Líberiz

Capítulo 11 – Alvorada Sombria

Diferente do dia anterior, a princesa não se alarmou, abrindo os olhos devagar. Demorou um pouco para focar e quando viu Fira sentada a seu lado, fechou novamente os olhos, respondendo:

— Por que não estou espantada com você aqui? 

Falou com a voz rouca de sono, extraindo um sorriso de Fira.

— Porque sabia que viria atrás de você.

Fira respondeu e se levantou. Queria manter distância, pois Cécis a irritara terrivelmente, mas quando a viu tão desprotegida, deixou suas barreiras caírem. Depois da reação da princesa, ao ser acordada por ela, teve mais certeza ainda de que Cécis sabia que ela a encontraria. O que intrigou Lady Líberiz foi o fato da princesa não tomar nenhuma precaução contra ela.

— Fiz um chá. Fará você melhorar. 

— Eu estou bem.

Cécis respondeu, elevando o corpo e se sentando. Fechou os olhos fortemente e colocou a mão sobre a cabeça. Fira, vendo o gesto, sorriu outra vez e balançou a cabeça em negativa. Certamente a princesa estaria com uma enorme dor de cabeça e uma ressaca dos infernos. Pelo que as mulheres da estalagem lhe falaram, bebera sem parar desde a noite anterior. Pegou a chávena e derramou o chá na caneca. Levou até a princesa e estendeu para ela.

— Vamos, tome isso aqui. Se sentirá melhor.

— Eu só quero ficar um pouco sozinha, Fira. – Pegou o chá e deu um gole, fazendo uma careta. – Você quer me matar com isso? 

Lady Líberiz não pôde conter o riso frouxo com a reação da outra. Sabia que o gosto do chá era amargo e ruim e o jeito com que Cécis reclamou, fez com que se parecesse com uma criança. Não respondeu, esperando que a princesa tomasse tudo. Ela ainda estava com a camisa aberta, deixando os seios aparecerem entre a abertura do tecido. Virou o rosto em direção a janela e suspirou, chamando a atenção da princesa. Fira sabia o quanto aquele corpo despertava o desejo dela e não queria se distrair. Além do que, não poderia deixar passar a irritação que trazia em si, pelas atitudes tomadas pela princesa.

— Não vai falar nada? Não vai reclamar da minha atitude e dizer o quanto sou irresponsável?

— Se começarmos a discutir só nos atrasará. As estradas de Líberiz estão cheias de soldados do seu pai. Pretendo cavalgar através dos caminhos da floresta, para que não nos vejam, mas nunca se sabe. Duas mulheres cavalgando à noite chamam a atenção e se nos pararem, poderão reconhecer você. 

Cécis gargalhou, jogando o corpo para trás e recostando-se no espaldar da cama. Balançava a cabeça em negativa e as feições do rosto transmitiam incredulidade.

— Por que ainda me espanto com você? Nós discutimos por esta mesma questão ontem, mas você não consegue agir diferente, não é? 

Fira havia se levantado e estava apoiada na mesa. Não adiantaria tentar colocar alguma razão na cabeça da princesa, pelo menos por aquela hora. Lady Líberiz não poderia agir diferente, diante do que elas estavam tramando. “Será que ela não consegue ver a razão?” 

— Cécis, eu não sei se quero discutir de novo com você. Nós tivemos uma ótima noite de sexo e depois dormimos tranquilas e relaxadas. Você tem medo de mim e desconfia; eu tenho medo de você e desconfio. O que muda para nós, diante da situação em que estamos metidas, me diga?

— É, não muda nada. 

A princesa falou seca e se levantou, fechando a camisa e colocando-a para dentro da calça. Seus gestos, ao se arrumar, eram agressivos e percebia-se a raiva estampava no rosto. Sentou-se novamente na cama para colocar as botas.

— Vamos embora e acabar logo com esse teatro. Avise a Divinay que a princesa estará numa carruagem em direção a Verome, amanhã à tarde. Eu me livro logo desse casamento, você se livra de Cárcera e podemos seguir com a nossas vidas.  

