Caminhos em Dias de Luz

Capítulo 7 – Encontros e mais Descobertas

Caminhos em Dias de Luz

Texto: Carolina Bivard

carolinabivard@gmail.com

Revisão: Nefer

Ilustração: Táttah Nascimento


 

Capítulo 7 – Encontros e mais Descobertas

— Naomi, por que a ficha dela está incompleta?

— Como assim incompleta?

— Não tem endereço, não tem telefone…

— E por acaso você não sabe que a chefia e os diretores não têm essas informações na ficha! O contrato deles fica no jurídico e não aqui. E por sinal, no jurídico, quem cuida disso é o Dr. Amino. Engraçado, não queriam o cara para nada e é o único em quem eles confiam para ter essas informações.

— É lógico. A raposa não quer que a outra raposa vigie sua toca. Ela não deve ficar dando as caras por aí, né?

— E o que te interessa?

Naomi percebeu que os olhos de sua amiga brilhavam ao ver a ficha da chefe do jurídico. Nunca tinha visto Alesha se interessar por questões das esferas superiores em seu trabalho. Tão pouco a vira de olhos vidrados e querendo saber de qualquer pessoa que fora contratada pela empresa. Havia alguma coisa ali, mas Naomi sabia que a sua amiga era muito reservada e que se ela perguntasse, Alesha se esquivaria. Aprendera aguardar o tempo da amiga; uma hora ela falaria.

— Nada! Só curiosidade, afinal, não é todo dia que alguém “mexe” no ninho de vespas lá de cima, né?

— Bom, Alesha, vamos trabalhar porque é o melhor que podemos fazer agora.

— Você tem razão; daqui a pouco isso aqui vai bombar.

— Errou novamente, minha amiga. Depois que isso tudo começou, parece que tudo está tão instável lá em cima, que as demissões e contratações estão quase a zero. Parece que eles estão com medo de mexer em mais coisas, pois a dona Laura pediu uma sindicância para ver por que a empresa tinha uma quantidade tão grande de processos trabalhistas.

Alesha olhou para Naomi, não acreditando.

— Como é que é? A empresa se avaliando?

Naomi apenas sorriu e foi para sua mesa. Sabia que Alesha iria se impressionar. Era uma de suas críticas constantes no trabalho. Alesha retornou o assento de sua cadeira para olhar novamente a tela do computador. Tinha o coração acelerado e, apesar de ter gostado das notícias, estava nervosa por ter a possibilidade de encontrar Laura pelos corredores.

Está certo que Laura trabalhava em outro andar, todavia, mais cedo ou mais tarde acabariam se esbarrando e, a julgar pela última vez que se encontraram, era capaz da loirinha querer vê-la pelas costas.

“Não. Isso não faz o feitio dela. Ela não parece do tipo que mistura vida pessoal com trabalho. Mas será que eu não gostaria que ela misturasse sua vida pessoal com a minha? Bem, isso é o que eu gostaria. A hora que ela souber que eu trabalho aqui, vai querer é se afastar de mim, senão, coisa pior. Droga! Tanta mulher no mundo e me atraio logo por uma loirinha enfezada, com um nome de família e… Gostosa!”

Alesha balançou a cabeça sorrindo, louca para encontrar Laura pelos corredores, ao mesmo tempo, receosa com o encontro. Fechou o arquivo de Laura e começou a se inteirar de seu trabalho. 

Passaram-se três dias e as coisas na empresa estavam cada vez mais tensas, por conta do seu chefe estar inseguro e de extremo mau humor. Parecia até que a sindicância no jurídico mexia com ele. O senhor Serrão visitou o departamento para falar com seu chefe, pessoalmente, e isso provocou mais fofocas, pois nunca a diretoria passava por lá. O diretor do departamento era o Castelão e, quando este soube da visita do Serrão,  trancou-se horas com o Lacerda e depois saiu com uma cara de “quem comeu e não gostou” e o Lacerda com a cara branca que ele só.

A empresa estava em uma crise e Laura estava no meio, sendo apontada por todos como a provocadora da situação.

“Ela deve estar passando uma barra…”

Os pensamentos de Alesha estavam distantes e, cada vez mais, ela se convencia de que tinha que ir falar com Laura. Percebia que a situação estava como uma caldeira quente e desconfiava que, a hora que estourasse possivelmente, iria explodir na recém-chegada.

