Eras – A guardiã da União
Texto: Carolina Bivard
Ilustrações: Táttah Nascimento
Revisão: Isie Lobo, Naty Souza e Nefer
Capítulo VI – Tir sempre auxilia
Acordei torta, com o pescoço doendo e olhei à minha volta. Brenna estava atravessada no final da cama, aos nossos pés e, pelo visto, tinha se mexido muito, pois estava nuazinha em pelo, como sempre. Arítes estava ao meu lado, me amparando. Eu tinha me movido para cima dela e dormi com minha cabeça pendente no ombro de minha esposa. Tentei sair de cima de Arítes, sem acordá-la, o que foi inútil. Ela abriu os olhos, piscando várias vezes e quando se deparou comigo, sorriu. Antes que pudesse devolver o sorriso, ela beijou meus lábios rápida e brevemente.
– Quase expulsamos Brenna da cama dela. – Sussurrei.
– Acho que ela não se importou. Ela precisava de nós duas.
– Obrigada.
Eu sabia que Arítes não compreenderia meu agradecimento de imediato. No fundo, ela sempre foi, e, acredito que sempre será o esteio de nossa família.
– Está agradecendo por eu ter lhe trazido para a conversa ou por você passar o resto do dia com dores pelo corpo por ter dormido mal?
Ela perguntou debochada, tentando mexer o braço dormente.
– Nós sempre fazíamos isso com ela. Por que deixamos de lado?
– Porque ela cresceu, virou uma mulher e está se firmando como pessoa. Nós é que temos que fazer estes momentos acontecerem, Tália. Temos que perceber quando ela precisa da gente.
– Brenna fará dezoito anos e, para mim, ela ainda é uma menina…
Arítes iria contestar e eu abanei a mão, dispensando a represália dela.
– Não que ache que ela não tenha que lidar com as coisas sozinha, ou que não tenha responsabilidade, só que ela é minha menina. Ela sempre será minha filha, até eu morrer. Por acaso para meus pais, eu não sou a garotinha deles? Eu deito no colo da minha mãe e de meu pai, ainda hoje. E não pense que eu não vi um dia, você deitada no colo da “comandante Êlia”. Foi o dia que nós brigamos e você tinha feito aquela merda de sair para se embebedar com Tétis e Madox.
– Você me viu deitada no colo de sua mãe, naquele dia?
– Vi. Fui deitar no colo dela também, só que já estava ocupado. – Sorri. – Ela não é apenas a minha mãe, sempre soube que você a considera mais do que a comandante dela.
– Você me expulsou do quarto naquele dia. – Arítes retrucou, emburrada.
– Eu não estou reclamando com você pelo colo de minha mãe, Arítes. Sabe que foi pior eu saber que Brenna estava toda quebrada, porque foi desafiada a enfrentar quatro rapazes numa outra cidade. Ela se meteu numa briga de rua e você achava que eu não saberia?
– O problema é que ela já tinha resolvido sozinha, com a apresentação ao comando e a aceitação da punição. Ela me pediu para não contar a você. O que acha que eu faria?
– Mães…
Ouvimos a voz sonolenta de Brenna e olhamos para os nossos pés. Ela tinha acordado e estava apoiada num dos cotovelos, nos encarando. Eu corei, por ter sido pega pela nossa filha, numa discussão sobre ela.
– Eu não quero que discutam mais por minha causa. – Ela me encarou. – Desculpe, mãe Tália. Eu nunca tive medo da senhora me repreender. Só que, algumas vezes, eu tenho vergonha das burradas que eu faço. Às vezes, eu sou…
– … Impulsiva. Você acha que não sei? Acha que não lhe conheço, Brenna? Pela Divina Graça! Com sete anos, você roubava a espada de sua guarda pessoal só para irritá-la.
Minha filha corou ligeiramente, e me encarou sorrindo.
– Ela era chata. Não me deixava fazer nada de que gostava.
– Ah, sim. Como subir na muralha norte e ficar se equilibrando na borda. A única coisa que poderia acontecer a você era cair para o outro lado, no escarpado.
Devolvi, rindo descarada, levando Brenna e Arítes a rirem comigo.
– De qualquer forma, nada faria meu amor diminuir por você, minha filha.
– Eu só não quero que vocês briguem por minha causa. Eu não pedirei mais para mãe Arítes fazer segredos, está bem?
