Caminhos em Dias de Luz

Capítulo 23 – Perigo

Caminhos em Dias de Luz

Texto: Carolina Bivard

carolinabivard@gmail.com

Revisão: Nefer

Ilustração: Táttah Nascimento


Capítulo 23 – Perigo

Após Archiligias ter desligado, o homem que estava com Alesha a puxou da cadeira, para sair com ela. Ela parou de andar e deu um puxão no braço.

— “Me larga”, ô troglodita!

— Quer levar um cacete, sapata?!

— Você não pode fazer nada comigo agora, pois seu patrão pode não gostar de mercadoria avariada. Não dá nem para tirar a forra da surra que eu dei em você e seu amiguinho, não é? – Alesha gargalhou.

O homem perdeu as estribeiras e socou-a, fazendo com que ela caísse de bruços sobre a mesa. Seu nariz sangrava, porém ela continuava rindo como uma insana. Ele socou mais duas vezes as suas costelas, pela parte de trás de seu dorso, fazendo com que ela se encolhesse sobre o tampo da mesa.

— Vamos lá, ô vagabunda! Agora você aprendeu o que é apanhar!

Segurou-a pela parte de trás do colarinho, arrastando-a para fora e derrubando tudo no escritório. Empurrou-a pela escada e, quando chegou ao cativeiro, abriu a porta e chutou-a para dentro.

— Alesha! Você está sangrando! O que eles fizeram com você?

Ela puxou a venda dos olhos e, respirando com um pouco de dificuldade, sorriu, dizendo:

— Um favor. Foi isso que esse aprendiz de jumento fez comigo.

— O quê? Você está louca? Olhe para seu estado! Ele te ecou!

Amalie pegou o pano que Alesha tinha tirado dos olhos para limpar seu rosto e pressionar o nariz, tentando fazer o sangramento parar.

— Você o provocou?

Alesha se acomodou nas cobertas no chão e riu, novamente, com certo sarcasmo.

— Sim.

Falou como se fosse a coisa mais normal do mundo.

— Eu não estou acreditando que você ainda está feliz com essa atitude!

Amalie estava indignada com a reação de Alesha.

— Fiz por um motivo muito bom.

Ela tirou a mão que estava sob a blusa e mostrou uma arma.

— O que…

— Olha, eu tenho porte de arma e ando armada. Quando esse cara me levou lá fora, para falar ao telefone, percebi minha bolsa em cima da mesa. Só o provoquei, para que ele me batesse e eu pudesse me debruçar sobre a bolsa e pegar minha arma. Não se assuste, não vou fazer nenhuma bobagem. Isso é só para o caso deles quererem se livrar da gente.

— Colocaram você ao telefone? Com quem?

— Parece que entraram em contato com a Laura e é ela quem está negociando nossa liberdade. Ela queria saber se estávamos bem. Queria saber se estávamos vivas.

— Entendo. Agora que ela falou com alguém, você teme que eles nos matem, mesmo ela cedendo à chantagem.

— Isso.

— Você sabe mesmo usar essa arma?

— Sei, Amalie!

— Então eu vou te pedir para que se algum deles quiser fazer algo comigo, por favor, me mate antes.

— Amalie! Não fala assim! Eles não farão nada, nós vamos sair dessa. Ok?!

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Archiligias saiu do restaurante, acompanhado de seguranças, pouco depois de Laura. Ao caminhar para o estacionamento, olhou para o outro lado da rua, reparou a van branca parada. Não seria nada demais, se ela não tivesse uma pequena antena para captação e amplificação de sinal de celular em cima. Conhecia vários truques para espionar. Utilizava muitos serviços desse tipo em seu negócio. 

— Rapazes! Quero que arrombem aquela van agora!

Os seguranças começaram a correr em direção da van.

Naomi que estava vigiando a entrada do restaurante, através de uma câmera, gritou.

— Fomos descobertos!

Um agente pulou para o assento do motorista, ligou o carro e saiu em disparada.

— Seus idiotas! Peguem o carro!

Archiligias bufava de raiva. Tinha seguranças, esquemas de vigilância e nem assim conseguiu resguardar-se de ser monitorado.

— Eu tenho um bando de incompetentes me acompanhando!

Mas quem seria? Tinha muitos inimigos e sabia que vinha sendo investigado, há algum tempo. Nunca chegaram até ele, mas agora… 

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Laura chegou à empresa e foi direto para sua sala. Estava com a mesma roupa, há dois dias. Abriu o armário que mantinha na sala com algumas peças. Depois que seu pai havia posto escutas em seu apartamento, pegou muitas roupas e espalhou entre a empresa e os apart-hotéis em que perambulava. Foi até o banheiro, tomou um banho, se arrumou e deitou-se na chaise, no canto da sala para relaxar e pensar em tudo que acontecera em sua vida, nas últimas vinte e quatro horas.

