Caminhos em Dias de Luz

Capítulo 11 — Surpresa

Caminhos em Dias de Luz

Texto: Carolina Bivard

carolinabivard@gmail.com

Revisão: Nefer

Ilustração: Táttah Nascimento


 

Capítulo 11 — Surpresa

— Pode entrar! – Falou Naomi.

A porta se abriu e uma cabeça loira se projetou através da abertura.

— Oi!

Cumprimentou sorrindo.

— Oi! — Alesha e Naomi falaram ao mesmo tempo.

— Entre, por favor. — Alesha se pronunciou para que Laura pudesse entrar.

— Na realidade, eu só vim chamar vocês para tomar um café e… me despedir…

— O quê?!

Alesha e Naomi perguntaram ao mesmo tempo e olharam abismadas para Laura. A morena se levantou e foi até Laura, pousando a mão em seu ombro.

— Você está bem?

“Que pergunta imbecil. É lógico que ela não está bem.” — Alesha pensou.

Laura fitou a morena. Os olhos dela a deixava com uma sensação de tranquilidade assombrosa. Parecia que conhecia aquele olhar franco, forte e resoluto há séculos. Não entendia porque se sentia tão segura com Alesha. O único medo que passava por ela, era se deixar envolver com uma pessoa volúvel, e o que conheceu dela, deixava um pouco a desejar. Apesar de saber que elas não tinham aprofundado nada, entretanto, a cena da garota agarrada a ela, ainda rondava a sua mente.

Naquele momento, nada disso importou. Laura somente sentiu uma grande e agradável segurança e serenidade. Era uma emoção acalentadora e renovava suas energias. Laura sorriu lembrando o bilhete do dia anterior.

— Estou sim. Bem, pelo menos na medida do possível, é claro.

— Senta aqui que eu vou pegar um café para a gente na copa.

— Não precisa! Na realidade, eu queria saber se vocês já tomaram o café da manhã, pois saí hoje sem comer nada e gostaria de um café mais reforçado em uma cafeteria no shopping, aqui ao lado do prédio.

— Alesha, vá com a Laura, pois eu tenho alguns documentos para despachar agora cedo, que não dá para esperar.

— Eu não quero atrapalhar vocês.

— Não está atrapalhando, como Naomi falou, ela tem esses documentos, mas eu também não tomei meu café da manhã e estou mais livre.

Alesha prontamente pegou sua bolsa na cadeira para não dar chance a Laura retrucar e a conduziu suavemente pelo ombro até a porta. O contato morno e suave da mão da morena sobre o ombro de Laura a fez retesar-se, pois já vinha algumas noites sonhando com essa mesma mão a acariciá-la. Teve  prazeres tão intenso, que achava que se algum dia tivesse realmente algo com ela, seria capaz de desfalecer em seu braços.

Alesha era uma pessoa perspicaz e extremamente atenta e percebeu a postura mais rígida que Laura adotou, após tocá-la. Sorriu intimamente por descobrir que a loirinha não era imune a ela. Caminhava pouco atrás, sem perder o contato de sua mão no seu ombro e quando entraram no elevador, continuou propositalmente atrás para lhe falar suavemente ao ouvido.

— Está com frio? O ar condicionado está gelando muito na empresa hoje… — Falou roucamente, fazendo Laura estremecer.

— É.

Estavam sozinhas no elevador e Alesha continuou falando em seu ouvido, ao mesmo tempo em que descia sua mão do ombro pela coluna da loirinha.

— Um café realmente vai cair bem, não?

— Vai!

— Eu gosto muito do café do shopping. Tem uns croissants maravilhosos e um cappuccino delicioso.

— Tem sim…

A voz de Laura estava embargada e quase não saia. Ela agradeceu intimamente por ter chegado ao térreo, pois estava a ponto de cometer uma loucura, com a morena sussurrando em seu ouvido. Era uma mulher inteligente e sabia que Alesha estava lhe provocando. Sorriu.

Ela não é fácil; e o pior é que eu estou gostando desse jeitão meio canalha que ela está fazendo!

Abriu mais ainda o sorriso.

— Para uma pessoa que foi demitida, você até que parece bem feliz.

Elas já estavam entrando no shopping,  encaminhando-se para o café.

— Na realidade, eu disse a mim mesma quando acordei, que não ficaria deprimida por conta disso, mas a verdade é que eu fui demitida sim, mas não estou desempregada.

Alesha estancou, pouco antes da entrada do café.

— Você está me dizendo que já tinha outro emprego engatilhado?

Laura sorriu mais ainda com a expressão de eto da morena.

— Não, senhora espertinha. Vamos entrar e pedir o nosso café da manhã que eu te conto.

Pediram alguns croissants e o cappuccino sugerido por Alesha e sentaram em uma mesa no canto do café.

— A verdade é que fui mandada embora da empresa, mas Amalie se recusou a abrir mão de meus serviços e acabou me contratando como sua assessora pessoal. Agora meu contrato vai ser um instrumento particular, mas como ela é diretora do departamento e eu sou sua assessora, vou ter acesso aos registros do departamento, auxiliá-la na direção e trabalharei também com Dr. Amino, que foi elevado ao cargo de Chefe do Jurídico.

Alesha não conseguiu se conter e começou a rir.

— Eu não estou acreditando! Vocês se safaram direitinho, einh! E o que você acha que a diretoria vai fazer?

— Pela minuta de contrato que o Dr. Amino redigiu, a direção não pode fazer nada a não ser que tire a Amalie da direção. Aí você imagina como isso seria se o fizessem!

