durante o teste do exército, Tália.
— Foi a Sacerdotisa-curandeira que me atendeu no dia em que fui ferida na luta? Não a reconheci.
Bonan me sorriu, mais uma vez.
— Não. Quem lhe atendeu fui eu.
— Você?
A olhei devolvendo o sorriso, pois a sua aparência era outra e nunca desconfiaria.
— Sim. Nós podemos circular pelo plano de vocês, mas não é conveniente. Eu, por exemplo, fico mais enfraquecida e por mais que eu tenha formas de encobrir minha energia, não é seguro. Um descuido e poderia ser detectada por Serbes. Mas não deixaria que lhe fizessem mal. E depois, Serbes já desequilibra demais o plano de vocês com a sua magia. A terra de Tejor, não precisa de mais interferências. Devemos atuar apenas no que for necessário.
— Tejor?
— É como chamamos o plano de vocês. O nosso se chama Tir e o de vocês chamamos de Tejor.
— Gostei disso. – Sorri. – Chamamos de terra dos reinos e nunca pensei que pudesse ter um nome diferente.
A notícia de que Tórus estaria a nosso favor, apesar de ser um alívio, me deixou atônita. Jurava que Tórus tinha se bandeado para o outro lado. Senti que Arítes sorria relaxadamente e acho que ela se sentiu feliz, por saber que o seu tio era um homem de bem.
— Agora está na hora de partirem. – Decretou Fidae.
Pegamos o pergaminho e todas nos acompanharam para fora da gruta. Quando saímos, a maravilhosa visão da natureza, que nos recebeu na entrada de Tir, não era um décimo da beleza que se apresentava sob o manto da noite. O céu escuro contrastava com luzes de várias cores que bailavam no horizonte. Era uma dança de luzes no céu, ao longe. A luz prata e brilhante da lua, refletia nas águas do véu da cachoeira, clareando todo o lago.
Além da majestosa égua branca que nos trouxe, outro cavalo era trazido a nós. Na mesma imponência, o seu pelo castanho-escuro, igualmente refletia a luz prateada que o banhava.
— Este é Équinus. Ele será um fiel companheiro seu, Arítes. Confiem neles e eles confiarão em vocês e as defenderão com a vida.
Arítes se aproximou, acariciando seu pescoço. O cavalo relinchou prazeroso e cheirou a testa de Arítes, fazendo-lhe cócegas. Ela sorria. Parecia que a empatia entre os dois se fez imediatamente. As “Senhoras” e suas filhas nos abraçaram se despedindo. Quando fui subir em Épona, parei momentaneamente, me lembrando do enjoo que senti na vinda.
— Algum problema, Tália? – Bonan perguntou.
— Será que você tem algum encantamento contra enjoo? Detesto vomitar e se sentir aquele enjoo novamente, acho que na volta não vou conseguir segurar…
Eu não sei porque as pessoas riam sempre comigo. Eu detestava vomitar mesmo, e apesar de ser incrível voar em um cavalo, não achei nada bom enjoar daquele jeito.
— Pode deixar, filha, você não vai enjoar na volta.
Bonan falou, enquanto fazia um leve carinho em minha cabeça me dando um beijo. Bom, não sei se ela colocou um encantamento em mim ou não, mas o fato que retornei intacta.
Chegamos na cabana e ainda não era meia-noite. Tiramos as selas dos cavalos e iríamos leva-los para o estábulo, mas eles se recusaram a entrar. Fugiram de nós. Rimos ao ver o quanto éramos bobas. Eles eram seres livres e não pertenciam a nós. Entramos na cabana e acendemos a lareira. A noite estava fria. Estávamos na metade do outono e a temperatura caía bastante.
— Vamos abrir logo o pergaminho para decorá-lo e depois queimar? – Perguntei.
— Mmm… Acho que não. – Arítes falou com cara de garota travessa. — Já recebi informações demais por hoje. Amanhã temos até o fim da tarde para decorar isso.
Ela se aproximou de mim e me abraçou.
— Não acha que podemos relaxar um pouquinho agora? – Sussurrou em meu ouvido.
