— Sophia…
— Não. Ela não sabe de nada. Foi só uma expressão que utilizou.
Meu Deus! Meu coração estava na boca. Sabe aquelas crianças que são pegas roubando um biscoito? Era assim que eu me sentia.
— Sophia, acho melhor…
— Shhhii. Nem de brincadeira fale isso. Não estamos demonstrando nada e estamos começando a resolver nossa vida. Não vou me intimidar com as ações de Melissa, até porque, nem desconfianças ela deve ter. Não tem por que. Não quero ficar longe de você agora.
Enquanto falava, ela foi até a porta e passou a trava.
— Vem. Vamos tomar banho, vamos almoçar e depois assistiremos a um filme.
A ação de Sophia me tirou da catatonia e fui logo rebocada para o banheiro. Ela foi tirando sua saída de praia e seu biquíni. Fiquei catatônica novamente, mas por outro motivo. Estava embevecida ao vê-la se despir. Quem diria que assistir uma mulher tirando a roupa me deixaria tão extasiada? Aliás, andava me perguntando isto com frequência, pois ainda me espantava muito com minhas reações em relação a ela.
Ela voltou-se para mim auxiliando retirar minhas roupas. Sua face demonstrava o quanto ela estava disposta a tira-las. Amei. Deixei-a abrir os botões do meu camisão e escorrega-lo pelos ombros. As suas expressões, sua respiração, seu olhar eram de excitação. Todos os gestos eram lentos, tentando desvendar meu corpo e mostravam nítido prazer. Minha respiração começou a acelerar e pequenos ofegos brotavam, descontrolados, do meu e do seu peito. Ela contemplou meu corpo, antes de iniciar a retirada de meu biquíni.
— Por Deus, Cléo! Você é maravilhosa!
Seus olhos brilhavam e seu rosto estava transformado em uma mistura de tesão e admiração. Não dá para descrever o tamanho do prazer que me dava ao vê-la entregue desta forma! Era irracional o que eu sentia.
— Tira! – sussurrei.
Ela me abraçou dando beijos sensuais, daqueles que você sente os lábios e a respiração ao mesmo tempo, e me abraçando, desamarrava meu biquíni pelas costas. Abracei-a para facilitar a sua investida e minhas pernas já entremeavam as dela, deixando nossos sexos em um contato íntimo e caloroso. Ela estava toda nua e eu, ainda faltava uma peça muito indesejada.
— Tira! Tira agora! – ela falou, enquanto terminava de puxar as alças da parte superior do biquíni.
— Você me deixa louca, Sophia! Não consigo ter qualquer reação coerente…
Puxava-a para colar seu centro de prazer ao meu. Afastei afoita, para retirar rápido a parte de baixo de meu biquíni e abaixei. Ela fazia carinho nas minhas costas e quando elevei meus olhos, tive a linda visão de seu ventre a minha frente. Espantei-me novamente, pois nem pensei muito ao segurar suas coxas e trazê-las para mim. Beijei seu ventre e desci em beijos aguados pelas as suas coxas e seu núcleo.
— Uhmmm! Cléo… Cléo…
Sua voz, embargada de emoção, me fez delirar e me encorajou a passear minha língua pelo paraíso de seu sexo. O bulbo rijo fez-me desejar mais e mais leva-la ao êxtase. Minhas pernas tremiam pelo frenesi que percorria meu corpo só de escutá-la gemer e ronronar deliciosamente. Sentei em uma banqueta que havia ao lado da pia e puxei-a para encaixa-la totalmente moldada a meus lábios. Suas pernas também tremiam e sustentei-a com meus braços em volta de suas coxas. Em nenhum momento, deixei de agir em seu núcleo e sentia que, em pouco tempo, ela viria à borda, me saciando com seu prazer. Eu derramava também o meu, ao senti-la reagir tão descontrolada, empurrando seu sexo de encontro aos meus lábios com força.
— Forte, Cléo! Forte…
A voz rouca e aflita me levou ao desespero, fazendo com que me tocasse embalada pelas suas delirantes reações. Eu queria fazê-la vir, mas meu corpo reagia até o último nervo, com tamanha sensualidade emanada de seu corpo. Ela retesou-se, agarrando forte meu cabelo e escutei seu grito de prazer ecoar pelo ar, enquanto seu corpo em espasmos descia por entre minhas pernas. Ajoelhou-se a minha frente arfante. Seus olhos semiabertos, vislumbraram meu desatino e antes que eu pudesse me controlar e retirar minha mão de meu sexo, ela mesma afastou-as me brindando com lábios quentes e sequiosos. Minha mente resvalou para outro plano onde não havia pensamentos, só sensações e uma vontade louca de me desprender, como se minha alma pudesse saltar para fora e experimentar a verdadeira liberdade.
