Caminhos em Dias de Luz

Capítulo 31 – A Agente

Capítulo 31 – A Agente

Texto: Carolina Bivard

carolinabivard@gmail.com

Revisão: Nefer

Ilustração: Táttah Nascimento


O jato que levava a equipe da Interpol para Lyon já estava há mais de três horas no ar. Era relativamente grande para um jato e tinha algumas cabines com pequenas camas na parte de trás para acomodar os passageiros. Laura estava apreensiva, mas queria tentar dormir um pouco. 

— Amor, eu gostaria de ir dormir.

Alesha sabia que estava sendo uma grande pressão para Laura ir a esse julgamento.

— Ei, baixinha! Não quer comer algo? Eu vou pegar alguma coisa pra gente, antes de nos deitarmos. — Não esperou que Laura respondesse, já se levantando da poltrona.

— Não estou com fome. Estou um pouco enjoada…

— Você?! Está bem. Vá para a cabine. É a última do corredor à esquerda, logo estarei lá.

Laura se levantou e foi deitar-se. Alguns minutos depois, Alesha aparecia com uma canja quente nas mãos. 

— O recipiente é descartável, mas a canja quem fez foi a Constância. Pedi autorização para trazer a bordo. Sei que você gosta dessas sopinhas sem graça dela.

Laura sorriu, pois sabia que Alesha adorava a comida de Constância e estava mexendo com ela. 

— Vem cá. Vamos dividir essa sopinha sem graça, então!

XGXGXGXG

Chegaram à Lyon e foram direto para o hotel. Descansariam e dali a dois dias seria o tão odioso julgamento. Doía a Alesha ver “sua pequena” passar por tudo isso, mas Laura parecia tão segura, tão resoluta… 

“Sei que ela está se roendo por dentro. Droga! Ela não tem que vestir essa máscara para mim”…

— Laura… — Alesha chamou sua atenção, segurando seu rosto. — Sei que não está sendo fácil para você…

— Alesha, por favor. Eu estou realmente quebrada por dentro, mas nada me demoveria de fazer o que devo fazer para colocar esse monstro na cadeia por um bom tempo. Pelo que Naomi me falou, não poderá pedir liberdade condicional. 

— Você sabe que estamos com vigia em todo o hotel. Sabe que isso é porque você pode sofrer…

— Represálias, atentados. Não importa, mesmo sem mim, a Interpol teria ainda muita coisa contra ele, não acredito que venham atrás de mim. Contudo, pode deixar que ficarei esses dois dias aqui, a seu lado, quietinha e com muito prazer!

Olhou Alesha intensamente e foi correspondida pela morena com um suave beijo na cabeça.

— Então vá tomar um banho que vou verificar algumas coisas com uns agentes que estão de plantão. Depois que eu voltar, nós comemos alguma coisa e assistimos a um filme, está bem?

— Está bem. Pode ir desempenhar o seu papel de agente hiper ultra secreto! – Laura sorriu. — Vou ficar quietinha esperando.

Alesha balançou a cabeça, sorrindo com a brincadeira, pegou sua Glock e colocou no coldre preso ao cós da calça em suas costas.

— Já volto. – Deu um beijo nos lábios da loirinha.

Em seguida, Alesha saiu e ligou para o número de celular que Naomi havia comprado no aeroporto.

— Estou indo até à sala de vigilância. O que esses agentes sabem a respeito de Laura?

— Acredito que não muita coisa. Você sabe que é de praxe, só os agentes responsáveis são avisados do teor da segurança nesses casos, mas ninguém é idiota. Todo mundo já deve ter ligado Laura ao julgamento. 

— Isso que me preocupa. O depoimento dela é só uma parte do processo. Mesmo que ela não deponha, nós temos muita coisa contra ele. Nós sabemos, mas a maioria não sabe. Isso aumenta muito o risco de atentado. A gente sabe que, mesmo na nossa área, muita gente pode ser comprada…

— Você está paranoica, Alesha. Se você está insegura, volta para o quarto que eu falo com o pessoal da segurança.

— Não! Eu gosto de olhar nos olhos de quem está conduzindo as coisas. Faça um favor para mim, Naomi; ligue para o quarto e pergunte para Laura o que ela quer comer. Faça o pedido e acompanhe.

— Ok. Já vou ligar.

