Eras: A Guardiã da União

Capítulo XIII – A Floresta Du

Eras – A guardiã da União

Texto: Carolina Bivard

Ilustrações: Táttah Nascimento

Revisão: Isie Lobo, Naty Souza e Nefer


Capítulo XIII – A Floresta Du

A jovem sábia se apressou, colocando a princesa sobre o colo, acariciando-lhe o rosto, na tentativa de acalmá-la e ver a gravidade da situação.

− Shiii. Calma. Estou aqui. — Thara falou carinhosamente.

A princesa se acalmou aos poucos e a jovem conselheira foi até a sala de banho pegar uma bacia, panos e uma ânfora com água, para baixar a febre.

****

Pouco antes de chegar ao Templo Luzeiro, minha mãe fez Ceffyl descer e galopar. Havia passado uma noite ao sopé da cordilheira e chegou numa hora propícia para nós. A Abadessa havia fechado os portões do Templo para os fiéis, deixando apenas o hospital disponível para a população. Ela, e quase todos no Templo, recolheram-se em rituais que, apesar de meus conhecimentos sobre os Escritos, nada entendia.

Eram ritos que praticavam para proteção e para esclarecimento. Após Khloé ter entrado no estado de sono profundo, que eu entendia como um encantamento por ter segurado um pergaminho dos Escritos, eles tentavam achar uma solução, enquanto purificavam o Templo Luzeiro. Participávamos desses ritos, pois partiríamos para nossa busca na floresta Du.

− Quem vem aí?

Minha mãe apeou do cavalo. Estava exausta. Aproximou-se do portão principal, vendo a guarnição atenta a seus passos. Abriu o casaco de peles, mostrando suas armas.

− Sou a Guardiã Êlia, Lâmia de Luz! – Gritou. – Vim me juntar à busca para a passagem do Astru da Guardiã da União.

Pela primeira vez ela utilizara o título que, até então, não imaginava ter. Apropriou-se dele, mesmo sem saber o que significava realmente. A busca também era dela. O intendente olhou os símbolos que ornavam o cinturão da espada de minha mãe e o arco, atravessado nas costas.

− Abram os portões! – Gritou o intendente. – Seja bem-vinda, Guardiã.

Minha mãe viu a sua égua relinchar, batendo o casco na neve, impaciente.

− Ah, você não quer entrar, não é?

Perguntou amorosa para a égua, que lhe respondeu com uma focinhada, assim que a guardiã se aproximou. Minha mãe a livrou da sela e arreios e viu a égua cavalgar, feliz, para a floresta de coníferas. Carregou tudo para dentro dos portões e, assim que entrou, foi recebida por um homem simpático, que lhe arrebatou num abraço.

− Pela Divina Graça! Não acredito que está aqui! Não imaginei ver você nessa vida, novamente!

Minha mãe apertou o homem, feliz que tivesse sido ele a lhe receber.

− Cógnin! Eu sonhei inúmeras vezes com você ao longo da vida, meu amigo, e não mudou muito desde que fui embora.

− E eu achava que iria pegar você de surpresa. – Balançou a cabeça risonho. – Lembre-me de nunca subestimar uma guardiã. – Abraçou-a, conduzindo a amiga para dentro. –  A chata da minha irmã está lá dentro do Templo, naquelas coisas de vocês. Vou deixar-lhe confortável até ela terminar.

Minha mãe gargalhou!

− Ainda implica com ela?

− Sempre! De que vale uma vida longa sem diversão, einh?

− Não me diga que não se casou?

− Tenho uma esposa e filhos maravilhosos, mas nada se compara a implicar com a minha irmã. – Riu.

A Guardiã interrompeu o passo, encarando-o solenemente.

− Você sempre me tratou com carinho e eu… bem, eu lhe tinha como um pai. Quando fomos embora daqui, eu senti a nossa separação.

− Ah, Êlia! Não me venha com rodeios. Eu sempre gostei de sua posição segura e direta, mesmo quando criança. O que quer saber?

