Caminhos em Dias de Luz

Capítulo 21 – Revelação

Caminhos em Dias de Luz

Texto: Carolina Bivard

carolinabivard@gmail.com

Revisão: Nefer

Ilustração: Táttah Nascimento


Capítulo 21 – Revelação

— Gente, a Alesha não deu nenhuma notícia? Eu estou realmente preocupada, pois ela saiu daqui ontem muito tarde e a Amalie também não chegou, até agora.

Lúcia olhou para Laura com ar de preocupação. 

— Eu estranhei também, pois ela combinou comigo de chegarmos cedo hoje, para terminarmos o levantamento. Ainda há pouco, liguei para ela, mas o celular está fora de área, e no apartamento ninguém atendeu. 

O telefone tocou e era Rose. Naomi passou o telefone para Laura.

— Oi, Rose. Você conseguiu falar com ela?

— Não consegui, Laura. A empregada atendeu e disse que, quando ela chegou à casa, Amalie já devia ter saído, pois não havia ninguém.

— Obrigada, Rose.

Laura desligou e olhou para Lúcia e Naomi, com ar mais preocupado.

— Amalie mora sozinha, pois é separada e a filha, que é casada, não mora mais com ela. Eu posso estar paranóica, com isso tudo que tem acontecido aqui e na minha vida, mas estou ficando realmente preocupada. 

Lúcia inspirou fundo.

— Eu concordo com você, Laura… Vou falar uma coisa que não era para ser aberto, mas vou confiar que você fique calma, e depois entrarei em contato com o escritório. 

— Lúcia, você está me assustando…

— Calma, senão você vai fazer com que eu me arrependa de falar com você!

— Ok! Ok! Eu me acalmo, mas fala!

— Você sabe que a minha empresa trabalha, há algum tempo, junto a polícia federal para investigar a empresa do grupo Archiligias, certo?

— Errado. Eu sabia que a sua empresa investigava o grupo Archiligias por negociatas que faliram outras empresas que vocês representam. Sabia que a polícia federal estava investigando as empresas da minha família, por acharem que meu pai estava burlando o fisco, mas não sabia que vocês estavam trabalhando juntos!

— Ok! Então, vamos lá. As investigações não são só por seu pai burlar o fisco e, também, não são só por prejuízos a terceiros para obter monopólio de importações e exportações. Seu pai, Laura, está sendo investigado pela Interpol.

— O quê?!

— Contrabando, extorsão, tráfico de drogas, homicídio. além de manipulação de mercado financeiro. Aqui e no exterior.

Laura sentiu uma vertigem e se apoiou no espaldar da cadeira. Não estava acreditando no que acabara de ouvir. Sabia que seu pai estava metido em falcatruas, para levar vantagens sobre as importações e lavagem de dinheiro. A polícia federal entrara em contato com ela, para obter informações sobre as empresas da família. Foi através deles que ela conseguiu que seus documentos fossem agilizados, em troca de informações que ela levantasse posteriormente, quando assumisse sua cadeira nas empresas. 

“Mas isso! Meu Deus, o que meu pai está fazendo?!”

— Quando eu iria saber sobre isso, Lúcia? Amino sabe? Amalie?

Laura sentou-se para não cair e Naomi a apoiou.

— Desculpa, Laura. Mas a verdade é que nós só conseguimos desenrolar algumas coisas depois que você entrou para a LH; após você colocar a credibilidade de Serrão em pauta e a briga com seu pai ter começado. Ele não queria você aqui, pois o Serrão é, praticamente, um braço dele. O Serrão, através da LH, recebe containers de supostas mercadorias, dá entrada no país e depois distribui como se fossem mercadorias para a empresa, mas elas nunca chegam até aqui. O desfalque com funcionários da LH é só um dos muitos negócios de seu pai, do Serrão e de mais uma dúzia de pessoas – chaves alocadas em lugares e empresas estratégicas.

— Eu não posso acreditar! Isso é surreal demais!

Lúcia inspirou, novamente. 

— Acredite, pois eu tenho mais coisas para contar…

— Mais? O que eu vou saber agora? Que você é da Interpol?!

Um sorriso perpassou pelos lábios de Lúcia.

— Eu, Naomi e Alesha.

— O quê?! Isso é mentira! Eu não acredito! Ela me falaria…

A voz de Laura foi sumindo e lágrimas brotaram de seus olhos.