Alesha se encaminhou para a sala de vigilância. Havia dois agentes na frente da porta fazendo a segurança. Identificou-se e eles deram passagem. Entrou e observou vários monitores mostrando imagens de câmeras espalhadas pelo hotel. Viu um homem de pé, olhando os monitores atrás de outros que estavam sentados.

— Bonjour, monsieur. (Boa tarde, senhor).

— Bonjour, mademoiselle Mansur.(Boa tarde, senhorita Mansur).

— Tout est calme? (Está tudo calmo?)

O homem desprendeu os olhos das telas e olhou-a com simpatia.

— Dans le calme le plus parfait. Permettez-moi de me présenter. Je suis responsable de la sécurité d’Interpol à Lyon. Je m’appelle M. Lefevre. Je vais te rendre un peu plus détendu, car si j’étais à ta place, je serais aussi en détresse. (Na mais perfeita calma. Permita que me apresente. Sou o chefe de segurança da Interpol de Lyon. Chamo-me Senhor Lefevre. Vou deixá-la um pouco mais tranquila, pois se estivesse em sua posição, também ficaria angustiado).

Alesha assentiu e se deixou ser conduzida pelo homem. Gostou dele, franco e direto. Após quarenta minutos de explicações em que deu algumas sugestões, voltava ao quarto para ficar com Laura.

— Cheguei, amor. — Retirou sua arma para por em cima da cabeceira.

Laura estava deitada sobre a cama lendo um livro. Baixou o livro e olhou as ações da morena com interesse. Alesha devolveu o olhar intrigada.

— O que foi? Houve alguma coisa?

— Não. Só estava imaginando… Que um dia você poderia vir para a cama com sua arma… Lógico que sem as balas. 

A agente sorriu maliciosamente e uma luz de compreensão passou por sua mente. Engatinhou, através da cama, de forma sensual até ficar face a face com a loirinha.

— Faria isso se tivesse uma mulher muito má para dominar…

— Então, eu teria que me transformar em uma mulher muito má, pois você não faria isso com mais ninguém, além de mim, dona Alesha!

A agente gargalhou com gosto.

— Você fica uma gracinha com ciúmes, sabia?! — Beijou rapidamente os lábios da loirinha. – Já pediu a comida?

— U-hum. Mas estou sem fome…

Sem fome? Ah não, essa não! A loira linda, baixinha e gostosa de olhos verdes que conheço nunca perde a fome. — Deu outro beijo rápido.

Laura sorriu e segurou-a pelo pescoço, dando-lhe um beijo ardente. Ambas ofegavam e se entregavam ao beijo que parecia transmitir segurança para as duas. Estavam apreensivas, e o contato íntimo sempre acalmava seus corações. A campainha tocou. Alesha se levantou da cama, pegou sua arma e olhou pelo olho-mágico. Viu um garçom com um carrinho onde pratos e travessas se dispunham, e sua amiga Naomi acompanhando-o. Abriu a porta.

— Pouvez-vous entrer s’il vous plaît. (Pode entrar, por favor).

Alesha deu uma gorjeta para o garçom que se retirou logo em seguida.

— Obrigada, Naomi.

— De nada. E você? — Perguntou para Laura. — Como está?

— Nervosa… Ansiosa.

— Vou deixá-las descansar e vou tomar um banho para ir dormir também. Qualquer coisa, estou no quarto ao lado, 203.

— Obrigada!

Alesha fechou a porta e destampou as travessas.

— Vejo que temos uma deliciosa ave ao molho…Mmmm.. a um molho qualquer!

— É peru ao molho de gengibre, boba! — Laura riu.

— E salada de batata com algumas folhas verdes… Isso dá para fazer lá em casa, mas garanto que eles estão cobrando o olho da cara por essa coisinha enfeitada aqui.

Laura continuava rindo.

— E o que é isso? Sopa de legumes?

— Pot-au-feu. É uma…

— …Sopa de legumes metida à besta! Eu não saí do Brasil para comer uma sopa de legumes com um nome metido!

Laura gargalhava, agora.

— Não é para você. A sopa é para mim, o seu é o peru.

Alesha levantou uma de suas sobrancelhas com um ar de cinismo.

— E o que levou você a pensar que gosto de peru, einh? Não poderia ser uma ave com um nome melhorzinho?

Laura gargalhou mais ainda; e a morena ficou feliz de poder fazê-la rir.