“Mas como eu vou me chegar? Bato na porta dela e digo: Oi, Laura! Tudo bem? Você não sabe, mas eu trabalho aqui e estou feliz que mudanças aconteçam, mas estou super preocupada com você, pois as fofocas estão fortes e tem um monte de gente insegura atribuindo toda essa confusão a você. Hum, não. Isso não vai dar. Bem, eu posso rondar o setor e me esbarrar “sem querer” com ela… Que droga! O que é que eu faço? Estou louca para vê-la e não adianta dizer que é pelo trabalho, porque não é! Mais ou menos… Também pelo trabalho…”

— Droga!

Dessa vez, Alesha se expressou em voz alta e se voltou alarmada para Naomi que a encarava.

— Vai contar o que está te atormentando, desde que voltou das férias, ou vai continuar tentando disfarçar o que não consegue?

Alesha encarou Naomi indecisa e resolveu que, falar com alguém, poderia ajudá-la a encontrar uma solução.

— Está bem. Porém, você vai ter que jurar por você mortinha que não vai falar com ninguém! Ninguém mesmo!

— Agora você tá me ofendendo. É assim que você confia em mim?!

Alesha olhou para ver se tinha alguém por perto e falou quase sussurrando.

— Está bem, mas não vou contar aqui. Você almoça comigo no restaurante a peso da outra quadra?

— “Tá” legal! Eu vou, mas… O que “tá” acontecendo é grave?

Naomi falou baixo também, estranhando a atitude de Alesha.

— Não sei se é grave; você é que vai me ajudar na situação. 

As duas riram ao mesmo tempo, pois trabalhavam em uma sala separada só delas e cochichar não fazia o menor sentido.

Saíram para o almoço e, já no caminho, Alesha começava a contar sua história desde o dia em que encontrara Laura na boate a primeira vez. Ao final do almoço, Naomi já estava a par de tudo e de boca aberta.

— Quer dizer que a nova chefe do jurídico…

— Ahã.

— Que você e ela…

— Ahã.

— Que você tá caidinha…

— Ahã… Quer dizer… Ei! Caidinha, não!

Naomi gargalhava da amiga. Nunca a tinha visto contando algo com tanto entusiasmo e nem com os olhos brilhando tanto. Alesha ficou vermelha de vergonha e Naomi só balançou a cabeça.

— Bem, vou dizer o que eu acho. Não sei se, na vida pessoal, ela é essa coisa toda meiga que você falou, mas no profissional…

— … No profissional, o quê?

— Quando eu estive lá, ela foi muito bem educada, entretanto passava uma segurança e uma imponência que ela só. Não parece o tipo de pessoa que mistura as coisas. Não ache que quando ela ver você na empresa, vai ser sorrisos, não. Acho que ela pode não te prejudicar, pois parece o tipo de pessoa correta, só que vai querer manter distância. Além do que, mulher desprezada é o cão viu! Esse papo dela te ver com outra mulher pendurada no seu pescoço…

— Acontece que eu não tinha nada com ela; e foi ela que fugiu de mim no primeiro dia!

— Tudo bem, mas você disse que, quando ela esbarrou com você, ela até te olhou com certa ternura; entretanto, quando viu a fulaninha, quase te atropelou. Isso é atitude de mulher desprezada. Você mesma disse que deu uma avançada, quando você estava com ela na boate. E se ela não for desse tipo “conheceu, vai pra cama”?

— Ela podia ter me brecado, dado um toque; não fugir como o diabo foge da cruz.

— Tudo bem, mas na segunda-feira, ela estava aqui de manhã bem cedo já assumindo o cargo. Ela não mentiu para você. Falou seu verdadeiro nome, disse que tinha que acordar cedo para se inteirar do trabalho, pois começaria na segunda-feira.

— E saiu correndo sem deixar nenhum telefone.

— E você tentou passar a mão em tudo que foi lugar dela. E ainda chamou pra uma “trepada”.

— Ei! Não foi assim!

— Tá! Tá! Chamou sutilmente para saírem dali e ir transar. Tá melhor assim?

