Líberiz

Capítulo 20 – Intrigas

— Bom dia, Bert!

— Bom dia, Milady.

— Bert, vou precisar que faça algo por mim. Sabe como tem sido meus dias com a princesa aqui no castelo, não sabe? Acredito que já tenha percebido a minha tensão.

— A princesa é tranquila comigo, milady, mas sim, percebi que ela demanda muito de vós. 

Fira suspirou, deixando de lado uns documentos que trazia em sua mão. Pegou uma mensagem lacrada, que estava em sua mesa, e estendeu para Bert.

— Eu preciso de pelo menos meio-dia de descanso. Longe dos condes e da princesa. Poderia levar esta mensagem para Divinay? Eu sei que você fica preocupada com… Bem, com essa relação entre eu e ela, – Fira falava demonstrando constrangimento – mas posso lhe garantir que sei bem onde estou colocando meus pés. Não fique preocupada por Divinay ser sua amiga. Para mim e, acredito que para ela, é apenas distração.

— Entendo, milady.

Bert sorriu, pegando a mensagem.

— Então vá. Agora de manhã tenho que me reunir com a Assembleia, mas dependendo da resposta de Divinay, eu quero estar longe do castelo à tarde. Diga para ela lhe falar apenas sim ou não, e saberei o que fazer.

****

A porta foi aberta e Divinay recebeu Fira com um enorme sorriso.

— Uma honra recebê-la, Lady Dotcha, mas acredito que esteja em melhor companhia no castelo. 

— Ah! Você e sua ideia de que sou apaixonada pela princesa!

Abanou a mão, entrando na sala da casa de Divinay.

— Por que ainda manda mensagem por Bert? Poderia ter vindo direto.

— E encontrar uma mulher em sua cama? Não, obrigada. Isso me poupa de visões inconvenientes. – Riu.

— Você me tira por uma mulher fácil e isso me ofende, viu?

Divinay gargalhou da brincadeira, fazendo Fira rir com mais intensidade. Desde que estiveram juntas, Fira não sabia por que, mas uma ligação intimista se formou entre elas. Fira gostava dessa sensação. Era como se tivesse um vínculo de amizade real em sua vida.

— Mas não está aqui pelos meus belos olhos.

Formou-se um vinco de preocupação entre as sobrancelhas da rebelde.

— A princesa não é fácil de se lidar, mas tenho certeza de que não está aqui para falar do quão está difícil a convivência com ela. 

— Realmente, não. Estou aqui para pedir a sua ajuda.

— Minha ajuda?!

— Vai ser uma conversa longa, Divinay, e espero que compreenda a minha situação.

Fira e Divinay conversaram por horas. Evidente que Fira não falou toda a verdade e nem poderia. Ela nunca revelaria sobre o sequestro, mas teve que relatar para a rebelde várias questões que foram acertadas com os duques. Por fim, Divinay assobiou, passando a mão sobre os cabelos, abismada, diante do que Fira lhe revelara.

— Eu não sei nem o que dizer, Fira. Eu sabia de muita coisa, por conta de meus contatos, mas… Eu sou só uma camponesa que tenta lutar por coisas melhores para o povo e dentro de um pequeno grupo. O que estão querendo fazer… – suspirou preocupada – … é muito maior do que o Rélia.

— Não preciso que você se envolva com tudo que faremos. A verdade é que preciso apenas de alguém que possa intermediar. Não confio nos nobres do ducado, por tudo que contei a você. Confio no meu exército, pois sei que eles são leais ao trono.

— Fira, já parou para pensar nas consequências? Se a situação toda for mal, muitos serão enforcados e os ducados ganharão novos governantes. O povo pode sofrer muito!

— Já pensou numa ascensão de Cárcera ao trono e no que o rei Deomaz pretende daqui por diante? Acha que ele desistirá de unir Cárcera ao reino? Não estamos fazendo por pirraça ou para alguém deter o poder nas mãos. O trono continuará na linhagem de Alcaméria. A dinastia não será destituída. Tenho certeza de que você já sabe que Deomaz quer mudar as leis de escravidão e tantas outras. Vocês são bem-informados e não diga que não estão preocupados. Como ficará o povo?

