Caminhos em Dias de Luz

Capítulo 10 — Mudanças

Caminhos em Dias de Luz

Texto: Carolina Bivard

carolinabivard@gmail.com

Revisão: Nefer

Ilustração: Táttah Nascimento


 

Capítulo 10 — Mudanças

 

Laura entrou na antessala de seu escritório.

— Dona Amalie já está conversando com Dr. Amino em sua sala.

— Obrigada, Sabine!

Laura entrou no escritório e Amalie conversava com Amino com o semblante sério.

— Como foi, Amalie?

Amalie olhou para Laura um pouco desconfortável. 

— Bem, quanto à reunião em si, foi ótima. Serrão não conseguiu se impor e você acabou abrindo precedentes para uma auditoria externa em todos os setores da empresa; isso só vai ser conversado e analisado para a próxima reunião.

— Então surtiu efeito e Serrão não vai poder interferir.

— Sim.

— O que houve? Parece que você não está gostando disso?

Amalie suspirou.

— Não é com relação exatamente à essa reunião que eu estou chateada. Na realidade, ela deu mais frutos do que imaginávamos. O Castelão, por exemplo, se pronunciou e exigiu que a chefia de seu departamento fosse mudada por alguém que ele escolhesse. Disse que não está satisfeito com os serviços do Lacerda e quer fazer umas mudanças em seu departamento também. Senhor Arrais concordou e, pela primeira vez, o Rezende se pronunciou a favor de um dos lados. — Amalie sorriu. — O nosso.

Laura sorriu também.

— Isso é ótimo! Então qual o problema?

— O problema é que Arrais foi ao meu gabinete, logo depois da reunião, falar comigo a respeito de um assunto muito particular, o qual ele não achava justo e nem queria expor na frente de todos.

— Que assunto?

— Você.

— Eu?

— É. Sente-se, Laura. Nós precisaremos conversar.

— Por favor, Amalie, fale logo porque eu realmente estou ficando nervosa.

— Seu pai conhece Arrais, pois a nossa empresa tem muitos contatos com a empresa de importações de sua família. Quando você entrou, uma semana depois houve uma recepção na casa de seu pai em que Arrais compareceu com a sua esposa…

Laura jogou seu corpo na sua cadeira.

 “Pelos céus! Meu pai não vai desistir de me atormentar! Será que a vida inteira ele vai me perseguir”?

— Calma, Laura! Nós vamos achar uma saída. Eu não estou nem um pouco inclinada a deixar que sua competência se perca por um pedido absurdo.

— Então meu pai realmente pediu a minha demissão para Arrais?

— Sim. Mas eu disse que não faria isso, principalmente depois de você ter se mostrado tão competente para a função. Nesse momento, eu contei a Arrais sobre as câmeras de vigia implantadas no setor e em como você foi extremamente profissional ao me contatar e também, em como agimos para tirar o sistema com uma empresa idônea, a qual atestou em uma ata de serviço a completa retirada de tudo com a nossa plena concordância.

— E como ele reagiu?

— Irado e ao mesmo tempo, assustado. Estava preocupado sobre vazamento dessa informação.

— Contou a ele sobre como foi a retirada do equipamento?

— Claro, tinha que tranquilizá-lo. Contei que filmamos toda a retirada e exigimos documentação, para certificar que já não existia mais o sistema implantado. Disse que fizemos no fim de semana posterior a sua chegada e consequentemente a sua descoberta. Ele perguntou por que não o avisamos e aí eu expliquei que, como era meu setor, eu não queria implica-lo, caso houvesse algum processo por parte do Queiroz.

 — O senhor Arrais, embora me pareça sensato, também sugere ser um homem controlador, Amalie. Não acredito que tenha aceitado ser deixado à parte.

— Realmente não aceitou muito bem, porém, sei lidar com ele. — Amalie sorriu. —  Por isso disse que nós duas achamos melhor falar com ele após a reunião. Tem que confirmar isso, caso ele venha a falar com você.  Disse a ele, que não julgava prudente falar diretamente na reunião, pois a essa altura, eu não tinha certeza se o Serrão sabia ou não desse sistema, já que Queiroz é seu cunhado.

Laura inspirou fundo. E Dr. Amino se pronunciou pela primeira vez.

