Alpha Dìon — Agência de Proteção

Capítulo 19 — O Paraíso Chegou!

Após um ano isoladas, chegaram ao seu destino primorosamente planejado. Se tudo ocorresse bem, nunca mais precisariam se esconder.

Desembarcaram no atracadouro, apenas com alguns pertences pessoais em suas mochilas. Com o auxílio de Annan, haviam feito seus perfis na rede. Agora seriam Isolda e Helga Lobo, duas multimilionárias casadas e reclusas. 

— Vamos lá, Isa. Vamos ver se o que escondemos ainda está lá.

— Tudo parece inteiro. Não sei porquê depois do “evento da diversidade” não conseguiram vender para nenhum grupo de hotelaria.

O sarcasmo no tom de Isadora fez com que Helena sorrisse de lado. Todo planejamento das duas agentes, após a guerrilha, estava correndo como sempre desejaram.  A ilha “amaldiçoada” sempre interessou a alguns grupos hoteleiros, todavia, elas interferiam nas negociações a distância com uma ajudinha muito bem-vinda. 

— Você sabe se Margot já chegou?

— Sim. Deve estar no bunker. Sabe como ela é; vai “armar” toda a ilha com os firewalls que puder, antes de se sentir segura.

Caminharam pela praia, observando o abandono do resort. Nada estava muito danificado, fora alguns telhados de bangalôs que foram atingidos por cocos e a sujeira típica de locais sem manutenção. Chegaram à entrada do bunker e Isadora deixou que o sistema escaneasse sua íris. A porta se abriu e foram recebidas pelo cano de um rifle de assalto.

— Porra, Ária! Tira essa merda da minha cara!

Helena gargalhou e Ária e Margot a acompanharam no riso, vendo o susto estampar o rosto da ex-chefe. 

— Você estava por dentro disso, né, Helena? Deixa comigo. 

— Calma, amor! Foi só uma brincadeira. 

Helena abraçou a esposa que tentou se desvencilhar, todavia foi acalmando com beijos carinhosos. 

— Devo confessar que fui eu quem deu a ideia, chefe.

Margot se denunciou, ainda rindo e partindo para dentro do bunker, sem se importar com os impropérios ditos pela ex-chefe.

— Qual a primeira coisa que faremos?

Ária era prática e queria colocar o projeto em andamento.

— Primeiro, me digam como foi o planejamento da morte de vocês.

— Foi perfeito, Helena. Tivemos um enterro lindo patrocinado pela Alpha Dìon, com direito a salva de tiros e tudo.

— Agora fiquei com inveja… Vocês falaram que Zéfiro nem desenterrou a gente lá das cavernas.

— Não fica assim, chefinha. Se quiser, eu dou uns tiros pro alto em sua homenagem.

Isadora riu com gosto, mas continuou a caminhar na direção do salão do bunker.

— Deixaram tudo isso aqui?

A expressão de felicidade de Helena se espalhou pelo rosto das outras amigas.

— Sim. A Agência não teve muito tempo para recuperar a Ilha para o evento. Preferiram selar a porta para depois retornarem e limparem a área. Eu e Annan demos um jeito no sistema para que parecesse que a Agência já havia feito a limpeza do local. Detestaria que isso se perdesse em algum depósito empoeirado. 

— Você é maquiavélica, Margot. 

Não foi uma crítica para com a atitude da agente. Helena gostou do que a amiga fizera. Possibilitou que tivessem muitos equipamentos para restaurar os sistemas de proteção digital da ilha.

— Hoje vocês se consideram ricas?

A pergunta de Isadora pegou as amigas de surpresa. Não sabiam o que responder, visto que tinham bastante dinheiro acumulado ao longo de anos de trabalho. O que receberam por aquele trabalho maldito, que quase destruiu a estrutura da Alpha Dìon, foi muito bem remunerado. 

Elas não costumavam gastar o que recebiam, até mesmo, pelo tipo de vida que levavam. Foi um dos motivos que fizeram com que aceitassem a proposta das duas ex-chefes. A verdade é que agentes do setor privado tinham a ilusão de ter dinheiro. A maioria nunca conseguia gastar nada do que conquistavam.

— Sim… Depende de quanto dinheiro estamos falando.

— Estamos falando de muito dinheiro. — Helena esclareceu. — Dinheiro para realizar o que pretendemos e ficarmos bem o resto de nossas vidas.

— Acho que sim. Pelo menos, se juntarmos nossos soldos.

Ária continuava confusa, todavia respondeu à pergunta sem hesitar.

— Certo. Venham conosco.

A ordem de Isadora fez com que as duas ex-agentes reagissem seguindo-as. Elas caminharam em silêncio até a sala dos fundos e abriram. Tudo permanecia exatamente do jeito que lembravam de anos atrás. Mesa, sofá, refrigerador e o painel decorativo em uma das paredes. Uma barata correu para um canto, quando as quatro amigas entraram. 