Levantou-se e caminhou em direção à porta e, quando passou pela duquesa, ela lhe segurou o braço, fazendo com que Cécis se voltasse. Se encararam por segundos. Os olhos de ambas transmitiam muita ira.

— Você é uma mulher mimada, Cécis!

— E você uma mulher calculista. Tudo para você tem uma razão objetiva. Se você não gosta da forma como eu vejo as coisas, eu também não gosto do seu jeito de encarar!

Se desvencilhou da mão que a segurava, tracionando o braço com força. O peito de Cécis se oprimia, vendo que Fira nunca admitiria sentimentos, nem por ela, e duvidava se por qualquer pessoa que passou pela vida dela. 

Lady Líberiz a fitou. Não a impediria de sair, no entanto, Cécis não se moveu, ainda olhando para ela como se quisesse entender por que Fira agia de forma tão controlada.

— Quer saber, Fira? Você é uma idiota!

Falando isso, Cécis segurou a cabeça da duquesa pelos cabelos e a puxou, se apossando dominadora da boca convidativa. Lady Líberiz pensou em empurrá-la, afinal a princesa agira de forma infantil. Quando apoiou as mãos na cintura da princesa para se livrar, Cécis se desprendeu dos lábios e a abraçou, envolvendo todo o corpo. Escondeu o rosto na curva do pescoço da duquesa e deslizou a língua, fazendo Fira tomar um alento, sentindo a pele se arrepiar. 

— Você é uma idiota, mas como eu quero fazer você gemer comigo de novo. – Sussurrou deslizando, delicadamente, os lábios sobre a pele dourada pelo sol, arrancando um suspiro de Fira. 

Lady Liberiz estava entre a decisão de resistir aos carinhos da princesa ou, deixar que ela satisfizesse seu corpo. “Aos infernos! Ela vai me chamar de idiota muitas vezes ainda.” Deixou-se levar, depositando um beijo no ombro da princesa, aceitando o fogo que começava a consumir por dentro, possivelmente pelo desespero de nunca mais poder tocá-la.

As mãos de Cécis caminharam até os laços que prendiam o corpete de Lady Líberiz desfazendo-os, enquanto a boca tomava os lábios da duquesa. Fira a ajudou, abrindo a parte de cima. Os seios fartos saltaram liberados do tecido e Cécis não parou a tarefa de despi-la, precipitando as mãos sobre o cadarço da calça de montaria, afrouxando-o. A tarefa não tardou a ser cumprida, levando a princesa a segurar um dos seios e resvalar a outra mão por dentro da calça, alcançando a intimidade úmida de Fira.

— Ah!

O gemido saiu fácil pelos lábios da duquesa, ao receber o toque dos dedos da princesa entre suas dobras. Ela podia não admitir, entretanto, cada vez mais ansiava pelos carinhos expedidos pela princesa. Cécis retirou a mão. Derrubou a chávena da mesa e segurou a duquesa pela cintura, levantando-a. Deitou o corpo da morena sobre a mesa. Agia com impaciente rapidez, revelando a vontade que tinha de possuir Fira.

Lady Líberiz retirou completamente a calça, recebendo o corpo da princesa em seu regaço. As duas agiam como se fosse a última vez. Se agarravam com desespero e tocavam-se sem medidas. Cécis segurou as pernas de Fira, colocando-as sobre os ombros e abarcando o sexo com a boca. 

— Ah! Isso, Cécis! Gostoso assim…

 A duquesa pedia sem pudores. Esqueceu todas as discussões. Estava amofinada, pois compreendia que o tempo delas findava. 

As sensações que tinha com a boca e a língua de Cécis, tomando sua intimidade, fazia todo o corpo de Fira vibrar de prazer. O orgasmo se aproximava e a princesa desprendeu os lábios, beijando o púbis e subindo pelo abdômen.

— Não! Eu estava quase lá! – Fira gritou em desespero.

