Não consegui vê-la. Ela foi tirada da delegacia por policiais que fizeram a segurança. Durante quase quinze, dias tentei falar com ela e com Mel por telefone, mas dava sempre fora de área. Dago só sabia que ela tinha tirado as tais férias que havia programado anteriormente e que Darcimires, um cara da produção, fora posto no lugar dela interinamente. Eu andava super para baixo e Dago me convidou para almoçar ali perto da empresa com Erick.
Ele começava a sair de casa e já fora duas vezes à empresa. Chegamos ao restaurante e procuramos uma mesa mais reservada para nos acomodar. Se é que à uma hora daquelas no centro da cidade, poderíamos dizer que existisse alguma mesa que fosse reservada.
– Você acha que ela volta, Dago? Erick, você é do RH. Não tá sabendo de nada?
– Calma, Cléo. Ela só tirou férias mesmo. Pediu apenas para estender mais quinze dias além da semana que havia tirado. Ela ligou para mim pessoalmente, para pedir que falasse com o pessoal de lá.
– Três semanas inteiras? Cara, ela tá pensando em sair, tá pensando em sumir daqui, Erick! Nada me tira isso da cabeça. Ela não falou mais nada com você?
– Não. Ainda estava meio abalada. Acho que não tá pensando isso não. A vida da Sophia é isso daqui. Acho que ela esteve tanto tempo na direção-geral que já virou patrimônio da Grasoil. Ela só quer dar um tempo. Viram a reportagem que aquela revista de negócios fez sobre ela e o que falou a respeito do sequestro?
– Um monte de mentiras! — falei indignada.
– É. Mas explanaram que a amante do marido é que estava por trás.
Dago falava entristecido e Erick estava de cabeça baixa. Olhei para todo o restaurante, tentando segurar lágrimas que queriam sair rolando sem a minha autorização.
– Apenas insinuaram o que poderia ter acontecido, não deram certeza e não sabem realmente. Dessa vez, parece que a polícia fez o serviço direito, pois não estão conseguindo pescar muita coisa.
Olhei para minha direita e vi uma loirinha sentada em outro canto conversando com uma ruiva. Estreitei meus olhos e percebi que era Catarina.
– Catarina tá bem acompanhada!
Os meninos olharam e Dago sorriu.
– Conheceu esse fim de semana, num chá de panela de uma prima que mora numa cidadezinha do interior do estado. Acredita? Festa de família e, a garota ainda é daqui… Quer dizer, mora aqui, faz faculdade e veio morar aqui por conta disso.
Empurrei o braço de Dago, mexendo com ele.
– Cara, você é um fofoqueiro. Sabe da vida de todo mundo!
Os dois gargalharam.
– Quem manda postar no “Face”?
– Ela postou no “Face”?
– Lógico que não, Cléo. O Dago que é fofoqueiro mesmo!
– Postou sim. Falou do chá de panela e falou às pessoas que conheceu e ainda marcou a foto, então é só deduzir, não é?
Pela primeira vez, depois de tudo que ocorreu, sorria relaxada.
– A garota até que é bonitinha…
Meu celular tocou. Era um número privado e não atendi.
– Não vai atender?
– Não. Pode ser o Marcos. Eu impetrei uma ação contra ele e não deve ter gostado muito. Sempre liga de celulares que não conheço e as duas últimas vezes eram de número privado.
Dago tirou o celular da minha mão e atendeu.
– Olha só, cara! Acho bom você parar de ligar para minha namorada se não vou te quebrar!
Eu comecei a rir, pois o Dago estava fazendo a sua melhor linha “Machão”. Parecia um lobo alfa defendendo seu território.
“Se eu não conhecesse bem a sua voz pelo telefone, Dagoberto, realmente acreditaria que a Cléo é sua namorada! Ótima performance”.
Dago estava com uma cara assustada e um pouco pálido. Fiquei intrigada.
– O que aconteceu, Dago? O que foi?
“Pelo visto a Cléo está bem assessorada. Então presumo que não devo me preocupar com ela”…
– NÃO! Quer dizer… Sophia?! Quer dizer Sra. Bran…
“Sophia, Dagoberto. Apenas Sophia”…
– SOPHIA?!!!
Eu e o Erick gritamos ao mesmo tempo. Peguei o telefone na mesma hora da mão dele.
