BRINCAR DE COLORIR

5. O dia seguinte após o primeiro colorir

No domingo, Serena passa o dia no sítio e Laís vai sozinha ao cinema. Quando é quase nove da noite, Laís recebe uma mensagem:

“oi olhos de neblina”

“oi menina dos cabelos de fogo”

“o que faz de bom?”

“lendo um livro e ouvindo música, e vc?”

“acabei de chegar em casa, tomei um banho e tô deitada na rede”

“rede??”

“sim, pq o eto?”

“achei estranho ter uma em casa”

“amo deitar na rede”

“não tenho costume de deitar em rede”

“é bom, dá pra fazer bastante coisa boa nela…”

“ah é? Cite exemplos.”

“é bom dormir, ler, ouvir música e…”

“e…???”

“prefiro te mostrar…”

Laís fica tentada em provocar Serena, fica pensando no que escrever quando seu celular avisa que tem outra mensagem:

“nós na batida no embalo da rede, matando a sede na saliva”

“você nem tem idade para conhecer essa música!”

“aprecio tudo o que é bom, geralmente as coisas antigas e pessoas maduras”

“ah é?”

Serena morde os lábios, percebe que Laís não resiste a uma provocação, a ser desafiada. Para instigá-la a ir até sua casa, manda a mensagem:

“posso provar, mas aí você precisa ter coragem pra vir aqui, não sei se tem…”

Com essa frase, Serena consegue seu intento. Laís se sentindo desafiada, responde na sequência:

“estou esperando a mocinha mandar o endereço, ou será que se acovardou?”

Serena sorri e envia o endereço. Laís coloca uma calça jeans, uma camisa e seu único all star. Pega as chaves do carro e desce o mais rápido que pode. No caminho se questiona sobre o que está fazendo, saindo num domingo à noite para ir à casa de uma menina que viu apenas duas vezes.

Quando se dá conta, está em frente ao prédio de Serena, que é simples e baixo. Quando chega à porta, vê que não tem porteiro, então aperta o número do apartamento e aguarda Serena atender.

– Olá!!

– Oi menina dos cabelos cor de fogo.

– Por acaso é uma mulher linda de olhos de neblina?

Laís ri do jeito de Serena.

– Sim, fui desafiada e vim mostrar que além de linda, sou corajosa.

O portão se abre e Laís entra. Percebe que terá que subir de escada, já que o prédio não tem elevador. Chega ao terceiro andar e toca a campainha. Ouve a voz de Serena.

– Está aberta.

Ela entra e não vê a menina na sala, que está iluminada por um abajur grande no canto. Fecha a porta e vê a rede que está presa na sala, em frente à pequena varanda. Por instinto vai até ela. Sente um movimento atrás de si e quando se vira, dá de cara com Serena, linda num vestido florido curto e solto. Ela estende uma taça de vinho para Laís.

– Oi mulher de olhos de neblina. – e sorri.

– Olá Serena. – diz pegando a taça e já dá um gole no vinho.

Serena vai caminhando até Laís, para em sua frente e a observa tomar seu vinho. Passando a língua entre os lábios, olha Laís da cabeça aos pés e diz com voz rouca e mais baixa:

– Prefiro matar minha sede na saliva…

Laís coloca sua taça numa mesa e, sem dizer nada, caminha até Serena. Com suas duas mãos, segura seu rosto e a beija na boca. Sente as mãos de Serena enlaçar sua cintura. Laís a leva até a rede e fala num tom provocativo:

– Ficaram de me mostrar algo bom para se fazer numa rede.

Serena senta na rede e puxa as mãos de Laís, que se senta de frente para ela. Coloca suas pernas por cima das de Laís e com suas mãos vai desenhando o rosto misterioso, depois a boca, o pescoço, o colo e os ombros. Laís fecha os olhos e apenas sente o toque macio e quente de Serena.

Serena aproxima sua boca da dela, mas quase nem encosta, só deixa sua respiração tocar sua pele. Vai passeando pelas bochechas, orelhas e volta ainda mais perto da boca. Apenas roça seus lábios nos dela, suas mãos brincam nos braços de Laís bem de leve. Diz baixinho:

– Não quero apenas transar com você, quero mais.

Laís abre os olhos e a encara, sem saber o que dizer. Ambas se olham de forma intensa e as palavras se fazem desnecessárias. Serena passa sua língua na boca da mulher de olhos de neblina, que corresponde sugando-a delicadamente. O beijo suave faz seus corpos arrepiarem. Quando Laís puxa Serena para mais perto com urgência, esta diz:

– Calma, quero te experimentar de um jeito bem suave hoje.