— Não tão fácil, milady…

Cécis falou em meio a beijos, que agora depositava no vão entre os seios da duquesa. Segurou o bico de um deles entre os dentes, libando com a língua. A agonia de lady Líberiz aumentava. O corpo não respondia mais ao comando dos pensamentos. A princesa subiu, alcançando a boca rubra que a desatinava. O beijo intensificou, quando espalmou a mão sobre o sexo de Fira, arrancando novos sons, entre os lábios. Se engoliam no beijo e sentiam o corpo contrair, após dedos penetrarem na abertura quente da duquesa, preenchendo-a completamente.

— Mexe…mexe gostoso, Cécis!

— Isss.. Isso, Fira. Rebola mais pra mim…

A princesa pedia entre os lábios, sem desprender da boca da amante. Girou os dedos dentro das entranhas de Lady Líberiz, permitindo que colocasse o polegar sobre o clitóris intumescido e massageando o tecido rugoso na parte interna das entranhas. Mais alguns movimentos e Cécis segurou o corpo que se sacudiu sem controle em seus braços, liberando o orgasmo e o grito da garganta da amante.

Ela queria mais. Queria que Fira se lembrasse dela, para que a dor não cingisse apenas o próprio peito. Não se retirou de dentro, mexendo de leve, deixando que o corpo de Lady Líberiz se acostumasse com a agonia, para depois voltar a intensificar os movimentos. 

A duquesa a agarrou, abraçando-a forte pelo pescoço.  Colou os corpos, enquanto recebia mais intensamente os dedos da princesa dentro de si. Alguns momentos depois, sentiu-se engolir por sensações tão deliciosas, quanto conflitantes, trazendo um misto de plenitude e desespero. Um calor sufocante tomou o corpo e tremores dispararam através da musculatura, consumida pelo novo e intenso orgasmo.

Minutos mais tarde, Fira sentiu carinhos delicados e beijos depositados em seu rosto. Havia percebido, ao longe, ser conduzida até a cama como um boneco. As forças se esvaíram, quando se ouviu gritar, sem medidas, o nome da princesa. A leveza que sentia na alma, não condizia com a opressão que trazia no coração. 

“O que quis provar com isso, Cécis?”  

Ela se questionava, sabendo que a angústia era pela consciência do destino das duas. Dali a poucos dias voltaria para Líberiz e a princesa para o seu lugar em Alcaméria. Lady Fira tinha um ducado para comandar e Cécis, problemas a resolver com o pai. Ninguém poderia saber da interação delas, mesmo que a encontrasse em alguma festa na corte.

— Temos que ir…

Cécis falou com a voz embargada e fraca. A raiva da situação e da forma como Fira se portava diante de todas as questões, havia se dispersado para dar passagem a tristeza que assomou dentro do peito da princesa. 

Não foi exatamente um arrependimento, pois conseguiu ver Fira em toda a sua beleza, entregue em seus braços. “Linda!”   Esse pensamento poderia ser bom, se não soubesse o desfecho que lhe aguardava, arrancando a única pessoa que a tornou viva, depois de anos.

Fira tentava se refazer, e quase deixou que lágrimas viessem a seus olhos. A força que fez para segurá-las foi monstruosa. De olhos fechados, se permitia sentir a respiração pesada de Cécis bater no rosto e imaginava o que a outra pensava sobre tudo.

 “Maldita hora que me deixei levar por meus desejos!” 

 Entretanto, não eram só os desejos que a agitara e ela sabia. Sentia-se estranhamente bem nos braços da princesa. Gostava da voz, dos gestos e até das atitudes intempestivas. Era como se uma força mágica a atraísse para ela. Não compreendia.

— Vamos.

Falou, finalmente, e se levantou com a musculatura das pernas ainda trêmulas. Vestiu-se e nada mais conversaram, nem na viagem de volta ao castelo e, nem depois que chegaram. Seguiram, cada uma para seu quarto e ali permaneceram até o dia seguinte. Cécis soube, através de uma mensagem selada deixada para ela, que Fira partira para o castelo de campo de Remis para articular o encontro com Divinay.