O olhar de Helena corria por todo o lugar. As paredes estavam descascando e a porta do banheiro estava ligeiramente caída. Certamente. estava emperrada pela ação da umidade e do tempo. O odor do mofo era forte, fazendo as narinas irritarem. Margot espirrou.

— Está amolecendo ou não se previne mais contra alergias, Margot?

— Não tomei os antialérgicos. Qual é, Isa? Vinha me encontrar com vocês. Mortos não precisam de injeções. Odiava isso em nosso trabalho. 

Isadora estendeu os lábios num sorriso torto.

— Venham aqui e nos ajudem.

As ex-chefes se aproximaram do painel que tomava a maior parte da parede de fundo da sala. Afastaram o refrigerador e seguraram cada uma em um lado da placa decorativa, tentando retirá-la da parede. Ária foi a primeira a auxiliar na tarefa e logo depois, Margot ajudou Helena no outro lado. Aos poucos conseguiram afastá-lo da parede e a visão de uma porta de aço se formou. Ela também tinha um scanner de íris como fechadura.

— Presumo que encontraram isso naquele dia que se isolaram aqui para planejar a defesa da enseada.

— Por isso é uma boa agente, Ária. É uma boa observadora. 

Isadora respondeu, com um sorriso mordaz. Não gostou de saber que a agente tinha percebido a movimentação delas na época. Não por desconfiar dela hoje em dia, todavia, na ocasião, poderia ter sido uma falha fatal em sua segurança pessoal.

Helena colocou seu rosto com os olhos na direção do scanner e a porta destrancou.

— Quer dizer que quando eu nos habilitei no sistema para o bunker, nos credenciei para essa porta também? — Isadora sinalizou afirmativamente com a cabeça. — O que tem aí dentro? 

— Nossa garantia de podermos realizar nossos sonhos.

Helena escancarou a porta, mostrando o que seria um cofre deixado por Lewis e seus aliados da Agência. Não havia nada além do que duas pilhas de barras de ouro. Ária e Margot abriram a boca como se seus queixos tivessem deslocado da mandíbula.

— Vocês descobriram isso naquele dia?

— Exatamente, Ária. Quando vimos, sabíamos o que significava. 

— O que Helena quis dizer é que quando descobrimos esse ouro, sabíamos que seríamos ferradas e a confirmação de que Lewis é quem estava por trás de tudo.

— Por isso, pedimos para Annan destravar os satélites com urgência. Até que ela conseguisse, não tínhamos a menor esperança de sairmos vivas daquela bagaça que Lewis nos enfiou. Ela possibilitaria para nós acesso a Zéfiro e ele iria articular junto a Hakon e descobrir quem eram os traidores da cúpula.

— Zéfiro sabe desse ouro?

— Lógico que não! Isso é ouro de sangue.

— Está me dizendo que quando a equipe Gladiador ia para missões, Lewis negociava com bandidos?

Ária estava chocada.

— Lewis sempre foi um cretino ambicioso, Ária. 

— Ninguém sabe disso mais do que eu, Isa. Mas como ele fazia?

— Você nunca se perguntou por que Lewis só aceitava missões na África central ou no leste europeu? 

— Eu achava que era porque era um sádico, corno e safado. 

— E era. Depois que saímos daqui e quando pudemos acessar as redes, descobrimos que ele era um traficante de armas. Ele ganhava na Agência e ganhava no comércio ilegal de armas. Isso aqui — Helena apontou as barras de ouro — Foi o ganho dele de toda uma vida ordinária.

— E o que faremos com isso? Temos que devolver!

— Devolver para quem Margot? — Isadora questionou, incrédula. — Nossa Agência? 

— Vocês querem usar isso para…

— … para manter um santuário para os agentes que querem se desvencilhar da profissão e se aposentar. É isso que faremos exatamente aqui, nesta ilha. Não foi o que combinamos?

As quatro amigas se entreolharam e riram como crianças. 

— Sinceramente, não vejo destino melhor para esse ouro. Só tenho pena de ter matado aquele cretino tão rápido. — Ária gargalhou. — Dava uma barra dessas para ver a cara dele, sabendo no que iria se transformar o que ele faturou durante tanto tempo na vida criminosa… — ou melhor, não dava não. Ele tá melhor morto. 

Ela gargalhou novamente e as outras riram, gostando do que viam. Era raro verem Ária tão solta e feliz.

— E as outras? Quando chegarão?

— Jackie deve morrer essa semana. Urze daqui a um mês, junto com Liv. Baeta e Latife permanecerão na Agência mais tempo para não desconfiarem.

— Perfeito, meninas. Vamos limpar alguns bangalôs para nos instalarmos. Amanhã começaremos a reconstrução do nosso santuário. Hoje, só quero relaxar e tomar um banho de mar.

