Dinamark chegou para conversar com Fira. A manhã já havia avançado e ele atendeu rápido ao pedido da duquesa para vê-la. Estava contrariado e não achava que Fira deveria se ausentar. Os boatos corriam em toda Alcaméria sobre o sequestro da princesa Cécis.
As mais fortes intrigas eram que o próprio Cárcera sequestrara a princesa, pois começaram a falar que, dias antes do sequestro, a princesa se recusara a se encontrar com o pretendente. Uma demonstração clara de que o rei estava forçando-a num casamento, embora não fosse falado com todas as palavras. Entretanto, outros boatos começavam a surgir. O fato de ninguém ter feito pedido de resgate, aumentaram os rumores contra Cárcera; no entanto, se o corpo da princesa não aparecesse, deixava em dúvidas se ele e o rei estariam por trás de tudo. Ninguém sabia se a princesa estava viva ou morta.
— Você está louca, Fira?!
Dinamark entrou na sala de visitas de Fira, esbravejando. Estampava em seu rosto um aborrecimento visível. Fira o olhou repreensível e severa. Não gostou da reação acintosa e embora ele fosse seu conde mais chegado, ela não toleraria aquele tipo de intimidade e desrespeito por parte de ninguém.
— É… Desculpe-me, duquesa. Ando nervoso por estes dias. Peço que me perdoe.
Ele havia sentido nas vísceras o olhar gélido da soberana. Havia extrapolado em seu arroubo.
A duquesa estava de pé, diante de uma mesa cheia de iguarias, pois não almoçaria até chegar ao seu destino. Tomava um gole de sidra, que havia pedido para o mestre de vinhos comprar da safra de Maia, esposa de Bert.
— Não. Estou muito consciente e espero que você seja um bom aliado. – Olhou-o séria, outra vez. – Veja estas contas vindas de Avar, Remis e Desmera. Depois que as coisas começaram a entrar no ritmo normal, me dediquei a averiguar algumas contas dos condados. Não vou enfiar a espada no peito de ninguém e, por esse motivo, vou me afastar um pouco.
Ela pegou um pedaço de linguiça defumada e colocou na boca, dando tempo para que o conde olhasse os papéis superficialmente.
— Bem que eu queria cortar algumas gargantas por conta disso.
Apontou para os papéis que agora estavam nas mãos do conde.
— Sei que se fosse incisiva, teria retaliações por parte dos condados e não quero esse atrito com a Assembleia. Neste momento, conto com você, Dinamark.
Foi enfática, porém política. Mesmo com Dinamark teria que ter certa diplomacia. Se ela se colocasse extremamente contrariada, poderia mexer nos brios do próprio aliado.
Dinamark foi pego de surpresa. Achava que a duquesa estava agindo por capricho e desconfiou estar errado, quando ela mostrou a contabilidade do ducado.
Fira escolhera a dedo. Suprimiu as tantas falhas que vira em outros condados que a apoiavam e, ainda deixou os pergaminhos que tornavam notórias as contas inconsistentes dos condados que mais se opunham a ela. Quando Dinamark terminou de ler o primeiro registro, viu que eram do condado de Avar. Logo reparou num dos apontamentos uma grande soma de extravio. Fira o olhou satisfeita. Conseguira o resultado que esperava. Estava estampado no semblante de seu conde.
— Como falei, não quero entrar em atrito. Sabe que, politicamente, nos tempos que estamos passando, é ruim para mim e para o ducado, por conta da crise que Alcaméria passa. Você será meu diplomata, Dinamark.
Pegou a taça e tomou mais um pouco da sidra. Queria que pesasse sobre ele o que havia descoberto e, uma pausa no discurso daria esse tom à conversa.
— Vou me afastar por alguns dias para que você reúna os condes e discuta sobre isso. Pode dizer para todos que eu não sei de nada. Diga que eu saí por estar cansada, mas que pedi para que você verificasse as contas. Fale também que, quando voltar, as verei com apuro e aí, não terá como contestar.