Cógnin fitou minha mãe, desconfiado daquela mesura. Minha mãe riu, pensando que ele não mudara em nada. As lembranças que tinha era de alguém que, entre conversas e brincadeiras, a educava sem que ela percebesse. “Em que ponto da minha vida me tornei uma pessoa tão rígida?” Ela se perguntava.

− Quero saber se você é meu pai. Sabe que nasci e fui criada brevemente aqui. Era criança ainda quando parti e me lembro somente de você, como figura paterna. Minha mãe me contou que chegou num ponto da vida dela que queria ter uma filha, no entanto ela nunca me contou quem era meu pai.

Ele fez um carinho no rosto da Guardiã.

– Sinceramente não sei, Êlia. Mas se quer saber a minha opinião? Eu a tenho em meu coração como uma filha. Sua mãe nunca me falou e, quando eu perguntava, ela dizia que você era filha dela.

Minha mãe assentiu e o enlaçou para entrar na construção. Subentendeu que ele teve um relacionamento breve com a mãe. Para ela, não importava. O amor que tinha por Cógnin, mesmo após tantos anos, fazia dele um pai para ela.

Não sei se eu gostaria de viver sem um pai ou mesmo sem uma segunda mãe. No fundo, achava que as Guardiãs eram sensatas ao procurar um homem para engravidar, sem que tivessem o compromisso do casamento. Muitas tiveram uma vida solitária, enquanto outras, assumiram companheiros, que não eram necessariamente pais de suas filhas. Outras tinham preferência por mulheres.

− Você chegou de surpresa. Mandei preparar um quarto para você agora, mas ainda não está arrumado. Vamos até a minha cozinha, para que coma algo. A maioria está no Templo, inclusive sua filha e nora. Enquanto isso, coloco você à par de tudo que aconteceu aqui. Suponho que não veio para uma estadia de férias.

− Supôs corretamente. – Minha mãe sorriu. – Ainda cozinha?

− O que mais um mago da culinária, como eu, poderia fazer?

− Orientar a sua irmã, quando ela fica sem rumo? – Êlia perguntou jocosa.

− É o que faço, entre uma colherada e outra. – Sorriu, debochado, para depois se colocar sério. – Temos visto algumas mudanças há algum tempo, contudo, nenhuma certeza, Êlia. Agora tudo está se movimentando. Deixe-me lhe contar…

****

Thara cuidou de Brenna, fazendo a febre baixar. Temeu chamar o médico-curandeiro pelas implicações e não encontrara a rainha Êlia. Deu-lhe uma infusão para que minha filha dormisse e se pôs a olhar tudo que haviam lhe dado na reunião, sempre observando as reações da princesa. Caso ela não melhorasse, não teria outra alternativa: chamaria o curandeiro real.

Diante do que leu, começava a se convencer sobre ser a verdadeira herdeira do trono de Natust. Resolveu terminar a tradução dos Escritos, para que quando Brenna acordasse, pudesse estar adiantada e conseguisse sair um pouco para falar com os pais.

Nos últimos dias, ela fizera tantos juramentos à família Eras que imaginou estar na hora de dividir seu fardo com alguém. Contaria para Brenna e pediria a ela que nunca desconfiasse da lealdade que tinha para com a família. Não decidiria nada, até falar com a princesa. Estava arrasada, pois o maior sonho da vida da jovem sábia era poder um dia, ser tão respeitada no Conselho quanto Tórus.

Eu me fiz uma pergunta que talvez todos fizessem em minha posição, após saber o que aconteceu:  Como Thara esqueceu que não poderia tocar os Escritos Sagrados? Minha dedução foi que ela estaria tão abalada com tudo que vinha ocorrendo que, simplesmente, se distraiu e os tocou.

****

− Mãe! O que faz aqui?

Quando saímos do Templo, após os rituais, uma das irmãs falou que minha mãe havia chegado. Interpretei errado, como se algo ruim tivesse acontecido com Brenna. Eu e Arítes disparamos para o refeitório, assustadas.

