Caminhos em Dias de Luz

Capítulo 13 – Compartilha esse jantar comigo?

Caminhos em Dias de Luz

Texto: Carolina Bivard

carolinabivard@gmail.com

Revisão: Nefer

Ilustração: Táttah Nascimento


 

Capítulo 13 – Compartilha esse jantar comigo?

Alesha chegou ao apartamento de Laura. Era um prédio simples, mas muito bem cuidado. Admirou-se por Laura morar tão perto de sua casa, que era apenas a três quadras. Foi caminhando, o que lhe proporcionou calma. Estava ansiosa para ver a loira baixinha. Sorriu ao seu pensamento, pois seguramente nunca havia namorado alguém que tivesse vinte centímetros a menos do que ela.

Quando chegou, se identificou para o porteiro e este ligou para anunciá-la. O porteiro desligou e disse para ela subir. Ao chegar em frente à porta sua tensão retornou. Inspirou fundo e apertou a campainha. A loirinha atendeu com um sorriso no rosto. Ela vestia um avental preto e Alesha reparou que por baixo dele, Laura se vestira como se fosse jantar em algum restaurante e não em sua própria casa. Quando Alesha entrou e Laura fechou a porta, ela retirou um buquê de flores do campo que levava escondido em suas costas e ofereceu para a loirinha.

O sorriso que Laura estampou no rosto era tão iluminado que Alesha pensou em dar-lhe um buquê de flores todos os dias, só para vê-la sorrir daquela forma.

— Que lindo, Alesha! São minhas flores prediletas.

Alesha ficou um pouco encabulada. Não sabia onde colocar as mãos. Coçou a cabeça, olhando para baixo.

— Eu também gosto dessas.

Laura reparou que ela estava pouco à vontade. Depositou as flores em cima do buffet da sala, aproximou-se de Alesha e enlaçou seu pescoço para lhe dar um beijo. A morena não se fez de rogada. Enlaçou a cintura da loirinha, a trouxe para si, aprofundou o beijo e seu corpo começou a rememorar as sensações da tarde em sua sala no trabalho. Laura se desvencilhou e colocou o dedo nos lábios da morena.

— Não senhora, mocinha! Se a gente começar, não vou terminar o jantar e não comeremos hoje.

Sorriu e se encaminhou para a cozinha, já perguntando o que Alesha queria beber.

— Não sei… O que você tem?

Laura olhou através do balcão para a sala, pois sua cozinha era americana.

— Eu não sei se você conhece essa bebida, mas eu a experimentei com uma morena super gostosa em uma boate. Chama-se gin fizz. Você sabe fazer?

— Uma morena gostosa é?

Alesha se encaminhou para a cozinha para preparar o drink.

— Na realidade, eu não sei verdadeiramente se ela é gostosa, pois eu não pude provar ainda, mas a impressão que deu é que, é sim.

Alesha gargalhou. Estava gostando cada vez mais das brincadeiras entre elas. Ela se sentia viva ao lado da baixinha. Sentia-se mais solta e menos sisuda. Laura tinha o poder de iluminar a sua alma, como há muito tempo não se sentia. Viu que os ingredientes para fazer o gin fizz estavam em cima da bancada e começou a cortar o limão.

— Sabe o que eu acho? Que essa morena é uma otária por não ter te mostrado se ela era gostosa ou não.

Laura olhou de soslaio, rindo.

— Ah! Não fale assim dela. Ela parece uma morena legal, sabia?

Laura desligou o fogo.

— O cheiro está muito bom.

— Eu não sabia do que você gostava, aí resolvi não arriscar muito. Fiz frango ao molho de vinho branco, seleta de legumes salteados na manteiga e arroz branco.

— Perfeito. E eu vou te contar um segredo. – Alesha sussurrava como se realmente estivesse contando algo para permanecer só entre elas. — Como eu não sei cozinhar, eu como quase de tudo.

— Se você come “quase de tudo” tem algo que você não come. O que é?

— Umas coisas que quase todo mundo gosta; camarão, lagosta, lagostim, essas coisas. O cheiro me enjoa e eu não consigo comer, mas gosto de peixe.

— Pra mim, está ok! Pois eu também prefiro carnes, aves e massas. Ah! Mas amo comida japonesa.

— Comida japonesa eu também adoro, só não como sushi de camarão.

— Muito bem, mocinha! Você quer jantar agora ou quer conversar um pouco, antes do jantar?

Alesha olhou a loirinha maliciosamente dando a entender que tipo de jantar estava em sua cabeça naquele momento. Laura corou, imediatamente. “Droga! Ela sempre me pega. Como pode ser tão deliciosamente safada?!”