— O que espera que eles façam? As contas já estarão aqui. Como acha que restituirão esse valor, sem que você supostamente não venha a saber?
— Diga que estarei vinte dias fora. Começarão a se mexer para que isso não venha à tona. Quero que encubram essa vergonha, pelo menos. Tenho certeza de que, quando voltar, terão uma atitude mais cuidadosa.
— Está dizendo que esquecerá esse passado de roubos, se eles começarem a atuar melhor? – Perguntou incrédulo.
— Sim. O que adiantaria para mim se eu fosse de encontro a eles? Pelos Deuses, Dinamark! Eu não sou estúpida. Se perco o apoio de condados fortes, só desgastaria a minha imagem. Tenho que conviver com eles e tenho que fazer com que, minimamente, sejam leais. Um pouco de temor pelo que fazem, é o pequeno preço que espero que paguem.
— Certo. Vamos fazer isso funcionar. – Decretou Dinamark, ainda desconfiado.
— Colocarei você como meu representante na minha ausência. – Estendeu um papel selado com a insígnia real. – Você, a partir de hoje, é meu substituto no ducado, durante estes dias em que estarei afastada.
Dinamark não esperava. Ao mesmo tempo em que se envaideceu, percebeu a responsabilidade que Fira depositava sobre ele.
— Para onde vai?
— Para o meu castelo no condado de Remis. Qualquer mensagem que queira me enviar, mande para lá.
— Vai sozinha?
— Com um grupamento para minha proteção pessoal. As estradas começaram a ser vigiadas pelos guardas reais de Alcaméria e estarei segura. Não se preocupe.
— Vai participar da Assembleia hoje?
— Ainda não me decidi. Estou pensando, pois não quero deixar os condes desconfortáveis. Gostaria que expusesse isso na sessão de hoje, assim que minha presença na Assembleia, não seria muito produtiva. Devo cuidar da minha viagem para amanhã, também.
— Certo. Então não vá à Assembleia e começarei a introduzir este assunto ainda hoje. Assim, ficará mais fácil falar com todos.
Fira sorriu intimamente, pois era essa a resposta que queria de Dinamark. Desta forma, ele tomava para si esta empreitada, o que faria com empenho, deixando-a livre, durante duas semanas ou mais. Se confiava nele? Não.
Fira confiava plenamente em si própria. O restante das pessoas que conhecia, levava apenas créditos com ela. Porém, diante da demanda que colocou sobre o conde, sabia que ele não gostaria de ser qualificado como mau gestor.
— Tudo bem. Fico mais tranquila para ajustar o que preciso para viajar. – Deu uma pausa. – Ah, Dinamark, ia me esquecendo. Não quero que saibam onde estou, tudo bem? Diga que não lhe falei onde passaria as minhas pequenas férias. – Sorriu. – O grupamento seguirá sem alarde e eu irei com ele. Os soldados não sairão ao mesmo tempo de Líberiz. Faremos a formação já na estrada.
Ela falara meia-verdade para Dinamark. Não sairia no dia seguinte, seguiria naquele mesmo dia para o castelo de pedras de Avar, enquanto os soldados marchariam para Remis no outro dia.
Fira tratava seu exército de maneira diferente. Tinha convocado Jonot e dissera para mandar cinco grupamentos para o castelo de campo de Remis, em vez de um só. Queria soldados que ele confiasse e que não questionassem as ações do comandante e nem dela.
Contou-lhe sobre uma suposta conspiração e, superficialmente, dos enlaces dela. O comandante Jonot lhe atendeu prontamente. Era um soldado e como tal, seu serviço era ligado a proteção dela e do ducado. Não era burro ou ingênuo, mas era leal a insígnia de Líberiz e sabia que a política nem sempre se casava com a proteção das fronteiras, ou dos governantes.