— Deus! É uma loucura!

Mal conseguira recostar-se direito e já via Lúcia, Naomi e um homem entrarem na sala.

— Laura, você tem que dizer tudo que Alesha falou. Seu pai viu nossa van e desconfiou que algo estava acontecendo. Tivemos que sair às pressas e não conseguimos a localização do sinal. Não houve tempo hábil.

— Vocês estão dizendo que não sabem onde elas estão presas? Deus do céu! E se ele não soltá-las? Eu desconheço esse homem com quem eu conversei hoje, nunca o conheci verdadeiramente, não sei se ele cumprirá o acordo!

— Calma, Laura. Por favor, nós precisamos que você fale exatamente o que Alesha te falou. Cada palavra. É a esperança que temos. Esse aqui — Lúcia apontou para o homem que entrou com elas — é o agente Konrad. Ele trabalha, há muito tempo, na Interpol e vai nos ajudar a entender se a Alesha deu alguma dica do local. Nós escutamos você falar com ela, mas não conseguimos saber o que ela respondeu.

Laura vagueou, tentando lembrar-se de sua conversa com Alesha e Naomi começou a auxiliá-la nos passos dados.

— Você pegou o telefone se identificou para ela e disse que estava negociando sua soltura. Perguntou se ela estava bem.

— Ela não respondeu nada de imediato e aí eu falei que nossos amigos estavam preocupados. Perguntei novamente se ela estava bem e se tinham feito alguma coisa com ela.

— O que ela respondeu?

Laura apertou os olhos, tentando rememorar cada palavra.

— Ela disse que “apesar do calor dentro de um cubículo que parece mais um corredor, o raio de gaivotas piando enchendo o saco sem deixar dormir, o cheiro desagradável de peixe podre e um corte na cabeça, está tudo ótimo”! Depois só perguntei sobre a Amalie e meu pai encerrou a ligação.

— Só isso?

— Só.

— Gaivotas piando e cheiro de peixe podre… Ela está perto do mar.

O agente Konrad se pronunciou. 

— Quando dizemos cheiro de peixe podre, na realidade estamos querendo falar que é maresia e as gaivotas piando, é algum atracadouro, docas ou algo parecido com isso. 

— Pode ser alguma área no porto? O grupo Archiligias tem muitas áreas de descarregamento no porto. – Laura falou.

— Claro! Que lugar melhor para se esconder alguém do que um local cheio de …

— Contêineres! — Os três agentes falaram ao mesmo tempo.

— Calor dentro de um cubículo que parece mais um corredor! Alesha quis dizer que elas estão presas dentro de um contêiner!

— Ótimo! Só que tem um problema e uma falha. O problema é que a área de descarregamento do grupo Archiligias é enorme. Como cobriríamos essa área à procura delas, sem sermos vistos? E a falha é que se é a área de descarregamento do grupo Archiligias, como eles as esconderam, sem que os trabalhadores que descarregam os navios as vejam? Existem milhares de trabalhadores que transitam dia e noite nesse serviço de carga e descarga de navios. Archiligias não pode controlar todos e também não são todos que são funcionários do grupo; muitos são contratados pelas docas. — Lúcia falou.

— E se não for uma área comum às docas?

— Se não for uma área comum às docas?! Todas as áreas pertencem às docas, Laura. Não existem áreas particulares no porto.

— Nem sempre foi assim, Lúcia. Tem um escritório na área antiga do cais que pertence ao grupo. Foi a área em que meu avô iniciou o negócio de nossa família. Naquela época, cada empresa tinha seu local e escritório particular. Meu avô pagou ao governo para ter. Quando o governo ampliou o porto, as empresas já não poderiam ter mais uma área particular, por conta das atuações alfandegárias. Entretanto aquele escritório antigo ainda está lá na parte velha do porto e ainda pertence à nossa família, embora não seja mais usado e esteja abandonado. Eu sei disso, pois quando eu era criança, meu avô me levava lá e gostava de contar como ele começou. Ele adorava aquele lugar, embora não tivesse mais serventia para as empresas.

Naomi abriu um sorriso de orelha a orelha. E Lúcia segurou a cabeça da loirinha, dando um beijo estalado em sua boca tamanha a emoção.

— Você é um gênio, Laura! Konrad ligue para a agência. Explique tudo e peça reforços. Quero saber também onde Archiligias está, pois o prenderemos ainda hoje em uma ação conjunta. Laura, eu quero que fique aqui e espere por notícias. Pode ter certeza que traremos as duas, antes de fechar a madrugada!

— Ei! Eu não vou ficar aqui parada! – Laura apontou para Naomi. — Você sabe que eu não vou.

— Laura, não poderemos te proteger, pois estaremos preocupados com a “operação de assalto”.