Alesha, nesse momento, gargalhava frouxo.

— Deuses! E eu, idiota, preocupada com você! Gostaria de ser uma mosca para ver a cara do Serrão!

Laura, que levava um croissant até a boca, nessa hora parou, estanque.

— Por que você acha que minha demissão tem a ver com o Serrão?

— Porque eu sei que, de uma forma ou de outra, ele sempre controlou a empresa. Sei, também, que todos os chefes de departamento estão ligados a ele e é quem controla as transações comerciais da empresa, compra de materiais, sejam nacionais ou importados; quem negocia é ele e o financeiro é dirigido por um aliado forte dele. Ele não deve ter gostado de ter perdido uma de suas bases.

— O motivo não foi o Serrão, mas sim, ele é uma pedra no sapato de Amalie e, pelo visto, no crescimento da empresa. Alesha, se você fosse convidada a assumir a direção do seu departamento, você compraria essa briga?

Dessa vez foi Alesha que parou com a xícara de cappuccino no meio do caminho para sua boca. Pousou a xícara de volta na mesa, olhando séria para Laura.

— Por que você está me perguntando isso?

Foi a vez de Laura gargalhar. Sabia que a morena era uma mulher muito sagaz, porém a noção de um fato como esse, ela nunca poderia, sequer, imaginar. 

No dia anterior, quando Amalie e Amino estavam reunidos na sala de Laura à tarde, logo após a reunião de diretoria, Castelão procurou Amalie pedindo sua opinião, porque queria chamar alguém do próprio departamento para chefiar o RH. Amalie pediu para Castelão expor suas ideias sobre o departamento para Laura e Amino. Ele já levava os nomes de Alesha e Naomi para a função. Castelão levou o currículo das duas e o histórico delas dentro da empresa. Acabaram concordando que, pelo perfil e dinamismo, a morena seria a pessoa acertada para o cargo, mas sabiam também que Alesha trabalhava muito bem junto com Naomi, então Castelão resolveu chamá-la e indicar a Naomi para ser sua assessora. Assim teriam uma chefia equilibrada.

— Laura, por favor, pare de rir e me responda. Por que você está me perguntando isso?

— Bom, eu não posso te contar exatamente por que, mas acho que você será promovida hoje.

Laura gargalhou novamente, ao ver as feições de eto e certa preocupação no rosto da morena.

— Você não me respondeu. Você aceitaria?

— Laura, me desculpa, mas eu estou um pouco estarrecida com essa notícia. A verdade é que eu sempre critiquei a forma da empresa gerir as coisas, mas a possibilidade de ascensão e de poder fazer realmente algo era tão distante…

— Calma, Alesha. Não queria te preocupar, na realidade eu estava era eufórica, pois achei a escolha adequada. Castelão vai falar pessoalmente com você e colocará todos os termos. Assumir, não vai ser fácil diante de tanta pressão, Mas acredito que agora será melhor do que há três semanas.

— Ei! Você está falando como se eu tivesse com medo. Eu não estou com medo. Só um pouco… hum… como eu poderia dizer? Apavorada!?

Alesha fez uma cara de pavor fingido. Laura riu, pois a morena estava mexendo com ela novamente.

— Você é impossível!

A loirinha bateu de leve no braço de Alesha e a morena segurou sua mão. As duas se olharam, intensamente. Depois de alguns segundos, paralisada naquele olhar de azul penetrante, Laura retirou sua mão sutilmente, pois estavam próximas demais do trabalho para se exporem. Alesha fez um sinal com a mão para Laura se aproximar, na intenção de falar-lhe baixo. Aproximou o seu rosto e a morena falou em seu ouvido.

— Você quer jantar comigo hoje?

Laura se afastou um pouco e as duas se encararam bem próximas. O coração da loirinha se acelerou e sua respiração saiu do ritmo. Ela sorriu, se recompôs e fez o mesmo gesto que  Alesha havia feito para que ela se aproximasse. A morena estava amando esse jogo entre elas e aproximou o seu ouvido dos lábios de Laura.

— Na sua casa ou na minha?

A voz suave e o calor do hálito de Laura arrepiaram até o último fio de cabelo da morena. A tensão sensual entre elas aumentava e era algo além do normal. Bastava que ficassem próximas o suficiente para que essa sensação crescesse e acumulasse em seus íntimos. Alesha pediu para Laura se aproximar novamente, o que foi prontamente atendido.

— Na minha, pois eu convidei, mas confesso que vou pedir a comida em um restaurante, pois a minha é uma droga!

Laura gargalhou e recostou na cadeira de forma relaxada encarando a morena. Sorria, mas era um sorriso jovial de entusiasmo. Pediu para Alesha se aproximar novamente.

— Então vamos fazer na minha, pois eu cozinho bem. Posso garantir um jantar delicioso a você…

A voz de Laura assumiu um tom arrastado que resultou no tremor do corpo da morena. Olharam-se novamente. O celular de Alesha tocou, fazendo- a pular na cadeira.

— Droga!

Laura riu de seu susto.

— Alô, Naomi? Tá. Já estamos indo.

Quando Alesha desligou, o celular de Laura tocou.

— Oi! Está certo, Sabine. Já estou retornando. — Laura desligou.

— Acho que temos que ir.

— É.

— Você passa no departamento para me dizer o endereço?

— Passo.

Antes de levantarem, olharam-se novamente em uma cumplicidade confortável e acalentadora.


Nota: Um capítulo extra para alegrar quem acompanha e está gostando da história!

Bom isolamento social para todas e um beijo no coração!

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