Eras – A guardiã da União
Texto: Carolina Bivard
Ilustrações: Táttah Nascimento
Revisão: Isie Lobo, Naty Souza e Nefer
Capítulo XXXVI – A Última Cartada de Hod
Brenna começou a se levantar. A princípio parecia desnorteada, no entanto, quando Hod estendeu a mão, conjurando um feitiço para trazer a Espada Macha para si, a princesa de Eras o encarou com olhos de fogo. Também estendeu a mão e não houve resistência na energia mágica da espada, que rapidamente retornou para ela.
— Ela sabe quem é sua dona, otário!
Brenna começou a caminhar na direção do mago. Thara, que nada falara até aquele momento, ligou-se a namorada mentalmente.
— Você está dificultando nossa vida para protegê-la, Brenna. Ele é muito forte e está difícil manter a sua integridade física. Só está de pé agora, porque eu e Dantera nos esforçamos muito para canalizar as forças de todos, para que a explosão energética dele não afetasse seu corpo. Fale menos, concentre-se em derrubá-lo e acabe com esse cretino!
— Sim, minha senhora!
Brenna respondeu debochadamente, entretanto, pareceu entender a mensagem, pois assim que levantou, estendeu o braço com a Espada Macha direcionada para o céu e caminhou em direção ao mago, resoluta.
Hod mudou de tática. Fincou sua espada no chão, elevando os dois braços. Diante da visão, Bonan interveio falando com minha mãe.
— Prepare-se, Êlia! Espero que tenha ensinado alguns encantamentos de defesa, pois Brenna precisará deles agora!
— Brenna, é a hora de usar a energia que ele conjurará contra ele mesmo! Se der certo, vou lhe apoiar na força combativa.
A multidão estava urrando eufórica, porém desnorteada. Não sabiam mais quem apoiar. Era um espetáculo à parte. Nunca haviam presenciado uma luta entre “deuses”. Assim pensavam.
Hod canalizou energias da natureza para si e jogou um feitiço nas pedras que dividiam a arena do alambrado. Estava ansioso. Viu que matar a neta da Lâmia de Luz com a sua magia pura seria difícil, após o corte que levou da Espada Macha no braço. Tinha que agir rápido.
Pedras se deslocaram dos alambrados para soterrar a princesa. Os generais de Natust e Eras que estavam na arena, correram para dentro do corredor de entrada para se proteger. Antes que chegassem, Tétis viu uma grande rocha voar na direção deles. Puxou Mardox, trazendo-o para si e derrubou-o no chão, antes de atravessarem. Gritou para alertar os generais-juízes de Natust, contudo já era tarde. O grande bloco caiu sobre os dois.
— Por que estamos aqui? — Mardox perguntou assustado. — Não faz o menor sentido. Ninguém pode julgar esse combate. Vale tudo!
— Agora já foi, Mardox. Eram protocolos, mas agora tudo já saiu do controle…
Tétis escutou a rainha Êlia lhe falar na mente. Assustada, voltou seu olhar para a tribuna.
— Vocês dois! Vão para a arquibancada. Procurem os nossos e juntem-se a eles. É o melhor lugar da arena, neste momento, para ficarem.
— Sim, minha rainha.
Tétis respondeu. Incrivelmente a conversa com a sacerdotisa-curandeira, na cabana do lago, voltou-lhe a mente e fez sentido. Ela tinha o sangue mágico de Tanjin e precisaria abraçar isto, se tudo terminasse em favor das guardiãs.
Foi neste momento que Brenna se aproximou de Hod, abriu os braços conjurando o encantamento de proteção que a avó lhe ensinara. As pedras caíram antes de atingi-la.
A imaginação de qualquer um dos envolvidos com aquelas intrigas não os preparou para aquele desfecho.
Brenna não deu tempo para que o mago se recuperasse. Ela estava próxima o suficiente para agachar e estocar as pernas do adversário transversalmente. A Espada Macha foi inclemente, atravessando com seu fio forte e amolado, os dois joelhos do mago, deixando o corpo do “general Kristen”, cair no chão, sangrando e indefeso.
A multidão se levantou em expectativa e o som de aflição tomou o ar da arena. O general de Natust havia caído e todos viram a força da “Divina Graça”.
Brenna chegou perto, o suficiente, rodando a Espada Macha na mão, para encarar a face de Hod.
— Viu por que minha avó deixou uma garota fazer o trabalho dela? Nunca estive sozinha, Hod!
Elevou a espada sobre a cabeça para dar o golpe fatal, todavia antes da espada tocar o pescoço do mago para decapitá-lo, ela vislumbrou um sorriso sarcástico bordar os lábios do general caído. A espada já estava em movimento e quando tocou a carne, uma explosão de fogo a atingiu.