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— Então esse Dinamark está amarrado a você, pois lhe disse para não explanar onde estaria?
— Só ele e Bert acham que estou em Remis. Jonot é meu general e mandou os grupamentos para minha segurança. Não importa se eu estiver lá, ou não. Farão a proteção do castelo. Se acaso houver uma traição e eu não estiver presente, poderão especular à vontade. Não importa. De qualquer forma, estaria patente a traição de alguém.
— Não acho que Bert o faria. Só se chegassem a ela e a pressionassem. – Falou Rogan.
— Por que diz isso?
A pergunta de Fira era de desconfiança.
— Não resisti.
Rogan falou displicente, tomando um gole de seu vinho. Fira havia chegado no castelo de Pedras há poucos minutos e se sentaram na sala de visitas para conversar. Lady Líberiz estranhara a serenidade da outra, mas preferiu conversar para ver do que se tratava.
— Você foi conversar com ela, não foi? – Perguntou com o sangue já subindo em sua face.
— Você tem seus planos e, raramente, me inclui neles. Por que deveria esperar por você? Lembre-se que, quando fizemos este acordo, eu passaria a ser uma traidora desterrada. Tenho muito a perder, Fira, para que deixe correr ao seu prazer. Fora que os planos saíram do que combinamos.
— Você é tola! – Fira esbravejou, levantando-se furiosa.
Apesar de saber que sua sócia tinha motivos para se resguardar, não queria que desconfiasse dela. Rogan mexia no íntimo de Fira e, se acaso modificou os planos, foi para tentar fazer com que, ao final de tudo, Rogan pudesse permanecer no reino. Ela não aparecendo para ninguém, não precisaria fugir e mudar de identidade.
— Me diga onde fui tola?
— Você não poderia aparecer para Divinay! Você destruiu tudo! Nós poderíamos utilizar o Rélia para salvar Cécis. A princesa não precisaria morrer! Ela falaria que foi presa por Cárcera, salva pelo grupo renegado e tudo estaria acabado. Você seria uma vítima, pois ninguém lhe viu! Todos já falam que foi Cárcera quem sequestrou a princesa.
Fira falou exasperada e Rogan sorriu sutilmente.
Então é isso que Fira quer…
Lady Líberiz a olhou e viu o sorriso cínico em seus lábios.
— O que foi? Está satisfeita pelo que fez?!
— Não.
As palavras saíam displicentes, Rogan abriu mais o sorriso, encarando a outra.
– Estou satisfeita por saber que seus planos me incluem.
— Isso que fez, foi estúpido, Cécis!
Falou alto, perdendo o controle dizendo o verdadeiro nome da sócia.
— Wow!
A princesa colocou o dedo em riste, fazendo um sinal negativo.
— Não me chame assim aqui, principalmente gritando. As paredes têm ouvidos, lembra? E depois, se pronunciar meu nome, terá que fazer uma enorme reverência diante de sua soberana.
O sorriso nos lábios da princesa, fizeram Fira cerrar os olhos fortemente. Virou-se para a parede colocando a mão na cabeça, não acreditando no que a outra fizera. “E ela ainda ri da situação?!” Pensou raivosa.
Rogan, ou melhor, a princesa Cécis levantou e se aproximou por trás. Tentou abraçá-la.
— Para! Não me abrace!
— Ei! Quem falou para você que Divinay me viu? – Cécis interpelou divertida.
Fira se virou para ela, baixando a mão que ainda apoiava a cabeça, olhando-a interrogativa. A ira não passara. Demoraria, sobretudo porque Fira estava acostumada a dominar as situações e não imaginava encontrar alguém que a contrariasse constantemente.
— Eu não acredito que fez isso! Foi apenas para saber o que eu estava articulando?
— Não. Também queria saber o que sentia.
Estavam uma de frente para a outra.
– Gostei de saber que está fazendo as coisas para que eu continue por perto… para que eu permaneça em minha terra natal.