Ainda sentada sobre o colo de Laís, tira seu vestido ficando apenas de calcinha. Com calma vai desabotoando a camisa de Laís e joga no chão, a olha de forma sensual. Beija o colo de Laís que fecha os olhos, tira seu sutiã e lambe cada um dos seios. Beija cada parte que vai desnudando, arrepiando a pele da mulher misteriosa. Passa as palmas de suas mãos sem quase encostar, pelo colo, barriga e costas. Sente a respiração de Laís ficar mais intensa e percebe que também está cada vez mais ofegante. Laís se levanta e tira resto de roupa que ainda veste.

Com delicadeza, Serena se deita e puxa Laís para que deite sobre si. Encaixam suas pernas e vão se movimentando devagar como se dançassem um suave bolero. Os corpos se fundem, não param de se beijar e suas mãos exploram cada pedacinho do corpo uma da outra.

Serena desce sua mão até o meio das pernas de Laís, passa seus dedos em volta do seu sexo que já está molhado, sente a quentura e o invade. Laís geme alto e com seu corpo, segue o ritmo imposto pela mão de Serena. Sente um prazer maluco tomar conta do seu corpo e dos seus sentidos, aumenta instintivamente seu rebolado.

Serena beija seu pescoço enquanto a arranha suas costas com sua mão livre. Laís apenas se entrega à menina cor de leite. Seu gozo vem em ondas, parece que são vários orgasmos seguidos e sente o corpo todo trepidar.

Serena sente uma felicidade incomum ao ver a entrega de Laís, que deixa seu corpo cair sobre o seu depois da explosão de prazer.

Depois de uns minutos, diz baixinho:

– Não te falei que tem muitas coisas boas pra se fazer numa rede?

Laís ri e olha de forma terna para Serena.

– Não imaginei que poderia ser tão bom menina.

– Quem sabe agora você aprende a confiar em mim. – e a presenteia com seu sorriso iluminado.

Laís afunda seu rosto no pescoço de Serena, não quer mais sair dali, onde tudo é calmo e intenso ao mesmo tempo. As duas ficam por um longo tempo abraçadas, até que Laís quebra o silêncio:

– Agora minha vez. – e faz menção de inverter as posições.

Serena não deixa que mudem de lugar.

– Não! Hoje será assim, foi como imaginei.

– Me parece bem injusto. – Laís faz bico, contrariada.

– Sempre tem que mandar em tudo?

– Não, apenas acho…

– Não ache tanto assim, e muito menos ache por mim Laís. Vem vamos tomar um vinho!

Elas saem da rede e Serena serve as duas taças. Sentam no sofá e ela puxa para que Laís deite em seu peito.

– Impressão minha ou você não tá acostumada a ser o lado sensível da relação? – Serena diz enquanto mexe nos cabelos curtos de Laís.

– Não é comum não. Acredito que sempre meio que tomei as rédeas das relações.

– Você diz isso com certo tom de tristeza, sei lá.

Laís relembra das relações superficiais que teve e constata que sempre esteve na posição da ativa. Não recorda um momento onde tenha se entregado tanto quanto se entregou à Serena. Esse pensamento faz o medo voltar, como um sinal de alerta.  Laís levanta e começa a se vestir.

– Já vai? Falei ou fiz algo ruim? – Serena diz preocupada com a súbita mudança.

– Não, apenas amanhã tenho que levantar cedo. – sua voz sai mais fira do que queria.

Serena agora sentada no sofá, só a observa.

– Boa noite Serena. – dá um beijo rápido em sua boca.

– Boa noite Laís.

Quando a porta se fecha, Serena deixa a tristeza chegar. Se dá conta que será mais difícil do que imaginava conquistar Laís.

Laís entra no carro e segue para casa, pensando no medo súbito que sentiu e que a fez querer sair quase correndo da casa de Serena.

Já deitada em sua cama, Laís se sente dividida entre se entregar e manter a guarda fechada. Seu corpo sabe o bem que os toques e beijos da menina de olhos azuis como o mar, fazem. Mas sua razão grita que não sabem quase nada uma da outra, além de ter uma diferença grande de idade entre as duas. Demora a pegar no sono e quando consegue enfim dormir, seu sono é agitado.

Serena passa boa parte da noite fazendo conjecturas dos motivos que levam Laís a ser tão arredia e se de fato, vale à pena insistir. Tem consciência de que pouco ou quase nada sabem uma da outra, mas o que sente quando está com Laís é tão mais forte do que tudo o que já viveu! Ela tomou conta dos seus pensamentos de uma forma que nem mesmo Helena, em quatro anos conseguiu. Pensando em persistir, acaba dormindo um sono nada tranquilo.



Notas:



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