– Então vem cá. Nos dê um abraço e vamos nos arrumar para o desjejum e, ver o que faremos para resolver essa confusão. – Declarei, sorrindo.
– Sobre eu e Thara?
– Não! Sobre o Astru. Com Thara, só você pode resolver.
Ela foi até nós, nos abraçando apertado. Estremeceu nos nossos braços e eu elevei seu rosto, segurando seu queixo com meus dedos, encarando-a.
– O que foi? – Perguntei amorosa.
– Tô com muita dor de cabeça novamente. Não sei o que é. Ontem, quando tomei a infusão que a vó deu, passou um pouco a dor, mas não foi embora. Tô um pouco enjoada também.
Nossa filha poderia fazer um monte de coisas, pela agitação que parecia sempre acompanhá-la, mas, definitivamente, ela não era mimada ou fazia dengo por uma dor qualquer. Acariciei seu rosto.
– Fique aqui descansando. Pedirei para trazerem seu desjejum e pegarei mais um pouco da infusão. Brenna, talvez eu e Arítes tenhamos que viajar para Cadaz. Teremos que pedir a Thara para traduzir os Escritos que se referem ao Astru. Certamente você é quem a acompanhará. Está bem com isso?
– Estou sim, mãe. O que aconteceu entre nós, não atrapalhará. Eu prometo.
****
– Vocês dormiram com Brenna?
Eu e Arítes tínhamos retornado ao nosso quarto, tomamos um banho e trocamos nossas roupas. Fomos para o salão e encontramos com meus pais.
– Dormimos sim, pai.
– Queríamos conversar um pouco com ela, Astor. – Arítes completou.
– Fizeram bem. Daqui a pouco passarei lá para vê-la, antes de ir à rua do comércio ver se o carregamento de sal e tecido chegou. – Meu pai respondeu com um rosto tenso. – Sei que deverão ir para Cadaz. Êlia me falou da decisão de vocês, pela mensagem que chegou da Senhora das Águas. Deixarei tudo acertado para que vocês partam com um contingente.
– Não podemos partir com um esquadrão, pode nos atrasar. – Arítes retrucou.
– Já discuti com Êlia sobre isso e não quero vocês desprotegidas. Não adiantará nada, se vocês não chegarem a Cadaz. Está começando a nevar nas montanhas de Kardoshara. Vocês têm que levar provisões e tendas para o acampamento, senão, não conseguirão subir as montanhas.
– Arítes, papai tem razão. Você tem Équinus para atravessar o deserto e as montanhas mais rápido, mas eu e mamãe não.
– Está certo. – Arítes concordou, voltando-se para minha mãe. – Êlia, não seria melhor ficar aqui com Brenna? Não gostaria que ela ficasse sozinha. Mesmo que ela saiba das condições dos Escritos, precisará da orientação de alguém experiente. Hoje, ela acordou com dor de cabeça de novo, e sinto que tem alguma coisa errada.
– Também pensei sobre isso. – Minha mãe respondeu. – É raro Brenna ficar doente e ela nunca teve dores de cabeça. Continuarei a pesquisar sobre a mensagem da Senhora das Águas, olharei nos pergaminhos de ervas, alguma infusão mais forte para as dores. Certamente é algum sintoma da mudança do Astru. Não tenho mais dúvidas. Eu permanecer aqui é mais sensato. Aquela mensagem não indicava nada de que eu deveria seguir com vocês.
– Quando Thara traduzir os pergaminhos, compreenderemos como a mudança ocorre.
Concluí e olhei para minha mãe e depois para meu pai, interrogativa. Falávamos sobre o assunto tranquilamente na frente dele. Ela entendeu minha mensagem silenciosa.
– Seu pai não pode ficar de fora de tudo. Não é como se ele descesse à sala dos Escritos e pegasse os pergaminhos para ler. E depois, ele tem ótimas ideias. Não o deixarei de fora, desta vez.
Assenti, satisfeita com a decisão de minha mãe. Não era justo com ele.
– Bom, eu vou fazer minha função que é governar, porém quero que me mantenham informado. Quero saber tudo que acontece com a minha neta.
– Tudo que eu descobrir, falarei para você, Astor.
Meu pai se levantou, deu um beijo em minha mãe e nos beijou na cabeça, antes de sair da sala de refeições. Minha mãe levantou em seguida e a acompanhamos.
– Vou direto para a sala dos Escritos para achar alguma erva para dar a Brenna. Depois voltarei a ler os pergaminhos para ver se descubro algo. – Disse Êlia.