— Quem disse que faço isso por você?!
A irritação tomou Fira completamente. Sentia-se exposta. Ela admitia para si que estava atraída pela princesa. Também admitia que não estava sabendo lidar com os sentimentos e que se colocou distante para conseguir pensar e agir friamente, diante do que queria. Tinha um objetivo e se impôs sobre ele. No entanto, sabia que se abrisse a guarda, poderia não conduzir friamente as situações. Não queria essa vulnerabilidade.
— Então, tudo bem. – A princesa encolheu e relaxou os ombros. – Não faz isso por mim, mas é interessante que eu permaneça em Alcaméria. Se eu retornar como uma vítima, posso me recusar a outro casamento arranjado e ainda, apoiada pelo povo. Serei uma eterna aliada sua. – Sorriu.
— Sim, é isso!
Fira falou enfática, tentando convencê-la, mas Cécis não era tola. Longe disso. Era uma mulher vivida que trazia mágoas do próprio pai. Ela sabia que a mãe não o havia traído para que ele a enforcasse. Também sabia do desejo dele de ter um filho homem. Quando a princesa se acostumou com a segunda esposa do pai, novamente ele tirou a vida de alguém com quem ela construíra um laço de carinho.
O pai era um leviano e um péssimo soberano. Sobrevivia com os impostos pagos pelos ducados, mas não se importava com o seu próprio povo, que vivia nas terras do governo central.
— Tudo bem. Então não precisamos discutir. Gosto desse plano. Esses tempos que estou por aqui, tive como pensar nas minhas escolhas e nas coisas que faria se pudesse assumir a coroa, embora ache que não consiga esse feito. Teria uma chance mínima disso. Não precisa se preocupar, pois não deixei meu rosto aparecendo, quando interroguei Divinay e, também, disfarcei minha voz.
A princesa estava sendo sarcástica, todavia Fira não se importou. Dissimulou para que Cécis não percebesse. Acalmou-se, enquanto escutava com detalhes o que a prisioneira falara à princesa e após, dirigiu-se à cela. Uma hora mais tarde, retornou à sala de visitas para conversar com a sócia.
— Como foi?
— Desgastante, mas tranquilo. Temos uma nova aliada.
— Expôs nossos planos para ela?
— Claro que não! Mandei transferi-la para um quarto confortável e só eu lidarei com ela. Amanhã a soltaremos.
— O quê?! – Cécis se alterou.
A princesa se afligia. Não era possível que Fira estivesse jogando os dados para uma pessoa que mal conhecia. Tudo que planejaram estava desmoronando. Se Fira estivesse enganada com a prisioneira, possivelmente Cécis seria enforcada por traição. Com toda a certeza, o corpo pendurado ao lado dela seria o de Fira. A duquesa inspirou fundo. Olhou em volta e viu que não gostava de conversar num lugar onde os serviçais pudessem entrar a qualquer momento.
— Vamos para o meu quarto. Me sinto mais segura e… não me olhe deste jeito contrariado. Não revelei nada para ela.
Virou-se e saiu.
Cécis balançou a cabeça em negativa. A situação estava tensa e, apesar de gostar da personalidade da duquesa, às vezes se irritava com o jeito de maquinar e esconder as coisas. Pelo menos, estava livre da corte por um tempo, não precisando esconder cada passo que dava no castelo.
Naquelas semanas, sentiu-se dona de si, diferente do que sentiu ao longo de toda sua vida no palácio real de Alcaméria. Acompanhou Fira até o quarto.
— Desculpa, Cécis…
— Não precisa me chamar de Cécis. Meu nome aqui é Rogan e espero que continue me chamando assim para que não haja confusões. Não podemos nos descuidar e, se me chamar pelo meu verdadeiro nome enquanto estivermos a sós, poderá esquecer em outra hora. Aqui eu sou Rogan e você é Dotcha.
— Certo.
