Eras: A Guardiã da União

Capítulo XXXVIII – Tejor e As Senhoras da Natureza

Eras – A guardiã da União

Texto: Carolina Bivard

Ilustrações: Táttah Nascimento

Revisão: Isie Lobo, Naty Souza e Nefer


Capítulo XXXVIII – Tejor e As Senhoras da Natureza

Acordei lânguida, preguiçosa e feliz. Durante algum tempo, após o ritual mortuário de Tórus, Arítes vinha para o quarto e limitava-se a chorar ou dormir. As noites foram passando e, cada vez mais, ela abandonava a tristeza, para dar lugar à nostalgia e por fim, à normalidade. Até que, na noite anterior, ela me procurou, ávida por meus lábios.

Estava morrendo de saudades do amor dela. Ainda lembrava que nossa última vez fora numa caverna, num lugar entre planos e ainda cercada de gente. Que vergonha!

— Já acordou? 

Ela me perguntou, à beira da cama, com uma bandeja de frutas e flores na mão. Meus olhos estavam semiabertos. Era o último dia da lua menor e, consequentemente, dia de descanso em todo o reino. Ninguém trabalhava, eu não presidia conselhos e nem audiências e ela não iria para escola militar, ou para o comando do exército. Perfeito!

— Vejo que minha esposa está querendo algo de mim. O que é?

Perguntei jocosa, sabendo que ela retrucaria.

— Me pegou!

Ela colocou a bandeja sobre a cama e se deitou de lado, olhando para mim.

— Quero pedir a vossa majestade que decrete que, hoje, seja o dia de ficar na cama.

Abriu um sorriso alegre e insinuante, piscando um olho. Ri de seu entusiasmo e peguei uma uva para colocar na boca. Arítes passou o dedo sobre uma cicatriz em meu abdômen que estava começando a desaparecer.

— Não acredito que está usando magia para fazer sumir com as cicatrizes, Tália.

— E estou usando em você, também, quando dorme, se não percebeu. Não quero meu corpo todo marcado. Minha tristeza é saber que não posso usar essa magia curativa, que estou aprendendo, para as cicatrizes antigas. Não funciona.

— Tália, a magia não é para essas coisas.

— Ah, tá. Se não é, porque não disse para Dantera parar, quando estava deixando os braços e o rosto de sua filha todos bonitinhos de novo? Além do que, tenho que praticar para aprender, não é verdade?

Ela riu com vontade. Podia até questionar, mas sei que gostava do meu corpo todo lisinho e, eu, do dela. Se eu pudesse, tiraria todas as cicatrizes que adquirimos, ao longo dos anos. 

— Quer dizer que não gosta das minhas cicatrizes?

— Você não tem muitas. Ainda bem que é uma boa guerreira e nunca deixou ninguém ferir seu rosto.

Retruquei rindo, e me colocando de prontidão, pois sabia que viria a retaliação.

— Ora, sua… 

Arítes não se importou com a bandeja, passando por cima e me cobrindo com seu corpo. Lógico que não me esquivei. Queria o corpo dela sobre o meu, outra vez. Porém, me fiz de difícil… mais ou menos. Apenas brinquei com os braços, simulando me defender. 

Ela ria da brincadeira e, por fim, segurou meus ombros, dando-me um beijo que começou entre risos e evoluiu para algo mais profundo, à medida que nossas línguas se enlaçavam. Nossas respirações ficaram fortes e sentia que o quadril dela se insinuava, pressionado contra meu ventre.

— Por que está com essa bata? 

Perguntei arfante, puxando-a aflita e ela não tardou a me ajudar, liberando-se da peça. Nossos seios se igualaram e roçamos, extraindo todo o prazer que podíamos. Não foi o bastante. Ela deixou meus lábios, tateando com a delicada boca meu pescoço e peito. Sentia a língua roçar, eventualmente, a minha pele, aguando minha boca pela carícia suave a atiçar minha excitação.

— Ainda me lembro da nossa primeira vez.

Ela sussurrou, entre um beijo e outro, fazendo minha mente reportar-se anos atrás, quando nos amamos na beira do lago. Foi como uma explosão mágica de cores, cheiros e sons. Estávamos outra vez, observando o sol se por no lago, próximo à cabana, sobre nossas mantas. Arítes cobria meu corpo, tateando minha pele tão delicadamente que todas as minhas áreas sensíveis aguçavam, numa dança febril.

