Eras: A Guardiã da União

Capítulo XXXIII — O Sangue Derramará

Eras – A guardiã da União

Texto: Carolina Bivard

Ilustrações: Táttah Nascimento

Revisão: Isie Lobo, Naty Souza e Nefer


Capítulo XXXIII — O Sangue Derramará

O seguimos, pois não havia nada mais que pudéssemos fazer, diante daquela situação e nem poderíamos alarmar. Ele foi até a outra porta, entrou e nos esperou passar para fechá-la.

— Vocês não têm ideia com o que estão lidando, não é?

Desta vez ele perguntou em alto e bom som. A tocha iluminava todo o ambiente daquela sala e ele a retirou da mão de Liv para acender os candelabros à óleo do local. Vimos o rapaz em um canto. Não estava preso.

— Se queria que saíssemos daquele cativeiro em silêncio, por que chama a atenção agora? – Arítes perguntou, desconfiada.

Ele apontou para as paredes, agora iluminadas pela luz dos candeeiros. Eram feitas de cristais lilás, como no templo da vida em Tanjin.

— Porque aqui, não há magia que possa penetrar, além da que se faz aqui mesmo. – Ele respondeu. – Aqui, ouvidos de fora, não podem escutar.

Como aquele homem sabia que o tipo de cristal que recobria as paredes, protegia aquele espaço contra magia? Desde que chegamos a Natust, percebi que não sabíamos muita coisa daquela nação.

— Você nunca nos tolerou, Klun. O que mudou? – Perguntei.

— Nada mudou para mim. Eu apenas tenho que ser discreto e convincente, para não morrer. – Apontou o rapaz. – Trouxe-o para cá, para que o tirem de Natust. Hod saberá que foram vocês.

— Isso é óbvio para nós. – Arítes contestou. – Se o rapaz sumir, ele ligará o fato diretamente a nós. Nosso problema é; quem de Natust apoia Hod?

— Isto não posso dar certeza a vocês, contudo, Naiman sempre se mostrou mais afeito a não seguir para guerras infundadas. Guerras que foram baseadas, unicamente, na vontade de nossos reis.

— E você? Sempre foi contra nós. Como poderemos acreditar no que nos fala? − Inquiri.

— Não poderão. Decidam o que fazer com ele.

Klun saiu, nos deixando atônitas. O que fazer à partir dali?

Arites o observou saindo e se voltou para nós.

— Vamos tirá-lo daqui agora. Temos pouco tempo até a troca da guarda.

— Acredita em Klun, Arítes?

— Não acredito em ninguém desse palácio, Liv, entretanto, quando ele saiu, esgueirou-se para não ser pego. Poderia ser um ardil? Sim, poderia…

— … mas não temos muita opção. – Liv concluiu o pensamento de minha esposa. – Certo. Vamos continuar com o plano e que a Divina Graça nos livre de ações erradas.

Ela segurou o rapaz, quase desacordado de inanição e sede. As feições estavam enrugadas e pálidas. Provavelmente, não davam água para ele há, pelo menos, dois dias.

— Vá na frente, Arítes. – Falei. – Eu auxilio Liv a carregá-lo. Você é mais apta a nos conduzir.

Arítes beijou minha cabeça, enquanto eu agachava para segurar o menino, e foi verificar o perímetro, no tempo em que nos ajeitávamos com ele.

— Venham agora, está tudo limpo.

***

Não demoramos a passar pelo rancho. Conseguimos chegar à cozinha, antes dos empregados entrarem.  Minha mãe estava certa. Nada como a alta noite para nos esconder. Consegui identificar as ervas que encontrei na cozinha para fazer a mistura do sono. Macerei-as, rápido e proferi as palavras que minha mãe me ensinou para o encanto de esquecimento. Assim que chegamos à saída, o guarda da noite, sonolento, confrontou-me, todavia não houve tempo para ele. Soprei em sua face o pó, e ele desabou.

— Rápido, não temos muito tempo! – Arítes correu em direção ao rochedo que ladeava a entrada. – Demaster, se não estiver aqui… degolo você, pessoalmente, quando voltar para Eras! – Resmungou, enquanto seguia para o local do encontro.

