Caminhos em Dias de Luz

Caminhos em Dias de Luz

Texto: Carolina Bivard

carolinabivard@gmail.com

Revisão: Nefer

Ilustração: Táttah Nascimento

Capítulo 9 — Conforto

Os olhos de ambas se fitaram e Alesha percebeu o eto no olhar de Laura. Deixou que Naomi as apresentasse. Não sabia se podia dizer naquele momento, que tinha conhecimento do papel de Laura na empresa. Percebeu seu erro. Agora, ela não poderia mentir para Laura, já que ela as havia visto no restaurante.

— Alesha, essa é Laura, chefe do departamento jurídico. Eu já havia falado sobre ela para você, lá no restaurante. Lembra-se? Você disse que já se conheciam de passagem de outro lugar, não sei onde. Então, acho que vocês não precisam de apresentação formal, não é?

Naomi sorria de uma forma tão natural, que até Alesha era capaz de acreditar que conhecia Laura apenas de passagem.

“Deus! Naomi é um anjo!”  — Pensou Alesha.

— É. Foi… Como vai, Laura?

Alesha estendeu sua mão para cumprimentá-la.

Laura estava estarrecida. Não sabia o que pensar. Laura estendeu a mão visivelmente constrangida.

“Pelos céus! O que Alesha contou para Naomi e sei lá mais para quem?”

— Como vai, Alesha?

— Bem, e você?

Suas mãos se tocaram em um contato macio, porém a mão da morena recebeu a mão de Laura com segurança, num aperto que não deixava a loira se esquivar. Sentiu a textura suave e seu corpo reagiu imediatamente ao toque. Estremeceu, mesmo querendo conter sua ansiedade. Sentiu que Laura estava da mesma forma, e retirou a mão tentando manter a compostura.

— Por enquanto, bem. Daqui a algumas horas, não sei…

— Algum problema sério? — Naomi perguntou. — Podemos ajudar?

Laura sorriu para Naomi.

— Agradeço, mas nem eu mesma posso ajudar a resolver esse problema agora…

Laura sentia a sinceridade e preocupação da mulher que mal conhecia, entretanto, já lhe agradava.

— É algo em relação à reunião de diretoria de hoje?

Perguntou Alesha, quase rezando para que Laura falasse que sim. Repreendeu-se mentalmente. Estava sendo egoísta e com a mulher que estava passando um aperto no trabalho, mas na realidade, queria que não fosse nada relacionado a si.

Laura a olhou, interrogativamente.

“O que as pessoas sabem sobre essa reunião”?

— Você conhece uma coisa chamada “rádio corredor”, Laura?

Alesha falou, sorrindo, ao perceber que Laura se etou diante de sua pergunta. Continuou sorrindo e acrescentou suave e simpaticamente.

— Quando você começar a andar pelos corredores da empresa, vai ouvir todo tipo de notícias… Aquelas de rádios fofoqueiras que são maldosas e sempre colocam uma intriga no ar em relação às pessoas que trabalham aqui; aquelas de rádios informativas que levantam suspeitas sobre o que anda acontecendo nas esferas superiores da direção; as chamadas rádios paparazzi, que investigam a vida particular das pessoas, só para colocá-las em alguma saia justa. Ainda tem aquelas tipo jornal de última hora, que dão a notícia em primeira mão e não sabem bem o que está acontecendo… 

Laura sorriu, pois entendia bem o que Alesha estava tentando explicar. Sabia que, em uma empresa como aquela, as pessoas ficam ligadas o tempo todo e comentam de tudo.

— E a reunião chegou através de qual delas?

— Rádio tipo jornal de última hora! – Alesha e Naomi falaram ao mesmo tempo.

As três caíram na gargalhada, deixando Laura mais descontraída, porém, seu coração continuava acelerado. Estava tão perto de Alesha que sentia seu perfume, seu cheiro.

“Deus! Tudo nela é maravilhoso!”

Sentiu uma felicidade infinda, pois, apesar de saber que não podia misturar as coisas, estava ao lado da mulher que mexeu com suas estruturas e inspirava fantasias. Nem com sua primeira namorada havia sentido tanto prazer em apenas estar ao lado.

Naomi observava a tudo com atenção e resolveu atuar para que as duas tivessem mais algum tempo juntas. Percebeu que a carranca que se estampava constantemente no rosto de Alesha, não dava o menor sinal.

“Essa garota faz bem a Alesha”. Sorriu mentalmente.

— Vamos começar a nossa excursão? Mostrarei o departamento de RH, sei que não sou a mais indicada, todavia nosso chefe não se encontra, contudo trabalho há alguns anos aqui e creio que posso te dar uma noção. Alesha também conhece o departamento como a palma de sua mão e poderá dar algumas explicações, caso eu não lembre algo.

Pegou o braço de Laura e foi rebocando a baixinha, antes que ela pudesse se esquivar. Laura sentiu que não poderia ser indelicada com Naomi, tamanho o empenho dela em ser prestativa e a acompanhou, com Alesha caminhando ao seu lado.

Mostraram a sala delas, pois as duas eram administradoras e cuidavam dos trâmites e da interrelação entre o jurídico e a contabilidade. Passaram pela sala dos contadores; era enorme e tinha inúmeros postos de trabalho, mas a maioria estava conversando sem atividade. Laura observou e Alesha acompanhava seu olhar, intuindo o que a loirinha pensava.

— Normalmente, essas pessoas não têm nem tempo de respirar. Mas alguém, eu não sei bem quem, resolveu fazer uma sindicância no jurídico, o que sucedeu na parada de demissões e contratações da empresa. Eles devem estar pensando que a próxima leva de demissões será deles…

— Não! Não é isso!

Laura falou, alarmada. Alesha e Naomi riram.