– Sophia? Sophia… – Falava desesperada como uma retardada.
“Pelo que eu me lembro, você não é uma pessoa tão desarticulada assim, Cléo. Ou será que é pelo fato de ter achado que era o Marcos novamente?”
Ela falava me sacaneando, com o mesmo tom jocoso que sempre usou quando me pegava esbravejando com o Marcos.
“Pelo menos não foi você a atender e soltar os bichos em cima de mim. Eu podia achar que era marcação e ficar traumatizada com isso”.
Eu comecei a rir e deixei que uma lágrima teimosa descesse pelo meu rosto.
– Onde você está? Eu tentei ligar para você e seu celular está fora de área…
Eu falava sem nenhuma medida, sem nenhuma pausa, num fôlego só. Não sabia nem se ela estava achando que eu era uma crápula que fazia parte daquela corja que a sequestrou.
– Sophia! Não tive nada com aquilo. O imbecil do Marcos que ficou com meu celular durante uns dias e eu com o dele, pois ele disse que precisava para fazer uma viagem e a operadora dele não pegava no lugar e… – Eu falava compulsivamente sem parar como uma desnorteada.
“Cléo. Cléo! O que você está falando”?
– Do sequestro. Eu não tive nada com aquilo Sophia e…
“Cléo! Por favor, eu sei que não”…
– Sabe?
“Claro que sei. A polícia me explicou tudo. Eu te liguei porque agora estou mais tranquila. Precisava sair daí, precisava me acalmar. Vim para São Paulo, na casa da minha família… Na casa dos meus pais”.
– Lógico. Claro! Como você está?
“Melhor, mas não posso dizer se estou exatamente inteira de cabeça. Tudo foi muito louco e acho que não fiz a melhor opção de vir para cá… Bom, pelo menos vir me fez entender porque moro aí, longe deles”.
Percebi que ela sorriu do outro lado e isso acalentou meu coração. Estava confusa com tudo que aconteceu e chegava a pensar que nunca mais ouviria o som da sua voz ou tom sarcástico que usava quando queria provocar. Nesse momento, entendi o que as pessoas mais antigas queriam dizer com “balsamo para a alma”. Eu senti uma paz tão grande ao ouvi-la, que parecia que estava boiando no mar, de olhos fechados e curtindo uma praia paradisíaca.
– Então você vai voltar?
Praticamente sussurrava e minha voz ia morrendo à medida que pronunciava as palavras.
“Claro. Que eu saiba, ainda tenho um emprego aí e… amigos. Eu vou ter que desligar. Ainda tenho algumas coisas para fazer aqui, mas possivelmente retornarei este fim de semana. Não vou voltar para o meu apartamento ainda. Aluguei outro para ficar até as coisas voltarem ao seu eixo. Posso te procurar? Gostaria de encontrar com você e os rapazes”.
Dago e Erick estavam olhando para mim com os olhos abertos e prestando atenção a cada frase que eu proferia.
– Lógico! Vai continuar ligando de número privado? Não é por nada, ééé…
Ela riu com gosto.
“O Marcos está te ligando de número privado”?
– Está.
Falei sorrindo também.
“Deus! O que você faz com as pessoas, garota? Parece que você é algum tipo de ser Elemental que lança um encantamento, para que as pessoas fiquem loucas por você”.
– Você nem sabe… Eu venho de uma família de sacerdotisas celtas e gosto de pessoas aos meus pés. Preciso deste tipo de energia para viver!
Falei rindo e a escutei rindo do outro lado, também.
“Pode deixar, quando te ligar, vou deixar meu número aberto e aí você grava. Só utilizarei este número com amigos e familiares. Não posso demorar mesmo, estou com um compromisso”.
– Tudo bem, vai lá e… se cuida até chegar aqui.
“Por quê? Não vou ter que me cuidar aí também”?
A sua voz assumiu um tom malicioso daquele tipo que me deixava com a respiração suspensa. Minha voz quase não saiu e eu queria gritar que, “Nãaaooo! Eu cuido de você”! Como se eu pudesse fazer realmente isto. Mas queria dar outro cunho, ao “eu cuido de você”.
– Vai ter sim e vai ter que se cuidar muito bem. Vou ficar grudada no seu pé!
Hummm… Que péssimo o que falei. Soou como mulher pegajosa.