— Você é terrível! De qualquer forma, ela não precisava sair correndo!

— Ok! Hoje em dia a galera tá mais solta. Mas você mesma disse que ela tinha um jeito diferente de agir, de se portar, não era como as garotas que você estava acostumada a ver por aí. Palavras suas. E isso que te chamou a atenção! Sabe que agora estou me tocando numa coisa? Isso é machismo da sua parte, sabia?! 

Alesha revirou os olhos, fazendo cara de enfado, todavia, lá no fundo, estava gostando da forma com que Naomi expunha seu ponto de vista.

Nesse momento, entravam no restaurante Laura, Amalie e Dr. Amino. Os olhos de Laura foram atraídos quase que, magneticamente, para a mesa no fundo do restaurante e se fixaram em um par de olhos azuis a fitando, insistentemente.

Laura estreitou o olhar e percebeu imediatamente a outra pessoa ao lado de Alesha. Meneou sutilmente a cabeça para cumprimentar a funcionária do RH, que havia levado uma documentação para ela e voltou a prestar atenção na conversa dos seus companheiros de almoço.

— Agora ela já sabe.

— Não, não sabe. Sabe que eu te conheço.

— E você acha que ela não é, suficientemente, inteligente para imaginar que eu viria almoçar com uma companheira de trabalho, perto da empresa?

— Ela pode pensar que eu viria almoçar com alguém que está comigo e que trabalha na mesma empresa que ela.

Alesha elevou sua sobrancelha e sorriu de lado para provocar sua amiga.

— Sua cachorra, você está querendo provocá-la comigo! E como eu fico?

Alesha sorriu.

— Só um pouquinho… Quero ver como ela se porta; “me ajuda”, vai! E depois ela é do jurídico, sabe muito bem que não pode fazer retaliação assim, sem mais nem menos. — Alesha sorriu para a amiga.

Naomi balançou a cabeça em negativa, sorrindo.

— E se depois, eu for mandada embora sem mais nem menos, quem prova que foi retaliação? Além do mais, só eu e você sabemos que você e ela tiveram alguma coisa.

— Fernanda e Sheila também sabem.  Você acha que ela faria alguma coisa?

Alesha perguntou a amiga com preocupação. Queria provocar Laura, mas não queria comprometer a amiga.

Naomi olhou discretamente o grupo e voltou-se para Alesha.

— Posso estar enganada, afinal de contas me enganei com meu ex-marido, não foi? Não acho que ela misture as coisas. Já falei isso. Não sei por que, mas ela me inspira confiança…

Naomi olhou novamente para o grupo e divagou.

— OK! Vamos embora. Nós temos ponto para bater e eles, não..

As duas se levantaram, sob olhares discretos de uma Laura empertigada com a situação.

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Depois de um final de sexta-feira triste para Laura, a semana começava com tudo. Havia pedido uma sindicância no departamento por conta de diversos processos que havia levantado com Dr. Amino e a demissão da antiga secretária e mais dois advogados, que reverberou nas esferas superiores, sendo aplacada por Amalie. 

Senhor Serrão queria a cabeça de Laura em uma bandeja, como a própria Amalie contou. Amalie tinha dito na reunião de diretoria que Laura tinha seu aval, para colocar quem fosse de sua confiança no cargo de secretária e demitisse quem achasse incompetente. Lógico que tinha sido contestado por Serrão. Entretanto, o presidente Arrais havia dado autonomia para Amalie e interpelou a seu favor. Afinal, quem chefiava tinha a direito de ter a secretária que lhe aprouvesse e ter comandados que achasse que fossem os melhores. 

Os ânimos estavam exaltados, mas Sr. Arrais estava irredutível. Tinha decidido na última reunião deixar que Amalie cuidasse do seu departamento e era um homem de palavra. Não voltaria atrás. 

Serrão estava imbuído de uma raiva insana e preocupado, pois não tinha mais informações diretas do departamento jurídico. Não sabia se deveria pedir, ou não, para Queiroz entrar na justiça contra a empresa.

Tinha essa “carta na manga” para qualquer eventualidade e acusar Amalie de ter levado a empresa a esse desfecho, alegando que desconhecia as atividades de Queiroz; mas, um dia depois da demissão de Queiroz, houve a demissão de Zuleide, a elevação do cargo do Dr. Amino e a supressão das atividades do jurídico, deixando-o sem qualquer alternativa.

