Caminhos em Dias de Luz

Capítulo 26 — Brinca comigo 

Caminhos em Dias de Luz

Texto: Carolina Bivard

carolinabivard@gmail.com

Revisão: Nefer

Ilustração: Táttah Nascimento


Capítulo 26 — Brinca comigo 

— Alô!

— Mmm… Laura?

— Alesha? — O coração de Laura disparou.

— É. Oi, tudo bem?

— Tudo. E como você está? 

A voz de Laura soava ligeiramente insegura e a respiração da outra mulher, no outro lado da linha, era levemente ofegante.

— Tudo bem. É… é… hoje é o meu aniversário e… Eu queria chamar você para um jantar que eu vou fazer aqui na minha casa. Você gostaria de vir?

— Claro! — Laura respondeu, mais entusiasmada do que ela gostaria de parecer.

— Então, vou passar o meu endereço. Você pode anotar?

— Posso sim, só um momento.

— “Tá” bom.

Merda! Cadê uma caneta e um papel? Nunca tem na hora que a gente precisa!

— Espere aí, só mais uns instantes!

— Tudo bem, não tem pressa.

Tem sim! Eu tenho pressa! — Pensou.

Laura tapou o bocal do telefone.

— Ronan! Ronan! “Me arruma” uma caneta e um papel. Rápido por favor!

— Está na segunda gaveta do buffet, Laura. Mas por que não usa seu celular para anotar?

— Segunda gaveta… Segunda gaveta… Aqui. Achei! – Ela nem escutou o que Ronan havia sugerido. – Oi, Alesha. Pode falar.

Quando Alesha deu o endereço, Laura mal pode acreditar.

— Você mora aqui na rua da praia, a duas quadras de mim?!

Alesha sorriu, do outro lado da linha, pois quando soube que Laura tinha comprado um apartamento, e descobriu onde era, imaginou o quanto elas tinham em comum.

— Na realidade, esse apartamento é meu há muitos anos.

— Então, eu acho que estou te perseguindo.

— Tudo bem, eu gosto de lidar com psicopatas.

A loirinha sorriu do outro lado. Morria de saudade das brincadeiras irônicas da sua morena.

“Minha morena”…

— Ei! Não seja presunçosa! Para eu perseguir tem que ser algo realmente grande!

— Eu não sei se você sabe, mas diante da sua altura, eu sou algo realmente grande!

Laura riu, antes de responder.

— Não vou discutir com você, por telefone. Você vai ter que me enfrentar pessoalmente.

Alesha elevou uma de suas sobrancelhas e sorriu.

— Espero que esse enfrentamento seja à minha altura e não à sua… – Alesha riu.

— Fique na horizontal que te mostro a que altura eu posso chegar!

Laura falou tão rápido, pensando em uma ocasião que a morena fizera a mesma brincadeira com ela, que não pensou nas palavras. Colocou a mão na boca e se amaldiçoou.

“Porra! Que besteira que eu falei!”

Um sorriso cínico e malicioso se fez nos lábios de Alesha.

— Desculpa, Alesha! Eu não queria dizer isso, não queria fazer uma brincadeira tão… grosseira! — Se apressou em corrigir o lapso.

— Não tem problema, eu não achei grosseiro. Então, eu posso te esperar à noite?

— Pode sim. Que horas?

— Às oito e meia da noite; está bom para você?

— Está ótimo.

— Então, até a noite.

— Até.

Desligaram; e cada uma em sua casa socaram o ar gritando:

— Yes! Yes! Yes!

Laura parou no meio de sua sala e começou a se preocupar.

— Deus! Eu tenho que comprar uma roupa para usar! Eu tenho que comprar um presente para ela! Que horas são?

Olhou o relógio.

— Droga! Uma da tarde! Não vou nem conseguir ir ao salão fazer uma escova!

Pegou sua bolsa em cima da mesa e saiu correndo do jeito que estava, para ir ao shopping. 