— Ok! Vou perdoar sua inexperiência no “mundo mágico das lésbicas convictas”, mas advertirei. Da próxima vez, nada de aves com nomes que lembram o nome de certo órgão sexual. Por sinal, esse certo órgão sexual é masculino. É um ultraje para a minha lesbianice! Crendice.

— Sim, senhora!

Alesha serviu a sopa para Laura e colocou um pouco de peru com salada em seu prato. Foi sentar ao lado da loirinha para comer. 

Antes que Laura pudesse colocar a colher na boca, sentiu um tapa na mão e um grito ressoou em seus ouvidos.

— Não!

Alesha gritou. Estava ofegante e olhos arregalados de pavor. Havia sopa espalhada por todo o cômodo.

XGXGXGXG

— Miss Mansur, je sais que vous êtes nerveuse, cependant …(Senhorita Mansur, eu sei que está nervosa, No entanto)…

— M. Lefevre, avant de juger, regardez ce plateau. (Senhor Lefevre, antes de julgar, olhe essa bandeja).

O agente inspecionou minuciosamente a bandeja e percebeu partículas de pó branco no canto da peça em cima do carrinho que havia trazido a comida. Um ar de entendimento e preocupação se instalou em seu olhar.

— Dames, reste ici et je vais chercher des sacs d’experts. (Senhoritas, fiquem aqui que eu vou pegar sacos periciais).

— Aller. À notre retour, nous aurons nos bagages prêts à aller à l’appartement dans lequel je loge habituellement lorsque je viens ici.. (Vá. Quando retornar, estaremos com nossas bagagens prontas para ir ao apartamento em que costumo ficar quando venho aqui).

— Mademoiselle…

— Seigneur Lefèvre. — Alesha falava exasperada. — Si c’était votre épouse? Que feriez-vous? (Senhor Lefèvre. Se fosse sua esposa? O que faria)?

Ele a olhou constrangido. Ela sabia qual seria a resposta.

— Très bien. Nous ferons ce que vous voulez. Cependant, je mettrai en place une surveillance à l’extérieur. Je choisirai les personnes en qui j’ai le plus confiance. Vous irez avec ma voiture. Nous vous accompagnons. (Muito bem. Faremos como você quer. No entanto, eu vou montar vigilância ao lado de fora. Escolherei pessoas em quem tenho mais confiança. Vocês irão com meu carro. Acompanhamos vocês).

— Seigneur Lefèvre… (Senhor Lefèvre)…

— Mlle. Mansour. Vous êtes sous ma responsabilité. (Senhorita Mansur. Vocês estão sob minha responsabilidade).

Alesha sabia que não conseguiria mais do que isso.

— D’accord. Je demande juste une dernière chose. Je veux un autre appartement. Un dans lequel je ne suis pas encore resté. Mais je le veux maintenant, sans recommandations ni délais. (Tudo bem. Só peço mais uma coisa. Quero um outro apartamento. Um em que eu não tenha ficado ainda. Mas o quero agora, sem recomendações ou demoras).

— Très bien. Dans cinq minutes, je vous appellerai pour vous donner l’adresse. Je ferai sortir tout le monde de la salle de surveillance pour qu’ils ne vous voient pas partir. Ils sortiront au garage, il y aura une SUV bleue. Il est blindé. Je serai juste derrière dans une noir. (Muito bem. Daqui a cinco minutos, ligo para passar o endereço. Tirarei todos da sala de vigilância para que não vejam vocês saírem. Sairão para a garagem, lá terá um SUV azul. É blindado. estarei logo atrás em um preta).

Ele se virou e partiu.

— Por que você confia nele? – Perguntou Laura.

— Não confio. Simplesmente, nesse exato momento, se ele estiver envolvido, não poderá fazer nada sem arriscar sua carreira e seu posto. Quem quer que seja, esperará nos acomodar. Mas aí seremos eu e você, dentro de um apartamento e em mim eu confio. Pega o telefone para mim.

Alesha discou um número e Naomi atendeu do outro lado com a voz sonolenta.

— Oi, Alesha.

— Vem aqui agora.

Naomi despertou assustada.

— O que houve?

— Só venha.

Desligou o telefone e, em menos de dois minutos, Naomi batia na porta. Alesha atendeu e Naomi ainda de pijama com a arma na mão entrou no quarto.