“Espero que não seja um fetiche essa coisa de “grudar” no pé”.
Agora vamos falar como gente grande, não é galera? Ela estava me provocando!
– O que você tem contra fetiches? Alguns são bem interessantes.
Quase caí na gargalhada, pois Erick abriu a boca com um jeito de “bichinha dos infernos”!
Sophia parou momentaneamente e voltou a falar.
“Eu?! Contra fetiches?! Não tenho nada contra. Principalmente aqueles que se revelam em um grande prazer”.
Desta vez, quem ficou muda fui eu. Minha cabeça vagueou por várias possibilidades que nunca pensei que carregasse comigo. Tive que me aprumar para responder de forma mais amena, principalmente por estar com dois pares de olhos e dois pares de ouvidos sobre mim.
– Então conversaremos sobre isso mais adiante.
Quando falei, forçava uma voz firme e a escutei gargalhar.
“Felizmente estou falando sem ninguém por perto e infelizmente para você, posso quase afirmar, que tem duas figuras de frente a observando”.
– Que cretina, ainda se diverte com isso!
Senti-a apenas sorrindo relaxada.
“Vou ter que desligar mesmo, Cléo. Se tudo correr bem, no final desta semana estarei no Rio”.
– Me liga.
“Ligo sim. Beijos”.
– Beijos.
Como foi difícil me despedir. Meu coração apertou novamente, mas minha alma estava renovada. Senti-me alegre, feliz, plena. Que coisa estranha!
……………………..
Após desligar, Sophia caminhou até a sala de jantar da casa de seus pais. Eles, assim como sua filha, já estavam sentados à mesa posta para o almoço.
– Creio que este tempo em cativeiro a deixou sem senso e sem educação. – Falou sua mãe.
– Vó!
– Deixe, Melissa. Sua avó ainda deve estar abalada com a situação toda. Não deve estar raciocinando direito.
A diretora falou com ar imparcial e sentou-se sem dar muita importância ao ocorrido. Seu pai, um senhor de seus 67 anos, segurou sua mão apertando brevemente e soltando logo em seguida. Ele sentava à cabeceira da mesa que era composta por doze lugares e tinha à direita a esposa, mãe de Sophia, e à esquerda a filha e a neta.
– Vamos deixar estes eventos para trás. Não quero desagrados, principalmente na hora do almoço.
Os serviçais começaram a servi-los.
– Melissa, por que não vem morar aqui enquanto está na faculdade? Não é de bom tom, uma menina morar sozinha sabendo que tem a casa dos avós tão perto.
– Ela tem seu próprio apartamento que eu comprei, mãe. Se pensar pelo meu lado, o de progenitora, não seria de bom tom deixá-la morar com meus pais tendo a posição que tenho. Caracterizaria um desleixo de minha parte.
Sophia falou segura, revertendo o tipo de insinuação de sua mãe. Não queria sua filha sofrendo o tipo de opressão que sua mãe sempre impôs a ela.
– Deixe a menina fazer seus passos, Arminda. É bom aprender a crescer neste novo mundo.
– Não acho, Ancelmo. Este novo mundo que você fala é corrompido.
Sophia cerrou seus olhos brevemente e retornou a olhar seu prato. A mão de sua filha pousou sobre sua perna, por baixo da mesa. Permaneceu calada sem nada dizer, contendo seu temperamento.
– Como havia falado, amanhã retorno ao Rio de Janeiro e…
– Não vai cometer o desatino de separar de seu marido como falou com seu pai, não é? Não vai cometer este deslize!
Sophia levantou-se da cadeira de rompante. Estava fragilizada com todos os acontecimentos que acometeram sua vida nos últimos tempos. A falta de sensibilidade, a arrogância e a prepotência de sua mãe, acrescida de uma boa dose de amor-próprio, levou-a a falar como nunca em sua vida havia falado com ela.
– Ao menos uma vez na sua vida, poderia pensar no que passei? Será que o bem-estar da sua filha poderia permear seus pensamentos, ao menos neste momento e não seu tão glamoroso status? Chega! – rosnou
– SOPHIA!
Sua mãe alteou levemente a voz para repreendê-la
– NÃO ME VENHA COM REPREENSÕES! ESTOU CHEIA! ISSO MESMO. CHEIA, NÃO FARTA, COMO SERIA O BOM LINGUAJAR, ESTOU DE SACO CHEIO MESMO, OUVIU BEM?