Ela o decapitara, mas não sem antes ele conjurar o último feitiço para acabar com ela. Não deixaria aquele corpo sem tentar uma última vez.
Thara, por estar ligada a Brenna, teve tempo somente de reunir um pouco de energia, para que a explosão de fogo não fosse tão catastrófica. Aquele último ato de Hod incineraria a todos na arena. A dor da escolha iminente para a proteção dilaceraria o coração da herdeira por muito tempo.
Ela conseguiu conter a maior parte da energia incendiária sobre Brenna e sobre as tribunas. Quando elevou o olhar procurando as pessoas da plateia, viu inúmeros queimados, no entanto, nem tantos quanto achava que estariam.
— Nós protegemos a maioria.
Bridma, que estava logo atrás dela, falou-lhe confortando a sua “Filha do Fogo”.
Thara correu, descendo as escadas para a arena. O coração estava acelerado, pois não via Brenna se mover. Embora lhe comovesse as inúmeras pessoas na plateia que eram atendidas pelos que conseguiram sair ilesos daquele horror, nada mais importava além do seu amor.
Chegou, agachando e colocando a cabeça da princesa de Eras sobre suas pernas. O fogo do mago desfigurou a face da princesa e seus cabelos foram completamente incendiados.
— Brenna! Brenna!
Juntou as mãos não querendo machucá-la mais do que estava. As lágrimas escorriam fáceis dos olhos da herdeira. Sentiu outra pessoa se jogar ao lado delas. Minha mãe esqueceu que, liberando a sua aura, todos sentíamos o que ela trazia em si.
— Vó, segura a sua angústia aí, segura! — Brenna tossiu. — Tô muito quebrada para bloquear qualquer coisa.
A voz de Brenna estava embargada e tossia muito. Minha mãe sorriu, diante da rabugice da neta, mesmo que o pranto tivesse tomado seu rosto, diante do horror. Não sabia se as Senhoras da Natureza ou Dantera conseguiriam curá-la tão fácil. Esperava que a sacerdotisa-curandeira conseguisse, pelo menos, abrandar a dor que Brenna estaria sentindo com as inúmeras queimaduras espalhadas pelo rosto e braços.
Aliviou-se diante da fala de Brenna, amenizando sua dor, que nos atingira fundo.
***
Após ficarmos estáticos diante de uma dor terrível que nos abateu, escutamos Tórus falar em nossas mentes que estava tudo bem na arena e que nos encontraria. Ele escondeu parte da história de nós, contudo, foi uma grande força para que continuássemos na nossa investida. Já havíamos chegado algum tempo na entrada da câmara que abrigava o corpo real de Hod e esperávamos notícias da luta.
— E agora? — Perguntei para Arítes. — Tem muitos guardas.
Liv se aproximou, juntando-se a Arítes e a mim para observar o salão que se abria após a entrada. Homens ladeavam o verdadeiro corpo de Hod. Ele estava sobre uma bancada, inerte.
— Vocês vêem estas pilastras? — Arítes perguntou.
— São perfeita para entrarmos sem sermos vistos. — Liv respondeu.
— Podemos entrar aos pares. – Completei.
Cochichávamos e Havenor se aproximou, também observando dentro do salão.
— Posso dar uma opinião?
Arítes se voltou para ele acenando afirmativamente com a cabeça. Ficava ensimesmada na presença do comandante. Embora ela não tenha dito nada sobre ele, eu sabia que levava, lá no fundo, mágoa. Afinal, Havenor foi o homem que matou o pai dela. Mesmo que minha esposa compreendesse que não poderia julgar alguém por ter cumprido o dever militar, ainda assim, cresceu conhecendo os pais através de histórias contadas a ela.
— Vocês entram em pares e se posicionam. Eu entro por último e me faço ver, para chamar a atenção deles…
— Eles correm para em direção a você e nós os acuamos. — Arítes terminou o raciocínio do novo aliado.
— Exato. Assim eles não se dispersam e permanecem compactos para os pegarmos.
— Certo. — Arítes concordou. — Se caírem na cilada, — minha esposa olhou para mim — me cubra. Assim poderei chegar ao corpo de Hod.
Peguei meus takubis, forjados pela filha de Havenor.
— Deixe comigo. — Respondi.
— Todos prontos?
O grupo acenou e Arítes abriu a porta devagar. Íamos passando um a um, nos posicionando em duplas, atrás das colunas de sustentação. Quando estávamos posicionados, Havenor entrou de peito aberto, girando a sua espada. Não foi difícil chamar a atenção dos soldados, que partiram para cima do comandante. Eles não viram o que os atingiu, pois saímos detrás das colunas como vespas.