— Meninas, em situações como essa é melhor tê-la conosco. Já passei por situações em que o nosso contato apareceu no meio da operação. É melhor ela ir para ficarmos de olho. Ela fica dentro de alguma viatura.

Lúcia olhou desanimada.

— Você vai ficar quietinha junto a um de nossos agentes. Nem pense em sair do carro em que estiver. Entendeu?!

— Ok! Mas aqui parada eu não fico.

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Archiligias estava nervoso e pressentia que alguma coisa não estava saindo direito. Andava de um lado para outro no escritório de sua casa esbravejando.

— Droga, Laura! Você sempre foi um espinho na minha bunda! Por que não nasceu homem? Eu poderia estar com o meu filho ao meu lado. Merda! Eu poderia tê-la trazido para o meu lado. Por que eu achei que, por ser mulher, ela não poderia estar comigo? Poderia ter ensinado muitas coisas para ela e agora não estaria nessa situação. E como eu vou deixar aquelas duas vivas? Não sei nem quem está me vigiando? Provavelmente, a Federal… E o Serrão ainda fez aquela burrada de chamar a Amalie para um jantar? Que estúpido! Eu deveria era sumir com ele, isso sim! 

Ele parou de andar e um sorriso abriu em seus lábios.

— Sabe que não é má ideia. Eu sumo com o estúpido, solto as duas. A Amalie não vai ter a quem denunciar. Laura fica de boca fechada, pois cumpri meu acordo. Isso eu sei que ela faria, ela tem realmente palavra. Ela abre mão das ações e eu continuo com a supremacia na empresa. Só vou ter que aturar ela morando com aquela fanchona mesmo, porém, um dia, eu ainda posso dar um jeito nisso. Serrão… Você me foi muito útil, mas não mandei você ser tão burro.

Pegou o telefone de casa e discou o número do Serrão.

— Serrão. Sou eu, Archiligias. Precisamos ir ao escritório antigo das docas e dar um jeito na Amalie e na Alesha, a polícia está no meu calcanhar e eu não posso arriscar. … O quê?… Não, depois eu me resolvo com a Laura, mas nós temos que ir lá e acabar com isso… Deixar para aqueles dois fazerem? — Archiligias, irritado, começou a gritar. — Não seja idiota, Serrão! Nunca deixe que os outros façam o serviço que você deve esconder! Encontre-me lá, entendeu direito?

Desligou o telefone, sem nem ouvir a resposta.

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O celular de Lúcia tocou.

— Alô! O quê?… Agilize as viaturas agora. Estamos indo no meu carro mesmo; nos encontramos lá.

Lúcia desligou.

— Vamos com meu carro, gente. Rafael, um agente nosso, pegou uma ligação da casa de seu pai, Laura. Os telefones fixos de seu pai estão todos grampeados. Ele deve estar nervoso ou desesperado, pois nunca tínhamos pegado uma ligação feita de sua casa. A notícia boa é que ele confirmou que as duas estão no escritório antigo das docas e ele irá para lá. Poderemos prendê-lo lá mesmo. A notícia ruim é que ele está indo para lá para dar “um jeito” nelas.

— O quê? Você está brincando, não é?

— Não, Laura. Não estou brincando. Ele ligou para o Serrão para encontrá-lo lá para fazerem o “serviço”, como ele mesmo disse. Fique calma, estamos acostumados com esse tipo de operação, nós prenderemos os dois. Vai dar tudo certo.


Nota: Pessoal, hoje não respondi aos comentários, mas até o fim de semana responderei, ok? Boa semana para tod@s!

Beijão!



Notas:



O que achou deste história?

6 Respostas para Capítulo 23 – Perigo

  1. Carol, guria má…

    Aquela q para sempre na parte mais imprópria.

    Mto bom… mto mais q bom.

    Bjs,

    • Oi, Nádia! rsrs
      Então, a parada não é para torturar, mas deixar uma agonia boa para o próximo capítulo. rsrs
      Vamos ver o que esse homem vai fazer com Alesha, Laura e companhia! rs
      Um beijão!

  2. Oiê Carolzinha!

    Nossa, o circo tá fechando pro pai de Laura, mas ele é esperto demais pra se deixar pegar, assim que vai fugir.. poderia pegar Laurinha c ele kkkk. Assim Aleshazinha fica doidinha!!Hahaha
    Bem, força aí!
    N se preocupe quanto aos comentários, qndo tiver pronta será!! Beijosss

    • Oi, Lailicha!
      Olha aí o que aconteceu. Já tá postado, Lailicha. rsrs E você se lembrou de um pouquinho da história, confessa. rsrsrsrsr
      Obrigadão, Lailicha e se cuidem!
      Um beijo grande!

    • Oi, Blackrose!
      Então, nessa história eu tenho sido malvada mesmo. rs Mas chegou o capítulo novo.
      Será que irá gostar? 😉
      Obrigadão pelo carinho e um Beijão para você!

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