— E eu o degolo aqui mesmo em Natust. Esse menino, mesmo desnutrido é pesado, viu?!

Reclamei, arfando e carregando o garoto apressada, junto com Liv.

***

O desjejum foi tranquilo e, pela primeira vez, Klun se juntou a nós. Quando fomos para a reunião, tudo ficou mais agitado. O resultado não foi ruim, na verdade.

— Algum de vocês andou pelo castelo esta noite? – Kirsten perguntou. – Os guardas escutaram barulhos pelos corredores.

— Eu voltei de madrugada da estalagem Jardim Suspenso.

Roney respondeu e olhou para Adja com um sorriso de lado.

— O barulho que os guardas escutaram poderia ser nosso, general Kirsten. O conselheiro Roney gosta de cerveja e alguma diversão. Não vi problema algum em acompanhá-lo, já que são nossos convidados.

— E não há problema nisso…

Kirsten respondeu com certo ar de contrariedade, contudo continuou em suas indagações, que agora se dirigiam diretamente ao conselheiro jovem de Natust.

— Estiveram sempre juntos? Chegaram muito tarde?

— Sim, estivemos. Chegamos duas marcas e meia, depois do meio da noite. O conselheiro Roney é muito bom nos dados. Temo que ele sairá de Natust um pouco mais rico e Jardim Suspenso, um pouco mais pobre, após a noite de ontem.

Adja respondeu sem hesitar, no entanto, percebi o olhar perdido do nobre rapaz. Isso ia dar merda!

***

— O que você fez com Adja, Roney?

— Como assim, Tália? Fiz o que tinha que fazer. Ele me acompanhou, Demaster estava lá na taberna da estalagem, dei a mensagem ao tenente discretamente, e enrolei até tarde da noite.

— Como você enrolou? O conselheiro liberava flores pelos olhos, quando foi inquirido por Kirsten!

— Ora, eu… fiz o que tinha que fazer! – Respondeu desajeitado. − Ele queria diversão comigo e eu… Bem lhe dei o que queria. Não foi isso que a Lâmia de Luz demandou? A Guardiã Êlia disse que eu tinha que mantê-lo comigo para um álibi consistente.

Liv e minha mãe não se contiveram. Gargalharam no mesmo ato.

— Você fez o correto, Roney. – Arítes comentou rindo, também. – Apenas temos que tomar mais cuidado agora. Quem viu a reação dele, pode pensar que está do seu lado. Nosso problema não é Hod. Ele com certeza sabe que pegamos o rapaz, só não pode atuar ainda, e se vale dos seus aliados, que não sabemos quem são.

— O que eu poderia fazer? Ele interpretou mal, está bem! – Roney bufou. − Quando o chamei para Jardim Suspenso, ele não hesitou e aceitou. Chegamos lá, vi Demaster na taberna da estalagem, jantando. Dei a Adja umas moedas e pedi que ele comprasse cerveja para nós, enquanto procurava uma mesa. Passei pelo tenente e depositei a mensagem em seu colo, sentando-me na mesa de frente. Demaster me olhou e anuiu, pegando a mensagem e saiu da taberna. – Roney passou a mão pelos cabelos, agitando-os. − Adja chegou com as cervejas e jogamos conversa fora durante um tempo e depois, levantei, indo para as mesas de dados. Joguei algumas partidas e percebi que Adja, a todo momento, me acariciava as mãos, quando tinha oportunidade. Ainda era cedo para voltar. Levei-o para o reservado… para enrolá-lo!

— Enrolou-o bem! – Liv falou, passando por Roney, acariciando seu ombro. – Da próxima vez, vou com você. – Gargalhou.

— Fez o correto, Roney. – Minha mãe interveio. Não parava de rir. – Somente não contávamos que Adja gostasse de homens e que fosse tão carente. Ele poderia interpretar como sexo de ocasião, o que parece não ter acontecido. – Ela inspirou fundo. − Tudo bem. Não podemos mais contar com o jovem conselheiro. Agora ele será observado por nossos inimigos.

Ela olhou para Roney, pensando no próximo passo.

— Distancie-se dele. – Minha mãe falou. – Será um problema, se você tiver que lidar com amores carentes em nossa jornada.