A luta não foi acirrada. Alguns soldados eram habilidosos, entretanto não foram páreo para a nossa investida. Parecia tudo certo para que finalmente acabássemos com a tirania de Hod. Só que não foi bem assim…
— O que são essas coisas?
Ravena, perguntou aflita, sendo atacada por seres que ela rechaçava com a sua espada. Eles voavam em nossa direção e apesar de conseguirmos atingi-los e exterminá-los com várias estocadas, eram muitos. Tínhamos que desferir golpes várias vezes contra eles para que os aniquilássemos. Ali estava a função da energia que Brenna e Thara gestaram. Se nossas armas não estivessem encantadas, seríamos levados, sem piedade, para o submundo através daqueles seres.
Olhei à volta num relance e vi quando Roney foi atingido duas vezes por aqueles seres, cambaleando. Liv o auxiliou, já que o rastreador agrupava uma boa parte daqueles espíritos em torno de si. Foi quando me distraí e o ser que lutava comigo, me atingiu no braço. Compreendi por que Roney estava com dificuldades. Quando eles nos tocavam, drenavam nossas forças.
— Cuidado! – Gritei. – Eles sugam nossas forças. Não deixem que os toquem!
— Eu que o diga!
Roney respondeu cansado. Os espíritos desenvolveram uma tática de atacar juntos um só indivíduo, para eliminar aos poucos nosso grupo.
— Arítes, vá que eu lhe cubro! Estamos mais soltas. Se matarmos Hod, esses seres devem fugir! – Voltei-me para o restante do grupo. – Auxiliem Roney, senão é capaz de o perdermos!
Gritei em meio à confusão.
— Permaneça junto a mim, Tália!
Ela berrou, sendo atacada por vários deles, no momento que começamos a nos deslocar na direção da bancada. A espada da Guardiã se iluminava e vi que ela conseguia destruí-los com poucas estocadas. Me aproximei e me posicionei em suas costas, ajudando a rechaçá-los.
— Eles sabem as nossas intenções. — Ela falou.
Tórus chegou, e nem sabemos como achou o lugar. Não me importava. Era mais um a nos ajudar. Ele ficou na retaguarda, conjurando energia para proteger a mim e a Arítes. Os seres etéreos não conseguiam mais nos atingir. Avançamos em direção ao corpo de Hod e vi quando meu pai chegou, acompanhado de Badotê e Fidae. Me acalmei vendo a Senhora da Floresta e a Senhora do Metal nos apoiando.
Arítes finalmente conseguiu chegar até a bancada em que o corpo de Hod estava, e eu defendia a sua retaguarda, pois parecia que as energias das Tríades e das Senhoras da Natureza já estavam fracas, não conseguindo repelir todos os espíritos que nos atacavam.
Ela elevou a espada da Guardiã e o mago abriu, finalmente, os olhos fitando-a.
— Se arrependerá se fizer isso. Seu coração ficará amargo para o resto de sua vida.
Advertiu com a voz fraca. Não conseguia se mover, todavia estava consciente.
— Não acredito que meu arrependimento seja tão grande, depois que você se for.
Ela desferiu o golpe sem piedade. A morte não era desconhecida de minha esposa e embora soubesse que matar a amargurava, tentava não carregar a dor da vida perdida para seu coração.
O golpe da espada de Guardiã separou a cabeça de Hod do corpo.
Uma explosão energética tomou todo o ambiente. Fomos jogados distantes e os espíritos que nos atormentavam, dissiparam-se no ar. O silêncio tomou o lugar. Até as Senhoras da Natureza desacordaram, diante de tamanha força liberada. Alguns momentos depois, começamos voltar a consciência.
Aos poucos todos se levantavam, sacudindo a poeira e o caos. Acordei antes de Arítes e fui ao seu encontro.
— Ei! Acorda que não vou aturar nossa filha sozinha… – Sussurrei, vendo que ela voltava a si.
— Se ela e sua mãe não vieram aqui, devem estar tão estragadas quantos nós.
Sorriu, ainda sem forças. Ela recebeu a maior parte do impacto da explosão de energia.
— Roney! Roney!
Escutei a voz de Liv, assustada, tentando acordar o rastreador. Ele não reagia. Foi a vez de escutar meu pai, tentando acordar Tórus. Arítes se alarmou, levantando-se com dificuldade. Fomos até eles.
— O que aconteceu? Tórus… Tórus… — Arítes segurou a cabeça do tio. — Por favor, acorde…
Fidae intercedeu.
— Vamos levá-los para Tir. Não garantimos nada, entretanto, lá temos mais condições de tratar deles. Temos que partir agora!
Em um gesto, Fidae e Badotê desapareceram, levando os dois homens.