Divinay caminhou até a janela e olhou seu rancho. Ela herdara do pai, quando ele adoeceu e faleceu. Tinha contraído a mesma doença da mãe, que morrera um ano antes. Graças às leis que foram agregadas ao reino, quando Dotcha foi conquistada, pôde ter seu nome registrado como dona. 

Divinay escapou do mesmo destino dos pais, por ter procurado um curandeiro no novo hospital construído pelo duque Líberiz. Ela não tinha nada contra o governo do ducado. Somente achava que a gestão em relação aos condados era displicente. O duque sempre fizera vistas grossas em relação aos nobres que estavam sob sua governança, contudo via que Fira agia diferente. Aos poucos, ela colocava os condes na linha. 

É. E se Cárcera assumir o reino? – Pensou.

— Está bem. – Se voltou de súbito em direção a duquesa. – Mas não vou colocar o Rélia nisso, Fira. É uma decisão minha. Eu assumo as consequências de minhas decisões.

A duquesa sorriu. Não esperava que fosse diferente. Aliás, gostaria que fosse só entre elas. Desagradava a ideia de mais pessoas envolvidas, principalmente pessoas de que não conhecia o caráter. A coisa toda já estava tomando uma proporção tão grande, que preferia restringir ao máximo novas participações.

— Só vou lhe pedir que não abra as mensagens lacradas. Isso serve para a sua proteção, Divinay.

— Sim, eu entendo. Então milady Heloise Kendara será meu contato?

— Sim. Quando estivermos próximos a nos comunicar, mandarei uma mensagem, através de Bert, para lhe alertar.

Divinay sorriu. Reparava em Fira sentada em uma cadeira simples, dentro de uma cabana de rancho, e ainda expondo a sua imagem para a escudeira, como se fosse uma mulher do povo. 

Estou confiando em você, duquesa, espero que não me decepcione. 

— Pelo visto, ainda serei sua amante durante algum tempo. Bert deve surtar com isso. 

Mexeu com a duquesa, recebendo de volta uma expressão austera.

— E pelo visto, você perdeu o respeito pela sua soberana. – Afirmou Fira com seriedade.

— Ah… É… Desculpe-me, milady!

A rebelde se apressou em corrigir o tom da brincadeira, levando Fira a gargalhar, logo em seguida.

— Eu não acredito que você caiu nessa brincadeira, Divinay! – Continuou a rir. –  Acha mesmo que depois de tudo que expus a você, e o que tivemos, eu exigiria uma postura formal? Pelos deuses, Divinay!

— É.. Mm… Não sei! Você estava com uma cara muito feia para mim! – Falou encabulada, no entanto riu logo em seguida da troça que a Grã-duquesa lhe pregara. 

Fira reduziu o riso e se aproximou de Divinay, fitando-a diretamente.

— Muitas vezes, eu tenho que aceitar esta postura das pessoas, por ter que me colocar na minha posição. Pode não parecer, mas não gosto disso tanto quanto pensam. Quando eu posso ser simplesmente Fira, eu me agarro nessa possibilidade e aprecio o momento.

Divinay meneou a cabeça em compreensão, sorrindo sincera. Ela admirava este lado da duquesa.

— Então… – resolveu mexer com a nobre – … a princesa está no castelo? E ainda por cima dormindo na porta ao lado, pelo que sei. Seu coração agora está mais sossegado?

Gargalhou, recebendo um pequeno empurrão do ombro de Fira.

— Não há nada o que sossegar no meu coração. Só uma grande dor de cabeça e preocupações. A propósito, essa informação deve ter vindo de Bert. Acho que vou ter uma conversinha com ela.

Fira respondeu divertida e sem traços de aborrecimento.

— Você não faria isso. Bert apenas comentou que estava fazendo os cuidados pessoais da princesa. Aliás, eu que vou fazer fofoca. Ela reclamou que você não fez mais nenhum treinamento de armas com ela. Estava aborrecida por isso. Às vezes, ela vem aqui para desenferrujar. Eu fiquei admirada com a evolução dela nos últimos tempos. Hoje em dia, quase não consigo mais vencê-la na espada.

— Pela sua cara, você já não consegue vencer Bert algum tempo. – Fira gargalhou. – Quando treinamos, ela tem se mostrado muito bem.

— Ela nunca conseguiu te vencer?

— Não. – A duquesa falou orgulhosa. – Eu treino desde criança, Divinay.

Fira explicou de forma simples, a destreza que tinha com a espada.