Fira falava com seriedade, mas por dentro, tinha uma vontade louca de abraçá-la e sentir novamente as mãos da princesa sobre si. Havia menos de dois dias que tinham se relacionado e a impressão do tato da princesa não saia de seu corpo. Puxou os pensamentos que haviam se dispersado, para focar na situação em que se encontravam.
— Eu disse a Divinay que estava numa encruzilhada, pois sabia que Cárcera havia sequestrado a princesa Cécis. Falei que meus espiões haviam descoberto que Cárcera pretendia me incriminar, colocando o ducado de Líberiz em situação politicamente difícil, perante o reino. Contudo, disse que eu estava com as mãos atadas. Não sabia como sair desta situação.
— Você foi falando tudo assim?
— Lógico que não, Cécis, quer dizer, Rogan. – Sacudiu a cabeça. – Comecei um interrogatório, questionando as intenções dela, do Rélia e sobre Bert. Aí ela defendeu Bert, como você falou anteriormente e, enfim, conduzi para este assunto.
— Mesmo assim, ela pode estar blefando.
— Pode ser, mas não costumo me enganar com as pessoas. Ela ficou desesperada quando ameacei Bert.
— Ocorreu o mesmo comigo. Nessa hora que a vi desarmada.
— Bem, falei que o Rélia era uma dor de cabeça menor, diante do que estava vivendo, e que ela me colocou em uma posição difícil. Que se eu não tivesse descoberto que ela era do Rélia, não me importaria com as ações do grupo, até que resolvesse esses assuntos com Cárcera.
— Você colocou uma boa carga de culpa sobre ela.
A princesa sorriu. Cada vez mais se impressionava com a astúcia da duquesa. O Rélia era um grupo que não queria a derrocada do ducado, pelo contrário. No entanto, Fira não poderia se arriscar, com Divinay contando os verdadeiros planos.
— Espera que o grupo Rélia ajude em algo? O que pretende?
— Pretendo que o grupo Rélia resgate a princesa Cécis, numa diligência que a levaria para a morte. – Sorriu.
— Tudo bem, você me pegou. Explica.
— Nós simularíamos o suposto assassinato da princesa Cécis, certo? Você iria embora do reino, mudaria de nome e de vida. Não queria mais ficar em Alcaméria, à mercê dos mandos de seu pai.
— Sim, era o que eu queria.
— Líberiz faria a emboscada para o seu resgate e os soldados que, supostamente, escoltavam a diligência que levaria a princesa para a morte, teriam os uniformes e cores de Cárcera. Líberiz seria congratulada pela tentativa de resgate, mas, infelizmente, você já estaria morta e os supostos soldados de Cárcera, no desespero, ateariam fogo na diligência para torná-la irreconhecível. Seu anel, e cordão… – Fira apontou as joias de Rogan. – estariam presos ao corpo queimado para validar a história dos meus soldados.
— Sim. Já repassamos milhões de vezes esse plano, para não haver falhas. Só estávamos esperando a hora certa. – A princesa revirou os olhos. – Mas, nunca me falou onde arranjaria o corpo de uma mulher para colocar no meu lugar. Isto que nunca gostei dessa história. Eu não admito que mate alguém inocente. Já falei sobre isso, também.
Foi a vez de Fira revirar os olhos. Escutara essa ladainha centenas de vezes. Nunca respondera, pois não havia pensado em como arranjar um corpo de mulher sem ter que matar. Vinha protelando em dar a resposta, até que lhe surgiu a ideia.
— Você é sensível demais. – Fira piscou em provocação. – Todos os dias pessoas são condenadas ao enforcamento em Líberiz por crimes de assassinato ou estupro. Seria apenas o caso de aguardar que uma mulher fosse enforcada no ducado pelo assassinato de alguém. Normalmente, os corpos são enterrados numa cova de condenados. A família raramente quer saber deles, e muitas vezes, nem são moradores do ducado.
— Não sou sensível. – Falou segura. – Por que não me falou isso antes?