****

Um mensageiro chegou à cabana de Bert, entregando a ela dois pergaminhos. Um direcionado a escudeira e o outro, o mensageiro avisara que ela não poderia abrir. A ordem de milady era para que Bert lesse a mensagem dedicada a ela e que, após isso, saberia o que fazer com o outro pergaminho.

— Maia, veja a mensagem que recebi de Lady Fira.

 “Cara Bert, 

Sabe que estou em Remis para descansar e espairecer. Gostaria de lhe fazer um pedido. Entregue este outro pergaminho para sua amiga Divinay. Por favor, não me condene e gostaria de contar com a sua discrição. Mande abraços para sua esposa e conto com você.

Fira Líberiz”   

Maia sorriu ao ler a mensagem. Há muito tempo falava para Bert que milady não gostava de homens e a esposa vivia ralhando com ela. Agora constatava a desconfiança. Muitas vezes, sentiu ciúmes de Lady Fira, por se tratar de uma mulher bonita e bem cuidada. Entretanto, nunca presenciou, realmente, alguma situação em que pudesse falar que milady agira com segundas intenções com Bert. 

— Pelo visto, Divinay afirmou a fama de conquistadora. – Falou rindo. – Lady Fira não esqueceu a noite que esteve com ela.

— Não tem graça, Maia. Imagina se Divinay faz alguma besteira! Eu é que as apresentei e ainda estou de mensageira para elas. Você sabe que Divinay é descompromissada. E se Lady Fira realmente gostar dela?

— Ora, você não tem nada com isso. Você não as forçou a nada e a verdade é que nem as apresentou. Elas se conheceram aqui, somente. Talvez milady esteja apenas querendo alguns momentos de prazer. Você mesma me contou que ela, muitas vezes, saia e se negava a lhe levar junto. A Duquesa não é uma garotinha ingênua.

— Ah! Não sei o que pensar, mas me preocupa isso. De qualquer forma, não posso deixar de levar a mensagem.

****

— Olha bem o que você vai fazer, Divinay! Eu não quero nem saber o que tem nessa mensagem. Não me interessa e quanto menos souber, melhor. Só lembre que ela é nossa soberana e é minha patroa.

Bert chegou à casa de Divinay, menos de uma hora depois de receber a mensagem. Estava visivelmente contrariada e preocupada com as repercussões do que poderia acontecer, se sua soberana se apaixonasse pela amiga. Divinay sorriu para ela, divertida e, ao mesmo tempo, consternada por enganar a amiga. Bem que ela gostaria que a ardente noite de amor entre ela e Lady Líberiz tivesse ocorrido. “Se você soubesse os maus-bocados que passei na mão da Grã-duquesa… Como ninguém consegue enxergar que essa mulher é uma raposa?”

— Fica tranquila, Bert. Não vou deixar você em maus lençóis com milady. Não estou apaixonada por ela.

— Essa é minha preocupação! E se ela estiver por você?

— Pode apostar que não. Não se preocupe, ela só quer distração. Você a conhece melhor do que ninguém. Acha que Lady Fira se derramaria por uma camponesa, sabendo as consequências para o ducado? 

Bert pensou no que a amiga falou e pesava as atitudes de milady. Divinay tinha razão, em parte, mas sabia, mais do que qualquer pessoa, que ninguém mandava nas trilhas do coração.

— Tudo bem, mas quero que tome cuidado e saiba que se essas brincadeiras de vocês saírem do controle, não ficará bem para você e, muito menos, para mim e minha família. 

Divinay compreendia que as preocupações da amiga, valiam também para o que faria. Não era o que Bert pensava, mas se algo saísse errado, ela, o Rélia e até mesmo Lady Fira e o ducado, estariam em grandes apuros. Inspirou e exalou forte o ar dos pulmões.

— Fica tranquila, Bert. Tentarei fazer com que Lady Fira não queira mais me ver. Pode deixar que não farei nada demais. Só não me empenharei e não me envolverei tanto dessa vez. Tudo bem?