− Êlia, o que aconteceu com minha filha?

Arítes foi mais rápida, perguntando de chofre.

− Não aconteceu nada com Brenna. Ela está bem, até onde sei, porém se querem saber das últimas notícias de Eras, sentem aqui.

Minha mãe relatou tudo, de uma forma que nunca a vi fazendo. Ela não escondeu uma vírgula. Estava completamente aberta. A certeza de estar num lugar protegido e que confiava, fez a leveza da narração para conosco.

− Thara, herdeira de Natust? Não sei se gostei dessa informação, Êlia.  Agora Brenna está lá, sozinha, com a possível sucessora do trono que sempre nos afrontou.

− Não ache que não me preocupo, Arítes, todavia Astor não é bobo e está cuidando disso, pessoalmente.

− Eu sei que ele nos ama mais que tudo e não se deixaria enganar, facilmente, mas… Essa situação toda… As revelações sobre você mesma, são preocupantes.

− Arítes, você conhece papai. Ele ficará em cima de tudo que acontece.

As pessoas do Templo escutavam nossa conversa sem interferir, até que Liv se pronunciou.

− Eu concordo com a Protetora. Deixar Brenna na situação em que se encontra, é preocupante, Lâmia de Luz.

Ela falou respeitosa, deixando Arítes pasma com a declaração.

− Não tanto quanto eu saber que meus atos podem definir o destino de minha neta e do reino, cosantóir.

Liv assentiu, meneando a cabeça.

− Então amanhã partirá conosco, mãe. Sairemos antes dos primeiros raios de sol.

− Eu me recolherei para o ritual de purificação, hoje. – Minha mãe olhou para Valda.

− Eu lhe conduzirei, Êlia. Amanhã, quando partirem, Cógnin dirigirá a proteção energética nas primeiras horas, para eu descansar e me revitalizar. Faremos seis turnos no triângulo de luz. Não deixaremos a energia enviada a vocês, esmorecer.

****

− Mãe…

Iríamos nos recolher e mamãe, mesmo cansada da viagem, caminhava em direção ao Templo para os rituais. Chamei e ela retardou o passo para falar comigo.

− Antes de dormir, quero saber de você, a sua opinião disso tudo.

− A verdade é que, pela primeira vez, não tenho opinião sobre nada, minha filha. Estou perdida.

Segurei o braço dela, retardando o nosso passo.

− Então eu vou lhe orientar. – Ela me olhou confusa. – Por tudo que tenho lido, enquanto estou aqui e, pelo que nos contou, quero que tenha cuidado. A senhora está sob um encantamento forte.

Não sabia bem como me colocar sobre o que se passava, contudo algo me incitava.

− Pense: não temos magia, a não ser as que são oriundas de Tir. Tudo que foi delineado para nossa casta, por nosso sangue, somos vulneráveis por objetos mágicos da antiga Tanjin e influências energéticas de tempos antigos. Mesmo aqui no Templo Luzeiro, somos protegidos porque eles conseguem fazer ritos de energia, contanto que seja aqui dentro.

Inalei um bocado de ar, tentando organizar minhas ideias.

− Você foi enfeitiçada, em algum momento em sua vida, em algum local sagrado.

− Acha que temos outros lugares como esse? Desde que Tir e Tejor se separaram, o único lugar de que sabemos existir um campo energético é aqui, o Templo Luzeiro.

− Você sabia, não eu. Entretanto, não temos fontes, onde os oráculos conseguem ver e se comunicar? Olhe ao redor, mãe! O Templo Luzeiro é todo banhado em energias! Falar que não temos magia, é um erro. Não conseguimos fazer encantamentos fora desses pontos. A maioria do povo que permaneceu em Tejor e que não tem sangue das antigas estirpes, não pode realizar encantamentos. Porém me diga, quem tem o sangue sagrado que ficou aqui em Tejor?