— Aconteceu alguma coisa?

— Aconteceu e eu quero que você me explique como isso aconteceu.

— Do que você está falando, Alesha?

— De substâncias sendo postas na nossa comida. — Alesha apontou a bandeja.

Naomi se abaixou para olhar de perto a bandeja.

— Eu… Deus, Alesha! Eu não sei! Estive o tempo todo acompanhando, tanto a feitura da comida quanto o trajeto até aqui.

— Então me diz como aconteceu?

— Só teve um momento… Não foram nem dez segundos em que atendi o telefone…

— Quem ligou?

— Frontin.

— Vamos sair daqui, mas quero que fique e acompanhe as investigações de perto. Vá atrás de Frontin.

— Onde estará?

— Ainda não sei. Lefèvre me passará o endereço, mas não quero ninguém sabendo.

— Nem eu?

— Principalmente você. Sabem que é próxima a nós, e você ficará aqui. Estará exposta.

Naomi assentiu.

O telefone tocou, Alesha atendeu e anotou o endereço.

— Vamos.

Pediu para Laura carregar a mala que nem tinha sido desfeita. Segurou sua mão e com a outra empunhou sua arma. Olhou o corredor. Não havia ninguém. Saíram.

Chegaram à garagem e logo viram o SUV parado na terceira vaga. Apertou o alarme e destravou o carro. Abriu o bagageiro para colocar a mala, Laura ajudava-a quando ouviu um estampido e viu Alesha caindo.

— Nâo!

O grito de Laura foi tão alto e aterrorizante que ecoou durante um tempo pelo espaço da garagem.


Nota: Não foi possível postar ontem, pessoal, mas aqui estou!

Espero que gostem do capítulo. Ele foi revisado  com carinho para vocês!

Beijos



Notas:



O que achou deste história?

9 Respostas para Capítulo 31 – A Agente

  1. Oie, Carol!
    Resolvi reler, nada melhor que um Uber de Xena para controlar minha ansiedade! Adoro Alesha!!!!!! Arquétipo bem reconstruido!!
    Fique com Deus,
    Beijinhos

    • Oiê! Demorei um pouquinho mas o capítulo estará daqui a pouco na página. Espero que não tenha ficado muito aflita. rs Já já você saberá o que ocorreu!
      Obrigada pelo carinho, Blackrose!
      Um beijão para você!

  2. Tô ficando com ódio d”ocê!Cada capítulo mais emoção, mais complicação!! E nada de terminar com a safadeza de pai h o r r o r o s o e dar paz para estas duas. Vc está nos deixando doidas de ansiedade. Para com isto e coloca um super capítulo de 100 paginas e pronto, a gente lê e fica feliz! Pode não? rsrsrsrsrsrsrs
    Bjs (sua desalmada!)

    • Oi, Ione! Não fica com raiva não! rsrs
      Aliás, sei que estou te devendo revisão, mas não vai demorar. É que esse mês foi um pouco complicado para mim. Essa semana se tudo der certo, já envio o primeiro para vc ok?
      Hoje a ansiedade acaba! rsrs Daqui a pouquinho estará lá na página. Não me odeie! kkkkk
      Um beijo grande para você, Ione!

  3. Ótimo cap. Não dá nem pra piscar durante a leitura!

    Agora acabar desse jeito, vc não tem dó nenhuma rsrsrs

    Abrs, o/

    • Oi, Lins!
      Saudades d’ocê aqui. rsrs Mas sei que sempre está lendo.
      Olha, tenho dó de vocês sim, mas… tem que ter uns draminhas ao longo do caminho para ter emoção! rs
      Obrigadão pelo carinho, Lins!
      Um beijão!

  4. ? Cada cap. melhor q o anterior, ou seja, uma história q nos
    prende do inicio ao fim.
    Adorooo…
    Parabéns, Carol.

    • Oi, Nádia!
      Que bom que se sente assim com a história. Bom, eu tento colocar essa pegada de de suspense para dar mais emoção. Nem sempre dá, por conta da trama, mas quando dá… rs
      Ela está chegando ao final. Mais um cap e acaba e com isso, tenho que agradecer muito por estar sempre por aqui, pois os comentários são um grande incentivo para quem escreve.
      Obrigada de coração!
      Um beijo grande pra ti!

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