Elas saíram do bunker e escolheram seus aposentos. Desta vez, Helena e Isadora puderam escolher o bangalô mais próximo da praia para apreciarem a paisagem. A Ilha que outrora trouxe tanta morte, agora poderia ser vista com olhar de vida plena. Um sonho talvez, contudo, não esmoreceriam e lutariam pela felicidade e harmonia.

Isadora acordou de um cochilo e não encontrou Helena ao seu lado. Tinham trabalhado a manhã inteira para recuperar o bangalô que seria sua casa permanentemente. Comeram sanduíches e outras bobagens para conseguirem descansar.

É incrível como percebo a ausência dela ao meu lado. 

Ela pensou, apreciando a sensação. Não era algo que a sufocava como outrora, apenas uma saudade prazenteira e acolhedora. Levantou-se e colocou o biquíni, uma regata limpa e a bermuda cargo. Depois, pegou o arpão de pesca e o snorkel. Intuitivamente sabia onde encontrar a esposa.

Assim que saiu pela porta da frente do bangalô, viu Helena sentada sobre uma canga, apreciando o mar, olhos perdidos nas ondas e horizonte. Não se importou com o barulho de seus passos na areia. Sabia que não pegaria a esposa de surpresa. A veia pulsante de agente nunca deixaria suas almas e seria inútil a tentativa de pegá-la desprevenida.

— Não conseguiu dormir?

— Cochilei um pouco… — Helena olhou para cima, quando a sombra de Isadora cobriu o sol. — O que vai fazer?

— Pegar uns peixes para o nosso jantar. 

Helena sorriu para a esposa e se levantou, ficando ao lado dela. Continuou a sua contemplação das ondas mansas lambendo a areia.

— Se quiser pegar algum peixe, se apresse, porque eles vão se esconder em breve para dormir.

— Peixe dorme?

— E eu que sei, Isa? — Helena sorriu sem ânimo. — A minha vida toda fui treinada para proteger pessoas e isso sei fazer muito bem. No final, tive que matar pessoas. Já os peixes, comecei a conhecer só recentemente.

Isadora passou o braço pelos ombros da esposa, beijando a sua cabeça. Deixou que seu olhar vagasse na paisagem como ela.

— Você só matou para nos proteger e, agora, vamos proteger o nosso pessoal.

Fim!



Notas:

Essa é a nossa despedida e por isso venho agradecer imensamente a tod@s vocês; leitoras, comentaristas, revisoras e minha esposa!

Embora o tempo e as atribulações não permitissem que eu tivesse uma escrita mais ligeira, ao ponto de postar uma vez por semana, foi muito prazeroso.

Meu mais profundo agradecimento e até a próxima!




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7 Respostas para Capítulo 19 — O Paraíso Chegou!

  1. oieee, Bi!!!! Tudo bem??
    Eu ótima!!
    Nossa demorei muito, eu sei!!! sorryyy!!!

    Primero , parabéns super atrasado!!! Que vc esteja com saúde, sua vida esteja boa junto com sua amada esposa!!!! Desejando sempre o melhor!!!

    Cara, amei a estória! Li o resto hoje, me atrasei, mas cheguei!
    Que guerra maravilhosa e o final, uau!!! ameiii!!!

    Estou atrasada, mas sou gaiata e vou pedir logo uma nova estória!!! Como amo sua escrita , não tenho com o que me preocupar, amarei o enredo e lerei com gosto!!!!;!

    Saudades TB!!

    Deixo um beijo muito grande, adorada amiga!!!!

  2. Maravilhoso como sempre. Tudo que tu escreveu é marcante e perfeito

    Esperando a sua próxima inspiração bater com tudo e nos mostrar uma nova obra

    Vlw Carol, até próxima

    Bjs e uma ótima semana pra vc e sua família

    • Oi, Blackrose!
      Então, eu estou resgatando uma história antiga para postar, mas é uma fanfic da Xena. Espero que goste. Já estava para postar ela há muito tempo, mas adiava. Vou ter que revisar primeiro.
      Obrigada pelo carinho de sempre, blackrose!
      Um grande abraço para você!

  3. Olá, bom dia, tudo bem?

    Belo conto. Como sempre, bem escrito. Esperemos pela próxima história que, tenho certeza, será tão boa quanto essa!
    É isso!

    Post scriptum:

    ”Aprenda a guardar os seus sonhos em silêncio, porque o barulho que eles fazem incomoda muito quem não torce por você.”

    • Oi! Tudo bem, Kasvattaja Forty Nine. E você, como está?
      Obrigada pelo carinho e pela leitura!
      Então, vou tentar resgatar uma história antiga, mas ela é uma fanfic de Xena. Se tudo correr bem e conseguir ajustar o primeiro capítulo, talvez semana que vem comece a postar.
      Embora muita gente não tenha assistido o seriado, de qualquer forma, é uma aventura e que fala do grande amor delas. Espero que goste.
      Mais uma vez obrigada, Kasvattaja Forty Nine!
      Um abração!

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