Não era ilusão. Eu estava olhando a água translúcida e os raios de sol trespassando a superfície, colorindo as pedras, vegetação e peixes, abaixo do verniz do lago. Ela roçou com a fina pele de seus lábios meu pescoço, na interseção de minha orelha e minha nuca. Vi um peixe de cor brilhante saltar e retornar ao refúgio das águas. 

Vagarosamente, beijou meu ombro com a suavidade de uma pena e minha tez desnuda arrepiou a partir daquele ponto, alastrando-se como uma onda para todas as partes de meu corpo. Revirei os olhos, apreciando a libido que se apossava de mim, avassaladoramente.

Riscou com a ponta da língua um traçado até chegar ao mamilo e amorosa, cobriu-o com a boca. Era terna e saboreava calmamente, alimentando-se de mim. Entreabri meus olhos outra vez, para apreciar aquele ato, vendo os lábios cobrirem meu seio, numa visão que fazia despontar a deliciosa dor de meu prazer. Joguei a minha cabeça para trás, incapaz de deter o som que escapou de minha garganta e vislumbrei os matizes que o sol rutilava, sobre nossos corpos.

Sua boca alcançou meu ventre, vagarosamente, no caminho que percorreu até encontrar a fonte que almejava. Entrelacei em meus dedos seus cabelos fartos, na tentativa de refrear a minha excitação, pois tudo ao meu redor se tornara difuso, vertendo minhas emoções para fora de mim. Vã tentativa. Era intenso demais.

A textura morna e acolhedora de sua língua cingiu minha fonte de prazer, fazendo minhas entranhas derramarem mais de mim, através do líquido quente de meu frenesi. Escutei um som rouco vindo dela, mostrando-me a apreciação dos sentidos que transbordavam de mim. Finalmente, ela se apossou por completo da minha essência, resvalando para dentro de meu corpo seus dedos.

Não havia loucura, mas uma completude ansiada que não demorou a mostrar a face, quando o vai e vem da língua aguada e dos dedos potentes me levaram a plena satisfação. Gozei, agraciada por um amor que sabia ser cativa na eternidade de minha alma.

Não fosse pela grande força no amor que tinha por ela, desfaleceria. Mas ela merecia o melhor de mim. O melhor do que sentia por ela.

Não foi preciso muito para reparar em seu olhar desejoso e o suor de seu corpo, a lascívia que permeavam seus gestos, do qual eu amava com a minha vida. Nada se comparava ao vê-la satisfeita em me dar a satisfação. Não importava. Ela precisava de mim e tomou para si o que era seu. Meu afeto e meu toque.

Segurou minha mão firme entre a sua e levou-a, possessiva, até a sua libido. Até as suas entranhas embebidas no deleite que tivera ao me amar. Apertou forte e eu elevei meu corpo para igualar ao dela, ajoelhadas sobre a nossa manta de amor. Ela não me deu tempo para apreciá-la da mesma forma que fez comigo. Introduziu em si seus dedos entremeados aos meus sem resistência. Marquei o meu ritmo dentro dela, na medida que Arítes comandava. Eu era a guardiã, mas ela era a comandante dos seus e dos meus desejos. 

A minha mão se cobriu com o líquido da luxúria… Com o delicioso néctar de seu deleite. O gozo sacudiu-a forte, deixando a nós duas frágeis e agraciadas, diante do que ainda nos nutria: o amor.

Víamos os “elementais” que abençoaram nossa união há cerca de vinte anos. Divino! 

***

Estávamos apreciando sobre a cama nosso momento, entre carinhos silenciosos. Não precisávamos de palavras… até aquele momento. Batidas na porta me irritaram. Bufei.

— Será que não posso ficar com você um dia sequer, sem que venham nos perturbar?

Arítes riu de minha irritação, debochando.

— Vá atender, majestade. Tenho certeza de que não é ninguém do exército a me chamar.

— Como sabe?

— Falei a todos que se alguém me perturbasse hoje, arrancaria a cabeça.

Bufei novamente, levantando-me, enrolada no lençol. 

— Preciso aprender com você, essas artimanhas. 

Fui até a porta, revoltada. Abri.

— Preciso de você na sala dos escritos.

— Mãe, hoje é dia de descanso e pretendo passar o dia na cama com a minha mulher, pode ser?

Minha mãe sorriu, jocosa.