Sophia perdeu completamente a razão, gritando e o som de sua voz ecoou por toda a sala.
– Filha…
– Não, pai, para mim chega! Será que nem em um momento como o que passei, ela não pensa no que sinto?!
Sua filha levantou e segurou seu braço levemente.
– Vamos, mãe. Vamos para o quarto que eu te acompanho…
O toque suave de Melissa e sua voz tranquila a trouxe de volta.
– Sim. Acho melhor.
Virou-se de pronto sem olhar para sua mãe e caminhou abraçada a sua filha, sem deixá-la retrucar. Sua mãe tinha os olhos arregalados e a respiração suspensa com expressão de visível assombro.
— Sophia, volte já aqui!
Arminda falou entre dentes, porém tentando manter a compostura. Sophia continuou caminhando ao lado da filha, sem olhar para trás.
— Deixe-a Arminda. Não vê que esse não é um momento bom? Deixa por agora.
……………
Sophia começou a fazer suas malas no momento em que entrou no quarto.
–Mãe, calma. Sabe como é vovó…
– Não a desculpe, Melissa. Espero que nunca em minha vida tenha agido com você da mesma forma que ela fez comigo! Deus me perdoe se o fiz. Ninguém merece este descaso… ninguém merece…
Sua voz foi diminuindo a quase um sussurro. Deixou seus braços penderem de lado e começou a soluçar. Sua filha se aproximou, abraçando-a por trás assustada. Nunca vira sua mãe chorando e tão fragilizada. Nem no retorno do sequestro sua mãe transmitira insegurança. Parecia tranquila como sempre. Havia sido a mãe que a abraçara, falando palavras de serenidade, quando na verdade, deveria ter sido ela a abraça-la e confortá-la.
– Por favor, mãe! Não fica assim. Não estou desculpando minha avó, mas não quero ver você magoada… sofrendo… Se você e papai não dão mais certo…
Sophia virou-se para a filha e a abraçou forte, sem deixá-la terminar a frase, acariciando seus cabelos. Ainda com lágrimas rolando começou a explanar sem freios o que sentia.
– Meu casamento com seu pai só não foi um erro porque você existe. Porque você é a pessoa mais valiosa em minha vida. Acontecer o que aconteceu comigo, não tem a menor importância, mas enquanto estava cativa eu pensava se acaso não fosse eu? E se fosse você? Eu enlouqueceria!
– Mas não foi, mãe. O que eu quero dizer, é que eu sei que você não está se separando de papai por esse motivo. Eu apoio você. Depois de mais velha, eu comecei a perceber a relação de vocês. No início me revoltou, mas… o amor, o carinho que me davam era tão grande… seu e dele. Entendi que era algo que vocês tinham que resolver e não eu.
Sophia desaninhou sua filha de seu ombro, olhando-a com carinho e orgulho.
– Filha, nunca trai seu pai até…
– Não, mãe! – Melissa a interrompeu. — Sem detalhes agora, por favor. Deixa eu me acostumar, tá? Já basta ter acontecido isso tudo por conta de uma amante dele. Não quero saber se você tem alguém na sua vida… bem… pelo menos, por enquanto. Sei que você merece ser feliz, mas deixa eu me acostumar com as coisas aos poucos, tá? Depois que você tiver se resolvido com papai e depois que resolver se vai ou não continuar morando na Urca, você me conta, ok?
A diretora sorriu, já sem as lágrimas no rosto e acariciando o rosto de sua filha.
– Ok. Tudo bem. Um passo de cada vez. Sem atropelos. – olhou ternamente. – Deus! Como eu te amo, filha! – Sorriu novamente. – O que você iria me contar ontem?
Perguntou mais calma, ainda abraçada a garota. Melissa se desvencilhou do abraço da mãe, ensimesmada.
– Deixa para lá, mãe. Não é nada. Você está ainda abalada, nervosa e…
– Meu amor… – Sophia a interrompeu. – Eu nunca vou deixar nada para lá no que diz respeito a você. Nem adianta me persuadir!
A diretora sentou-se na cama encarando sua filha e não deixando qualquer possibilidade de escape. Sua postura era de observação e Melissa a conhecia bem para não retrucar.
– Você é terrível, mãe!
Falou em sinal de reprovação dissimulada.