— Laura, a Alesha está mexendo com você. Nós sabemos que não é isso; sabemos que quando alguém novo entra em um cargo como o seu, tem que averiguar tudo. Não pode simplesmente assumir e tomar como certo o que estava sendo feito antes. Se estiver bom, tudo bem, mas você vai poder continuar dali, sabendo que estava tudo bem e ainda melhorar o departamento. Caso esteja ruim, tem que fazer do seu jeito, tem que tentar melhorar.

Laura cruzou os braços se virando para Alesha e estreitando os olhos, mas com um ar manhoso. 

— É isso mesmo? Você tá a fim de me deixar sem graça?

Alesha olhou o teto e depois olhou diretamente nos olhos de Laura, elevando sarcasticamente uma de suas sobrancelhas.

— Sim e não. Sim, pois eu queria mexer com você e não, pois eu não acho que você fique sem graça à toa…

O tom de Alesha era irônico. Era para provocar a loirinha mesmo e parecia que as duas estavam se soltando e se entrosando. Naomi percebeu o clima entre as duas e quis dar uma chance à amiga.

“Ela merece uma chance para clarear essa sua escuridão”…

Naomi discretamente acionou o seu celular, como se tivesse recebido uma ligação, pediu licença e se distanciou como se estivesse falando com alguém.

Laura ficou sem graça, mas adorou a forma como Alesha a abordava. Deixava-a leve, tranquila. Sentia uma paz inexplicável ao lado dela. Era quase como um sentimento de proteção, mas tinha “aquela pegada” também. Nesse momento, nem a imagem daquela mulher pendurada no pescoço dela passava por sua cabeça. Sorriu e disse suavemente.

— Sabe o que eu acho? Vou ter que me mostrar mais para você, pois a sua percepção a meu respeito está um pouco distorcida. Eu posso ser uma pessoa reservada, mas também posso ser desinibida também. Depende muito da situação…

Olhou intensamente para os olhos de Alesha, sabendo que a morena podia ser irônica, todavia, também era muito na dela. Alesha a encarou surpreendida com a resposta entretanto, já maquinava a réplica. Nesse momento, o celular de Laura tocou e ela pediu licença para que pudesse atender.  Afastou-se.

Naomi retornou quando viu Laura falando com alguém ao telefone. Chegou perto de Alesha que se encontrava com um sorriso bobo no rosto. A morena era mais alta que Naomi e, quando ela se aproximou, olhou de rabo de olho ligeiramente para baixo reparando que Naomi ria dela.

— O que foi?

— Com sinceridade? Nunca vi essa cara boba em você!

— Qual é? Vai me sacanear?

Apesar de tentar fazer cara de aborrecida, Alesha não conseguia esconder sua felicidade para Naomi. A amiga, assim como Fernanda, conseguia baixar suas barreiras. Laura desligou e se aproximou com o semblante pesado.

— Tenho que ir. Obrigada por me ciceronearem, mas tenho que voltar ao departamento agora.

— Sem problemas.

Alesha falou um pouco preocupada com o jeito rígido que Laura assumiu.

— Não se preocupe, se quiser vir tomar um cafezinho para relaxar, estamos até às cinco horas da tarde. Já sabe onde é nossa sala.

— Obrigada, Naomi. Qualquer hora virei sim.

Laura se despediu das duas e se encaminhou para o corredor dos elevadores. Alesha  observava-a se afastar preocupada. Naomi chamou a morena para a sala.

— Calma, Alesha. Ela sabe o que está fazendo.

— Eu sei que ela sabe, mas essa gente é que não sabe. Naomi… Obrigada!

— Depois do que você me contou, eu sabia que você iria se encrencar com ela, se Laura percebesse que você tinha conhecimento sobre ela ser a nova diretora do jurídico, principalmente depois de nos ter visto no restaurante.

— Eu gelei naquela hora, mas você foi ótima! — Alesha sorriu. — Bem, e para provar que você é uma mulher muito inteligente, vai me ajudar a descobrir onde ela mora e qual o número do telefone dela.

Alesha fez uma cara de cachorro abandonado para a amiga, provocando-a.

— Não pode ser descobrir só o carro que ela tem?

— Qual é, Naomi? Isso é fácil! Isso eles deixam na ficha para qualquer problema que aconteça no estacionamento.

Alesha parou de falar com um sorriso bordando seus lábios.

— O que foi?

Naomi olhava para ela, pois estava com uma cara, terrível, de que iria aprontar. Alesha abriu a ficha de Laura e lá estava.

— Um carro econômico comum?!

— Qual o problema?

— Nenhum. Mas é que… Bem eu estava esperando um 4×4, ou um desse importados, ou qualquer outra coisa assim… Não é que eu não ache legal um carro simples, mas o próprio Lacerda tem um desses grandões 4×4. Sabe essas coisas de chefes ou diretores? Eles nunca têm um carro comum, sempre “um carro”.

— Vai ver ela não gosta de exibicionismo…

Alesha sorriu.

— É. Ela não gosta.

Alesha continuou sorrindo.

— Eu não falei disso sua boba. – Naomi ria também. – Engraçado… Você nunca falou dessas coisas comigo. Deve estar gostando dessa garota mesmo!

— Naomi, quando ela chega perto de mim, meu corpo todo treme. Eu “tô” até me estranhando, não sei o que ela tem, mas eu te digo uma coisa; ela não sabe ainda que irá se apaixonar por mim. Eu sei que é meio machista isso que eu tô falando, mas eu a quero só para mim…

— Uau! A loirinha é poderosa mesmo!

— E ela nem sabe como!

Nota: Atrasei um pouquinho, mas aí está o capítulo extra, como prometido! Tentando aliviar o tempo da quarentena com leituras!  😉 

Beijão pra vocês!