Seu corpo colava ao meu e eu só pensava que ela, daquele jeito, fazia eu esquecer qualquer coisa. Sempre sentia arrepiar toda. E sua voz, naquele tom descarado, fazia meu cérebro desajustar.
— Você está sugerindo que a gente deixe a responsabilidade para nos divertirmos, General? — Falei debochada.
— Não. Estou sugerindo para refazermos nossas esperanças diante da vida, antes de encararmos as responsabilidades. É uma questão de ótica, não acha?
Eu gargalhei.
— Tá certo. Não vou discutir, pois a sua ótica é gostosa demais para deixar passar.
Ela deu um beijo molhado em meu pescoço, em seguida deslizou a língua até meu ouvido.
— Mmm… Você tem um gosto tão bom, Tália…
Arfei. Não consegui dizer mais nada bobo ou fazer qualquer brincadeira, perante as palavras ditas com tanto desejo. Ela colocou sua perna entre as minhas e iniciou um bailado entre elas, pressionando meu sexo, já latejante. Me empurrou de encontro a parede da janela, desfazendo de todas as minhas vestes, desesperadamente. A sucção de seus lábios aumentava sobre minha pele. Sua boca chegou a um de meus seios, sugando-o com força.
— Mais… mais forte, Arítes…
— Aahh! Tália…
Ela me segurou pela cintura, me levantando para que sentasse no parapeito da janela. Auxiliei elevando meu corpo, enquanto ela afastava minhas pernas. Olhei para ela e seus olhos estavam fixos em minha vulva. Ela passava língua por seus lábios os umedecendo, pouco antes de se encontrar com minha fonte de prazer, fazendo com que eu gemesse em antecipação.
— Isssss… Lambe, Arítes. Me pega agora…
Senti sua boca quente a me explorar e sua língua resvalar, segura, em meu sexo. Não conseguia me movimentar direito, na posição que me encontrava, mas isso não importava muito. Ela fazia o trabalho, deliciosamente, me desatinando completamente. Um frisson subiu através de meu ventre, contraindo todo meu corpo e não demoraria muito a derramar meu gozo na boca habilidosa dela.
Senti que era penetrada por ela, elevando minha excitação de forma louca. Gritei num orgasmo forte, enquanto sentia os movimentos dentro de mim e a boca de Arítes a burilar meu clitóris, já sensível pelo orgasmo. Gemi em agonia, tentando afastá-la. Ela passou seu braço livre pela minha cintura, enquanto subia com beijos através de meu abdômen, seios, pescoço, chegando a minha boca, num beijo profundo. Ainda permanecia com os dedos, inertes, me preenchendo.
A gostosa agonia do gozo serenava, mas não completamente. Ainda sentia seu delicioso toque a me preencher, não permitindo meu corpo relaxar do forte orgasmo.
— Você é gostosa, Tália…
As palavras pronunciadas entre nossos lábios, me fez gemer e novamente contrair meu ventre.
Ela voltou a mover lentamente.
— Arítes… não tô aguentando…
Desprezou meu lamento voltando a mexer fundo, lentamente.
Outra vez, a lua presenciava nosso amor, banhando nossos corpos através janela, com sua luz. Não achava possível meu corpo aguentar mais uma descarga do forte prazer. Ela continuava colada a mim, me segurando firme posicionada entre minhas pernas, me beijando, voltando a movimentar os dedos mais rápido.
— Goza pra mim de novo, Tália.
A tortura prazerosa da sua voz rouca de prazer, conectou diretamente com a minha cavidade, preenchida por ela, fazendo com que eu molhasse sua mão e gritasse de paixão.
Desfaleci em seus braços.
Senti que era conduzida para a cama e ali depositada, delicadamente. Retornei aos poucos a realidade de nossa cabana. Abri meus olhos lentamente e a vi sorrindo para mim. Sorri de volta, com meu coração aquecido por seu amor e dedicação ao nosso amor.
— Acho que a flecha que disparou, caiu em seus pés.
— Como?
— Arítes, do jeito que fez comigo… Tô morta!
Ela gargalhou.
— Pois eu estou feliz, amor.
Falou fazendo um carinho leve em meu cabelo. Adormeci.