– Assim o penso. O que seria dos acionistas da Grasoil se não tivesse uma direção com esse tom? – Sorriu.
– Mas eu não sou acionista da Grasoil e você não tá dirigindo a empresa enquanto fala comigo. – Rebateu, repreendendo a mãe. — Eu não queria falar agora…
– Se não queria, por que falou antes?
– Ai! Você é terrível mesmo! Foi só um momento de fraqueza.
– Filha, senta aqui.
Sophia puxou sua filha para sentar a seu lado.
– Meu amor. Não quero pensar que sou um milésimo de intolerante como a sua avó é. Sei que não é problema com a virgindade, pois já me contou com dezesseis anos quando perdeu. Não que eu tenha gostado de saber, pois engoli em seco. Você era minha filhinha, minha garotinha ainda, mas o que eu fiz?
– Você me abraçou e me perguntou como foi. – Melissa sorriu. – Lembro que falei que foi uma merda e você me abraçou mais forte. Aí disse que não me recriminaria, mas que queria responsabilidade e me cobraria por isso.
Melissa nesta hora gargalhou e Sophia a olhou de forma indagadora.
– O que foi?
– Lembro que você ficou vermelha, mas começou a desfiar sobre DSTs e gravidez e blá, blá, blá… Achei que eu ficaria com vergonha, mas você estava mais envergonhada do que eu falando de coisas que eu já estava careca de saber.
– Engraçadinha, mas na hora você estava morrendo de medo de estar grávida, por isso me contou. Mesmo com toda sabedoria magnânima de adolescente, esqueceu-se de ver este detalhe no momento, não é? Muito bom saber e não praticar.
– Tá vendo como não esquece nada?!!
– Pode ter certeza que qualquer coisa relacionada a você, eu não vou esquecer nunca nessa vida!
– Isso é que tenho medo!
– “Para”, que agora está fazendo drama. Fala logo que ainda me considero sua mãe para te aconselhar.
Sophia sorria para a filha e estava relaxando da tensão que permeou a conversa com sua própria mãe. Empurrou o ombro da filha com seu ombro falando:
– Fala logo que, daqui a pouco desisto e não vou querer mais ouvir durante, pelo menos, uns bons anos, aí vai reclamar quando quiser contar e não …
Antes de Sophia completar a frase, sua filha soltou a revelação de uma única vez e rapidamente, contraindo seus músculos e fechando os olhos fortemente.
– Sou Lésbica e só “tô” te contando, porque senti muito medo de te perder.
Sophia parou estanque o sorriso que permeava seus lábios. Levantou e caminhou até o centro do quarto. Ficou momentaneamente imóvel olhando o além.
– Mãe.. Mãe, por favor, fala alguma coisa!
Melissa estava com o pavor estampado no rosto. Sophia se voltou para ela e gargalhou descontrolada! Parecia que tinha entrado em uma crise de histeria, por conta da revelação. Permanecia parada no meio do quarto e sua risada parecia não querer ceder.
– Mãe, por favor! Não é nada demais! Não posso ser diferente!
A diretora forçou para se aprumar e, aos poucos, foi se controlando. Caminhou até a beirada da cama e sentou novamente ao lado da menina, ainda sorrindo.
– Era isso que tinha a falar?
Perguntou com o rosto transparecendo divertimento.
– Era.
Melissa respondeu, contida. Estava atônita e não sabia o que pensar ou porque sua mãe reagira daquela forma. Achava que ela tinha reagido, rindo como louca, por negação da situação.
Sophia esboçou um sorriso maior e segurou a mão da filha.
– Melissa… Vai precisar mais que um par de valores preconceituosos, para eu achar que você não merece o meu amor. Você entende isso?
A menina pulou no pescoço da mãe rindo e derramando lágrimas, ao mesmo tempo.
– Eu tive tanto medo… Eu sei como minha vó é, eu sei como você é, mas eu sei como papai é também. É tão difícil…
– Eu sei, minha filha…– Sophia afagava os cabelos de Melissa. – As pessoas nem sempre são sensatas e justas, o mundo nem sempre é justo. Não digo que você não vai sofrer, mas se acaso algo acontecer em sua vida, que a coloque na parede, lembre que eu estarei aqui por você.
A menina estreitou mais sua mãe em seu abraço.
– E eu estarei para você…!