— Obrigada. Sabe que esse trabalho é importante para mim, não só pelo dinheiro, mas gosto do que faço. Milady sempre me apoiou e me ensinou muitas coisas. Gosto de atuar ao lado dela.

Divinay meneou a cabeça, assentindo. Bert se foi e quando ela abriu o pergaminho, se assustou. 

— Não é possível! – Falou alto, lendo o pergaminho no meio da sala. – Amanhã à tarde vão deslocar a princesa através do ducado e matá-la? Pelos Deuses! Achava que iríamos resgatá-la em algum local… alguma prisão. Se eles a matarem aqui no ducado, aí sim pensarão que Lady Líberiz está por trás do sequestro! Cárcera é um cretino!

***

Fira estava em seu castelo em Remis. Leu algumas mensagens que Dinamark lhe mandara a respeito da Assembleia. Avar e Remis não receberam bem a reprimenda e a notícia de que ela averiguaria com apuro as contas e impostos dos condados. As falcatruas que faziam poderiam vir à tona. Pelo que Dinamark escreveu na mensagem, os outros condados se voltaram contra eles e isso afetou a credibilidade dos dois.

— Enfim, uma boa notícia.

Falou para si, enquanto lia as mensagens e bebericava um cálice de licor na varanda do quarto. Queria quebrar a força política que eles tinham e, ao mesmo tempo, assustar os outros condes. Não era tola e tinha pegado movimentos ilícitos dos outros condados, no entanto, não eram tão acintosos quanto Avar e Remis. Depois dessa ação, provavelmente se juntariam a ela, não querendo que Lady Líberiz pesquisasse mais profundamente suas receitas. Começava a construir a força política de que precisava para governar e do jeito correto.

Olhou o jardim de grama bem aparada. Era uma bonita visão e lembrou dos dias em que ia para lá com seu pai. Ele brincava com ela no labirinto de arbustos como se fosse criança.

“Esse labirinto era tão grande quando eu era criança…”

 Sorriu, percebendo que seu pai sempre a enganou. O duque Virtus Líberiz era um homem alto. Olhando o labirinto de sua varanda, viu que ele conseguia olhar por cima dos arbustos para encontrá-la. 

“Pelos Deuses, pai! Eu não conseguia me esconder de você. Você não me perdia de vista…”  

Não se sentiu enganada, muito pelo contrário. Sentia-se profundamente amada por aquele homem. Tudo que ela sabia da vida foi construído aos poucos com conselhos e amor. Ele nunca impôs sua vontade mesmo na adolescência, quando descobriu os prazeres da vida. 

— Que prazeres?! Sexo? Bebidas? Ah, pai! Você se esqueceu de ensinar algumas coisas. Não sinto falta dos seus conselhos como governante, mas agora, precisava de seus conselhos de amigo.

Levantou da cadeira e foi se recolher. O dia seguinte seria longo. Iria até o castelo de pedras, depois da hora marcada, para alinhavar o que ficaria para trás, antes de retornar para Líberiz.

***

No outro dia, Fira Líberiz se arrumou e esperou dar a hora com paciência. Mandou chamar seu comandante. 

— Jonot. Vou dar uma volta, mas retorno ao anoitecer ou amanhã.

— Quer uma escolta, milady?

— Não precisa.

– Desculpe, milady, mas tem saído sozinha e não tem retornado. Sei que não me deve nenhuma posição, mas ficamos apreensivos e precisamos lhe proteger. A situação do ducado não está boa e sinto que estou falhando na sua proteção.

Mais uma vez Lady Líberiz se pegava nas mentiras que contara e se valia da liberdade para ter seus casos sexuais dos quais, muitas vezes, não existiam. “Bom, pelo menos não existem na frivolidade que mostro e que pensam que tenho.”

— Perdoe-me Jonot, mas não gostaria de escolta para algo que não devo mostrar para a corte e nem para os soldados. Sei que compreende que tenho necessidades das quais não posso deixar que vejam.