Exatamente às oito e meia da noite, Laura se encontrava na portaria do prédio. 

— O apartamento da senhorita Mansur. — Falou ao porteiro.

— Qual o seu nome, senhora?

— Laura Elinor.

Laura começou a reparar na portaria e no prédio. Já o conhecia, pois quando procurara apartamento para comprar, havia visto um nesse prédio. Eram apartamentos amplos, de um por andar, mas o que visitara estava mal conservado e precisando de reformas. Logo depois, encontrou a cobertura que comprara.

— Pode subir, senhora.

— Qual o apartamento?

— É a cobertura, senhora.

Laura imaginou que agentes da Interpol deveriam ganhar bem, para Alesha ter uma cobertura naquele prédio. Ficou pensando quantas pessoas estariam nesse jantar; se conseguiria falar com Alesha, se explicar e se aproximar novamente da morena. 

O elevador chegou. Era um pequeno hall que servia só àquele apartamento. Estendeu a mão trêmula para apertar a campainha. Pouco tempo depois a porta se abriu e a própria morena a recepcionou.

“Ela está linda!” — Pensou Laura

Alesha trajava uma calça de linho cru, em um corte reto e clássico, blusa de seda azul royal, de alças finas e com alguns drapeados em brilhantes, contrastando com seus olhos azuis translúcidos. Brincos e um fino cordão em ouro branco, cuja pedra que arrematava seus adornos era o topázio de azul cristalino, deixavam a beleza da alta mulher mais evidente. Os olhos de Laura brilharam, diante da rara beleza da morena.

— Boa noite, Laura! Entre, por favor.

Alesha afastou-se ligeiramente para a “sua pequena” entrar. Enquanto Laura caminhava para o interior do apartamento, a morena também observava, embevecida, a mulher menor. 

Usava um vestido em cetim cristal amassado, justo ao corpo, moldando as curvas dos seios, cintura e quadril e ficava acima do joelho. A cor clara e brilhante do tecido contrastava com o bronzeado de sol, recém adquirido pela loirinha. Brincos e cordão de brilhante realçavam pescoço e colo nus. Um perfume floral-cítrico rescendeu no ar.

 “Eu vou morrer com essa mulher hoje!”

Laura entrou no apartamento se encaminhando até o meio da sala, reparando na decoração de muito bom gosto. Viu bandejas com canapés e frios em cima de um buffet, na sala contígua a que estava. Ao lado do buffet, um suporte com um balde de gelo continha uma garrafa de champagne e flûtes de cristal. Não havia ninguém no ambiente ainda. Amaldiçoou-se novamente por sua exagerada pontualidade. Não quis comentar nada para não parecer que se sentia desconfortável com a presença da morena. Ela parou e voltou-se para Alesha que caminhava logo atrás dela. 

— Seu apartamento é lindo.

— Quer conhecer as outras dependências?

Alesha viu-se surpreendentemente tímida, sob os olhares de Laura.

— Adoraria, mas antes…

Laura pegou um pacote com formato quadrado de sua bolsa e entregou à Alesha.

— Feliz aniversário!

A morena estendeu a mão com um sorriso tímido e pegou o pacote, cobrindo levemente a mão de Laura, antes de segurá-lo.

— Obrigada! Não vou dizer que não precisava, pois sou mal educada e adoro presentes. Senta no sofá comigo para eu abri-lo.

A pequena mulher se arrepiou quando a morena segurou sua mão, mas sorria diante dela, pois parecia que Alesha estava retomando a intimidade que as duas tinham, antes de tudo acontecer. As brincadeiras aconteciam de forma fácil e relaxada.