− Entendi seu ponto de vista, filha. Agradeço a orientação, mas, infelizmente, terei que descobrir como fui enfeitiçada.

− Teremos, mãe.

− Como?

− Apenas lhe corrigi. Eu digo que teremos que descobrir, não somente você. Hoje sei que Arítes tem sangue sagrado, ou seja, não são apenas as Guardiãs. Liv também deu indícios de sangue sagrado, quando viu a luminescência da biblioteca do Templo.

− Obrigada, filha.

Minha mãe sorriu, reconfortada, colocando a mão sobre meu ombro.

− Agradeço, todos os dias, por ter você como filha; e Arítes e Astor, serem nossos companheiros.

− Nada se realiza sozinho. – Afirmei, confortando-a.

Ela me deu um beijo na cabeça, feliz, como sempre fez. Percebi o sentimento de impotência de minha mãe, diante dos fatos, e isto me deu duas certezas: ela era a melhor mãe e a melhor Guardiã de Tejor.

****

Saímos, antes mesmo da primeira luz do dia. Estava encantada com a vitalidade que minha mãe mostrou. Vi um dos irmãos se aproximar de Liv e beijá-la, pouco antes de montar num garanhão. Eu e Arítes nos entreolhamos. Lógico que nós duas estávamos abismadas. Fazer o que? Infelizmente nos deixamos levar por contextos isolados…

Conduzi Épona e emparelhei-a com Ceffyl, para questionar minha mãe sobre a expressão descansada dela; Arítes chegou junto com Équinus.

− Parece que dormiu doze marcas seguidas. – Falei.

− Escutei barulhos no nosso corredor, pouco depois do meio da noite. Acreditava ser você se recolhendo. – Arítes pontuou.

− Então não conheceram as termas do Templo Luzeiro?

− Conhecemos, e daí? – Arítes rebateu de imediato.

− São águas revigorantes. Ninguém lhes contou?

Arítes olhou para Liv, raivosa. O cavalo dela estava adiantado, assim como o do homem que a beijou.

− Filha de um cervo maldito! – Resmungou Arítes.

− Pensei que tivesse lhe instruído melhor quanto a adversários, Arítes. Nada de xingar. Pelo que descobri ontem, Liv nasceu depois que saí daqui. É um pouco mais velha que Tália e você, e é filha da Abadessa. Cógnin disse que foi mentor dela e, pelo que conheço do homem, ela pode ser bem versátil. Pode ser tão austera, como divertida.

Minha mãe piscou para nós, adiantando o galope.

Estreitei meus olhos, me irritando com minha mãe. Em menos de meio dia, ela sabia mais coisas da cosantóir do que nós. Colocamos os cavalos em galope, acompanhando o grupo e saímos do Templo. Antes da metade do dia estávamos com dificuldade em continuar cavalgando. A mata era fechada demais e, muitas vezes, parávamos para avaliar por onde seguiríamos. Roney, o companheiro de Liv, marcava nossa passagem, escavando um símbolo nas árvores mais frondosas e, desta forma, não nos perderíamos no retorno.

Desde o momento em que entramos na floresta Du, avançávamos e nos orientávamos pelo que o pergaminho que achamos sobre o Templo da Vida indicava. Nada era muito concreto, contudo, quando abríamos o pergaminho para que todos lessem, parecia que o caminho que deveríamos seguir, estava bem debaixo de nossos narizes.

Em determinado momento, minha mãe, irritada, pediu para pararmos. Não estávamos mais sobre os cavalos, entretanto eles ainda nos acompanhavam, carregando nossos suprimentos.

− O que foi, mãe?

− Não acham que está tudo muito fácil?

− Pensei a mesma coisa, Guardiã. Eu sou um rastreador há muitos anos e nunca, em minha vida, vi indícios tão fáceis de seguir. Não tiro o mérito de estarmos nos direcionando por indicativos de um pergaminho milenar, mas…

− Por ser milenar, esta floresta deveria ter se modificado em todos os aspectos.