Claudio e Alvarez também haviam sido demitidos e ele estava à margem de qualquer informação que viesse da chefia. Entrou em contato com o chefe do RH. Conversou com Lacerda, mas esse foi mais um erro seu, pois Castelão se sentiu preterido e interferiu não admitindo que o diretor de outro setor viesse se intrometer em seu departamento. Precisava parar e pensar com calma.

Laura trabalhava incessantemente com Sr. Amino, para entender os trâmites abordados pela empresa em relação às demissões e fazia um mapa dos custos, causados por uma administração predadora e que empurrava as causas trabalhistas para a dimensão jurídica. Era uma temeridade o que faziam, pois todos os empregados eram demitidos sem quase nenhum direito ressalvado e todos, invariavelmente, acabavam por entrar legalmente contra a empresa na justiça, requerendo seus direitos.

Uma semana e meia depois, haveria uma reunião em que Amalie foi convocada para prestar alguns esclarecimentos, pois os ânimos na empresa estavam à toda e, os boatos e conversas a respeito das novas diretrizes, estavam causando fofocas e inseguranças entre os  empregados. 

Sentia-se segura com todas as informações que eram passadas por Amino e Laura, mesmo assim, tinha que se resguardar para a reunião. Foi almoçar com eles para se colocar a par da situação e encarar a diretoria na reunião, sem receios.

Assim que entraram no restaurante, Laura sentiu um frio percorrer sua coluna, como se alguém a estivesse espreitando. Correu os olhos, indiferentes, pelo ambiente e chocou-se com o olhar que povoava seus sonhos, desde duas semanas antes.

“Deus! Isso não é o que eu estou vendo logo agora!”

Reparou na mesa e viu que uma funcionária da empresa acompanhava Alesha. O ciúme a corroeu.

“Sempre acompanhada de uma mulher. Bem, a sua amiga Fernanda me alertou, não?!”

Acenou para a funcionária educadamente e recebeu um sorriso em troca. Não havia uma intimidade sensual ali, entre elas.

“Isso é o que eu quero achar, não é?”

Voltou-se para a conversa entre Amalie e Amino, entretanto, não conseguia relaxar. Percebeu quando as duas saíram e, aí sim, conseguiu minimamente concentrar-se na conversa, todavia seu pensamento estava perdido em olhos azuis profundos e extremamente sensuais.

“Que droga de mulher! O que ela tem para me deixar assim?!”


Nota: Sei que uma vez por semana é chato, mas não gosto de postar sem revisar e às vezes toma tempo. Quando der para postar mais, eu soltarei capítulos extra, ok pessoal?



Notas:



O que achou deste história?

10 Respostas para Capítulo 7 – Encontros e mais Descobertas

    • Oiee!
      Eu não sou uma pessoa egoísta, mas vc postar 1 vez por semana tá sendo bom pq tá difícil ler por várias razões, aí n junto tantos caps…Mas aos poucos vou lendo!!
      Laura morta de ciúmes…n lembro exatamente a parte do romance delas, porém, os problemas da empresa sim!!!:)
      Beijoss na sua linda alma!!

    • Oi, Lailicha!
      kkkk Ora, então o que é ruim pra uns, pra você está legal! rsrs
      Eu acho que sei porque se lembra dos problemas. É porque… Ops, não vou dar spoiler. rs Deixa pra lá. rs
      Um beijão na sua alma linda também, Lailicha! Espero que aí na Argentina esse corona vírus não esteja fazendo estragos. Se cuide e à sua esposa também, viu?

  1. Gata, que confusão! kkkk a Alesha tá fod***. kkkkkk
    Poxa, sei que quer colocar tudo bunitinho, gosto, massss me deixa na maior agonia.kkk
    Manda ver carol que tá bom demais
    bj

    • Olá, Meg!
      kkkk A Alesha não sabe o que fazer. Está na maior saia justa! kkkkk
      Sei que está em doses homeopáticas. Vou tentar adiantar uns extra. Como disse antes, só não prometo. rs
      Obrigadão, Meg.
      Beijão!

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