— Porque ainda não havia pensado.
Fira gargalhou debochadamente, levando a outra a bufar.
— E agora, o que temos?
— Falei para Divinay que tenho espiões em Cárcera, mas não tenho como tomar uma ação invasiva. É uma questão diplomática. Como poderia falar que sei sobre a ação dele, sem dizer que espiono o ducado vizinho e sem provas? Foi quando ela sugeriu que eu não poderia, mas o Rélia sim.
Sorriu cinicamente e a princesa a acompanhou.
— Ela mesma se prontificou a arquitetar um plano para resgatar a princesa Cécis, se eu lhe desse as direções. Bastaria que passasse para ela o local onde a princesa estaria presa.
— E como arrumaremos um local para me prender que, supostamente, Ivanir Cárcera seja o arrendatário ou o dono?
— Não arrumaremos. Voltaremos, mais ou menos, ao plano original. Digo a ela que meus espiões informaram que a princesa seria deslocada através das terras de Líberiz, para ser morta dentro das fronteiras do ducado. Isto me comprometeria e, consequentemente, o nosso ducado.
— Entendo. Você é terrível! – Cécis sorriu. – Eu realmente estarei na carruagem?
— Sim. E o Rélia chegará para resgatá-la. Em seguida, deixam você em alguma aldeia do ducado, mais próximo da corte. Pedem para contatarem as autoridades locais e você volta para Alcaméria, e, depois disso, tudo será por sua conta. Terá que falar dos horrores que passou em uma prisão e que todos que lidaram com você tinham as cores de Cárcera. Ele cai em desgraça. O que acha?
— Mais arriscado do que o que tínhamos planejado. – A princesa parou por segundos, pensativa. – Mas tentador. – Sorriu. – Alguém já lhe falou que é diabólica?
Gargalhou.
— Acho que não. Nunca dei essa liberdade para alguém.
Riu também.
— Cécis…
— Não! – Falou enfática, mas depois sorriu e continuou a falar suavemente. – Gosto quando me chama de Rogan.
Fira olhou a princesa num vislumbre de carinho. Ela amolecia com aquela mulher e, definitivamente, falar o nome Rogan ao ouvido dela, dava-lhe prazer. Não que não gostasse do nome de Cécis, mas quando utilizava o pseudônimo da princesa, parecia que se distanciava.
Após o caso Divinay ser resolvido, Fira queria dar andamento a outro plano que elaborara para aquela noite. Queria que a princesa a tomasse em seu leito.
— Está certo. Então, Rogan, vou tomar um banho e gostaria de jantar. Saí de Líberiz próximo a hora do almoço e não comi nada o dia inteiro. Quer jantar comigo? – Falou com relativa timidez, causando estranheza até nela própria.
A princesa espremeu os olhos e resolveu que gostava desse jeito mais manso de Lady Fira. Resistiu para não sorrir diante da forma desajeitada que a duquesa lhe convidou para jantar.
— Não sei se vou poder…
Engoliu mais uma vez o sorriso, vendo o olhar de decepção da outra.
— … se vou poder esperar que se banhe. Você demora demais e estou morta de fome.
Concluiu rindo.
— Não vou me importar com a sua provocação. Se não quiser, está bem para mim.
Fira se virou, caminhando para o quarto de banho e, mesmo antes de ultrapassar o portal, foi segurada pela mão. Cécis ainda ria.
— Para. Vem aqui, vem?
Abraçou Fira que tentou se soltar do abraço. A duquesa tinha uma vontade enorme de se abandonar nos braços da princesa, mas não conseguia conter a fúria, quando ela lhe contrariava. Era muito diferente se deixar levar, ou levar a outra numa batalha de corpos, lideradas unicamente pela libido. Para Lady Fira, aquilo era se expor. Tinha tentado e falhou. Cécis havia tripudiado e brincado com a atitude dela.
— Eu vou tomar banho.