— Bom, já vou embora. Fiquei a tarde toda afastada do castelo e quanto à princesa, não tenha esperanças.

— Ora, Fira, esses boatos dela e Ranaz, que andam por aí, você acabou de me contar que foram plantados por vocês. Eu vi a princesa por estes dias, andando na cidadela. Desculpe-me, mas ela não parece do tipo que quer arranjar um marido desesperadamente.

— É. 

Fira sorriu levemente, pensando no jeito da princesa. Cécis tinha uma postura segura ao caminhar. Não possuía nenhum dengo, que as moças costumavam se utilizar para parecerem femininas, contudo Fira a conhecia. Era tão delicada, quanto uma bela flor, quando se sentia à vontade com alguém. Retomou os pensamentos para a conversa, fechando um pouco o cenho.

— Vejo que os boatos dela e Ranaz estão se espalhando como fogo na floresta, o que quer dizer, que teremos que nos adiantar nos planos. Cárcera e Deomaz não ficarão quietos por muito tempo. Quanto a Cécis, se tudo der certo, ela estará no trono de Alcaméria e eu, aqui em Líberiz. Não pretendo abrir mão de meu governo, então, esqueça essa história de contos de fada, Divinay.

Fira se despediu, retornando ao castelo quase ao anoitecer. Foi para seu quarto, tomou um banho e trocou de roupa. Havia pedido para que o jantar fosse servido na sala de jantar real. Ela sempre jantava em sua sala particular, mas esta atitude poderia suscitar fofoca entre os serviçais e guardas, já que a princesa estava sempre a acompanhando.

***

— Como foi?

— Está tudo certo. – Respondeu Fira, abraçada à princesa.

— Não pudemos conversar no jantar, mas desde que veio para o meu quarto está calada.

— Só estou preocupada. Não teremos muito tempo. Divinay disse que o boato de que você estaria interessada em Ranaz, está se espalhando rápido.

— Então seus condes são mesmo fofoqueiros. 

— Os condes, as esposas, os filhos, os serviçais… quem sabe? Você e Ranaz fizeram um bom trabalho para que reparassem em vocês.

— Então, o Rélia vai ajudar?

— Não. Divinay falou que isso tudo estava além do que o grupo poderia assumir. Ela assumiu por ela e disse que não falaria nada com o grupo.

Um aperto se fez no peito da princesa. Ela conheceu Divinay muito pouco, entretanto, pelo que conhecia de Fira, sabia que a personalidade da rebelde atraía a duquesa.

— Nobre da parte dela.

Falou com escárnio, levando Fira a sorrir. Lady Líberiz tinha certeza de que a antipatia de Cécis, era fundamentada somente no que aconteceu no dia em que conheceu a rebelde. Resolveu não estimular essa rivalidade, embora, lá no fundo, massageasse o ego dela.

— Não é por nobreza. Ela, pessoalmente, tem muito a perder se Cárcera e seu pai colocarem os planos deles em prática.

Fira contou, sucintamente, sobre a vida de Divinay para acalmar a ansiedade de Cécis. Quando voltou de madrugada para o quarto, uma angústia a acometeu. Questionava-se por imaginar o que sentiria quando tudo estivesse em andamento e Cécis já não estivesse aquecendo suas noites. Elas seguiam nessa toada de se encontrar, quase todas as noites, para se satisfazerem. Ambas deixaram as perguntas de lado, sobre porque tinham essa vontade louca de fazer amor. Cada vez mais, se viam presas nas articulações e tramas políticas e chegaria a hora em que elas se separariam. Uma agonia incômoda começava a atiçar a mente da duquesa.

****

— Seja bem-vindo, Milorde Ranaz. 

— Obrigado, Milady. – Pegou a mão de Fira e a beijou. – Como voltarei ao meu ducado por estes dias, resolvi me despedir de miladys. 

Voltou-se para a princesa, que estendia a mão para o rapaz beijar. 

— Como sempre, espanto-me com vossa beleza, princesa. Bom dia, minha soberana.

Fira prendeu o riso, quando viu Cécis fazer um gesto encabulado, pendendo a cabeça de lado. Vestia-se como uma dama, num vestido elegante, mas sem muitos detalhes. Dinamark havia marcado com a duquesa para tomarem o desjejum juntos e discutirem alguns pontos nas contas do mês dos condados. Estava presente quando o herdeiro de Kendara chegou.