— Uhrrrrrrrr! Não para, Sophia… Não para!
Apesar de vir à tona naquele momento, uma nova onda se apossou de meu corpo e experimentava outro orgasmo insano. Algo que nunca havia ocorrido e que me fez pensar que nunca mais gostaria de retornar aquela vida sem sentimentos que tive.
— AAAHHHH!
Debrucei-me sobre ela, não conseguindo sustentar meu corpo. Ela me abraçou e também estava fraca. Nossos corações batiam em uníssono. Ficamos assim, sem conseguir nos mover ou falar durante alguns minutos, mas minha mente já retornava a ativa e…
— Sophia?
— Mmm?
— Pelo que entendi, você só teve seu marido.
Ela desalojou a cabeça de meu ombro, com uma expressão interrogativa.
— Sim. E?!
— Como consegue ser melhor que todos os caras juntos que eu tive antes?
Ela riu da minha pergunta e eu juntamente com ela, mas não conseguia parar de me perguntar isso. Gente, vocês não estão entendendo. Era quase mágico o que acontecia quando fazíamos amor. Era muito… não gosto de palavrões, mas a única forma de descrever era que, era muito ”foda” mesmo! Como quando você está com muita raiva de alguém por algo que aquela pessoa te fez e que foi muito ruim, não adianta dizer para ela “vai tomar banho”, pois não vai exorcizar sua ira, mas se você falar “vai tomar no cu”, ameniza um pouco. Vocês me entendem? Então, fazer amor com ela era muito, mas muito “foda” mesmo
— Talvez porque todos esses “caras” juntos não te amavam e você não os amava, assim como eu nunca amei alguém antes, como eu estou amando agora.
Ela me olhou com certo medo do que falou. Quase se recriminando. Senti sua expressão de vulnerabilidade, mas ela não contava que essas palavras fizessem meu coração aquecer tanto, a ponto de meu peito parecer que explodiria. Olhei-a diretamente e acho que meus olhos sorriam tanto quanto meus lábios. Segurei seu rosto e depositei um beijo tão doce em sua boca que senti um suspiro dela. Apartei-me e encarei-a novamente, sorrindo.
— Eu também te amo, Sophia! Acredite, eu nunca senti um milésimo em meu coração do que sinto por você, com qualquer pessoa que já tenha passado por minha vida!
Ela sorriu e me beijou novamente.
— Vamos tomar banho, pois já tive mudanças demais por hoje.
Não entendi muito bem o que ela falou.
— Como assim?
Ela me olhou com sarcasmo.
— Eu pedi a Deus para que eu conseguisse mudar coisas em minha vida, mas declaração de amor no banheiro?
Ri muito, pois esse era o jeito de Sophia de dizer, “Olha só, eu te amo, mas dava para a gente escolher um lugarzinho melhor para se declarar”? Aí galera, a mulher é fina, né? Só que amei! Amei tudo e amei ela ter dito que me amava!
…………………..
Chegamos ao Lagoon e Sophia ligou para Mel. Ela nos disse em que restaurante estava e nos encaminhamos até lá. Quando chegamos, olhamos o ambiente e vimos a Mel em uma mesa, mas tinham mais duas pessoas além dela e da Lucy. Gelei!
“Não acredito que Donna tenha feito isso!”
Pois é, gente. A Donna mesmo! Esqueceram que ela está namorando a “Rizzoli” e que a “Rizzoli” conhece a “Isles”? Já até adivinhei o que tinha rolado. A Lucy não querendo enfrentar a “fera” sozinha, falou para Mel que convidaria a Beth e aí “pumba”! A Donna veio junto! Eu confiava na Donna, mas não sei o que ela já havia falado com a Beth. Mesmo sabendo que a detetive tinha conhecimento do meu relacionamento com a Sophia, o problema é que não tinha certeza se ela tinha noção de que a Mel não sabia desse affair meu e de sua mãe. Imagina se nas conversas alguém solta alguma coisa e a Mel percebe? “Tô” ferrada!
— Parece que a detetive sabe jogar. Trouxe reforço. – Sophia falou.
— E como sabe jogar! Você não tem nem ideia.
Sophia parou o passo e me olhou. Suspirei e comecei a explicar.
— Aquelas duas que estão com ela são Beth, que é a outra detetive…
— Sim, eu sei. Esta eu conheci. Ela me acompanhou no interrogatório e depois para o resto dos trâmites.
Suspirei novamente.
