BRINCAR DE COLORIR

6. Fugindo de si

Os dias passam e Laís luta contra a vontade de falar com Serena, acaba não respondendo suas mensagens. Acredita que se distanciando, vai minar o interesse da menina de cabelos cor de fogo.

Serena manda todos os dias pela manhã um bom dia e alguma foto que tenha algo bom de ler. Acha que pode de pouco em pouco, amolecer o coração de Laís.

O mês passa e elas não se falam, mas Laís pensa cada vez mais em Serena, mesmo sabendo que não há como fazer dar certo. Numa sexta, resolve sair e vai a uma boate gay que frequentava. Sentada no bar, está curtindo a música e olhando o ambiente, porém ninguém chama sua atenção. Até que sente um toque no ombro.

– Boa noite. – diz uma mulher alta e de corpo escultural.

– Boa noite. – Laís responde e a olha da cabeça aos pés.

– Te vi sozinha aqui há um bom tempo, resolvi vir perguntar o que uma mulher tão interessante faz sozinha num lugar como esse.

– Apenas curtindo a música.

– Posso me sentar aqui?

– Claro.

A mulher senta no banco ao lado de Laís.

– Me chamo Luísa, prazer! – e estende a mão para cumprimentar.

– Prazer, sou Laís. Aceita um vinho?

– Sim.

Laís pede ao barman e ambas ficam de frente uma para a outra. Laís olha para a mulher a sua frente que tem cabelos castanhos claros e lisos até os ombros, olhos verdes e covinhas. Nota as delicadezas dos seus traços.

– Venho quase toda semana aqui e nunca te vi, é sua primeira vez? – pergunta Luísa tomando um gole do vinho.

– Vinha muito, já tem um bom tempo que não aparecia por aqui.

– Mudou muito?

– Me parece sempre as mesmas personagens, só que em corpos diferentes.

– Como assim?

– Dá uma olhada à sua volta. Os mesmos tipos, a mais nova dando em cima da mais velha que anda solitária e carente, a periguete que quer pegar todas ao mesmo tempo, a ativa que quer se fazer de macho alfa…enfim…

– É bem verdade, mas acho que aqui são esses tipos de pessoas que acharemos. Tudo para passar apenas algumas horas e quem sabe, uma noite acompanhada.

– Meio vazio não? – Laís diz e pensa no quanto mudou, pois ia justamente a esses lugares para se divertir por breves momentos.

– Mas às vezes damos sorte de encontrar alguém que foge desses estereótipos.

Laís olha para Luísa e vê como é bonita e charmosa. Enquanto conversam, resolve investir mesmo que não passe de alguns bons momentos, quem sabe faça com que ela pare de pensar em Serena.

– Me fale de você… – Laís diz dando seu sorriso sedutor.

– O que quer saber?

– Tudo o que queira me contar.

– Huuum deixe-me ver. Bom, tenho 38 anos, separada há dois, sem filhos, sou médica e moro sozinha. Deixei algo de fora?

– Foi casada com homem ou mulher?

– Com mulher.

– Médica especialista em que?

– Sou cirurgiã.

– Um lindo trabalho!

– E você, me fale sobre você.

– Acho melhor você perguntar o que deseja saber.

– Moça difícil! Profissão, é casada ou solteira, se tem filhos, qual sua cor preferida, se já pulou de paraquedas, coisas assim. – e dá um sorriso encantador.

Laís ri do jeito espontâneo.

– Sou auditora, nunca casei, permaneço invictamente solteira, filhos nem em sonho, gosto de preto, já pulei de paraquedas e voei de asa delta.

– Preciso dizer que você é muito interessante.

– Você também Luísa.

Conversam por algum tempo, Laís se sente atraída e faz o convite:

– Que tal sairmos daqui?

– Quer me levar para um lugar mais sossegado? – Luísa ri de um jeito leve.

– Na verdade não pensei em um lugar, apenas que essas músicas estão me irritando e não consigo prestar a devida atenção que quero em você.

– Tem uma cafeteria que gosto muito, perto do hospital onde trabalho. Podemos ir lá.

– Vamos. Está de carro?

– Não, me dá uma carona?

A cafeteria fica no centro da cidade. No caminho passam em frente à loja de Serena, Laís sente um aperto no peito.

– Tá tudo bem? – Luísa pergunta.

– Sim, está sim.

Entram na cafeteria que é aconchegante e tem um estilo antigo, sentam numa mesa no fundo.

– Lugar agradável.

– Venho sempre, entre uma cirurgia e outra. Gosto daqui, consigo relaxar.

Pedem cappuccino e a conversa gira em torno das coisas comuns.