Não chegava a entender o tipo de relacionamento que Liv e Roney tinham. Eu era ciumenta e não conseguia imaginar Arítes tendo um relacionamento sexual com outra pessoa, porém, aprendi que o respeito era o principal, dentro de uma relação. Se Liv e Roney conseguiam se respeitar, dentro do trato que havia entre eles, quem seria eu para julgar? A felicidade era do casal e eles tinham a voz nessa felicidade. Não me julgava antiquada.

— Tudo bem. Sem mais convívio íntimo com Adja. Tudo pelo bem de Tejor…

Esse foi o atestado do rastreador. Liv lhe beijou, rindo, sendo retribuída amorosamente por ele.

***

Faltava somente um dia para que Einer fosse sepultado na cripta dos reis e Thara deveria se anunciar ao povo, para convencê-los de sua hereditariedade. O conselho aceitou as reivindicações, com algumas ressalvas.  Uma delas era que ela não poderia impor seu relacionamento com Brenna, naquele momento.

Essa decisão não foi difícil, considerando que as duas não queriam casar de imediato. Brenna queria terminar sua escalada na escola militar de Eras. O sonho dela sempre fora chegar a general e elas ainda eram jovens. Já Thara, teria muito trabalho pela frente em Natust, para colocar o reino de volta ao circuito comercial de Tejor e recuperar a economia da cidade, caso conseguíssemos derrotar Hod.

O fato é que eram meras especulações, visto que não sabíamos se o povo a aceitaria e nem se sairíamos vivos de Natust. Hod estava quieto demais, certamente, esperando o momento certo para dar o bote.

Uma audiência pública foi convocada para aquela tarde na câmara de audiências do palácio, para que Thara fizesse sua apresentação. Convocaram também, uma eleição para a manhã seguinte, onde o povo iria até a arena de jogos, e à noite, quando Einer fosse sepultado, já teríamos o resultado. Saberíamos se o povo aceitaria Thara como governante ou não.

Estávamos preocupados, pois Thara estaria exposta na câmara de audiências. Aquele seria um momento crucial. Arítes retornou de sua incursão pela cidade com notícias.

—  Consegui contatar nossos oficiais que estão na cidade. Eles avisarão os nossos soldados que estão aqui, para que se espalhem entre o povo, hoje à tarde. Ficarão atentos a qualquer movimento diferente e agressivo. Também mandei Demaster levar uma mensagem a Gwinter, para que nosso exército, que está escondido nas cercanias, fique de prontidão.

— Excelente, Arítes. – Minha mãe falou, voltando-se para Thara. – Não fique próxima ao beiral do tablado. Todos esses eventos estão fáceis demais. Tenha certeza que Hod está ciente de tudo. Ele está confabulando nas sombras, como sempre fez e como o verme que é. Não tem escrúpulos.

— Deixa que seus subordinados morram por ele. Aqueles que o seguem são uns idiotas! – Brenna vociferou.

— Estão enfeitiçados, Brenna. – Tórus contestou.

— Nem todos. – Ela redarguiu. – Muitos o seguem por vontade própria, porque pensam igual. Ele tem poder, todavia não enfeitiça massas. Teria que ser, realmente, um Deus para isso. Existem pessoas que seguem quem demonstra poder, somente por admirarem.

Coloquei meu braço sobre o ombro de minha filha. Ela estava amadurecendo e enxergando a vida.

— Essas pessoas, filha, são as quais devemos ter mais piedade. No dito popular, elas são ovelhas. A ignorância faz com que elas sigam alguém cegamente. Não questionam porque não têm subsídios para questionar.

— São burras!

Brenna proferiu as palavras, energicamente.

— Não, Brenna. – Thara intercedeu. – Elas somente têm um estreito olhar sobre a vida. No fim de tudo, acabam pagando caro por isso e se torna um ciclo. O bom governante deveria dar oportunidade para o povo raciocinar e questionar o que quer para si. Não é por isto que estamos aqui?

— Sim, estamos aqui para ajudá-los, mas não para você pagar com a sua vida!

— Brenna, nada acontecerá comigo.

Thara se aproximou, envolvendo a cintura da namorada, dando-lhe um beijo rápido nos lábios e a encarando, antes de continuar a falar.