— Não tire conclusões precipitadas, Laura. Você ter conhecido Alesha, foi uma grande coincidência. Não foi premeditado. Quando ela te conheceu naquela boate, não sabia quem era você. Ela e Naomi estão trabalhando infiltradas aqui, há muito tempo, e buscavam informações, mas ela só soube quem você era quando retornou das férias. E ter se apaixonado por você não facilitou em nada o trabalho dela; só atrapalhou, pois ela não queria te envolver e sabia que na hora que você descobrisse, iria rejeitá-la.

— Por que você está me contando tudo isso?

— Porque eu não consigo contato com Alesha, desde ontem à noite, quando fui embora. Porque estamos fechando o cerco em torno de seu pai e ele acha que você está lhe atrapalhando em seus negócios. Ele está acuado e pode tomar medidas desesperadas. Meu dever é te proteger, acima de tudo.

— Seu pai também…

— Não, meu pai sempre trabalhou na LH, mas quando as investigações começaram e apontaram para cá e para outras empresas eu pedi para que ele colocasse a Alesha e a Naomi aqui dentro. Quando você entrou e as coisas começaram a aparecer; quando apertou para o seu lado, ele me pediu que a ajudasse. Foi quando a polícia federal entrou em contato com você. Na realidade, eu estou colocando a segurança de meu pai em risco também. E antes que você me pergunte, não, a Amalie não sabe de nada e é por isso que eu tenho que entrar em contato com o escritório. O fato de Alesha e Amalie terem sumido, pode ter sido uma forma que seu pai encontrou para que você voltasse atrás na decisão de entrar para a empresa dele.

— Você está falando que elas podem ter sido sequestradas por ele?

Lúcia apenas assentiu. Laura colocou as mãos na cabeça em desespero. Sua cabeça girava e seu estômago revirava. Saiu correndo para o banheiro e colocou o pouco que havia ingerido mais cedo para fora. Naomi foi ao seu encontro, amparou-a e falou suavemente.

 — Sei que são muitas informações e muita carga sobre você, mas precisa ser forte, pois ele provavelmente vai entrar em contato.

Laura levantou e caminhou de volta à sala.

— Sr. Arrais… Castelão…

— Ninguém sabe a dimensão do que está acontecendo. Acham apenas que o Serrão está extorquindo a empresa e veem você como a pessoa que está levantando os podres dele. Sr. Arrais foi ameaçado por seu pai para que ele se livrasse de você, mas depois que ele viu o seu trabalho, se recusou a interferir e seu pai não o procurou mais. Provavelmente, para não levantar maiores suspeitas. Seu pai não quer que o nome dele seja ligado ao de Serrão.

— Laura, você entende que, para sabermos de Amalie e Alesha, você precisa nos ajudar?

Nesse momento a ficha caiu.

— Minha mãe… Ele pode ter…

Laura se calou e mais lágrimas escorreram por seu rosto.

— Se você quiser, quando tudo isso terminar, poderemos exumar o corpo para maiores investigações.

XGXGXGXGXGXGX

A cabeça de Alesha doía. Estava deitada sobre mantas jogadas no chão. Mesmo com o lugar escuro, ela custava a abrir os olhos com a dor. Sentiu que seu cabelo estava grudado em sua testa e levou a mão até o local. O sangue tinha secado, mas o ferimento latejava. Percebeu que tinha mais alguém no local. Abriu os olhos devagar e focou em um corpo deitado a poucos centímetros. Levantou devagar e estendeu a mão para verificar se a pessoa estava com vida. A pessoa se remexeu e se encolheu ao toque. O calor era intenso e o lugar abafado. Conseguiu ver melhor, depois que se acostumou à escuridão.

— Amalie. Amalie.

Chamou, tentando acordá-la. Aos poucos, Amalie começou a se mexer e acordou.

— O que… O que está acontecendo?

— Amalie, sou eu. Alesha.

— Onde estamos?

— Não sei, Amalie, só sei que alguém me acertou em cheio na cabeça.

— Ontem, eu estava com…

— Com quem, Amalie?

— Com o Serrão… Ele me chamou para jantar, pois queria conversar sobre assuntos da empresa. Disse que eu estava enganada a respeito das coisas que estávamos levantando e precisava conversar sobre isso.

— E você aceitou?