— Bom, acho que temos que resolver outro assunto agora, já que Arrais optou por deixar que Amalie achasse uma saída para você, Laura. Mas ele deixou bem claro que não poderia segurar para sempre, pois a LH tem muitos negócios com a empresa de seu pai. Você gostaria de contar, mais ou menos, o que se passa com você e seu pai, para que possamos estabelecer uma conduta para contra-atacar?

— Contra-atacar? — Amalie olhou para Amino sem entender direito.

— Sim, contra-atacar, pois pelo que estou percebendo nem você, nem eu e, muito menos, Laura está querendo essa interferência do pai dela e pelo que pude perceber também, ele está agindo pelas suas costas para te minar ou estou enganado?

Laura suspirou novamente e olhou para Amino. Ele era um homem de poucas palavras, mas muito assertivo.

— Ok! Então, vamos lá.

Laura contou tudo, desde os termos do acordo pré-nupcial feitos por seus avós, o comportamento controlador de seu pai, seu casamento forçado, a sua separação, a faculdade imposta, a doença e morte de sua mãe e, finalmente, o bloqueio de sua herança, culminando com a briga e a saída de Laura de casa.

— Muito bem. Então temos várias saídas. — Amino falou, calmamente.

— Temos? — Laura e Amalie falaram ao mesmo tempo.

— Sim, temos… — Amino sorriu.

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O dia tinha sido altamente estressante para Laura, mas, depois da conversa com Amino e Amalie, ela se encontrava mais calma. Afinal existia uma saída para os abusos de seu pai.

Laura se dirigiu para o estacionamento. Entrou em seu carro e quando iria ligá-lo, viu um papel fixado no parabrisa de frente para o volante. Saiu do carro para retirá-lo, todavia, já tinha lido o início do que estava escrito e seu coração começou a bater forte. Pegou o papel e terminou de lê-lo.

“Fiquei muito feliz em te ver. Quando retornei de férias e Naomi me colocou a par das mudanças, gostei por terem posto alguém com coragem suficiente para enfrentar as velhas e viciadas amarras que nunca trazem benefícios, Entretanto, quando ela me mostrou quem era a pessoa no restaurante, vi que o destino me sorria. Um sorriso franco, aberto e de uma beleza ímpar… Se as coisas estiverem pesadas e escuras para você, não se intimide e nem hesite em me procurar. Comprometo-me em apoiá-la, nem que seja apenas para te fazer rir, pois seu sorriso é capaz de iluminar a mais terrível escuridão. Alesha”.

Laura não conseguia conter o sorriso que estampava em seu rosto. Levantou a cabeça e olhou por todo o estacionamento, na esperança de ver a morena, mas não conseguiu divisar ninguém por perto. Dobrou cuidadosamente o papel e colocou em seu bolso. Entrou no carro, ligou-o e saiu.

Alesha estava observando dentro do seu próprio carro. Os vidros tinham insulfilm bem fechado e não permitiam qualquer visão exterior. Sorriu ao ver o sorriso estampado no rosto da loira. Ligou seu carro e também saiu.

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— Bom dia!

Alesha entrou rindo na sala e muito bem disposta.

— Bom dia! Tá feliz hoje, einh? Viu passarinho verde?

— Não.

Sorriu.

— Viu passarinho amarelo então…

— Não hoje, mas ontem à tarde vi um canarinho amarelinho, sorrindo ao ler uma mensagem de certo corvo.

Naomi virou sua cadeira para Alesha.

— Huuummm… Não entendi! Explica.

Alesha sentou em sua cadeira.

— Bem. Ontem à tardinha, eu escrevi uma mensagem e coloquei no parabrisa do carro de Laura, entrei em meu carro e fiquei esperando. Ela saiu bem tarde daqui da empresa, já devia ser umas sete da noite. Achei até que tinha dado alguma “craca” com relação à reunião, mas depois que ela chegou e leu, abriu um sorrisão maravilhoso!

— Entendo. E você abriu um sorrisão junto, né?

Alesha só sorriu para a amiga.

— Diz o que você escreveu, vai!

— Não. – Alesha falava pausado para irritar Naomi.

— Qual é, Alesha? Quem é que te dá cobertura, einh?