— Toda a sua família estará espalhada pela câmara de audiência para evitar qualquer atentado, além dos soldados que sua mãe já chamou para ficarem aqui.

— Eu sei, mas estará lá, de peito aberto.

Brenna falou, carrancuda.

— Não temos opções melhores. Pior se fosse na arena, Brenna. Aqui, podemos ficar nos balcões observando de cima.

Arítes tentou acalmá-la e Brenna fez um gesto afirmativo para ela. Se desvencilhou da jovem conselheira e perguntou, diretamente, para a avó:

— Tem como lançar um encantamento de proteção nela?

— Um que a proteja de flechas ou ataques físicos furtivos? Não, infelizmente.

— Thara conseguiu fazer lá em Tanjin.

Brenna retrucou, preocupada com a segurança da namorada.

— Em Tanjin, Thara estava sendo sustentada pela energia que o Templo Luzeiro enviava para nós e não sabemos ainda lidar com a Rede de Ação Mágica daqui. Não tivemos tempo para isto.

Minha mãe parou alguns segundos, estreitando os olhos em direção a Thara. Ela também estava preocupada.

— Tudo que estudei sobre magia, era para chegar a este momento, porém terei que me alinhar, energeticamente, com a Rede de Ação de Tejor. Eu busco o fio mágico de Tir, nos poucos encantamentos que consigo forças para conjurar.

— Êlia, talvez você possa lançar um encanto em que ela seja alertada sobre uma ameaça iminente. – Tórus interveio. – Um encantamento deste não demanda muita energia.

— Isso eu posso fazer e é uma excelente ideia, Tórus.

****

Estávamos espalhados e a única pessoa de Eras que estava ao lado de Thara, era Arítes. Ela e Thara estavam sob o encantamento de proteção que minha mãe conjurou.

Eu e minha mãe nos posicionamos no alto, nos balcões que davam visão completa do local. Brenna se encontrava atrás do tablado, perto da entrada para a câmara de audiência destinada aos nobres, e meu pai e Tórus, recuados nas extremidades da entrada principal, por onde o povo passaria. Liv e Roney, bem, eles estavam no lugar mais divertido de todos… no centro da cidade. Estavam escutando a opinião do povo sobre a audiência e também, tentando rastrear possíveis locais onde Hod poderia estar escondido.

Nada seria fácil, pois o local era imenso. Não tínhamos em Eras um lugar como aquele. Nossa câmara de audiências era uma grande sala, todavia, em Natust, parecia que outrora, a realeza se importava com os súditos numa proporção em que gostariam que todo o povo fizesse parte da própria corte. Talvez há sessenta verões, não sei. Entretanto aquele lugar parecia não receber o povo, há muito tempo.

A convocação de última hora, espalhada pela cidade em folhetos presos em tabernas, locais comerciais e praças, propagou-se boca-a-boca pelo reino, como o vento sudeste, que sopra cobrindo a nação. Havia tanta gente de distintas classes que temi pelo pior.  

Houve uma oratória inicial em que Naiman presidiu. O local estava entulhado de gente. As vestes de camponeses, misturavam-se as de comerciantes e de pessoas mais abastadas. Eles se acotovelavam para conseguir um lugar melhor para ver o pronunciamento do seu governo.

O local tinha uma acústica incrível! Eu temia que as pessoas mais afastadas não escutassem, contudo, quando Naiman começou a explanar o motivo da audiência, fiquei fascinada. Eu o escutava como se estivesse ao meu lado e imaginei que ocorria até o limite da câmara, pois todos estavam ouvindo, pacientes, o que ele tinha a dizer.

No tablado, junto à Naiman, Thara e Arítes, estavam Havenor e Kirsten. Mais recuados, Viggo de um lado e Klun no outro.

Naiman falou ao povo que uma filha bastarda do rei Einer reivindicou o trono e há dias o conselho verificava a veracidade. Constatado que ela era, realmente, filha do rei Einer, resolveram deixar que o povo decidisse sobre a sucessão. Falou que haveria uma apresentação oral da herdeira, para que o povo pudesse se decidir. Apresentou Thara e não gostei da forma como ele fez.