Olhou-o instruída. Jonot entendeu o que Lady Fira insinuava e ruborizou. Lógico que entendia. Várias vezes tinha encoberto as escapadas da duquesa, mesmo antes do pai morrer. O duque Líberiz consentia e era praticamente um pacto com o amigo e general de exército. Assentiu com a cabeça.

— Jonot. – Chamou-o assim que subiu no cavalo. – Chegue mais perto, por favor. – Pediu e Jonot se aproximou. Falou sussurrando. – Se acaso eu demorar mais que dois dias para retornar, vá até a estalagem do rio Caldas em Avar e pergunte por Lady Rogan. Diga que precisa entregar uma mensagem. Depois vá até onde as moças da estalagem lhe indicaram e, se acaso não me encontrar, aí sim comece a me procurar… e Jonot, conto com a sua lealdade.

— Sim, milady.

Ele respondeu sem questionar a soberana, fazendo uma reverência.

 Fira cavalgou de volta ao castelo de pedras de Avar. Tinha uma última ação a tomar, antes de abandonar aquele castelo. 

— Desçam a ponte! Lady Dotcha no portão. – Gritou o vigia.

Quando Fira entrou, o coronel da guarda veio desesperado lhe abordar.

— Milady, aconteceu um…

— Eu sei o que aconteceu, coronel. Venha. Preciso falar com você.

Entraram no castelo e Fira seguiu para a sala de visitas, acompanhada do coronel. Pegou uma garrafa de brandy e depositou em dois cálices. Estendeu um ao coronel da guarda que titubeou para pegar o cálice. Nunca suas damas haviam dado esta liberdade.

— Pegue, coronel. Preciso conversar com você e dispersar algumas tensões.

O coronel pegou o cálice e quando “lady Dotcha” sentou, fazendo um sinal para que se sentasse, não hesitou.

— Lady Rogan não voltará mais. Pelo menos, durante muito tempo. Você e os homens não sabem por que foram contratados, mas lhes asseguro que não sairão lesados. 

— Mas, senhora…

— Antes que continue, deixa eu lhe contar uma história, coronel. Quem raptou Lady Rogan foram seus próprios parentes. Ela não se adaptava a vida da família e eles não queriam deixá-la seguir com a vida que queria. Por isso, compramos este castelo e ela contratou vocês. Nós queríamos uma vida juntas, entende isso?

O coronel ruborizou, compreendendo o que Lady Dotcha falava.

— Sim, milady. 

— O que ocorreu foi que Lady Rogan queria conversar com seus parentes, mas ela sabia que a possibilidade deles a pegarem existia, porém, queria tentar uma última vez. Queria que eles a aceitassem sem reservas.

— Entendo…

— Eu prometi a ela que se algo acontecesse, me incumbiria de dispensá-los, mas sem deixar que qualquer pessoa que nos serviu, ficasse desamparada. E assim será. Não viverei aqui sem ela, contudo saiba que vocês estarão amparados, com a gratificação que lhes darei. Só terão que assinar um termo se comprometendo a retornarem para seus lares e não voltar para o reino de Alcaméria.

– Mas…

— Não discuta, coronel. Apenas leia o documento e darei a todos meio dia para decidirem se aceitam os termos ou não.

 Estendeu o documento para o oficial. O homem pegou e abriu o pergaminho. Arregalou os olhos. Nunca em sua vida achou que ganharia uma quantia tão grande e em tão pouco tempo de trabalho. 

— Sim, minha senhora. Levarei a sua proposta para todos.

— Gostaria que intercedesse junto a criadagem também, mas deixando bem claro que o que vivenciaram aqui, morrerá aqui.

— Tenho certeza de que ninguém se oporá, milady. Todos têm família e se vieram para tão longe, foi para não deixá-los desamparados. O que a senhora oferece, a maioria não conseguiria com anos de trabalho honesto.