Sentaram-se e Alesha começou a desembrulhar o pacote. Uma caixa revestida em cetim branco surgiu. Abriu-a e maravilhou-se com a linda joia. Era uma pulseira “tipo escrava” em que gomos quadrados com bordas proeminentes se alternavam entre o ouro amarelo e o ouro vermelho. No meio de cada gomo, havia um desenho formado por brilhantes. Alesha não conseguia parar de admirar a linda peça. Com sua personalidade detalhista, tentou discernir que desenho era formado por esses minúsculos brilhantes.

— Os brilhantes fazem o formato de duas pistolas encaixadas?!

Laura abriu um sorriso largo, pois sabia que o olhar observador da morena distinguiria o desenho.

— Hoje, quando você me chamou para vir ao seu aniversário, fui ao shopping para ver se encontrava algo que pudesse te traduzir. Andei de um lado a outro, quando vi essa joia em uma vitrine, não sei por que ela me fascinou tanto. Pedi ao vendedor para vê-la de perto e foi aí que percebi esses pequenos desenhos.  Quando meu pai estava no carro, com a arma apontada para minha cabeça, você surgiu empunhando uma pistola e, naquele momento, eu tive certeza de que sairíamos livres daquela situação. A sua imagem não saiu mais de minha mente. O ouro é um metal praticamente incorruptível, elos que formam os gomos dão resistência e força à cadeia e o diamante é limpo, livre de qualquer impureza. Bem… No fundo isso, é o que eu acho de você, mas essas “arminhas” aí dentro dos gomos, eu achei bonitinho mesmo. É tão discreto que não dá nem para perceber. Achei que gostaria. 

Laura sorriu, franzindo um pouco o nariz.

Alesha também sorriu, estreitando um pouco os olhos.

— Como um designer de joias faz uma peça como essa? Armas numa pulseira?!

— Parece que ela foi encomendada, porém o dono da encomenda não quis pagar o valor. – Laura encolheu os ombros. – Acho que deixaram para eu dar a você.

— Só espero não ter que sair atrás de um maníaco-homicida da próxima vez…

Lauria riu, com a brincadeira da morena.

— Não acredito que seja um maníaco-homicida.

— Sabe o que eu acho? – Alesha perguntou, casualmente.

— O quê?

— Que o seu perfil de mulher são as grandes e duronas! — Falou, mexendo com a outra.

— Ora, você! 

Laura deu um pequeno tapa no braço de Alesha, que foi prontamente seguro pela morena. Ela a olhou intimamente e percebeu que já passava da hora de segurar sua grande paixão nos braços e amá-la. 

Puxou a loira lentamente de encontro ao seu corpo, deixou a joia de lado e com a outra mão acariciou seu rosto, ternamente. Não deixou seus olhos desviarem das raras orbes verdes e cristalinas. As pupilas da pequena mulher dilataram-se e, de seus lábios entreabertos, um pequeno gemido denunciou seu estado de euforia. Fechou os olhos, apreciando o toque delicado de carinho que recebia da mulher que aprisionara seu coração. Alesha acariciou as bochechas e deslizou as mãos para os cabelos e nuca da outra. Aproximou mais seus corpos, beijou levemente os lábios, resvalou sua boca de encontro à pequena orelha delicada e sussurrou.

— Tive muito medo de te perder, mas não vou deixá-la mais sair de minha vida.

Capturou o lóbulo macio entre seus dentes, sugando-os em seguida. Beijou o pescoço e começou a trilhar com seus lábios um caminho para alcançar os outros lábios que a faziam transbordar de paixão.  Laura emitiu um suspiro ofegante. Sua alma estava enlevada, em um estado de êxtase tal, que seu corpo tornou-se débil, perante as ações de sua amante.

— Eu vou beijar você…

Alesha beijou sua boca, carinhosamente.

— Vou acariciar seu corpo…

Falou entre seus lábios, forçando logo após a entrada de sua língua para saborear o gosto da outra boca. Passeou as mãos pelos flancos, acariciando o corpo menor como prometera. A respiração de Laura acelerou, arrepios de prazer tomaram seu corpo. Gemeu fortemente e moveu-se para se acomodar no colo da morena. A loira emaranhou suas mãos no cabelo negro, intensificando o contato e os beijos.