— Apresento a vocês, a reivindicante. Dou a palavra à conselheira Thara Ventel de Eras,  filha de Esdra Ventel de Natust e Rei Einer de Natust.

O falatório chocado do povo cresceu no grande salão. O zum-zum-zum estava forte e senti todos os músculos de meu corpo ficarem em alerta. Eu não pude levar meu arco, pois não eram permitidas armas de longo alcance no local. Instintivamente, coloquei a mão sobre meus takubis. Vi quando minha mãe se agitou no balcão do outro lado da câmara. Certamente, colocou a mão sobre a adaga dela.

Demorou um pouco para o silêncio voltar a reinar e, quando aconteceu, finalmente, deixei de procurar entre as pessoas, possíveis ameaças, retornando meu olhar para o tablado.

Thara parecia estar calma, todavia, sabíamos que não era verdade. As Tríades haviam se ligado uma marca antes da apresentação e todos nós sabíamos, exatamente, o que o outro pensava e sentia. Foi um grande feito para nós, já que tínhamos que isolar em nossas mentes, a confusão dos pensamentos de cada um.  Até aquele momento, estávamos tendo sucesso.

Thara começou seu discurso, apresentando, brevemente, a sua história, desde a fuga da mãe, com medo de ser morta por estar grávida do rei, até o momento em que soube que era herdeira do trono. Não se delongou neste assunto, dando prioridade ao que interessava para o povo: uma aliança para que não houvesse mais guerras entre Natust e os povos do sul.

Falou sobre medidas para reaquecer a economia do reino, com acordos comerciais com aqueles povos, além de passagem segura para visitantes de outras nações, possibilitando o comércio local prosperar e os campos de cultivo, terem compradores para seus produtos. Ela era boa… era muito eloquente!

Vi como a atitude reativa dos natusteanos se transformou, ao longo do discurso. Os rostos, naquele momento, acalmavam e se colocaram esperançosos. Estavam-na vendo como nós a enxergávamos: uma mulher séria, porém serena e com atitudes construtivas.

Tudo mudou de um instante para outro.

Thara se agachou, subitamente, sendo acompanhada por Arítes, que cobriu o corpo dela com o próprio.

A espada de Viggo passou sobre elas. Ele era do exército e, como tal, tinha suas armas à disposição, diferente de nós. Ele estava ali, supostamente, para impedir qualquer ato de agressão contra a herdeira.

Mal vi o que ocorreu, pois quando pensei em correr na direção das escadas que levavam ao tablado, ele já sangrava no chão, com uma adaga cravada no coração e Brenna, segurando a mão dele que empunhava a espada. Minha pulsação acelerou, prevendo alguma retaliação para com Brenna, todavia não ocorreu. Vi quando Havenor fez um sinal com a cabeça, impedindo que Kirsten o socorresse e todos escutaram, etados, o comandante honorário falar.

— Ele não cumpriu o acordo de “privilégio” deste reino. Atentou contra uma convidada protegida. Não importa se ele era comandante. A punição, em relação à traição, é a mesma para qualquer pessoa.

Ficou claro para todos que Havenor havia atirado a adaga. O eto do povo veio, não pela ação dele matar o comandante do exército e, sim, por ele não se pronunciar há anos, publicamente.

— Está correto, comandante Havenor.

Kirsten assentiu, acalmando o povo, contudo Havenor levantou o braço, no que foi prontamente atendido pelos soldados. Um grupo armado ladeou o salão. Se houvesse algum levante, todos estariam cientes que aquele regimento atuaria para conter a massa. A tensão crescia em mim, assim como em todos das Tríades.

— Não nos delonguemos mais. – Kirsten se pronunciou, olhando para Naiman, que se encontrava atônito com tudo. – Antes da herdeira aparecer, o povo escolheria o próximo rei. Eu convoco uma disputa pelo trono. Coloco-me na disputa, todavia evoco a lei da “Luta Direta”.

Thara o encarou, vendo a manobra do general. Ele ambicionava ascender, antes dela aparecer, contudo, ele não esperava que o povo se agradasse das ideias dela, até aquela apresentação. 

— E o que consiste na lei da “Luta Direta”?  − Thara perguntou.

