Camila observava o céu, as nuvens negras e carregadas de chuva haviam cedido lugar a outras límpidas e de formas estranhas que lembravam a ela o algodão doce que costumava comprar com Eva em sua infância. Com tristeza, recordou que havia muito a inocência daquela época não existia mais nela; tinha visto muitas mortes, derramado muito sangue, incluindo o seu próprio. Contudo, ainda acreditava que o ódio não era capaz de vencer o amor; foi pelo amor a liberdade, à sua família e amigos que lutou por tantos anos.

Desviou seu olhar para a multidão que brincava e dançava ao ritmo de uma bandinha improvisada. Homens, mulheres, crianças e soldados se misturavam em uma massa da qual pulsava alegria. Das gargantas, ecoavam os gritos de “Vitória!”, “Viva a Liberdade!”, “Viva o General Herrera!”, “Viva a democracia!” e tantos outros impossíveis de se ouvir com exatidão cada palavra.

O povo gritava “Viva a liberdade!”, a mesma liberdade que tanto sonhara e buscara ao lado de seu pai e companheiros e, de repente, a dor da saudade de todos aqueles que se foram dando suas vidas para que este dia chegasse assomou-lhe e com ela a certeza e a alegria de que valera a pena lutar por isso.

Fogos de artifício eram lançados aos céus a todo instante, alguns soldados das FL atiravam para o alto, enquanto cantavam em uníssono o seu hino de vitória, o mesmo que ensaiavam baixinho em volta da fogueira durante as noites frias nos acampamentos.

Olhou para o céu, mais uma vez, e deixou que o som daquelas centenas de vozes lhe invadisse os ouvidos e o ser levando-lhe até a última gota de sangue a emoção nelas contida. A tempestade havia acabado, mas jamais esqueceria que, em meio a ela, reencontrou alguém que pensou ter perdido para sempre e descobriu que esse alguém era o amor de sua vida. Baixou os olhos novamente e encontrou, no meio da multidão, um par de olhos castanhos que, estava escrito pelas mãos do destino, seria dono do seu coração.

De repente, o mundo parou a sua volta. Não via nada além daqueles olhos, não ouvia nada além do ritmo descompassado de seu coração, não sentia nada além do desejo de se jogar nos braços dela. E a dona deles caminhou lentamente em sua direção, parando diante de si, ainda sem desviar o olhar.

Eva acariciou-lhe a face enxugando com a ponta dos dedos uma gota de chuva que escorria próxima aos olhos ou, talvez, fosse o vestígio de uma lágrima. Não importava, finalmente poderiam seguir o desejo de seus corações e construírem uma vida juntas, sem guerras, sem revoluções.

As mãos se entrelaçaram e os lábios se uniram em um beijo terno, cheio de saudade, afinal estavam separadas havia dois meses. Eva havia sido incumbida de reunir aliados entre homens e mulheres nas outras ilhas do país que estivessem dispostos a lutar no que seria o último golpe ao governo de Cortez. Enquanto isso, Camila e seu pai faziam os demais preparativos e Antônio se encarregava de trazer mais aliados políticos para o lado dos revolucionários com Pietro ajudando a ocultar a identidade dos demais aliados e espiões.

O que acontecia naquele instante, era apenas o desejo do povo de dar voz a liberdade que lhe fora devolvida; era uma comemoração um pouco tardia já que o General Cortez havia fugido do país um dia antes das forças revolucionárias marcharem pelas ruas de Serra Negra rumo à sede do governo.

Com a fuga de Cortez, o exército não se opôs a entrada de Herrera e seu exército na cidade e se rendeu sem que um único tiro fosse disparado. No fundo, o fim daquela guerra era o desejo de toda a nação.

Como era esperado, os políticos e o povo empolgado com a recém recuperada liberdade, exigiram que Silas Herrera assumisse o comando do país, mas o General recusou-se a assumir esse papel. Estava cansado de liderar, só queria descansar e desfrutar a paz e a liberdade pela qual derramou seu sangue; exigiu do senado que escolhessem um homem justo e honesto dentre eles para governar por alguns meses até que eleições pudessem ser organizadas e realizadas. Assim foi feito.

Eva afastou-se de Camila, estava muito emocionada. A olhou com carinho e admirou sua beleza; ela não estava usando o uniforme das FL e, sim, um vestido branco com alguns florais no busto. Estava linda.

– Tenho um pedido a fazer – falou, apertando firme a mão pequena e de dedos longos.

Camila lhe dirigiu um olhar de incentivo, enquanto um sorriso bailava em seus lábios.

– Quer ser feliz ao meu lado?

Camila riu gostosamente.

– Acha que pode me fazer mais feliz do que já faz?

– Eu adoraria tentar.

Entrelaçaram suas mãos e caminharam em direção a multidão de rostos alegres como se ali divisassem uma nova estrada onde os seus caminhos se encontravam e tornavam-se apenas um.



Notas:

Agora, sim, o fim!

Espero que tenham gostado dessa aventura de guerra e amor.

No mais, só tenho a agradecer pelos comentários, carinho e companhia de vocês!

Um beijo super carinhoso para todas e até a próxima aventura!




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