Minha mãe concluiu a frase de Roney. Ele era um homem alto e corpulento. Trazia, nas características físicas, os traços do clã da floresta e assim como Arítes, ele tinha os olhos verdes e os cabelos castanhos.  As mechas eram longas, onduladas e volumosas, alcançando a escápula onde, no ombro direito, encobriam parcialmente a tatuagem de uma linda mulher iluminada, segurando uma ave de rapina.  A tatuagem parecia cintilar cada vez que um raio de luz a tocava.

− Merda! – Liv exclamou, batendo outra vez em seu próprio braço. – Vou passar o elixir que Oskar nos deu. Estou sendo devorada por insetos.

− Vamos descansar um pouco. Temos que comer algo antes de continuar e dará tempo de pensarmos melhor no que fazer. Daqui algumas marcas, a luz do sol não conseguirá penetrar mais através das folhas das árvores e teremos que achar um lugar seguro para acampar.

Foi a vez de Arítes pontuar, para que não excedêssemos na nossa caminhada. Estávamos em silêncio, cada qual com seus pensamentos.  Achei um tronco caído de uma árvore para sentar que, outrora, fora frondosa. Olhei em torno do tronco e o chutei algumas vezes com a ponta da bota. Não queria ser pega de surpresa por nenhum animal desconhecido e perigoso. Um casal de roedores se desalojou e correu, escondendo-se nos arbustos longe de nosso acampamento improvisado.

Sentei e, como se fosse um convite mudo, todos sentaram ao longo do tronco, exceto Roney que dava água aos cavalos. Minha mãe pegara um pouco de queijo em seu alforje e Arítes um pedaço de pão, enquanto Liv terminava de besuntar o elixir em seu corpo para etar os insetos. A cosantóir passou o elixir para mim, minha mãe distribuiu o queijo e Arítes o pão e logo depois, Roney se aproximou, nos dando o odre com água, sentando-se ao lado de Liv.

Nos alimentamos em silêncio. Coloquei o último naco de pão na boca, reparando em cada um. Achei interessante ver um sorriso sutil bordar os lábios de Liv, ao receber um delicado carinho no braço, daquele homem musculoso. Era uma imagem, no mínimo, singular.

Arítes se levantou devagar e ficou de frente para Liv e Roney. Um arrepio correu por minha coluna até chegar a minha nuca, fazendo-me colocar as mãos sobre a haste de meu arco. Minha mãe acompanhou Arítes no movimento, mas permaneceu de frente para mim.

− Liv, me prometa que se algo me acontecer, você protegerá Tália com a vida e encontrará o laço de Vili para auxiliar minha filha!

− Prometo, mas não acho que cairá agora porque, eu e Roney, estamos aqui para garantir que nada aconteça a nenhuma de vocês.

Roney se levantou de súbito desembainhando a própria espada, gritando:

− Agora, Protetora!

Arítes abaixou, enquanto o rastreador lançava a espada horizontalmente, atingindo uma criatura que pulou sobre minha esposa. Arítes saltou sobre o tronco, estocando outra, que vinha por trás de nós. Eu me atirei de lado, segurando meu arco firme, retirando rapidamente uma flecha da aljava que estava presa em meu dorso e desferi em mais uma criatura que se lançava sobre minha mãe. Ela e Liv lutavam com outras três.

Afastei-me para ter uma visão melhor e poder utilizar o arco e, quanto mais flechas eu desferia, mais criaturas surgiam para combatermos.

− O que são essas coisas?!

Liv perguntou, num berro, no momento que transpassava a espada no dorso de uma delas e virava-se para combater outra, que eu acertei com uma flechada, antes que a criatura pudesse alvejá-la com uma lança. Elas eram grotescas, contudo manipulavam lanças, facas e um tipo de bastão com uma massa na ponta.

Vi minha mãe perder o equilíbrio, após se defender de uma estocada de um bastão. Aquelas criaturas tinham uma força descomunal e muitas nem se abalavam quando eram atingidas. Pareciam morrer somente após um golpe dilacerante, ou quando atingidas por uma flechada no coração.