— Deixa-me amar você, Laura…

— Não podemos agora. Seus convidados…


Nota: Hoje atrasei um pouquinho, mas tá em dia. Uma ótima semana!



Notas:



O que achou deste história?

15 Respostas para Capítulo 26 — Brinca comigo 

  1. Maldade viu!! Dava muito bem para dar uma prolongadinha nesse capitulo!
    Só não vou ficar mais brava porque li por aí que há possibilidade de ter capítulo extra. kkkk
    Beijo, Carol

    • E não teve capítulo extra…
      Mas teve nossas detetives, então está ok. rs. E gostei muito, mas senti falta dos traços de sua forma de escrever em vários momentos.
      Bjim

    • Oi, Fabi!
      Ah, menina, você sabe que não sou do tipo maldosa… quer dizer, não muito. rsrs Eu sabia que o cap especial de E&B ia sair.
      Então, atrasei um pouquinho o capítulo de Caminhos essa semana, mas sei que valerá apena. Ele entrará em minutos no site.
      Valeu, Fabi pelas palavras de carinho!

      Um beijão pra ti!

  2. Bom dia! Ha tempos que não lia historias. Fui uma leitora assídua a muito anos atras, acompanhava as historias, me divertia e me fazia um bem enorme. Sempre idealiza um amor assim como descrito, as sensações eram maravilhosas, dormia e acordava sonhando em encontrar um amor assim de verdade, que quebrasse todas as minhas barreiras. E um dia eu a encontrei, me permitir viver esse amor por muitos anos. Infelizmente as coisas saindo do lugar e acabei a perdendo. Hoje vivo das lembranças e nunca mais consegui amar alguém de verdade de novo. Lendo suas historias me traz um pouco de acalento. Já li quase todas. Parabéns pela escrita e muito sucesso. Bjos

    • Olá, Stella! Como vai?
      Quando um relacionamento termina, as pessoas costumam dizer que não deu certo. Eu discordo. Seu relacionalmente deu certo durante muitos anos, só que agora talvez seja a hora de viver a felicidade com outra pessoa ou de outra forma. Que a vida reserve a você novas oportunidades de felicidade, é o meu desejo!
      E leia sim. A leitura faz bem à alma!
      Obrigada pelo carinho
      Um beijão pra ti!

  3. Reconciliação e festinha particular, aproveite Laura que o aniversário é da Alesha, mas o presente é seu kkk. Carol outro capítulo maravilhoso. Bjs

    • Então, Blackrose, Você está completamente certa! O presentão de Alesha, na verdade vai ser compartilhado pela Laura! rsrsrs
      Tá um pouco atrasado, mas daqui a pouco entra a continuação do presente de aniversário! 😉
      Valeu, Blackrose e um beijão!

  4. Aiinnnnnn… q fofis…

    O aniversário perfeito é qdo ela vem.

    Grande Carol, mais um cap. perfeito.

    Bjs,

  5. Ahhh inocente! Duvido que haja mais algum convidado! Que armadilha maravilhosa!
    Final feliz é muito bom e vai ser assim
    , né!?

    • Laura não sabe o que a espera, mas garanto que irá gostar! kkkkkkk
      Olha, atrasei no capítulo, mas ele estará daqui a pouco no site! Acredito que gostará! 😉
      Um beijão pra ti, Ione e obrigadão!

    • Oi, Lailicha! Estou bem sim, graças aos céus! E você? Como anda tudo por aí?
      Dê notícias, pois a gente sempre fica preocupada, principalmente com tudo que anda acontecendo nesse mundão à fora!
      Um beijão pra ti e pra Mocita!

Deixe uma resposta

© 2015- 2020 Copyright Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem a expressa autorização do autor.