Os dias passam e as duas sempre dão um jeito de estarem juntas. Mariana segue reagindo bem ao tratamento e Helena consegue dividir seu tempo para estar com sua filha, ir para a empresa e ficar com Luísa.

Até que Fabio volta da viagem ao Rio. O convívio do casal é calmo, porém cada vez mais distante. Luísa sente ciúmes de Fabio, mas sabe se controlar e não deixa transparecer para Helena.

Enfim a operação de Mariana é marcada, a aflição, o medo e a esperança atingem a todos. Luísa se sente feliz em fazer parte da cirurgia que salvará a vida da menina que aprendeu a amar.

No grande dia, Luísa acompanha Henrique até o quarto de Mariana. Lá estão Helena e Fabio, aflitos.

– Bom dia pequena guerreira. – diz Henrique.

– Oiee! Oi Lu!!! – Mariana está tão feliz que contagia a todos.

Henrique explica o procedimento e Luísa observa Fabio e Helena abraçados, sente o amor que há entre eles, mas percebe que é mais fraternal que romântico, isso de certa forma lhe dá paz. Sente o olhar carente que Helena lhe lança, luta para não ir até ela e a abraçar, dizer que tudo dará certo e que cuidará das duas.

Todos seguem para o centro cirúrgico, os pais aguardam na sala de espera. A operação dura 3 horas, Henrique sai para conversar com os pais de Mariana.

– E ai Dr. Henrique??? – Helena está muito nervosa.

– A operação foi um sucesso! Mariana está se recuperando e logo voltará ao quarto.

Fabio e Helena se abraçam e choram de alívio. Abraçam Henrique.

– Bom apesar de ainda termos que monitorá-la, tenho convicção que a nossa princesinha responderá muito bem.

Helena e Fabio descem para o quarto, ela tem uma vontade enorme de abraçar Luísa e agradecer por ter participado da operação, mas precisa se conter.

Luísa sai feliz da operação e, apesar do imenso desejo de falar com Helena, prefere respeitar o momento da família. Manda uma mensagem de apoio para ela e decide ir para casa.

“nem tenho palavras para te agradecer Lu!!!!”

Luísa fica feliz ao ver a resposta de Helena.

“imagina Helena, fiz meu melhor e sabe que gosto muito dessa princesinha!”

“só da princesinha???”

“não, da mãe dela também, e muito!”

“estou com saudades e louca de vontade de estar dentro do seu abraço Lu.”

“eu também linda, assim que der vamos nos ver?”

“siiimmmm!!”

Helena está totalmente voltada para a recuperação de Mariana, nos primeiros dez dias pós-transplante, ela e Luísa se veem apenas no hospital. Numa sexta Luísa vai até o quarto.

– Oi minha princesa!!! – diz beijando Mariana.

– Oi Lu!!!!

Luísa olha para Helena que lhe sorri. Conversam e brincam com Mariana.

– Linda, posso roubar sua mãe um pouquinho?

– Sim!!! Lu, você vai me visitar em casa né???

– Vou sim princesa! Não prometo te ver tanto quanto gostaria, mas irei sim!

– Você leva a fada Serena???

– Sabia!! Só por isso né?? – e faz cócegas na menina.

– Mari eu vou conversar com a Lu e volto logo tá?

Elas saem e vão até a cafeteria do primeiro encontro. Sentam na mesma mesa e pedem chá de hortelã. Helena pega na mão de Luísa, já não se importa mais se alguém vê.

– Saudades tão grande de ficar com você.

– Eu também Helena, mas deixa as coisas se aprumarem que vamos ficar mais vezes juntas. – e beija sua mão.

Conversam sobre coisas banais enquanto tomam o chá.

– Hoje é sexta, vai passear? – Helena tenta não transparecer o seu ciúmes.

– Hoje vou à uma festa na casa de alguns amigos.

– Serena?

– Ela e Laís estarão lá, mas é na casa da Julia que vai comemorar seu aniversário.

– Hum.

– Por que linda?

– Só curiosidade sobre o que minha médica preferida faz nas noites de sexta.

– Tem outros planos pra sua médica? – pergunta com voz sensual e piscando para Helena.

– Bem que gostaria, mas o Fabio marcou um jantar com a família dele. – não disfarça o seu desânimo.

– Ele não vai nunca mais vai viajar???

As duas riem com certo nervosismo. Helena aperta mão de Luísa e a olha sério.

– Lu, sei que é complicado, mas tenha um pouco de paciência.

– Relaxa linda, eu entendo e entrei nessa totalmente consciente. Sei que você quer abusar de mim e adoro!!

– Nem sabe o quanto quero. Domingo à tarde Célia ficará com a Mari, o Fabio vai pescar com o pai e uns primos, pensei em aproveitarmos, o que acha?

Um sorriso toma conta de Luísa.