Fira apenas meneou a cabeça. Sabia que estava pagando um preço alto pelo silêncio. Desfalcaria, gravemente, as suas finanças pessoais e levaria muito tempo para reaver. Não importava. Ela não se arriscaria a que alguém não concordasse. Antes de receber, teriam que assinar o acordo. Se algum dia, um deles desobedecesse, infelizmente pagariam com a vida. Ela tinha um dossiê completo de cada pessoa contratada que habitou aquele castelo, naquele período. 

— Retornei, pois não queria que vocês ficassem sem uma posição. Devo dormir aqui hoje, mas voltarei para minha casa amanhã cedo.  Você ficará responsável até que todos tenham ido embora. Quero o castelo com as portas trancadas esta semana. Posso contar com você?

— Claro, milady. Fico triste por… bem, pelo que aconteceu. Nunca soube por que fomos contratados, mas agora… Enfim, gosto muito de Lady Rogan e torço por ela.

— Obrigada, coronel Norak.

O homem sorriu. Não achava que Lady Dotcha soubesse seu nome. Muitas histórias foram ventiladas entre os soldados, sobre o motivo de terem sido contratados. Agora que sabia, ou pensava que sabia a verdade, achava graça das fábulas inventadas por todos no castelo. 

Levantou-se, vendo o cansaço se delinear nos traços de Lady Dotcha. A deixaria em sua tristeza de perder o seu amor. Mal sabia o coronel que a história que Fira contara para arrumar as coisas era falsa, mas a dor que ele percebera no rosto dela era real.



Notas:

Oi pessoal!

Vocês já leram as notas iniciais da história? Lá na página “Líberiz”:  https://www.lesword.com/historias_post/liberiz/  

Então, lá tem a parte avisos e nela eu alerto para que uma das características dessa história é que ela é erótica. Estou alertando aqui novamente para que não haja dúvidas para quem não curte essas partes, ok?

Beijão e bom fim de semana para tod@s!




O que achou deste história?

7 Respostas para Capítulo 11 – Alvorada Sombria

  1. Oiê, Bi!
    Amei o capítulo! Muita tristeza por elas se separarem, mas um drama é sempre bom!! Amoooo
    Cecia é tão mimada, VOU REPETIR!!. Ceci só reclama que Fira n fala seus sentimentos e ela tampouco fala . Se ela n quer se expor pq pede algo q n faz e fica nessa fedelhagem total!!
    Eita,Cecia é forte, carregou Fira como nada! Ótima cenas eróticas. Vc sempre broca!!!
    Beijos

    PS:Feliz que agoraq consigo enviqr msg. Tatah merece um premio! Obrigadaaaa pra duas!!

  2. Está feito, plano quase concluído. Espero que saia tudo como combinado entre elas. Apesar das explosões delas na cama serem apenas “carnal” sempre sinto uma pontinha de carinho e afeto. Acho que Cecis já percebeu o que rola, Fira parece que ainda não. Tomara que um reencontro não demore.
    Beijo Carol
    Boa semana

    • Oi, Fabi!
      Olha, acho que o reencontro demorará mais um pouquinho, mas… não muito. rsrsr
      Quero me desculpar pela demora do cap, mas tive problemas com meu notebook. Tive que consertar para poder postar.
      Vamos ver o que o novo capítulo nos espera. rs
      Um beijo grande e bom feriado!!!

  3. Aiiii que tudo! Adorando a história e esses personagens “complicadinhos”… Quero mais (e logo!).

    • Oi, Russa!
      Vai ter mais! Foi mal a demora, mas essa semana meu note de ruim. Tive que dar um jeito nele para postar. Daqui a pouco a história entra.
      Valeu!
      Um beijão e bom feriado!
      ]

  4. Maravilhoso capítulo, torcendo para que no fim de tudo, as duas mandonas possam se reencontrar e finalmente se entregarem ao que sentem.

    Bjs bom final de semana Carol

    • Oi, Blackrose!
      Peço desculpas pela demora do capítulo, mas tive problemas com meu notebook. Ele deu pau e só consegui postar agora.
      Mas enfim! Estamos aqui para ver o que essas duas aprontaram! rs
      Obrigada pelo carinho e beijão pra ti!!

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