— A outra é Donna, minha amiga, e que vem a ser a mais nova namorada da Beth. Percebeu o que deve ter acontecido?
— Eu percebi que o mundo é gay realmente… Elas se conheceram no meu sequestro?!
Sophia sussurrava a pergunta com a testa enrugada.
— Sim. Digamos que você pode reivindicar para ser madrinha de casamento. Todas se conheceram no seu sequestro. – Sorri. – A “Isles” foi esperta mesmo!
— Quem?!
— Ah! Desculpa. É uma brincadeira minha e da Donna. Mas pelo menos, vai conhecer a minha melhor amiga…
— Mmm.
Chegamos perto e já fui falando como se não tivesse nada demais. Meu nervoso estava cinco na escala “Richter”. Só não foi sete, pois o sequestro foi que atingiu esse nível.
— Oi, tudo bem?
Mirei Donna com olhar aterrador e ela devolveu apavorada, querendo falar que não tinha nada a ver com isso e que não sabia. Conhecia a Donna e compreendia que ela não estava mentindo. Cara, não queria estar na pele da Beth depois que estivessem sozinhas.
— Oi!
Melissa levantou e veio nos beijar. Isso era da garota. Ela era espontânea e de uma simpatia natural. Sophia a beijou e eu também e, antes que Sophia falasse algo, a Lucy levantou e veio nos cumprimentar também. Donna e Beth apenas se levantaram esperando e, quando nos liberamos das duas…
— Mãe, essa aqui é a Beth…
— Sim. Já conheço. Como vai, detetive?
— Bem, e a senhora?
— Tudo bem.
— E essa aqui é a…
— É a desarvorada da minha amiga desde a infância… – Falei dando um abraço apertado e sussurrando no seu ouvido.
— A Mel não sabe de nada, me poupa, einh?
Sentia Donna sorrindo abraçada a mim, como quem dissesse a todos que estava super, mega, incontrolavelmente feliz por estar ali com todo mundo. Também sussurrou e cantarolou entre os dentes.
— “Tô” ligadaaa. Não tive nada a ver com issooo.
Virei-me para Sophia e a apresentei.
— Como vai, Sophia?
A Donna falou com segurança.
— Bem, Donna. E você?
As duas se tocaram as mãos e se sorriram. Não era algo avaliando ou se medindo. Era alguma coisa entre o natural e um simpatizar. Meu espírito se acalmou. Depois de meus pais, Donna era a pessoa mais importante da minha vida até então e, agora a Sophia entrava no rol dessas pessoas. Fiquei realmente feliz ao vê-las tranquilas desta forma, uma com a outra.
Sentamos. Era uma mesa redonda e Sophia estava ao lado de Mel. Acho que a garota sabia o que a mãe gostava, pois havia reservado este espaço para nós. Eu estava ao lado de Sophia e Donna ao meu lado.
— Vamos pedir uma entrada? — Falei.
Enfim, vieram as entradas e as bebidas e, falávamos de coisas amenas. Mas de repente, a Mel iniciou uma conversa meio constrangedora.
— Sabe, mãe. Eu estava pensando, papai errou, mas ele não tinha como saber a cachorra que a “talzinha” era.
Sophia pousou a “caipifruta” sobre a mesa.
— Melissa, conversamos depois sobre isso.
— Mãe, o que quero dizer é que, não é que eu queira que você reconsidere nem nada assim, mas pega leve com ele.
— Ele está arrasado porque foi exposto… — Sophia falava calmamente ainda.
— Mãe, estive com ele e, ele não quer que você reconsidere nada, vai concordar com tudo, mas ele está mal. Só queria conversar com você…
— Mel, aqui não.
— Eu sei que…
— Melissa!
Sophia já perdia a paciência.
— Mãe, você também tem alguém! Não é justo!
Ficamos todos mudos à mesa e elas duas se encaravam. Deus! Foram segundos que pareceram horas. Eu me senti um lixo e Donna olhava-me com complacência. Acho que nessas horas, o amor de Sophia pela filha e a maturidade prevaleciam. Sophia suspirou e acariciou o rosto da filha.
— Meu amor. Eu vou pensar, está bem? Vamos conversar sobre isso mais tarde, ok?
O sentimento que tive foi de culpa. “Isso assim”. Simples.
— Desculpa, mãe… É que não aguentei vê-lo tão largado ontem…
— Vamos resolver isto, está bem?