– Auditora contábil?

– Sim, trabalho em um banco.

Luísa percebe que Laís fica um pouco mais séria.

– Você me parece séria agora, aconteceu alguma coisa?

Laís percebe que só de passar em frente à loja de Serena seu humor alterou, então muda de assunto.

– Na verdade eu fiquei imaginando como uma médica linda como você pode estar solteira.

– Engraçado você dizer isso, porque me pergunto a mesma coisa sobre você.

– Acredito que não tenha encontrado a mulher certa, e você?

– Me decepcionei um pouco no final do meu casamento. Depois dele não senti vontade de me relacionar mais seriamente.

– Então apenas sexo? – Laís diz fingindo assustada.

– Por enquanto tem sido, mas posso mudar de ideia dependendo da mulher que encontrar. – e dá uma piscada para Laís.

– Você disse decepção, houve traição?

– Sim. Acho que, meus horários irregulares, muitas noites no hospital, acabaram deixando minha ex-mulher carente e a incentivou a procurar outras.

– No plural?

– Sim! Descobri três casos, nem imagino quantos outros ela deve ter tido.

– Nossa, isso me lembra porque nunca me casei. – Laís coloca a mão no peito e dá um suspiro.

Luísa ri do jeito dramático de Laís e diz:

– Olha casamento é bom, desde que ambas sejam sinceras e respeitem as regras.

– Regras??

– Sim. Sabe essa coisa de fidelidade hoje não me importa. Acho que quase aos 40, entendo que não tenho a posse de ninguém e muito menos quero que alguém se ache minha dona. O problema é quando isso não é falado.

– Como assim?

– Se eu me relacionar seriamente com uma mulher hoje, vou deixar claro que não me importa a fidelidade sexual sabe? Primo pela lealdade, ela sim me é importante.

– Mas fidelidade e lealdade não são quase a mesma coisa?

– Não para mim. Lealdade é quando ambas concordam e respeitam as regras. Ok, vamos nos relacionar, mas sabemos que há a possibilidade de sentirmos atração por outras pessoas, e tudo bem deixarmos acontecer. Desde que isso seja algo aceito por ambas.

– Gosto do seu jeito de encarar a vida.

– Santa maturidade. Mudei com o tempo e depois de perceber que somos mais felizes quando nos sentimos livres.

Laís olha para a mulher encantadora sentada à sua frente e sente uma vontade enorme de sentir seu beijo e percorrer todo seu corpo com suas mãos e boca.

– Agora gostaria de te fazer outro convite Luísa.

Luísa coloca sua mão em cima da mão de Laís e mordendo de leve seu lábio inferior, pergunta:

– E qual seria?

– Que tal irmos até a minha casa?

– Você é bem direta, gostei disso.

– E sua resposta é…

– Agora!

Levantam e vão para o carro. Chegando ao seu apartamento, Laís abre a porta e deixa Luísa entrar primeiro.

– Lugar lindo.

Laís pega a mão de Luísa e a puxa para mais perto. Enlaça sua cintura e sente seus corpos quentes, colarem.

– Objetiva você dona Laís. – Luísa corresponde e coloca seus braços na cintura de Laís.

– Somos duas mulheres maduras e interessantes.

– Sim somos.

– Para que perder tempo com bobagens? – diz Laís já beijando o pescoço de Luísa.

Luísa passa suas mãos nas costas de Laís enquanto sente sua boca no pescoço, segura o rosto de Laís e olhando em seus olhos, pede:

– Me beija.

Laís passa seus lábios na boca de Luísa, morde de leve e sente a boca quente se abrindo, coloca sua língua e a explora. Nesse momento sente o corpo de Luísa colar ainda mais no seu, as mãos a seguram com mais força.

– Por que não me apresenta seu quarto? – Luísa sussurra em seu ouvido.

– Vem. – Laís a puxa pela mão até seu quarto.

Tira a roupa de Luísa com delicadeza. Primeiro puxa o zíper do vestido fazendo com que escorregue pelo corpo.

– Seu corpo é lindo! – Laís diz já beijando os ombros e passando as mãos nas costas.

Luísa sente seu corpo queimar ao toque de Laís, que agora passa as mãos nas laterais de seu corpo e de repente, agarra mais forte e a puxa para encostar ainda mais nela.

– Tira sua roupa, quero sentir sua pela na minha.

Laís se afasta e em pouco tempo, já está nua. Leva Luísa até a cama e a faz deitar de costas. Se encaixa em cima dela, sente os corpos esquentarem ainda mais.

– Quero fazer você delirar.

– Então está no caminho certo Laís… – sai um sussurro.