– Temos que descobrir mais coisas a respeito do tal “Laço de Vili”, mãe.
– Acredito que obterão essa informação em Cadaz. Quando chegarem, procurem Valda no templo das guardiãs. Ela é a abadessa que toma conta do templo e talvez possa ajudar. Além dela, conhecerão Khlóe que é o oráculo de lá e irmãos do círculo das guardiãs, que preservam o templo e se dedicam aos estudos. Vocês não poderão esperar muito para partir. No templo de Cadaz existe uma biblioteca que, mesmo que não tenha nenhum dos pergaminhos sagrados, existem vários manuscritos das fundadoras do templo e que se referem à história de Tir e Tejor. – Minha mãe concluiu.
– Com certeza, há referências sobre Laço de Vili.
– Isso mesmo, Arítes. Foi o que pensei.
– Estou com medo de levarmos muito tempo para chegar a Cadaz, se uma diligência de escolta nos acompanhar. Pode ser apenas aflição minha, todavia sinto que Brenna não tem muito tempo.
– Eu tenho a mesma aflição, Arites, mas Astor está certo. A nevasca as pegará no meio do caminho e se forem sozinhas, sem suporte, talvez não consigam atravessar. De que adiantaria se vocês perecessem durante a viagem?
– Eu tenho uma ideia.
Falei de rompante, e minha mãe e Arites se viraram para mim, atentas, findando o diálogo entre elas.
– Temos Équinus. Não acredito que as Senhoras dos Reinos tenham deixado um cavalo alado apenas para que Arítes retornasse a Eras. Não faria sentido, pois o exército não tinha se distanciado tanto. Eu e Arites já cavalgamos… ou voamos, sei lá como se chama isso, juntas em Épona para chegar a Tir. Se ela nos aguentou, tenho certeza que podemos ir para Cadaz em Équinus. Sei que suporta levar a nós duas.
Minha mãe e Arites se entreolharam, avaliando o que havia falado.
– Pode dar certo, Tália. É melhor vocês se adiantarem, então. Se Astor souber antes de saírem, vou ter que discutir com ele novamente e dessa vez, não acredito que seu pai esteja falando da boca para fora.
– Ah, mãe. Não creio que papai se separaria de você.
– Eu acredito.
Minha mãe e eu olhamos para Arites, assim que ela falou e encolheu os ombros, displicente. Por fim, minha esposa explicou.
– Conheço Astor há tempo suficiente para saber quando ele dá ou não importância a algo. Pelo jeito que Tália me contou da discussão de vocês, não duvidaria da decisão dele. Podem apostar que não é fácil lidar com essa coisa de “sangue de guardiã” que vocês carregam. Ontem, cheguei a sentir muita raiva disso, quando soube o que ocorria com a minha filha. E olha que eu participo diretamente de tudo, desde muito cedo. Astor está sempre de fora. Acreditem; para ele não é nem um pouco fácil.
Minha mãe suspirou em derrota. Andávamos, lado a lado, e já estávamos no corredor de nossos quartos. Desde que ocorrera a Batalha de Sangue, sua vestimenta passou a ser usual. Apenas colocava o uniforme, quando ia ao comando ou em ocasiões especiais. Desde ontem ela assumira novamente o uniforme, como sua roupa comum.
Após a minha adolescência, quando entrei para o exército e descobri tudo sobre mim, passei a observar melhor as atitudes dela. Agora sabia que nada do que fizesse era sem propósito. Se não soubesse que hoje ela me respeitava, e às minhas opiniões também, poderia me transformar naquela garotinha de outrora. Minha mãe assumia uma personalidade séria e impositiva diante dos problemas. Por fim, ela falou:
– Tudo bem. Arrumem as coisas para a partida. Cuidarei de Brenna, enquanto estão em Cadaz e orientarei Thara no que conseguir. Se precisarem que eu saiba de algo, mandem uma mensagem através de Khlóe para a sacerdotisa-curandeira do lago. Apesar de estar bem idosa, ainda possui traços da visão de um oráculo. Apressem-se.
Escutamos passos vindos do final do corredor e quando me virei, abri um sorriso. A general Eileen se aproximava e fiquei feliz com a presença dela. Abracei-a, antes que falasse qualquer coisa.
– Que surpresa boa, Eileen! Quando chegou?