Sophia continuava a acariciar o rosto de Melissa. A menina sorriu e abraçou a mãe que, ficou ligeiramente desconfortável diante das pessoas que estavam à mesa. Não eram suas amigas e muito menos ela gostava de se expor. Parece que pela primeira vez, o tiro havia saído pela culatra. Ao invés de escrutinar a vida da namorada da filha, ela foi empurrada para a parede e eu… bem, não me sentia a melhor das pessoas, estando ali.
As conversas voltaram para as coisas triviais. Donna observava a tudo e estava bem calada; o que me deixava muito preocupada, a julgar o que conhecia dela. Em breve, teria o seu parecer e talvez um puxão de “lençol” para eu acordar. Não dava para bancar a “Bela Adormecida” na minha idade, dava? Terminamos o almoço e nos despedimos. Elas iriam assistir “Pompeia” e nós queríamos ver “A menina que roubava livros”.
Assistimos ao filme quase inteiro em silêncio. Comentávamos uma ou outra coisa, mas a verdade é que estávamos cada uma com seus pensamentos… seus demônios. Quando saímos do cinema, me virei para ela.
— Sophia, eu vou embora daqui mesmo. Amanhã tenho que ir à minha empresa de manhã, antes de ir à Grasoil.
Ela assentiu e me abraçou forte, não querendo muito se apartar. Eu envolvi-a em meus braços, sentindo um frio, um incômodo chato e um bolo na garganta.
— Vamos resolver… Vou resolver. – Ela falou.
Desvencilhamo-nos e ela voltou-se para ir embora, sem me olhar. “Merda”! Eu me sentia impotente. Por que cada vez que dávamos um passo, algo vinha para nos esfriar?
…………..
No dia seguinte, fui direto para a minha empresa e meu celular tocou. Olhei o visor e era Donna. Suspirei e atendi.
— Oi.
— Se acertaram?
— O que acha? Depois de uma noite e uma manhã maravilhosa, veio o balde que nem água fria tinha, eram cubos de gelo mesmo!
— Fica calma que a Mel não sabe de nada.
— E daí? Uma hora vai ter que saber. Donna, a Lucy sabe e é namorada dela.
— Mas sabe pelo âmbito do trabalho e há a questão do sigilo profissional. Não sei a Lucy, mas se for como a Beth, ela sabe muito bem separar as coisas. E depois, a Mel não é lésbica? E se ela descobrir, qual o problema? Ela seria uma cretina se não aceitasse a mãe.
— Você sabe que não é assim que as coisas acontecem. A Sophia insinuou em São Paulo que havia tido um “affair” com alguém, antes de tudo acontecer e a própria Mel não quis ouvir, alegando que era informação demais para ela naquele momento. Se ela souber, vai levar em conta o fato de a mãe ter traído o pai, antes de tudo e, com uma mulher! E ainda com o agravante da mulher ser eu e a mãe ter sido sequestrada na porta da minha casa.
— Cléo, acho que você “tá” encanada, antes da coisa acontecer. Vive esse momento bom entre vocês, garota!
— Como vocês foram parar lá ontem?
— A Lucy ligou para a Beth para almoçarmos juntas. Foi quando a Beth me contou que a Lucy “tava pegando” a Mel.
— Como assim “tava pegando”? Elas não estão com nada sério?
— Não é nada disso. É que elas ficaram a primeira vez no dia anterior, mas a Mel vai ter que voltar para Sampa e ainda não discutiram como isso vai ficar.
— Cara, se esse “projeto de Isles”…
A Donna começou a gargalhar do outro lado da linha, interrompendo minha momentânea ira.
— Que foi que eu disse para você ficar “tirando” com a minha cara?
— Você já tá se colocando como madrasta de verdade! – Continuou a gargalhar.
— Ah, Donna! “Me erra”, tá?!
— Vou desligar que não posso ficar o dia inteiro no telefone com você.
Quanto mais eu falava, mais a Donna ria e mais eu me irritava.
— Deixa só eu contar alguns detalhes sórdidos de sua vida pregressa para a sua “Rizzoli” que eu quero ver se você vai rir da minha cara.
Ela parou de rir na mesma hora.
— Você nem é besta! Esquece que eu sei alguns detalhes sórdidos da sua vida também? Faça isso que rapidinho a sua “poderosa olhar atravessado” vai saber com todos os detalhes.
— Iiihh! Não sabe brincar não vai ao parquinho, minha amiga! Ô, chata! Não dá nem para brincar!
Donna voltou a rir, mas sem deboche desta vez.
— Vai lá para o seu trabalho que eu também estou atrasada para o meu. Tô chegando agora aqui no estúdio e não tenho hora para sair hoje. Vou gravar os dois próximos programas até amanhã.
— Falou então, beijos.
— Beijos.