— Lógico! Ele é sócio. Sei que temos muitos problemas, mas não queria levantar suspeitas a respeito dele, sem que ele pudesse se explicar.

— E o que aconteceu?

— Discutimos, e quando eu estava saindo do restaurante, eu… Eu me senti mal e não lembro mais o que houve.

— Droga! A gente “tá” ferrada! Se o Serrão foi a última pessoa que você viu, isso significa que ele não está com medo de ser reconhecido, ou seja, não tem a intenção de deixar a gente viva.

— O quê?

— Amalie, nós fomos sequestradas. Estamos presas.

— Isso é loucura! Será que ele jogaria a vida dele fora desse jeito?

Alesha olhou a companheira de cela, sabendo que ela não tinha a menor noção no que estava metida. Não quis assustá-la mais do que já estava. Levantou e começou a vasculhar o ambiente, para tentar achar algo que pudesse ajudá-las.

A noite anterior

Alesha saía da empresa para pegar seu carro. Estava introspectiva, após seu encontro com Laura no banheiro. Imaginava que, quando tudo isso acabasse, Laura provavelmente não iria querer mais vê-la por ter omitido tantas coisas. Veria apenas que ela estava envolvida com todo o esquema para pegar seu pai. 

Que merda! Ela vai achar que minha aproximação foi premeditada. Como vou explicar que tudo foi uma grande coincidência?! Droga! Nem mesmo eu acreditaria nisso! Como se já não bastasse eu ter perdido a minha parceira da agência na última incursão, agora me apaixono justo por quem eu não deveria. Merda! Merda! Merda!”

Sua cabeça estava em um turbilhão, diminuiu o passo. 

“Tem alguma coisa fora do lugar aqui”.

Observou todo o ambiente e percebeu uma SUV que não era de ninguém conhecido na empresa, ou melhor…

“Essa placa é do carro do Queiroz! Merda, cadê minha arma!”

Fez uma busca rápida na bolsa, mas antes que tirasse a arma dois homens correram até ela. Um segurou sua bolsa, enquanto o outro desferia um soco em seu abdômen. Largou a bolsa, chutando o primeiro agressor no joelho. O homem urrou e caiu agachado. Avançou para o outro pulando para agarrá-lo, antes que ele pudesse pegar sua bolsa. 

Caíram no chão e o homem deu uma cotovelada em seu nariz, ela rolou um pouco para o lado e socou-o, repetidas vezes, no rosto. O primeiro homem já recuperado foi de encontro aos dois, ela levantou-se rápido, se postando em posição de defesa. Olhou-os bem. Seus rostos não eram desconhecidos. Era boa fisionomista e, num insight lembrou que eram seguranças antigos da empresa. Os dois a cercaram e ela atingiu um deles com um chute, mas o outro a segurou em um dos braços. Sentiu uma dor lancinante na cabeça e tudo escureceu.

— Vocês dois são uns idiotas! Não conseguem nem imobilizar uma mulher!

— Ela sabe lutar, patrão!

— Amarrem-na e coloquem no carro. Vamos logo com isso!

XXXXXXXXXXXXXXX

Já passavam das seis horas da tarde e Laura ainda estava sentada em sua sala. Recusou-se a ir para casa, mesmo acompanhada de Lúcia ou Naomi. As duas também continuavam na empresa, esperando que alguém entrasse em contato. Laura não quis ficar com elas e com o novo agente, que chegara depois do contato que Lúcia fez para o seu escritório.  

As coisas pareciam desfocadas, fora do lugar. Sentia uma dor profunda, pensando em tudo que descobrira a respeito de seu pai, além de Alesha, Naomi e Lúcia. Sentia-se manipulada. Porém o que mais a assustava mesmo era pensar que Alesha e Amalie pudessem estar feridas, em algum lugar. Assustava-se com a possibilidade de nunca mais voltar a vê-las. 

Apesar de se sentir enganada, amava Alesha demais e não estava aguentando pensar que poderia perdê-la, também. Mais uma pessoa que amava e que poderia ir embora para sempre. Sentia-se impotente. Seu celular tocou. Olhou o visor e inspirou fundo. Falou com seu pai, desligou e foi para a sala de Alesha, encontrar-se com Lúcia e Naomi.

— Ele ligou. Quer que eu me encontre com ele no escritório de uma das empresas. Recusei e marquei em um restaurante, próximo ao escritório.