Alesha estendeu o copo com gin fizz e quando Laura foi pegá-lo, Alesha segurou a mão de Laura e antes que ela pudesse ter qualquer tipo de reação, acercou-se do corpo menor, abraçando-a e falou-lhe roucamente próximo a seu ouvido.

— Prefiro jantar primeiro.

Depositou um pequeno beijo na pontinha da orelha da loirinha, deixando Laura arrepiada e em fogo. Afastou-se para se sentar à mesa e esperou pela reação da pequena. Laura ainda permanecia paralisada no lugar pela ação da morena.

— E então? Não vamos comer?

Alesha falou com uma expressão de falso cinismo com um toque sensual.

Laura balançou a cabeça em negativa com um meio sorriso no rosto.

— Você realmente quer me provocar, né? Você quer provar a todo custo que pode ganhar esse pequeno jogo…

— Eu não preciso provar isso, eu apenas estou ganhando. Isso é um fato.

— Ok! Ok! Eu estou com muita fome para discutir isso.

Laura se aproximou da mesa primorosamente posta e sentou-se. Alesha a acompanhou. A anfitriã destampou as travessas e começou a servir. A morena observava os mínimos gestos da pequena mulher à sua frente. Era delicada e atenciosa, mas era uma mulher de fibra, coragem e tinha integridade em seus princípios. Percebera isso desde o primeiro dia em que a conhecera, porém constatou a veracidade de seu pressentimento em relação à baixinha, só quando a viu assumir a chefia e encarar os podres da empresa com determinação.

— Ei, baixinha?

Laura parou de estanque.

— Baixinha? Agora você mexeu onde não devia. Quem disse que eu sou baixinha? Saiba que tenho um metro e sessenta e três centímetros de altura e estou na média da mulher brasileira. 

— Em relação a mim, você é baixinha.

Laura terminava de servir a comida mais devagar.

— Não sei se você sabe, mas essa comida está quente e sua roupa limpa.

Enquanto Laura falava, ameaçava jogar comida no colo de Alesha com a colher cheia de arroz.

— Ei! Ei! Ei! Está bem, você não é baixinha, eu é que sou alta em relação a você! Está bem assim?

— Muito melhor.

Laura depositou a colher de arroz em seu prato completando o conteúdo. Começaram a comer.

— Se bem que…

Laura parou o garfo próximo à boca.

— Se bem que o quê?

— Se você é mais baixa do que eu, em relação a mim, você é baixinha!

— Insuportável você, einh?

— Achei um ponto fraco seu. – Alesha se divertia, rindo muito.

Laura olhou no fundo dos olhos de Alesha de forma serena, porém intensa.

— Eu pensei que você fosse mais perceptiva. Isso definitivamente não é o meu ponto fraco em relação a você…

Laura olhava tão intensamente que Alesha deixou-se perder nos olhos à sua frente. Laura sorriu de forma espirituosa, levando o garfo à boca. Alesha engoliu em seco.

“Essa baixinha é fogo! Cacete, como é linda!”

Alesha recuperou-se e continuou em uma conversa amena, tentando desfazer um pouco as sensações que seu corpo experimentava junto à loirinha. Em um dado momento, a conversa descambou para suas vidas pessoais. Elas terminavam de comer, quando Alesha perguntou de sua família.

— E você? Por que não trabalha com seu pai?

Laura parou de súbito.

— O quê?

Alesha percebeu o desconforto com o assunto. Recriminou-se por tê-lo exposto.

— É…é que… Bem… Eu pensei que, alguém que tem uma empresa como a da sua família, gostaria de se inteirar com os assuntos dessa empresa. Archiligias, não é?…

— Um nome muito conhecido, eu sei. Sei disso tudo. O que você conhece da minha família?

— Nada! Quer dizer, apenas o que leio na mídia.

Laura pegou seu drink, levantou da mesa e se encaminhou para a espreguiçadeira na pequena varanda do apartamento.

— Vem aqui. Senta comigo e vamos conversar mais a respeito de nós.

Alesha pegou seu copo e foi ao encontro de Laura, sentando-se ao seu lado na espreguiçadeira. Laura tirou suas sandálias com os próprios pés e os estendeu para pousá-lo no anteparo do gradil da varanda. Recostou-se, fechou os olhos e suspirou como que pensando em, como falar para Alesha que ela não se sentia a herdeira de sua família e, tão pouco, se sentia verdadeiramente filha de seu pai. Ficou em silêncio por alguns minutos, sabendo que era observada por um par de olhos de um azul profundo e perscrutador.

— Laura, se você não se sente bem em falar sobre isso…

— Não importa.

— Não importa? Claro que importa! Eu estou vendo que você está desconfortável em falar sobre isso.