Atirei uma flecha, para livrar minha mãe do perigo. Ela me fitou rapidamente e, depois, olhou para Ceffyl. Eu estava na retaguarda e corri até a égua, pegando o arco e a aljava com as flechas dela. A Guardiã Êlia jogou o corpo para frente, rolando sobre o ombro, escapando de outra estocada. Levantou-se e correu até mim, pegando o arco e a aljava.

Segurou-me no braço, correndo para uma árvore de tronco largo e galhos vigorosos. Não era alta e subimos com facilidade. Cada uma se alojou num galho, e de lá, pudemos ver a luta com clareza. Assim começamos nossa artilharia com as flechas para auxiliar nossos amigos.

Roney era um bom guerreiro, todavia era pesado. Quando visualizei melhor a luta, vi Liv decapitar uma criatura que quase atingiu o rastreador; e Arítes, logo em seguida, atravessou o dorso de outra que estava pronta para derrubar a cosantóir com o tal bastão. Atirei em mais uma criatura e mais outra, até nosso acampamento improvisado estar cheio de corpos. Descemos da árvore nos aproximando de nossos suados e cansados companheiros. Suspirei olhando ao redor.

− Não eram muitas. Tem uns dez corpos aqui, mas pareciam um batalhão inteiro. – Falei, puxando o ar para meus pulmões.

− Elas não morriam por nada! Atravessei uma delas completamente com a minha espada e ela caiu, depois de um tempo, levantou-se e voltou para a luta. − Arítes completou.

− É. Isso ocorreu comigo também. – Arrematou Liv. − Vi as Guardiãs atirando as flechas e só as retardava, apenas quando foram lá para cima da árvore e conseguiram acertar no coração é que elas caíram de vez. Alguém sabe dizer que seres são esses?

Roney e minha mãe agacharam para vê-las de perto. Eu não precisava me abaixar para ver o quanto eram estranhas.

− Já ouviram falar dos “croabichs”?

Minha mãe perguntou e Roney olhou para ela com uma expressão de concordância.

− Isso é só uma lenda, Guardiã. Quando era criança, me juntava com as outras crianças do Templo para contar histórias deles. Cada um contava uma história para tentar amedrontar o outro. – Liv pontuou.

− Pois eu concordo com a Guardiã. Olhando de perto para eles, não me parece ser uma historinha de criança. – Roney arrematou.

− Para mim, elas eram uma lenda também. – Falei.

− São remanescentes da rebelião que provocou a Guerra do Caos e a separação de Tanjin. Eles eram do povo da floresta e os incitadores da rebelião.

Arítes falou com pesar e Roney a olhou com cumplicidade. Aquelas criaturas que olhávamos, um dia haviam sido homens da casta do povo da floresta.

− Como eles ficaram assim e como sobreviveram até hoje? – Liv questionou.

− Isso talvez eu possa esclarecer. – Respondeu Roney.

− Você?

Liv inquiriu, olhando-o sem entender, assim como todas nós.

− Quando eu era um menino, não me conformava em ser de uma casta que levou a guerra de separação e a tantas consequências. Ficava triste em saber que meu povo fez tanto mal. Um dia falei sobre isso com sua mãe – Ele apontou para Liv – e ela disse que não havia sido a minha casta, somente algumas pessoas desorientadas e que eles haviam sido exilados. Ela me contou algumas histórias e me disse onde procurar por elas na biblioteca do Templo. Li muita coisa sobre o exílio dos rebelados.

− Por isso você contava as histórias mais assustadoras dos croabichs e eu morria de medo toda vez.

Liv balançou a cabeça rindo, recebendo em troca uma gargalhada do rastreador.

− Não quero interromper as lembranças de vocês, mas gostaria que contasse para nós o que sabe sobre eles. Se temos que avançar para encontrar as ruínas do Templo da Vida, encarar mais deles não será nem um pouco seguro para nós. Eles chegaram muito silenciosos e agradeço que vocês tenham sentidos tão apurados.