Falou baixo, tentando se desvencilhar.
— Não faz isso. Eu só brinquei com você.
A princesa falou no ouvido dela. Passou os braços pelas costas de Fira, abarcando todo o corpo e massageando num carinho delicado. Escondeu o rosto no pescoço, depositando um leve beijo e a duquesa relaxou, apreciando o carinho. A princesa chegou aos lábios de Fira e cobriu-os com os dela, num beijo a princípio calmo que cresceu aos poucos para uma intensidade pungente. O gosto das salivas se misturou e Lady Líberiz sentia o corpo acender, desejando tê-la de novo. A princesa forçou a calma e diminuiu a intensidade, desprendendo-se de Fira. Sorriu e caminhou devagar em direção a porta.
— Às oito horas, está bom para você?
Perguntou já próxima a porta.
— Está ótimo.
Fira, não conseguiu conter a expressão boba no rosto. No entanto, um segundo depois, se tornou novamente séria e antes da princesa deixar o quarto falou:
— Rogan… – A princesa se virou para ela. – Esqueci de dizer uma coisa. Você não vai poder deixar esta ala do castelo durante essa noite.
— O quê?
— Desculpa, mas para validar o acordo que fiz com Divinay, tive que transferi-la para um quarto decente e liberá-la para caminhar por aí.
Fira se apressou em explicar.
— Mas a restringi a determinadas áreas. Disse que era uma questão da minha segurança.
Cécis fechou os olhos, suspirando. Sabia que depois do acordo, não poderiam deixar a rebelde presa naquela cela, mas não gostava desses arranjos. Era sempre um risco.
— Então peça que entreguem o jantar aqui. Pelo visto, eu não poderei fazer isto hoje.
Fira assentiu.
scrr era a princesa mesmo
Oi, Anônimo!
Era sim! rs Mas meu trabalho é tentar confundir. kkkkkk
Agora vamos ver o que elas aprontam. rs
Um beijão, Anônimo, e boa semana!
AAAA EU DISSE QUE ELA ERA A PRINCESA CÉCIS 🤣
quero dizer, eu não disse mas desconfiava que era ela kkkkkkkkk
Bom dia, Adria!
kkkkk Obrigada por vir expressar seus pensamentos. Mas me diga, não ficou em nenhum minuto em dúvida? rs
Um beijão pra você e boa semana, Adria!
Oi carol!!
Eis que hoje consegui ler todos os capítulos até aqui e como sempre, estou encantada, viciada, surpresa com o desenrolar do enredo e já ansiosa pelo próximo capítulo. Quando vi que começou uma nova história pensei “vou esperar ela terminar, assim leio tudo de uma vez e não sofro com a espera dos capítulos semanais.” Consegui? Claro que não! Olha a prova disso aqui. rsrs
Fira e Rogan, a princesa, entre sarcasmos, fúria e beijos está uma delícia.
Beijo!
Oi, Fabi! Que saudades!
Eu estava sentindo mesmo a sua falta. Não vem com essa. Nada de ler só no final. rsrsr
Ô, já entrou mais um cap e vai entrar o outro hoje. Infelizmente eu tenho me atrasado (não muito) para postar, pois estou trabalhando e ainda estou vendo uma forma de escrever e postar em dias certos, mas não passa muito de uma semana, ok?
Fiquei feliz em ver você aqui!
Um beijão e boa semana, Fabi!
Hahahahah dei All-in na carta certa, em Rogan ser a verdadeira princesa Cécis.
Só tenho uma única coisa a dizer, essas duas são diabólicas e juntas não tem Deus ou Diabo que segure, amo a interação delas, e viva ao empoderamento dessas mulheres, se na viva real muitas de nós tivesse 30% do que essas personagens são, muita coisa séria evitada, enfim ainda estamos lutando arduamente por respeito, que nesses tempos atuais já era pra está impregnado em cada um, ser mulher e ser respeitada e ter seus direitos é uma luta diária.