Laís segura as mãos de Luísa acima de sua cabeça, que a olha com aprovação. Percorre com sua boca, primeiro o pescoço, passeia por ele todo, depois vai até a orelha, morde e desce até o ombro. Ouve Luísa gemer. Desce pelo colo e passa a língua em cada seio, depois beija de leve. Olha para Luísa e a vê de olhos fechados, extasiada.

Desce suas mãos pelos braços, de leve e sente o corpo arrepiar ainda mais, beija a barriga e segura sua cintura. Puxa o corpo de encontro à sua boca. Luísa diz com voz entrecortada:

– Que delícia.

Passa a língua na parte interna das coxas de Luísa que treme, morde cada uma delas. Suas mãos firmes apertam as coxas e sua boca agora toma seu sexo. Luísa sente seu corpo tremer e ondas de prazer invadem cada parte dela. A língua de Laís com destreza, faz seu clitóris latejar, sentem os dedos dentro de si e pede com a voz carregada de tesão:

– Mais forte…

Laís obedece e intensifica os movimentos de seus dedos dentro dela, suga seu clitóris de forma suave passando a língua na ponta dele bem rápido. Sente o corpo de Luísa mexer mais intensamente e percebe que irá gozar. Luísa se entrega por completo e sente o prazer máximo chegar, quando ele explode, solta um gemido forte e treme inteira.

Depois do gozo, Laís se deita a seu lado e coloca um dos braços por baixo do corpo de Luísa, abraçando, com a outra mão, passeia pelo corpo suado e mole pelo prazer.

– Nossa, que delícia. – Luísa diz com voz doce e macia.

-Você é muito gostosa, é quente.

As duas deitadas juntinhas, ficam por um tempo quietas, apenas curtindo o momento. Luísa se deita sobre Laís, beija o pescoço enquanto suas mãos tomam os seios. Sente Laís gemer baixinho, vai beijando, lambendo e sugando cada parte do corpo. Quando coloca sua mão entre as pernas de Laís, sente que ela a segura e puxa para cima.

– O que foi? Não gosta de ser tocada?

– Não, prefiro não.

– Mas quero te fazer gozar como me fez.

Laís sai debaixo de Luísa e se afasta. Senta na cama, de costas para ela.

– Senti um enorme prazer te fazendo gozar.

Luísa se encaixa atrás dela e a abraça.

– Tudo bem, respeito seu jeito. – e beija a nuca.

– Vou tomar um banho. – Laís se levanta e vai até o banheiro sem olhar para trás.

Embaixo do chuveiro pensa em Serena. Como conseguiu se entregar tanto a ela e agora com Luísa, uma mulher que sabe ter muito mais a ver, não se entregou? Ao contrário, não sentiu vontade e teve que inventar a desculpa do banho.

Luísa deitada na cama coloca os braços cruzados sob a cabeça e fica refletindo sobre o que acabou de acontecer. Tudo estava perfeito e, de repente, Laís se levanta e vai tomar banho e nem a convida. Levanta e vai até o banheiro, encosta na pia que fica de frente para o box e pergunta:

– Devo ir embora?

Laís se assusta, pois estava perdida em seus pensamentos. Se vira e diz olhando para a linda mulher nua a sua frente:

– Não. Apenas preciso de um banho.

– Sei lá, estava tudo ótimo, aí você se levanta e sai. Não quero incomodar.

Laís termina o banho, pega a toalha e começa a se enxugar.

– Desculpa, não queria te dar essa impressão.

– Fiz algo errado? Foi porque quis te tocar? – diz pegando a toalha das mãos de Laís e começando a secar seus cabelos.

– Não. Tá tudo bem. – e se deixa secar por Luísa.

Quando termina, Luísa segura o rosto de Laís com suas mãos e deposita um beijo suave em sua boca.

– Bom melhor eu ir embora. Quem sabe um outro dia a gente continua. – vira as costas e vai para o quarto.

Laís a segue, meio aturdida, não sabe se pede para que fique ou se concorda em deixá-la ir.

– Luísa fica, eu…eu…não sei o que aconteceu, apenas…

– Tudo bem Laís, vou anotar meu telefone, caso sinta vontade, me ligue. – diz já terminado de colocar sua roupa.

Pega uma caneta e um papel em sua bolsa e anota seu número. Deixa em cima do criado mudo. Vai até Laís, que permanece imóvel e nua, lhe dá um beijo na boca.

-Foi ótimo, espero que tenha replay.

– Terá.

Laís a acompanha até a porta e se despedem. Volta para o quarto e deita na cama, ainda nua. O sono demora a chegar, tantos são os pensamentos e as sensações estranhas que invadem seu coração.



Notas:



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