— Ótimo. Estaremos vigiando você. Tente saber, ao máximo, como elas estão. Se ele lhe chantagear, peça uma prova de que elas estão vivas. Provavelmente, ele colocará uma delas para falar com você e fará a ligação do celular dele. Se for um dos números que temos, será mais fácil rastrear, mas se não, levará um tempo maior, pois teremos que fazer a triangulação da ligação, através das coordenadas em que vocês estarão. Ele provavelmente conhece esse tipo de procedimento e não deixará você falar muito, mas tente falar o máximo que puder. Force a barra para falar com Alesha, pois ela é treinada para esse tipo de ação e nos dará dicas de onde possa estar.

— Não é possível que ele já não saiba que vocês estão comigo e quem são vocês.

— Acredite, Laura. Ele não sabe. Ele sequestrou Alesha, não por saber quem ela é, mas pela relação que você tem com ela. Ele quer te afetar e, mesmo com vocês separadas, sabe que você só a deixou porque ele te ameaçou, mas sabe o que você sente por ela. Ele viu que você chegou perto demais do Serrão e que a Amalie estava pronta para denunciá-lo, mas ela ainda não o fez. Ele acha que o que você tem, só é em relação ao esquema dos funcionários. 

— Mas é só isso que eu tenho, realmente.

— Você. Mas nós temos muito mais, e agora temos mais dois sequestros.

— Tudo bem! – Laura tinha desânimo na voz. — Vamos.


Nota: Agora a aventura começou!



Notas:



O que achou deste história?

10 Respostas para Capítulo 21 – Revelação

  1. Mto bom,
    posso ler e reler centenas de x q ainda assim vou achar mto bom.

    Parabéns Carol…

    Bjs

    • Olá, Dani! Tudo bem?
      Ei, não aguentou? Espero que não tenha sido muito sofrimento até chegar o dia de hoje. rs
      Não sei se você está acostumada com meu jeito de responder os coments, mas eu sempre respondo no dia que posto, ok?
      Obrigadão por estar acompanhando e pelo carinho.
      Um beijo grande pra ti

  2. Mama mia! Este Don Corleone é de amargar! É agora ou nuca que a casa cai pra ele e as meninas podem se amar sem problemas. Capítulo angustiante e todos os poros à espera do próximo, mas sem cobrança tá!

    • Oi, Ione!
      É o mafiosão do pai dela é daqueles das antigas. Algumas águas ainda vão rolar. rsrs
      Bom, o cap já está postado, não querendo desanimar, mas a agonia ainda não acabou. rsrs
      Valeu, Ione, por tudo!
      Um beijo grande para você!

  3. Minha Nossa senhora do cabelo em pé, agora o negócio ficou doido, amando essa história, esperando ansiosa pelo próximo capítulo.

    • Oi, Blackrose!Como vai?
      Então, a nossa senhora do cabelo em pé terá trabalho. rs Vai ter mais ação. rs
      Obrigada pelo carinho. Não sei se você sabe como respondo aos comentários. Eu costumo respondê-los sempre no dia que faço a outra postagem, ok? Por isso a demora. 😉

      Um beijão para você!

  4. Carol????!!!!!
    É sério produção?? Vc va acabar aí?!! Kkkkkkk
    Eu tinha esquecido dessa da interpool…..mas Alesha devia tá mais preparada pra luta!! Pegaram de surpresa!! Coitada de Naomi,espero que n se desespere…
    Agora tá nas mãos de Laura conseguir algo…tchan tchan
    Até segunda que vem!!!
    Beijos e valeu sempre por postar mesmo nesses tempos…
    Luz e serenidade pra vc, dentro do possível!

    • Oi, Lai!
      kkkkk É sério sim, Lailicha! kkkk Não cria raiva de mim, porque terá mais dessa. rsrsr
      A Naomi também é treinada. Tanto que ninguém percebeu o envolvimento delas com a Interpol! Laura que precisará ser firme nessa.
      Escrever e postar nesses tempos me dá sanidade, Lailicha. Se um dia eu estiver sem possibilidades, pode deixar que eu aviso. A vida às vezes prega peças, disso eu sei.
      Obrigada por sempre me dar forças com esse carinho que sempre teve.

      Um beijo grande para você e para Mocita.

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