A general era uma querida amiga de infância e estava alocada na cidade de Brósia, num posto avançado de nosso exército. Ela passou a adolescência e juventude lá, pois seu pai era um diplomata de Eras naquela cidade. Quando a esposa morreu, ele se aposentou e retornou. Ela passou alguns anos aqui, ascendeu no exército, contudo o general de comando de Brósia faleceu, levando Arítes a requisitá-la para assumir o comando de nosso posto avançado na cidade. Ela aceitou, permanecendo lá e eventualmente vinha a Eras participar de eventos do exército e comemorações da cidade. Ela também era um oráculo e vi a chegada dela como bom presságio.
– Cheguei agora. Para falar a verdade, vim assim que recebi a mensagem das Senhoras dos Reinos para me apresentar aqui. Deixei meu segundo no comando de Brósia. A mensagem não foi clara e me preocupei.
Arítes continuava a sentir ciúmes de Eileen, o que para mim era a maior bobagem. No entanto, a fala da general fez com que ela não tomasse a mesma atitude que há anos tinha, sempre que Eileen chegava a Eras. Arítes não me abraçou possessiva, como sempre fazia. Apenas estendeu a mão para cumprimentá-la e perguntou:
– Uma mensagem das Senhoras dos Reinos? O que elas disseram?
– Não muita coisa. Apenas que precisavam de mim aqui. Que Eras precisava de um oráculo.
– Então está feito. – Minha mãe falou de forma prática. – Vocês duas se apressem. Não devem partir à tarde. Levem mantas quentes e vistam roupas de frio. Se Équinus suportar, levem também uma pequena lona para montar uma tenda para duas pessoas, apenas para não ficarem expostas à neve. Não conseguirão chegar a Cadaz hoje, mesmo com este cavalo alado. Eu explico tudo a Eileen.
Uma sensação nos cingiu, como um calor vibrante. Eu sabia o que era. Minha mãe se voltou para a porta do quarto dela e a abriu de rompante. Todas entramos para verificar. Não vimos nada, contudo poderia jurar que a Senhora das Águas havia estado lá. A energia ainda era presente. Segui minha intuição, ou melhor a energia que sentia vibrar. Fui até o jardim e lá estava. Épona, minha égua alada de Tir, relinchava e cheirava o focinho de Équinus, como se estivesse feliz em encontrar seu companheiro de aventuras.
– Pela Divina Graça! Obrigada!
Escutei Arítes exclamar, relaxando um pouco da tensão. Com dois cavalos, poderíamos levar mais mantimentos e uma lona maior para forrar o chão e fazer uma pequena tenda para nos abrigar na viagem.
– Buscarei as coisas de que precisaremos para viajar. Tália, veja as condições dos cavalos, sele-os e pegue suas armas… ah! Não esqueça o arco. Precisaremos, caso tenhamos que caçar alguma coisa para comer.
Arítes saiu do quarto, sem esperar resposta de ninguém. Sentia minha esposa esperançosa e, também, muito ansiosa para partir. Minha mãe se apressou em me ajudar e Eileen nos seguiu.
– Vá pegar suas armas, Tália. Eu e Eileen selamos os cavalos.
Tudo ocorreu muito rápido. Não queríamos perder tempo, porque não sabíamos o que tudo aquilo representava, somente que Brenna não tinha muito tempo. Saímos assim que Arítes retornou com as provisões para a viagem.
***
Minha mãe viu o que poderia amenizar os efeitos das dores de cabeça de Brenna, enquanto Eileen foi para a casa na aldeia, onde mantinha o que necessitava para o contato com a visão, que era seu legado. Voamos horas a fio até a luz do dia esmaecer no horizonte e Arítes comandar nossa parada.
– Vamos descer, Tália. Se seguirmos mais, não teremos como acampar. O gelo já tomou o planalto que antecede as montanhas. Não alcançaremos o sopé da cordilheira e não teremos abrigo.
Olhei para baixo e vi uma clareira na floresta, pouco antes do planalto.
– Então vamos para lá. – Apontei – Se bem me lembro, havia um pequeno lago, ou riacho, não sei… perto dessa clareira. Estaremos a meio dia das cavernas de Tevé e logo subiremos as cordilheiras.
Os cavalos estavam cansados. Ainda teríamos muito a percorrer até Cadaz, mesmo que o inverno ainda não tivesse realmente chegado, aquele clima era inóspito. Arítes concordou e conduziu Équinus para pousar e eu a segui. Apeamos e montamos um acampamento. Eu estava desolada, por não poder saber sobre o estado de Brenna, entretanto, tinha uma expectativa enorme de encontrar respostas quando chegasse. Infelizmente, não tínhamos noção do que estava por vir.