– Amei a ideia!!

Conversam enquanto vão para o hospital, combinam que Luísa a buscará domingo após o almoço. No caminho para casa, Luísa canta uma música qualquer e sorri já imaginando como será o domingo, quando seu celular avisa que tem uma mensagem.

“oi gata, vai hj na casa da Julia.”

Ela estranha, pois apesar de poucas mensagens trocadas, nunca mais se encontrou com Marcela.

“vou sim, vc a conhece??”

“mundo gay é um tanto pequeno nessa cidade..rsrs”

“isso é vdd”

“estava conversando com a Serena e ela comentou que vc iria”

Luísa pensa em Helena, lembra do combinado entre elas e uma certa culpa a invade. Depois lembra da tarde de ontem quando entrou no quarto de Mariana  e deu de cara com Fabio e Helena se beijando, o ciúmes responde por ela:

“quem sabe hj teremos nosso prometido replay??”

“pode apostar delícia!”

Enquanto se arruma, Luísa toma vinho. A cena do beijo do casal não sai de sua cabeça e sabe que nem pode comentar com Helena. Remói algumas vezes enquanto enche outra taça. Na hora de sair, percebe que está um pouco alterada e resolve ir de uber.

Chega à festa e dá de cara com Laís e Serena, conversam e ela bebe uma caipirinha. Laís nota sua alteração e comenta com Serena.

– Vamos ficar de olho amor. – diz Serena preocupada.

Luísa vai para a pista sozinha e começa a dançar um reggae, de repente sente dois braços enlaçando sua cintura e uma boca morder sua nuca. Por um segundo imagina que é Helena, quando vira, dá de cara com Marcela.

– Oi médica delícia!

– Oi minha samurai.

Elas riem e dançam algumas músicas juntas. Quando os beijos começam a esquentar, Serena vai até a pista e puxa Luísa.

– Lu vem, você bebeu demais, vamos tomar uma água. – e vai puxando sua mão.

– Qual é Serena?? Ciúmes tardio??? – Marcela já alterada, pergunta com raiva.

Laís vai até ela e com cara fechada fala:

– Olha aqui Marcela, vou relevar porque tô vendo que você já tá alta. Serena só tirou a Lu daqui porque vocês estão quase transando na frente de todo mundo.

– Temos culpa da química deliciosa que nos atraí?

– A Luísa chegou alterada e está bem estranha, tenho certeza que ela jamais faria isso em estado normal. Então, de boa, fica longe dela hoje.

Marcela vira as costas e sai. Laís vai atrás de Serena e Luísa, que estão na varanda da frente. Quando chega, vê Luísa chorando no colo de Serena.

– Oi amor, o que ela tem? Nunca a via assim. – Laís fica ainda mais preocupada.

Luísa não para de chorar e Serena afaga seus cabelos, tentando consolar.

– Ah amor, ela não tá legal, vamos pra casa?

– Vou buscar o carro.

Levam Luísa para a casa de Laís.

– Amor tudo bem se você der um banho nela? – Serena pergunta sem graça.

– Ué porque você não dá?

– Nunca a vi nua, você já.

Laís ri e a beija.

– Nós duas daremos banho nela e a colocaremos no quarto de hóspedes ok?

É o que fazem. Luísa dorme profundamente. Serena e Laís abraçadas, a olham.

– Ela falou alguma coisa Sê?

– Ah amor, disse algumas coisas soltas. Acho que essa história com a Helena mexe muito mais com ela do que ela mesmo imagina.

– Acha que ela tá apaixonada?

– Na verdade pelo que a gente conversa e pelo que observo, ela ama a Helena.

– Queria tanto que fosse recíproco! A Lu merece demais!!

– Se não fosse ela, nós não estaríamos juntas!

– Verdade Sê. – e dá um beijo cheio de amor e desejo em Serena.

– Vem Laís, depois desse beijo, fiquei com uma vontade imensa de te colorir. – as duas riem e vão para o quarto.

Luísa acorda com uma terrível dor de cabeça, leva um tempo até entender onde está. Levanta e vai até a sala, onde encontra Serena na varanda cuidando da horta e Laís na cozinha fazendo café.

– Pelo amor de Deus alguém diz que anotou a placa da jamanta que me atropelou!!!

Todas caem na risada.

– Aiiiiii nem rir posso, senhor!!! O que houve ontem????

Ela senta na banqueta da cozinha e pega o café que Laís oferece.

– Bom dia Lu! Graças a minha pequena sereia, você apenas bebeu tudo que tinha álcool e te trouxemos pra cá.

– Não lembro de nada….há anos isso não acontece comigo.

– Do que você se lembra? – Serena pergunta se aproximando da amiga.

– Olha, eu sai de casa um tanto alta e peguei um uber….depois lembro de ver vocês quando cheguei na festa e só….