— Você é muito curiosa. — Alesha estava apenas mexendo com a amiga. Adorava provocá-la.

— E o que é que tem em ser curiosa? Anda! Conta logo!

— Não.

— Está bem, então não vou contar o babado forte de hoje em primeira mão…

— Epa! Isso é maldade!

— Maldade não! Isso é retribuição. Você conta, eu conto. Você não conta, eu não conto.

— Ok! Eu vou falar, mas não é porque fez essa chantagem não, pois a sua notícia, mais tarde eu vou saber e o que eu escrevi para Laura, você pode nunca saber.

— Você não iria aguentar ficar sem contar.

— Iria sim e você sabe disso, mas…

— Mas?

— Mas acho que você merece saber. Afinal, você contribuiu imensamente para a minha causa.

Alesha elevou sua sobrancelha sorrindo sarcasticamente.

— Deixa de ser metida e fala logo!

Alesha contou e Naomi a olhou com eto.

— O que foi? Ficou ruim?

— Não ficou ruim. Hummm… Eu só estava pensando que espécie de alienígena assumiu seu corpo. – Naomi gargalhou. — Alesha, é a primeira vez que vejo você escrevendo cartinhas de amor!

Alesha fechou o cenho e se virou de frente para sua mesa. Naomi viu que tinha pegado pesado com a sua amiga, pois a morena costumava ser muito introspectiva com relação a seus sentimentos. Naomi correu com sua cadeira, sentindo os rodízios rolarem suavemente e ficou ao lado da amiga.

— Alesha, me desculpa. Eu só estava brincando. Na realidade, eu estou muito feliz que compartilhe isso comigo. É a primeira vez que te vejo realmente interessada em alguém e, mais que isso, é a primeira vez que vejo que você deixou alguém entrar em seu coração. E sabe o que mais me agrada nisso tudo?

Naomi olhou para Alesha para que esta se virasse para ela.

— Não, o quê?

— É que eu acho que você acertou em cheio. Eu gosto da Laura. Eu acho que é uma pessoa íntegra e tem uma suavidade impressionante.

Alesha sorriu para Naomi.

— Eu posso até me machucar, Naomi, mas eu também acho que acertei dessa vez…

As duas sorriram em cumplicidade.

— Agora deixa de me enrolar e conta o que tá acontecendo. A rodada é sua agora.

— Garota! O Castelão chegou aqui “super” cedo, eu nem tinha chegado, mas a secretária dele me contou… Ele ligou ontem à noite para ela, depois do expediente, e pediu que chegasse cedo e ligasse para o Lacerda, pedindo para ele vir à empresa logo de manhã cedo, também. Pelo que eu sei, eles estão trancados na sala do Castelão desde às sete e meia da manhã…

— Isso é babado forte! O que será que rolou na reunião, ontem? Cara, a gente que fica aqui embaixo é uma “M” mesmo. As coisas acontecem e a gente tem que se virar para descobrir. Eu só gostaria que a diretoria tivesse mais consciência do que acontece de verdade na empresa. Parece que eles dirigem isso aqui, como se tivessem brincando com carrinhos bate-bate de parque de diversão. O circo pegando fogo e eles não se tocam!

— É. Mas as coisas estão mudando.

— Não. As coisas estão sendo levantadas, Naomi, é diferente. Agora se eles vão aceitar essa mudança, ninguém sabe; e o pior é que Laura é o pivô disso tudo. Se alguém na direção não gostar do que estiver acontecendo, a Laura dança e isso vai ser mais perigoso ainda.

— Você acha?

— Claro! Se quisessem mudar mesmo, por que não aconteceu antes? Pessoas como a Amalie devem estar cansadas, querem mostrar os erros e fazer algo para mudar e crescer. Todavia,  você sabe que o Serrão, que sempre se impôs, deve estar, agora, impaciente com as coisas movimentando de forma diferente. Fala sério! O Queiroz era cunhado do Serrão, você acha que ele ficou “felizinho” quando a Amalie mandou o cara embora para colocar a Laura?

— Então você acha que a Laura vai ser mandada embora?

— Eu não sei, mas não acho que as coisas tenham ficado muito boas para ela, pelo menos por uma parte da direção.

Alesha e Naomi escutaram uma batida na porta da sala.

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