− Arítes tem razão, Roney. – Eu reafirmei o que minha esposa dizia. – Estávamos todos acordados e alertas. Em algum momento, teremos que descansar e contar apenas com a vigia do perímetro.

− Vou tentar resumir o que sei.

Roney falou, suspirando em desânimo.


Nota: Agora Êlia está definitivamente em ação! rs Quanto ao extra que pediram, essa semana não será possível, mas prometo que após o carnaval pensarei com carinho! 😉 

Bom Carnaval a quem é de Carnaval e bom feriado para quem não gosta de folia! Apreciem o divertimento com moderação e o capítulo sem moderação! he he he 



Notas:



O que achou deste história?

8 Respostas para Capítulo XIII – A Floresta Du

  1. O que houve com Thara????? ?

    Será que Cógnin é pai de Êlia? Algo me diz que sim.
    E sobre Liv, mesmo tendo um companheiro, ainda tenho um pé atrás com ela. Sou uma pessoa desconfiada, oras! ? Quem mandou plantar a dúvida? Agora terá que fazer muito mais para me convencer que não tem interesse em Tália.
    Essa floresta Du deve esconder muitos segredos..
    E Thara, como ficou?

    Beijo, Carol

    • Oi, Trocou a foto, Fabi? Bonita foto! 😉

      Não vai demorar para saberem o que aconteceu com a Thara. Só mais um pouquinho e as coisas começarão a encaixar. rs
      kkk A Liv é uma pessoa que fala o que pensa. Não tenham tanta raiva da bichinha. kkkkk
      A Floresta Du é uma grande armadilha e também guarda coisas importantes!
      Beijo grande, Fabi e obrigadão!

  2. Guria, tu consegue deixar mais duvidas na minha cabeça a cada cap. o q aconteceu com Thara??? Que encantamento é esse que Êlia tem? Como uma floresta milenar não muda?? Por fim pq elas estão sendo atacadas?? Aff são mtas questões, mtas duvidas e apenas uma certeza… Tô amandoooo.

    • Oi, Nádia!
      Então, as dúvidas vão ser sanadas aos poucos e começará em breve. rs Ah, que legal! Você se atinou para o encantamento da Êlia! São detalhes que aos poucos farão sentido, eu prometo! rsrs
      Muito obrigada, Nádia! Você é do sul?
      Um beijo grande!

  3. Oh rapaz, outro capítulo delicinha! Adorei ver as rainhas em ação! E pqp, to até com receio do que pode ter acontecido com a Thara! Torcendo pra q ela tenha sangue sagrado e esteja ilesa dos encantamentos ;x

    • Oi, Karina!
      As rainhas são mais guerreiras do que outra coisa. Nada de princesinha nessa história. Todas artilharias peso-pesado! kkkkk Bom, quanto a Thara veremos o que espera por ela. rs Mas não demora muito para vcs descobrirem, não. rs
      Valeu muito, Ka!
      Um beijão para você!

  4. Carvalhoooo! O que aconteceu com a coitada da thara?
    voce não cansa de agoniar nessa historia autora.
    Vou cobrar o extra na semana que vem pq vc nao cansa de fazer a gente querer mais. So quero ver quando a talia e arites souberem o que aconteceu no castelo. coitado do rei. So fica segurando barra e não sabe de nada nunca. hahahahaha
    bj autora

    • Bom, a Thara tocou no Escrito Sagrado… Aí a gente só imagina o que aconteceu. 😉

      O rei Astor cercado por essas mulheres está perdidoooo. kkkkkkkk Não só a Tália e a Arítes, não se esqueça da Êlia. Quer avó mais durona do que essa? Imagina como ela vai ficar. rs
      Valeu muito, Bia!
      Um beijão pra ti.

Deixe uma resposta

© 2015- 2019 Copyright Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem a expressa autorização do autor.