 Laura abriu os olhos e suspirou novamente.

— O fato, Alesha, é que eu nunca tive verdadeiramente um pai. Nunca tive. Tive em minha vida um homem que se dizia meu pai, mas que já tomou as mais loucas atitudes com relação a mim e a minha mãe. E depois que minha mãe se foi, ele ficou muito pior com relação a mim e ao dinheiro de minha herança. A realidade é que hoje, mais do que nunca, pretendo assumir apenas o nome de minha família materna. Muito em breve, deixarei o nome Archiligias para trás. Eu só peço a você, discrição por enquanto.

Uma lágrima desamparada teimava em escorrer pela face de Laura sem que ela quisesse. O coração de Alesha contraiu num aperto doloroso ao ver aquela bela e meiga mulher num sofrimento contido. A morena queria abraçá-la e desfazer toda a dor escondida por trás das belas orbes verdes de sua pequena. Sim. Era sua pequena, pois sentia que nunca mais gostaria de vê-la derramando lágrimas de tristeza. Alesha pousou seu copo em uma pequena mesa de canto na varanda,  recostou-se e abraçou a pequena criatura a seu lado.

— Vem cá. Esqueça isso por enquanto.

— Alesha, eu quero um dia poder esquecer, mas por enquanto, eu precisarei lembrar todos os dias para que possa fazer o que quero e depois me distanciar.

— Você quer contar?

Laura recostou a cabeça no peito de Alesha, sendo amparada pelo braço forte da mulher mais alta. Já aconchegada e sentindo uma quietude que há muito não sentia, perguntou.

— Você quer ouvir?

Alesha apoiou seu queixo na cabeça da pequena loira, beijou o topo de sua cabeça.

— Muito mais que ouvir. Eu quero aliviar essa dor que está doendo em mim mesma.

Laura sorriu e deixou que mais lágrimas contidas escorressem frouxas por seu rosto. Uma mistura de melancolia e alegria a inundavam em um sentimento de plenitude. Começou a contar sua história de vida…

 



Notas:



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8 Respostas para Capítulo 13 – Compartilha esse jantar comigo?

  1. Oie Carol! Tudo bem??
    Só pude ler agora… Alesha é um amor além de descarada kkkkkkkk
    Laura e sua via sofrida..com peba dela! Esse pai vai ser punk, mas agora com Ale apoiando vai ser mais fácil!!
    As duas juntas sao explosao e tb uma docura! Alesha tb é mt atenciosa!!
    Ei, eu desativei meu face de Laila Oliveira, assim que só com Laila Dourado mesmo, para que saiba quando for me marcar e n te apareca error..
    Adorei, Carol!!
    Vc sumiu, cê tá bem??
    Fique bem, tá!
    Beijao pra vc e sua esposa..muita luz e protecao!

    • Oi, Lailicha!
      Então, a Alesha foi maior safada na facul, mas com o tempo ela meio que sossegou. Agora com a loirinha ela tá sacando a veia safadenha dela novamente. rsrs
      O pai da Laura é mais que um carma, é um encosto, isso sim.
      A Laura e a Alesha nem sabem de onde vem o fogo todo quando estão juntas. rsrs
      Falou, então. Agora só o Laila Dourado no face. Anotado. 😉

      Valeu, Lailicha!
      PS.: Ando mais ou menos. Papai piorou ontem novamente. Está na UTI. Mas vamos que vamos!

  2. Tantos tipos de famílias pelo mundo!E não é história, são fatos, mas com força
    e apoio às vezes se consegue mudar algo e ser feliz. Já tem tantas pessoas contra este
    carrasco que se diz pai que as coisas vão mudar rsrsrs. Tá vendo como torço com teus escritos? Eu tenho um continho com uma loirinha miúda também, quem diria!
    Ansiosa pela caída do poderoso. Bjs

    • Oi, Ione!
      Pois é. Isso é uma realidade. A gente pensa que famílias abastadas são felizes, mas não é bem assim. Existe de tudo. Gente sem posses com famílias felizes e outras não. Gente de grana com famílias felizes e outras não. Caráter não se define pelo tanto de dinheiro que se tem.
      Tem um conto? Por que não compartilha conosco? Ou já compartilhou? Se compartilhou, Manda o link pra mim!
      Bom, a caída do poderoso virá, mas não agora! rs
      Valeu, Ione!
      Um beijo grande para você!

  3. Parabéns, Carol.

    Elas estão cada dia mais lindas e eu cada dia mais apaixonada pela história.

    Bjs,

    • Obrigadão, Nádia!

      Elas não perceberam que foi amor a primeira vista. Mas agora já sacaram o que querem uma da outra. rsrs
      Um beijão para você e obrigadão, novamente!

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