— Bom dia, milorde Kendara – Cumprimentou o conde.

— Bom dia, conde Dinamark. 

O herdeiro de Kendara respondeu de forma cortês. 

— Aceita tomar o desjejum, milorde? – Perguntou, Fira.

— Não se faz necessário, duquesa. Eu não anunciei minha visita, peço desculpas por isso, e tomei meu desjejum antes de sair de casa.

— Não há o que se desculpar, milorde. É sempre bem-vindo ao ducado de Líberiz. – Fira o aquietou.

— Eu também já tomei meu desjejum. Quer dar um passeio pelo jardim do castelo, milorde? – Perguntou Cécis a Ranaz. – Assim deixo Lady Líberiz um pouco em paz, para tratar dos assuntos do governo e você me faz companhia no passeio.

A princesa sorriu para o rapaz que lhe devolveu o sorriso, alegre pelo convite. 

— Para mim será uma honra e um grande prazer. Isto é, se Lady Líberiz não se incomodar.

Olhou para a duquesa.

— Lógico que não me incomodo, milorde. Até fará companhia para a princesa, enquanto eu trato de assuntos aborrecidos com o conde Dinamark. Assim, ela estará bem acompanhada.

Fira sorriu e Ranaz Kendara estendeu o braço para a princesa pegar e saíram conversando pelo corredor. Os olhos de Dinamark não deixou os dois, até que sumissem pela passagem, em direção a área externa do castelo.

— Isso não é bom, Fira.

Por fim, o conde falou com o cenho crispado.

— Vamos, Dinamark. Tomaremos o café na minha sala particular e assim poderemos ter mais liberdade.

Foram em direção à sala de Fira e a duquesa pediu a Bert para trazer-lhes algumas coisas e que os deixassem a sós. Dinamark estava calado e Fira não o interpelou, até que Bert saísse da sala.

— Não remoa isto demais, Dinamark. O jovem Kendara disse que retornaria ao seu ducado. Como está Mira? Da última vez que falamos dela, ainda estava se convalescendo em Clátea.

— E ainda está lá. Sinto a falta dela, mas não quero que volte antes que esteja completamente curada. Pelas mensagens, parece que melhorou muito, mas ainda tem a tosse e o curandeiro pediu para que ela permanecesse lá mais algum tempo. 

— Certamente que é o melhor para ela. Gosto muito de Mira e, do jeito que é lutadora, melhorará e logo estará de volta. – Sorriu. – E seu filho? Não o vi quando fui a seu castelo.

— Está com ela. Ele ficou comigo por algumas semanas, mas sabe como são as crianças, adoram ficar às voltas dos mimos das mães. – Sorriu. – Mandei-o para lá para aquietá-lo.

— Você é um bom pai e um bom marido, Dinamark. Me alegro de tê-lo comigo. 

— Eu não sei, Fira…

Dinamark balançou a cabeça em negativa, mudando de assunto.

— Acho que você está relaxada demais com esse assunto da princesa e Ranaz. Isto me preocupa, pois muitos boatos estão circulando, depois da recepção que aconteceu aqui.

— Se esses boatos estão circulando, devo presumir que meus condes não são muito bons com discrição. Ora, Dinamark, se isto está acontecendo, tenho fofoqueiros entre os meus. Só tinham os condes e as famílias deles aqui. – Falou com desagrado.

— E os serviçais e os músicos…

— Os serviçais e os músicos falam entre si e não com os nobres. Quer me convencer que os condes conversam com a plebe? Está querendo proteger esses linguarudos?

— Lógico que não! – Respondeu de pronto, com certo constrangimento. – Só que… bem, não interessa agora quem foi, mas sim, o que pode acontecer com essa informação.

— Estou ciente do que pode acontecer; e agora que Ranaz vai partir para Kendara, espero que a princesa parta para Alcaméria, por ela mesma. Não vou me comprometer com ela, mandando-a embora!

Decretou, com impaciência. Passou as mãos pelos cabelos, como se quisesse dissipar as preocupações. Voltou a olhar seu conde e a postura que adotava. Dinamark parecia nervoso, como se aquela situação fosse de suma importância para ele.