— Até contribuiria para a sua satisfação, se o assunto não a requisitasse. As Senhoras da Natureza estão aqui.

Terminou de falar rindo, sabendo que eu e Arítes havíamos passado por momentos delicados a nível sexual, após a morte de Tórus.

— Sabe que elas sempre vêm quando tem encrenca, não é? Então, não ria de meu infortúnio. Certamente, sobrará para você. – Retruquei.

— Quem manda se relacionar com mulher. Astor não levou todo esse tempo para se recuperar. – Implicou.

— Vocês são insensíveis. Por isso não veem o paraíso da Divina Graça quando fazem amor.

Pisquei para ela, linda! Ela enrugou a testa e estreitou os olhos.

— Você viu os seres sutis, novamente?

Acenei afirmativamente com a cabeça, me gabando. Ela entendeu pela minha expressão.

— Merda! Isso ainda não consegui com Astor. 

Ela saiu, me deixando à porta e não pude deixar de rir do jeito competitivo de minha mãe.

***

Minha filha havia acordado e ficou na cama algum tempo, apreciando a face de sua namorada que ainda dormia. Suspirou. Não queria acordá-la, mas diante de seu olhar e a interação que tinham, foi impossível. Thara abriu os olhos lentamente e piscou para conseguir focar. Brenna sorriu diante da cena. Estava enamorada e se sentia ridícula por devanear, ao admirar a conselheira dormindo.

— Que o dia seja lindo para você.

Falou e enrubesceu, logo em seguida. As palavras lhe escaparam da boca, sem mais. No entanto, aqueceu o coração ao ver o sorriso sincero e desprovido de qualquer coisa que não fosse amor vertendo através das pálpebras de sua namorada. 

— Meu dia será lindo, se estiver comigo. 

Thara devolveu amorosamente a benção, reparando na penugem castanha clara que despontava na cabeça de sua amante. Tocou, fazendo um carinho leve, apreciando a textura.

— Seus cabelos estão crescendo mais claros. — Reparou.

— Fidae, a Senhora da Floresta, disse que assim seria. Falou que ser a Guardiã da União não significava o que fiz em Natust e sim, o Astru. Eu não entendi bem.

Thara colocou a mão sobre o ventre de Brenna, acariciando. Emudeceu um tempo e depois falou.

— Einer era filho do metal e minha mãe, filha do fogo. Nasci com a marca do clã do fogo. Você é única, Brenna. Tem a marca de dois clãs. Seus olhos são azuis translúcidos como as águas, mas seus cabelos eram castanhos, fortes como a floresta. Acredito que nascerão mesclados.

— E… e se um dia tivermos uma filha? Será que nascerá com a mistura de todos os clãs?

— Não sei. Mas o que seria uma união, se não arrebanhar todos os clãs?

— Casa comigo?

Brenna falou de súbito, fazendo Thara elevar seu corpo, apoiando-o na cabeceira da cama. Puxou o lençol para cobrir o dorso nu. Perdeu-se em pensamentos e Brenna cerrou fortemente os olhos, sacudindo a cabeça. Esfregou o rosto com as mãos, sentindo-se ridícula.

— Desculpa, eu…

— É o que mais quero, Brenna!

Thara respondeu, antevendo a reação da namorada.

— Só não conversei a respeito disso com você, pois antes nós falávamos em você terminar a escola militar e eu assumir uma cadeira permanente no Conselho.

— Você já vai assumir uma cadeira no Conselho e eu… Bem, não acho que nosso casamento atrapalharia a minha escalada na escola militar. – Enrubesceu. – Acho até que me incentivaria, para me dedicar mais. Eu amo você. Disso tenho certeza.

Baixou o olhar e olhou para o lado, tentando, sem sucesso, esconder seu embaraço pelas palavras ditas. Thara esboçou um sutil sorriso. Ao longo daqueles meses, a jovem conselheira aprendera a respeitar o jeito revestido numa armadura em que a namorada embalava a personalidade enganosamente rígida.

— Vamos nos casar quando?

Brenna mordeu o lábio, contendo a expressão de alegria que teimava formar em seu rosto. Encarou-a.

— Hoje mesmo, se quiser. 

Respondeu irreverente, arrancando uma gargalhada da ruiva. 

Batidas na porta tiraram as duas de seus planejamentos de vida.

— Que raios! Hoje é nosso dia de descanso. Será que não se tocam?!