— Vamos disputar na arena. Quem vencer, será nomeado o novo rei.

— Disso eu sei, general. Como já falei outrora, conheço muito da cultura de Natust. O que eu quero, já que fui convocada para essa disputa, é que sejam divulgadas as regras para todo o povo e evoco o Ato de Sangue.

O general Kirsten se viu acuado. Fora proclamado ao Ato de Sangue da disputa e que o conselho espalhasse por todo o reino a convocatória com cada item das normas a serem respeitadas.

Ele meneou a cabeça, afirmativamente.

— Que sejam espalhadas as regras por toda a cidade. Antes da disputa, os participantes deverão dizer se vão disputar pessoalmente ou se irão escolher um campeão.

Naiman decretou, encerrando a audiência.

***

— Por que você reivindicou uma disputa até a morte, Thara?

— Porque ele me mataria de qualquer jeito, Brenna. Viva, sou uma ameaça, mesmo que ele ganhasse a disputa.

— Thara tem razão. – Tórus concordou. − Ele não evocou a Lei da Luta Direta por nada. Esperava que ela não soubesse o que significava. A Lei da Luta Direta sem o Ato de Sangue, Thara seria obrigada a disputar por ela mesma. Com o Ato de Sangue, pode escolher um campeão para disputar por ela.

— Mas sem o Ato de Sangue ele não poderia matá-la.

— Errado, novamente. – Klun entrou na antessala da câmara de audiências, onde estávamos. – A herdeira fez o correto. – Falou. − Sem o Ato de Sangue, não é necessário que alguém morra, basta que um combatente subjugue o outro. Entretanto, se algum dos combatentes morrer durante a disputa, não traz nenhum ônus para o vencedor.

Minha mãe estreitou o olhar, mirando-o desconfiada e, logo após, Naiman entrou.


Nota: Estou de volta, adiantando o capítulo para não ficar muito defasado, pessoal. Começarei a responder os coments! Espero que gostem do capítulo de retorno!  😉 

Um beijão a tod@s! 



Notas:



O que achou deste história?

4 Respostas para Capítulo XXXIII — O Sangue Derramará

  1. Klun??? Por essa eu não esperava…

    E esse garoto? Será que estava sendo mantido em cativeiro para ser sacrificado por Hod em algum ritual?

    Humhum, rsrs, Roney deu uns arrocho em Adja e o bichinho gamou … Tá aí, uma boa maneira de fazer o tempo passar mais rápido. Mas teve uma fala de Roney aí que acionou minha intuição… Intuo que ele também ficou mexidinho, Rsrs.
    Penso como Tália, jamais conseguiria viver um relacionamento aberto como Roney e Liv. Tem que ter muito sangue frio, kkkk.
    Entendo a irritação de Brenna, afinal a pessoa que ama está em situação de risco e ela meio que de mãos atadas. E que bom que Tórus teve a ideia do encantamento de alerta a ameaças, caso contrário, Thara e Arítes poderiam estar feridas neste momento… Arítes agiu rápido também, protegendo a herdeira. (Ai ai.. já disse que sou apaixonada pela comandante?) Brenna também agiu rápido, pelo jeito voou até a agressor. E que bom que ele não foi morto pelas mãos de nenhum eriano, acredito que isso seria ruim para a confiança que Thara está tentando alcançar com o povo.
    Não arrisco minhas fichas em mais ninguém, está difícil saber quem é aliado.
    E agora? Quem disputará por Thara? Tenho três preferencias.

    Obrigada, Carol! Que bom que está recuperando sua vida literária.
    Beijo

  2. Nossa, depois desse capítulo vai ser super complicado segurar a ansiedade e curiosidade. Juro que vou tentar não pirar rsrsr

    Abrs o/

  3. Já estava desesperada pensando que tinha nos esquecido na viagem! Não demore tanto para nos informar o que acontece agora, ah meu Deus!

  4. A coisa tá cada vez mais inesperada. São tantas opções de conflitos… Nunca se sabe da onde vem o perigo, mas o q me deixa cada x mais curiosa é: quem é o guri q eles ajudaram a sair do cárcere?
    Mega ansiosa pelo próximo cap.

    Parabéns Carol… mto bom…

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