— O que há, Dinamark? Confesso que esta história também não me cai bem, mas o que acha que poderíamos fazer? A princesa é voluntariosa e o pai dela sabe disso. Tem idade para se casar, aliás, pelos casamentos que costumamos ver, já até passou da hora. Agora, se Deomaz não quer esperar pelos interesses dela, paciência.

— Já passou pela sua cabeça que o rei poderia ter medo que a princesa não se interessasse por nenhum homem?

Fira riu internamente. Estava conseguindo que Dinamark soltasse as verdadeiras intenções e preocupações do rei. 

Sabia que você tinha conhecimento de muito mais coisas do que me fala, meu caro conde. Agora me diga tudo que sabe. 

— E por que ele pensaria numa coisa dessas? Acaso não consegue ver o que tem dentro da própria casa?

— Certamente, foi por isso que ele se preocupou. Porque ele vê.

— Tanto vê, que estamos aqui discutindo os interesses da princesa por um herdeiro de ducado. E depois, se ele tivesse modificado as leis de herança real de trono, assim como foram mudadas as leis civis de casamento, não precisaria fazer um pacto com um demônio. Além do que, tinham outros herdeiros para que ele se aliasse.

— Mas não um duque com tanto dinheiro.

Dinamark continuava a discutir impaciente.

— Eu não acredito que pense isso, Dinamark. O ducado de Kendara é mais rico que o ducado de Cárcera. A única coisa que preocupa Deomaz é ter tudo controlado em suas mãos, ou então, coisa que não quero acreditar, é que ele queira retroceder as leis civis liberais que o pai decretou.

Dinamark tomou ar de susto, como se o que Fira lhe falava fosse um absurdo, ou até mesmo, que ela soubesse de informações sobre as intenções da coroa.

— Por que o espanto, Dinamark? Acha que Deomaz, aliado a Cárcera, não faria isso?

— Eu nunca pensei por esse lado, Fira. Ele precisaria de muito apoio para isso. Não acredito que queira uma mudança a esse nível. Você sabe de alguma coisa a esse respeito? – Perguntou, ainda agitado.

— Não, mas ele não precisa de apoio com alguém como Cárcera a seu lado, sendo o próximo a ocupar o trono. Precisaria apenas de tempo para implementar mudanças, aos poucos, e justificativas econômicas para isso. De qualquer forma, nenhum de nós tem certeza ou poder para modificar esta situação. Sendo assim, eu não ligo a mínima se a princesa quer se casar com outro ou não. É o rei Deomaz que terá que se ver com a filha.

— Ela pode causar problemas…

Dinamark falou disperso, como se quisesse falar algo para si mesmo. Fira permaneceu calada, colocando uma cereja na boca e pegando uma tigela de mingau. Olhava-o com atenção e por fim falou.

— Que não cause problemas aqui no ducado. Ela é como um carvão em brasa. Gostamos do calor que ele dá nas noites frias de inverno, mas não queremos pegá-lo em nossas mãos. Concordo que ela tenha que voltar para Alcaméria, entretanto não posso externar isso para ela. Talvez esses rumores sejam bons, afinal. Quem sabe Deomaz não manda buscá-la?

— Será que faria isso? Será que não fica mal, para ele, junto aos outros ducados?

— Certamente que ficaria mal, e muito! Pense; se ele esperar que a princesa se vá, ela pode externar o apreço que tem pelo herdeiro de Kendara, que por enquanto, são só rumores. O plano de casá-la com Cárcera ficaria abalado. Ele ter imposto um casamento a princesa, já deteriorou a imagem dele. Não se importou em envergonhar a si próprio perante todos, “vendendo” a filha. Agora, se ele se interpuser no interesse dela por um nobre honrado, de um ducado forte e, que sempre apoiou a coroa, seria despertar muito mais do que nojo de seus ducados e súditos.

— Isto tudo está saindo muito de mão, Fira. – Falou temeroso. 

— O fato é que ele mesmo esticou a corda da filha e, no final, todos estamos de pés e mãos atados. 

— Estamos no meio disso tudo. Não gosto dessa perspectiva.

— Você tem alguma ideia? O que quer que eu faça? Se você tiver um plano digno, para que eu saia desta cilada, eu executarei. Mas se seu plano me trouxer qualquer perigo ou, deixar qualquer respingo dessa história em mim, eu não levantarei um dedo para isso acontecer. Se eu me queimar, tenho a certeza de que o rei Deomaz sairá completamente torrado. – Fira sorriu, irônica.