***
– Vó…
– Brenna, o que faz aqui? Deveria estar descansando.
Minha mãe apressou-se em largar os pergaminhos sobre o púlpito, para atender a neta, que chegara à sala dos Escritos.
– Estou entediada até na alma, por ficar dentro do quarto e não fazer nada. Não será uma dor de cabeça que irá me derrubar.
Ela falou numa ênfase irada, que fez minha mãe sorrir. A comandante balançou a cabeça, risonha, pela expressão de tédio e revolta que viu no rosto da neta.
– Então me ajude com isso aqui.
A minha mãe pousou a mão no ombro de Brenna, puxando-a para a mesa de leitura.
– O que está procurando, vó?
– Algo que me diga onde procurar um meio de ajudar suas mães, lá em Cadaz.
– Por que as Senhoras dos Reinos estão fazendo isso conosco?
– Como disse Tália, não deve ser porque querem, ou por capricho. Nunca nos deram motivos para desconfianças. Há algo que elas não podem interferir.
– É isso que a senhora procura?
– Procuro algo que nunca observei. Não fiz bem meu trabalho, Brenna. Se o tivesse feito, provavelmente não estaríamos nessa confusão.
Minha mãe falou com pesar. Ela sabia que algo havia escapado de nós. Nossa casta tinha uma única diretriz; estudar e proteger o equilíbrio dos reinos com a sabedoria, e não o fizemos. O sangue das Guardiãs tinha o propósito de aprender e evitar desequilíbrios e, viver nossas vidas em paz. Nada mais. Infelizmente fomos tão egocêntricas, a ponto de deixar a sabedoria dos Escritos de lado e vivermos só os prazeres que a vida podia nos proporcionar. Era errado? Não. Tínhamos livre arbítrio. Porém coisas acontecem a cada passo que damos. E isto, também é equilíbrio.
– Me ensina.
– O quê?
– Me ensina, vó. Eu também falhei. – Brenna falou, desanimada.
– Brenna, há coisas que podemos orientar, e sua mãe fez com você. E existem coisas que deixamos escapar… somos humanas. O que tivermos que aprender daqui para frente, faremos juntas, porque nem eu sei.
Essa era a comandante e rainha Êlia. Direta. Lógico que quando achava que tinha razão, fazia suas tramoias para nos convencer, mas desta vez, ela estava mais perdida que arqueiro no meio de turba.
Ficaram horas a fio, lendo muitos Escritos, até que, minha filha entrou em transe ao ler o último trecho de um pergaminho. Brenna parou de repente, de olhos abertos, balbuciando palavras ininteligíveis. Uma língua diferente e recitando frases repetidas vezes. A comandante Êlia entrou em pânico. Sabia que era a mesma linguagem dos Escritos do Astru, mas nada compreendia. Não poderia levar Thara até a sala dos Escritos e muito menos meu pai, o Rei Astor. Conjurou uma velha oração para a Divina Graça e colocou Brenna nos ombros, subindo degrau a degrau, das escadas que levavam ao quarto dela. Depositou-a na cama e mandou chamar Thara. Na segunda batida da porta, minha mãe abriu e Thara a cumprimentou, com uma reverência.
– Mandou-me chamar, majestade?
– Sem essa de majestade! Entra aqui, agora, e me fala o que ela diz.
A comandante Êlia puxou a conselheira, levando-a até a neta.
O coração de Thara pulsou mais forte, acelerando e travando a garganta diante da visão. Pela Divina Graça! Pensou, estarrecida com o que via. Brenna suava e não parava de pronunciar a mesma frase, deitada na cama e paralisada.
– Thara… Thara! O que ela diz?!
Minha mãe segurou o braço da conselheira, sacudindo-a para tirá-la da inércia.
– Hã! – Thara saiu da catatonia – … Ela diz “Segador” e “Cuidado com o Segador”. Está repetindo isso indefinidamente. O que ela quer dizer? O que vamos fazer com ela deste jeito?
Minha mãe foi até a lareira e retirou a chaleira com água que havia colocado logo que deitou Brenna na cama. Derramou em uma chávena, misturando com as ervas que colocara. Era uma infusão para induzir o sono.