– Não se lembra da dança do acasalamento que fez com a Marcela?? – Laís solta uma gargalhada.

– O quê???????????????????????????????????? – Luísa diz já levando as duas mãos ao rosto em desespero.

Elas relatam o lance da dança e de como Serena a levou para a varanda, de como Laís teve que interceder e defender Serena e Luísa quando Marcela reclamou de terem tirado Luísa de perto dela.

– Lu ontem você falou algumas coisas pra mim na varanda….

Luísa a olha assustada.

– O que eu falei?

– Tudo meio desconexo, mas deu pra perceber que você tá sofrendo com essa história com a Helena. – Sereia a abraça.

Luísa respira fundo, fecha os olhos e deixa as lágrimas banharem seu rosto. Serena a abraça mais forte. Laís se aproxima e pega suas mãos.

– Lu você a ama? – Laís pergunta.

– Olha, eu fui pra cama com a Marcela, iria ontem se não estivesse tão bêbada. Mas tá tudo diferente sabe? Antes da Helena, eu transava de boa, aproveitava o momento e não tinha sofrimento e nem vontade de ver a pessoa no dia seguinte. Não me sentia vazia como me sinto depois dela. Sei que tem pouco tempo, na verdade eu não sei de mais nada. – seu choro se intensifica.

– Lu o amor faz dessas presepadas com a gente. Olha meu caso com a Laís, só três encontros e eu cai de quatro por ela!

– E eu então? A Elsa do Frozen!! – Laís diz rindo.

– Laís eu me apaixonei por você, ficamos uns meses e nos separamos. Confesso que sofri um pouco, mas depois de uma semana eu fiquei bem. E olha nós três aqui?

– Lu você disse bem, se apaixonou por mim. Pela Helena eu desconfio que não é só paixão.

Luísa a olha e fica pensando. Com Laís ela sofreu, mas no fundo ficou feliz, pois sabia que ela e Serena se amavam apesar do pouco tempo. Hoje as ama como duas irmãs.

– Por quê??? – Luísa pergunta ainda chorando.

– Por que o quê Lu??? – Serena pergunta aflita.

– Por que não acontece igual com a Helena? Ela é casada, eu não tenho o direito de atrapalhar toda a vida dela e muito menos, da Mari. Por que ela????? Tanta mulher que saí, por que justamente ela?? – Luísa nervosa começa a andar pela cozinha.

Laís a puxa para um abraço e diz calmamente:

– Lu desde quando mandamos no que sentimos?

Luísa chora convulsivamente nos braços da amiga. Quando se acalma, toma um remédio para dor de cabeça e come um pouco. As três assistem a filmes e passam a tarde conversando. Suas amigas tentam animá-la, ela até se descontrai um pouco, mas não tira Helena da cabeça.

– Lu seu celular tá apitando que nem trem, não vai ver? – Serena faz menção de buscar para a amiga.

– Não precisa Sê, deve ser a Marcela ou pior, a Helena. Hoje não tenho condições de falar com nenhuma delas.

No começo da noite, Luísa resolve ir para casa apesar dos protestos das amigas. Elas a levam e quando entra no seu apartamento, a sensação de vazio a consome. Se permite deitar no sofá e chorar todas as lágrimas que nunca mais tinham sido derramadas desde seu divórcio.

Helena fica preocupada com o sumiço de Luísa, manda várias mensagens durante todo o sábado que não são nem visualizadas. Quando sai do hospital, resolve ligar. Tenta três vezes, chama até cair a linha. O ciúmes agora se mistura com sua preocupação. O resto da noite passa olhando o celular, Fabio nota e questiona:

– Algum problema com a Mari?

– Não por quê? – responde distraída.

– Porque você não para de olhar o celular, esperando algum telefonema do hospital? – Fabio diz irritado.

– Nada importante.

Helena tenta disfarçar durante o jantar com a família do marido. Janta em silêncio e só responde a algumas perguntas que lhe fazem. Quando se deita, sente seu marido a puxando para um abraço.

– Ai Fabio tô cansada, não tô afim. – tenta se soltar dos braços do marido.

– Lena já tem um tempão que não transamos, tô com vontade de você. – diz enquanto beija a nuca de Helena.

Ela deixa ser tocada, apesar de não sentir nenhum desejo. Os toque não a arrepiam, Fabio ao contrário, parece extremamente excitado. Ele faz alguns carinhos por seu corpo, beija o pescoço e seus seios. Quando ela tenta relaxar, ele a penetra. Ela sente mais desconforto que qualquer outra coisa. Sente que, de alguma forma, é errado. Ele goza. Ela chora silenciosa. Ele dá um beijo de boa noite, se vira e dorme. Ela olha para o teto. Quando percebe que ele pegou no sono, desce até a sala. Senta no sofá e abraça suas pernas, chora.



Notas:



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