Tudo fez sentido. A mensagem, no início, que Arítes recebeu das Senhoras da Natureza; a preparação das Tríades para fortalecer nosso sangue mágico; o porquê de minha mãe ser a Guardiã que nos conduziria; porquê Brenna era a Guardiã da União e tantas outras coisas que tivemos que encarar até ali.
Minha mãe chegou juntamente com Thara, Naiman e Brenna. Elas estavam ajudando minha filha a se locomover. Corri para ela parando a sua frente.
— Pela Divina Graça, Brenna!
— Olha quem tá falando! Sua roupa tá toda rasgada e sua cara tá toda cheia de roxo!…
Diante do horror que viu em minha face, ela completou para tentar me acalmar.
– Não está mais doendo. – Falou conformada. – Não se assuste, mãe. Dantera me assistiu e não dói mais. Todos estão desgastados de energia e ela prometeu que me atenderia, assim que possível. Não deve ficar tão feio, depois.
Brenna me respondeu, todavia, desta vez riu melancólica, tossindo muito, logo a seguir. Abracei-a, fazendo um carinho em seu dorso. Ela fez cara de dor.
— Mãe, parece que fui pisoteada por uns cinco cavalos. Me abraça depois… Acho que levará um tempo para meu cabelo crescer.
Falou preocupada. Embora minha filha gostasse do cabelo curto, como o meu, teria que raspar o pouco que sobrou, para que crescesse uniforme.
Soltei-a para não machucá-la mais. As queimaduras estavam espalhadas por parte dos braços também. Deduzi que a armadura que Ravena fizera, conseguiu segurar o que quer que Hod tenha lançado sobre ela. Fechei minha fisionomia. Aquele cretino havia deixado marcas por onde passou.
— Tórus e Roney foram levados para Tir por Fidae e Badotê. Eles se feriram gravemente. — Falei, olhando para meu pai.
Minha mãe acompanhou meu olhar, vendo o rosto desalentado do esposo. Deixou-nos e foi até ele, O beijando e abraçando.
— Eu tentei, Êlia, mas era tarde. – Sacudiu a cabeça condoído. – Assim que chegamos, tentamos fazer a proteção de todos, mas quando senti a energia de Hod expandindo, previ que, quando Arítes o matasse, nós sofreríamos com o impacto, assim como foi na arena. Tentei protegê-lo, pois vi que Tórus se desgastou muito lá.
— As Senhoras cuidarão dele, Astor.
Ela o abraçou, carinhosa.
— Dessa vez, não sei se conseguirão. Eu não senti a vida dele fluir no corpo…
Nota:
Então pessoal, continuo nas idas e vindas do hospital. Meu pai está estável, fez um cateterismo, que mostrou mais aluns probleminhas além do que os que tinha. Agora, aguardamos as decisões médicas quanto aos procedimentos e também, o plano de saúde liberar todos esses procedimentos.
Agradeço imensamente a força e energia de tod@s
Vamos caminhando!
Capítulo maravilhoso!! Brenna , genia total!!Muito boa essa luta!Mas será que ele se foi mesmo?!!rs
Carol, que boa notícia saber que seu pai tá estável, vai dar tudo certo! Os bons espíritos estao o acompanhando nessa luta.Estamos todos rezando por ele e para que o plano libere logo essa autorizacao!
Fica com Deus,
Beijosss
Oi, Lailicha! que bom que está aqui!
Sabia que gostaria da batalha, você gosta de uma ação, que eu sei! rsrsrs
Obrigada pelas orações. É um momento que a gente fica tensa e meio desorientada, mas sei que ele vai sair dessa. O velho é forte pacas, apesar da idade.
Um beijão pra você e esposa!
Mas q inferno…
Assim: odeio qdo só o MAL se dá bem, nunca me agradou apenas um cap. de felicidade.
Please dá uma folga.
?
??
Oi, Nádia!
Pois é. O cara era um “cramunhão”, mas agora acredito que a turma tenha acabado com ele. Pode deixar que virá cap de felicidade! rs
Obrigada pelo carinho e um beijão pra ti!
A luta foi show!!
Não ha como não admirar a tua imaginação! Incrivel batalha. O mau é difícil de ser completamente derrotado. Continuamos torcendo muito por seu pai. Bjs
Oi, Responderei a Carla e a Ion, pois estão na mesma postagem, ok? rsrs
Obrigada, Carla! Que bom que passou por aqui e gostou!
Ion, é verdade, o mau sempre dá muita dor de cabeça e o caminho sempre é árduo para derrotá-lo. Mas a nova turma com magia em Tejor, é dura na queda!
Obrigada pelo carinho!
Um beijão para vocês duas!