Carol que vc fique bem, até nisso mulher sofre, um Ótimo fim de semana pra vc e sua família😘😘😘
Oi, Blackrose!
Sim, Rogan era a princesa, só que eu não podia falar, né? rs
Elas são diabólicas mesmo, mas tem muiiita água pra rolar sob a ponte. rs Tem muita coisa pra acontecer.
Concordo contigo. As personagens são o espelho do que eu gostaria que nossa sociedade fosse, mas ainda temos um caminho grande a percorrer para isso acontecer. A gente vai construindo e contribuindo para isso na medida que podemos. A minha forma de contribuir são as minhas histórias, as minhas falas no meu círculo social e minhas atitudes e assim vamos colocando uma pedrinha nessa argamassa para construir um castelo.
Por exemplo: Eu não sou preta, mas cresci acreditando que qualquer forma de preconceito é um jeito de se estabelecer o poder vigente sobre alguém e isso é errado. Hoje li uma notícia que me faz pensar se compreendo verdadeiramente o que uma pessoa preta vivencia ao longo da vida e concluí que nunca poderei imaginar, pois mesmo que eu abomine discriminação, nunca vivi na minha pele. Me causa revolta, sim, mas saber a dor que ela passa, nunca poderei verdadeiramente saber, porque nunca senti.
Eu escrevo sobre os preconceitos e lutas homossexuais e da mulher, porque isso vivi na pele, em uma época em que não podíamos nem admitir o que éramos para nossos próprios familiares. Felizmente ao longo dos anos, consegui conquistar um espaço e respeito em minha própria família e isso me dá forças. Hoje eu penso nas milhares de pessoas que não conseguem. Enfim, isso é papo pra muitas horas de conversa. rs
Um beijão, Blackrose e bom fim de semana.
Carolzinha, que sua cólica já tenha passado!! Se cuida direitinho. Odeio essa Diaba. Uma bolsa quente resolve melhor que remédio. 🙂
Muito considerado de sua parte postar , ainda que um dia depois ou mais N teria problema.;)
Agora a quero dizer que Sou fodaaaaaasticaaaa!! Achei q tivesse errado feio sobre Cécis e n é q tinha acertado sua identidade….n foi meu subconsciente pq vc falou sobre a estória 12 anos e 6 meses atrás , eu só leio e aparece um mapa e conecto!! Q posso saber..eu tenho exprimindo meus neurônios e n lembro nadinha sobre vc falando sobre suas ideias a respeito dessa estória. A única q tenho é sobre uma q vc postou já e amo!!!
Agora, n tô botando MT fé nesse plano…existem variáveis externas n confiáveis. Tenho um presentimento que colocar a própria Rogan pra ser resgatada pelo grupo n é seguro….enfim!! Mulheres empoderadas, fortes, amo um.casal Power!!! Vc sempre escreve e amoo!!
Ainda q esteja c meu TDAH a todo gás, tenho conseguido ler de Maravilha pq tá MT boa!!!!!!!!!
Beijos e Que vc e sua esposa estejam bem!!!
Oi, Lailicha!
Minha cólica praticamente só resolve hoje em dia com saco de água quente. É o que uso normalmente. rs Mas graças aos céus passou.
É, era Cécis, mas eu não podia dar spoiler, né? rsrs Além do que, minha função é confundir. rsrs
Quanto ao plano, a verdade é que a Cécis (Rogan) queria sair fora. Fugir de Alcaméria para bem longe e a Fira que ia financiar isso, mas agora… Sabe como é sapata quando se apaixona, né? rsrsrsr Tô brincando. kkkk
Beijos Lailicha e boa semana pra vocês!
Bi, já vou me atualizar, estava ansiosa e esperei que passasse uns capítulos que hj em dia eu tö fraca pra emocoes nas leituras kkkk
Sapataaa enlouquece…kkkkkk. Pode dizer….
Bjao