— Você quer acabar com o rei?! – Perguntou de súbito. 

— É lógico que não. – Fira aproximou seu rosto e encarou o conde, séria. – Eu quero sair ilesa. Consegue fazer isso por mim ou pelo ducado de Líberiz? – Olhou-o mais firme. – Não colocarei minha bunda a mostra para ninguém, entendeu bem?

Pela primeira vez, Dinamark se assustou com a firmeza de Fira Líberiz. Ela sempre fora abalizada nas suas convicções, no entanto, muitas vezes ele conseguia contornar situações e convencê-la a mudar de atitude. Conseguia persuadi-la, até mesmo, em mudar a forma de pensar e tentar amenizar estragos políticos, mesmo que ela saísse com algumas desvantagens. Agora via que ela se dobrava porque eram interessantes para ela e não porque ele a convencia.  Engoliu em seco.

— Eu entendo você.

O conde Dinamark falou por fim, deixando que o ar escapasse dos pulmões, diante da investida dela sobre ele. 

— Tentarei pensar em algo, mas acredito que as coisas ficarão feias se a princesa não se for… – Fira voltou a olhá-lo intensamente. – … se a princesa não se for por vontade própria.

Fira voltou a relaxar o corpo sobre a cadeira e colocou outra cereja na boca, displicentemente. 

— Já lhe falei, Dinamark. Você me conhece há muito tempo e sabe que não me oponho a opiniões, mas neste caso, eu me queimaria muito nessa história. Se alguém quiser me foder, terá que pagar o preço ou, terá que ser com muito amor! – Riu, sem muito ânimo.

— Certo.

O conde respondeu, envergonhado pela linguagem que a duquesa usou. Viu um lado de Fira do qual não conhecia. Pensou que talvez a duquesa estivesse reativa, por nunca ter se deparado com um impasse político tão grande. Conversaram de forma mais amena e Dinamark resolveu não voltar ao assunto. Deliberaram sobre as contas do ducado e ele se foi mesmo recebendo um convite de Lady Fira para que almoçasse com ela.



Notas:

Oi, pessoas!

Não deixei passar para a outra semana. Capítulo novo postado!

Acredito que agora essa duas vão se enrolar mais na história. rsrs

Um beijão a tod@s e Bom fim de semana!

 




O que achou deste história?

5 Respostas para Capítulo 20 – Intrigas

  1. Oiee, Bi!
    Carambaaa, Bi, que capítulo!!! Tava com saudades dessas duas!!!
    Fira mostrou pra que veio…Dinamark achando que convencia ela pq a manipulava e no final soube verdade…boba ela n tem nada kkkk. Agora foi direta!!! Tenha medo negao!!!
    Achei o beijo ou bitoque que Cécis eu em Fira no meio do mato arriscada..tá cheio de espiao…enfim!!!
    Divanay aceitou e como previ, fará sozinha sem intervencao da Relia. Cécis é mt bestona, ciumenta e as duas negadoras que n veem que já estao apaixonadas…como n sabe pq querem fazer amor todos os dias? kkkkkkkkkkkk. Quem nunca amou dá nisso, n sabe qndo chega!! Mas, bem, dois governos e terao q se separar.. coko será o futuro? Eita, que esses dois últimos caps estao melhores, agora o cerco tá se fechando…quero ver mais delas. Amo Fira, muito muito e como se comporta!!!
    Que vcs estejam bem!!! Beijaooooo

    • Oi, Marta!
      É, o plano é bom, mas a gente sabe que não pode acreditar que o universo conspire todo o tempo a nosso favor, não é mesmo? rs Mas o capítulo que postei hoje tá mais pra elas duas se curtirem. rs
      Um beijão pra você e obrigada!

  2. As coisas para as nossas duas damas implacáveis está ficando cada vez mais estreita. Esse Dinamark não tá sendo tão sincero com a Fita, ele sabe de bastante coisa por sinal, e não joga a verdade pra Fora.

    • Oi Blackrose!
      Pois é. Dinamark tá colocando as manguinhas de fora. Pelo visto gosta de poder. O capítulo que postei hoje está mais leve. rs Espero que goste.
      Valeu, Blackrose!
      Bom fim de semana pra você e beijão!!!

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