– Me auxilie, Thara. Apoie o corpo dela para que eu verta o líquido na boca.
Enquanto a conselheira apoiava minha filha sobre seu dorso, minha mãe entornava o líquido num cálice e deixava esfriar. Viu Thara acariciando os cabelos de Brenna, que apoiava a cabeça no ombro da conselheira. Minha filha foi acalmando, aos poucos, mesmo sem a infusão. A Guardiã Êlia reparava nos gestos e na expressão, entre assustada e terna, de Thara. Ela ama minha Brenna. Pensou, distraindo-se com a candura com que a jovem sábia tratava a neta, até o chá esfriar. Chegou-se até as duas, sentando na beirada da cama, fazendo Brenna beber o conteúdo.
– Segador…
Minha mãe falou, tentando lembrar de algo que poderia ter lido sobre o assunto, porém nada lhe veio na mente. Desesperava-se. Ela nunca teve tanta incerteza na vida.
– Posso ficar aqui com ela?
– Hã?
A Guardiã Êlia foi tirada de seus pensamentos com o pedido de Thara.
– Majestade, eu posso ficar aqui com a princesa Brenna? Quero ajudar…
O olhar dolorido da conselheira e as pupilas contraindo e dilatando, quase imperceptíveis a olhos quaisquer, contudo não passaram despercebidos pelo olhar da verdade que nós guardiãs tínhamos. Minha mãe teve certeza que eles denotavam o quanto de aflita preocupação havia naquele pedido.
– Eu lhe agradeço se o fizer, Thara. Preciso de tempo para saber o que ocorre com minha neta.
Falou complacente, vendo que poderia colocar a vida de Brenna, nas mãos da conselheira.
Nota: As postagens ficarão nas quintas-feiras mesmo, pessoal! Se mudar ou soltar um extra, eu aviso, ok?
Beijão para tod@s!
Quem está correndo maior perigo? Arítes e Tália, a caminho de Cadaz? Thara, se ler os escritos sagrados? Brenna, ao passar pelo Astru? Quem tem que tomar cuidado com o Segador?
Quem está reinando agora é Astor, não é mesmo? Vou pedir a ele para assinar um decreto ? , dizendo que quando o capítulo terminar assim, deixando o pessoal que ler aflito, a autora deverá postar o capítulo seguinte em no máximo 24 horas depois. ?
Beijo, Carol
Como disse, perigo todas estão correndo, contudo… Talvez umas mais que outras! rsrsr
24 horas!!!!!!!! Quer que eu morra na forca, ou decapitada se não conseguir cumprir?! Qual seria a minha pena? rsrsrsrsr
Muito obrigada, Fabi! Valeu mesmo pelo carinho!
Um beijo grande pra ti!
Que coisa ruim esse cap! kkkk To de brinca minha autora. amooooo!
Arites na linha de frente, talia botando todo mundo nos esquemas e êlia minha amada meio perdida. Ela deve tá com algum troço em cima. Minha Elia não é de ficar frita nas situações.
Manda um extra Carol. Favorzinhooo
Bj Carol
Oi, Bia!
Tá ruim o capítulo, né? rsrsrsrsr
Coitada da Êlia. Ela é minha amada também! hi hi hi Ela tá mais perdida que criança quando brinca de cabra-cega. rsrsr Mas não acho que demore muito para ela voltar a ser como antes. Vamos ver…
Valeu, Bia! Brigadão!
Um beijão!
Eita que estou mais curiosa pra saber sobre o Astru, e o desenrolar dessas duas, Brenna e Thara… Aríste, saindo “escondida” pra encher o caneco é kkkk
Arítes não é fácil! Quem pensa que ela é toda quietinha…. he he he
Como você está, Ka? Vou aportar lá pelas suas histórias Deixa eu desenrolar meu carretel, que apareço por lá. 😉
Bom, com relação ao Astru, ainda tem coisa pra vir. rs
Valeu o carinho, Ka!
Beijo grande!
Arítes voltou, estava com saudades dela, olha cada capítulo fico mais aflita com essa história do Astru e com pena da Brenna.
Bivard nos matando de ansiedade a cada capítulo. ??
Atrasadinha, mas tô aqui. rsrs
Como você está, Marcela?
Arítes voltou e voltou com tudo!
Só mato vocês de ansiedade um pouquinho. he he he Vpou tentar compensar isso. 😉
Obrigada pelo carinho de sempre, Marcela!
Beijão!