Petulante, levantou-se nua para abrir a porta, certa de causar constrangimento a quem a perturbava naquele dia de ócio. 

Minha mãe a olhou de cima a baixo, com uma sobrancelha elevada.

— Não me diga que é seu dia de lazer, pois Guardiãs não tem hora. – Reparou uma marca arroxeada em sua coxa, próximo a virilha. – Existe um unguento muito bom para isso. – Apontou a lesão. – Não use magia para curá-lo, como sua mãe faz com as cicatrizes. 

Brenna abriu a boca para retrucar, mas não teve chances contra a Guardiã Êlia, que logo terminou a fala.

— Espero você na sala dos “Escritos” daqui a uma marca de tempo.

Minha mãe se virou, partindo com um sorriso sarcástico no rosto. Brenna fechou a porta e, antes que resmungasse, escutou de sua amante.

— Foi você que pediu para que ela lhe ensinasse. Agora não adianta reclamar.

— E você gosta do jeito que minha avó age comigo, não é?

Thara levantou, enlaçou-a pela cintura e depositou um beijo rápido em seus lábios. 

— Na verdade, eu gosto do jeito emburrado que fica, quando ela troça com você. Não pode me condenar por isso. Você fica linda!

A conselheira não lhe deu chances. Beijou-a mais intensamente, e virou para ir a sala de banho.

***

Entrei por último na sala dos “Escritos” e confesso que partilhava do desagrado de minha filha. Via, nitidamente, que ela estava esperando com ar revoltoso em seu rosto.

— Pronto. Acho que sou a última. O que, de tão urgente, há agora?

Falei antes de ver que todas as Senhoras da Natureza e a sacerdotisa Dantera estavam presentes. Gelei.

Será que algo terrível estava por vir?


Nota:

Bom dia! Então pessoal, Venho agradecer a força que vocês tem me dado. Anteontem o plano de saúde liberou o primeiro procedimento e meu pai fez a angioplastia ontem mesmo. Hoje ele retornará ao quarto para aguardar que a justiça obrigue o plano a liberar a cirurgia de válvula. Embora ainda falte esta cirurgia, que é a mais complexa, no seio familiar estamos bem mais animados.

Obrigada a tod@s! 



Notas:



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5 Respostas para Capítulo XXXVIII – Tejor e As Senhoras da Natureza

  1. Que gostosura de capítulo! Meu casalzão! Tanto tempo de casadas e ainda tão doces. Ai ai.. ?Mas tinha que acabar tenso. Eita! O que será?
    Imagino que essa mancha em Brenna não seja resquícios da luta. Thara, a sábia que é, marcou o corpo da namorada onde imaginou que ninguém veria. Só não contava com o despudor da namorada. rs.
    Estou aqui imaginando o ar revoltoso de Brenna, rsrs. Não tiro a razão dela e Tália. Essas senhoras desta vez foram empata fod** ?

    Carol, Que o plano libere logo a segunda cirurgia de seu pai. ??
    Beijo!

  2. A demonstração do amor existente entre elas foi poeticamente descrito. Caramba! Essas Senhoras, com todo respeito, não podem dar uma folguinha? Assim minha ansiedade dispara.

  3. Hummm…
    Os momentos de luxuria foram abreviados, mas por certo
    terão retorno assim q possível. k k k
    Adoro a interação entre elas, o cap ficou ótimo.
    O q Dantera e as Sras da Natureza desejam neste momento??

    Mto bom mesmooooo…

    • Oie Carol!
      Lindo capítulo, amei a doçura do amor de Arítes e Tália, a descrição, são lindas juntas e Brenna constrangida expressando seus sentimentos..
      Hum, Dianteira junto com as senhoras…que vai passar? Hodd se foi de vez? Acho q tem news boas tb!
      Quem não queria ter a brandura de Tália?!!Ela é outro nível..Gabi na veia e Arites, já sabe a quem parece, ainda q é mais suave..

      Fico imensamente feliz que o plano liberou a segunda cirurgia,ótima news perto do seu niver e já aproveito pra te parabenizar, que seu domingo seja cheio de esperança e sorrisos pelas news novas e que vc encontre a serenidade necessária pra esse momento.
      Amor sempre em sua vida,safe sua esposa, familiares e principalmente que seu pai receba a força, coragem dos anjos guardiãos e do seus protetores e receba tudo que necessita para mais essa prova que Deus lhe deu!

      Beijos abençoados

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