BRINCAR DE COLORIR

1. Serena e Laís

SERENA

Serena levantou atrasada, tomou um banho rápido e agradeceu por ter separado a roupa na noite passada. Engoliu um copo de suco e pegou uma maçã para comer mais tarde. Ela desconjurou sua amiga Andrea que insistiu para que ficassem mais tempo no bar ontem, hoje acordou atrasada e sabia que sua mãe iria reclamar.

Serena é uma garota magra com 1,60m, tem 25 anos, lindos cabelos ruivos encaracolados até os ombros, olhos de um azul intenso, pele branca e com sardas, seu sorriso de menina é encantador e sempre lhe rende elogios.

Trabalha há anos na loja de flores e produtos orgânicos de sua mãe, que fica no centro da cidade. Mesmo depois de se formar em Administração, decidiu continuar lá e quem sabe, ampliar o negócio de família.

Chegou apenas meia hora atrasada e mesmo assim, notou sua mãe olhando estranho para ela.

– Bom dia mãe, me desculpa o atraso. – disse colocando sua bolsa e casaco na prateleira atrás do balcão e dando um beijo em seu rosto.

– Bom dia filha. Essa semana é a segunda vez que se atrasa, aposto que saiu ontem com a Andrea. – Marta diz num tom mais chateado que bravo.

– Sim, acabei não me dando conta da hora e fui dormir tarde.

– Serena, Serena você precisa criar juízo. O tempo de ficar em bares até tarde passou.

– Prometo não abusar mais!! – disse e deu o seu famoso sorriso.

Marta olhou para a filha e não resistiu à cara de criança arrependida, foi até a filha e a abraçou.

– Falo para o seu bem meu anjo. Aposto que nem tomou café da manhã!

– Trouxe uma maçã.

– Vou preparar algo decente para você comer. – Marta caminha até a pequena cozinha que fica nos fundos da loja.

Serena se entristece quando decepciona ou preocupa sua mãe, que considera uma mulher forte. Criou ela e seu irmão e ainda manteve a família unida, além de fazer sua pequena loja crescer aos poucos. Sua família sempre morou na área rural da cidade, onde até hoje vivem no sítio de onde vêm as flores, frutas, legumes e temperos vendidos na loja.

Na época da faculdade, Serena optou por alugar um pequeno apartamento perto da faculdade, onde mora até hoje. No sítio moram sua mãe, sua avó Rosa e seu irmão Caio, todos plantam e cuidam dos produtos. Sendo muito apegada à família, todo domingo passa o dia com eles no sítio.

A loja é espaçosa e bem cuidada. Na parte de fora ficam os produtos, separados por prateleiras e bancadas. Na parte de dentro há uma cozinha, um banheiro, no fundo tem um pequeno quintal que serve de depósito e uma edícula que funciona como escritório.

Serena passa a maior parte do tempo no escritório verificando a contabilidade, vendas, pagamentos e estudando possibilidades de novos negócios.

 

Laís

Laís cumpre seu ritual matinal, levanta e já faz alongamento, depois liga a cafeteira e vai tomar seu banho. Tudo mecanicamente cronometrado. Sua roupa foi separada meticulosamente na noite anterior. Tudo demora exatos 40 minutos. Toma seu café puro e come torrada com queijo fresco e uma maça.

Mora em um dos melhores bairros da cidade, um lugar residencial e tranquilo. Trabalha como auditora em um renomado banco há quinze anos.

Com seu 1,76m impõe certo respeito, o que ela aprecia, pois não é chegada a socializações desnecessárias. Seus cabelos são negros e lisos, num desses cortes modernos curtos, seus olhos também negros lhe conferem certo mistério. Seus traços são marcantes e bonitos, apesar de aparentar certa arrogância e frieza. Seu corpo é bem torneado graças ao seu empenho na prática da capoeira, esporte que faz desde criança.

Mora sozinha desde que saiu da casa dos pais para fazer faculdade em outro Estado. Vinda de uma família rica da maior cidade do país, sempre foi incentivada a estudar, viajar, aprender outras línguas, ampliar seus conhecimentos nas mais diversas áreas. Seu relacionamento com a família sempre foi carinhoso, porém, não se viam com muita frequência, geralmente em datas especiais como aniversário e Natal.

Quando morou na Inglaterra para fazer cursos de especialização na área financeira, aproveitou para viajar por diversos países, sozinha. Viajar é até hoje seu maior prazer.

Nunca se apaixonou ou assumiu algum relacionamento sério, seus irmãos dizem que ela é a nova dama de ferro, que não tem coração. Seus pais ficam preocupados, pois ela já tem 45 anos e temem que viva sozinha para sempre. Todos sabem que é lésbica e sua família nunca agiu de forma preconceituosa, o que os deixam preocupados é o fato dela nunca ter sido sequer vista com alguém.

Na época da faculdade, até se envolveu com uma professora de Direito. Tiveram um caso por quase um ano, mas Laís se afastou quando Renata disse que queria assumir um namoro e um possível casamento. Depois disso sempre procurou pouco se envolver ou dar detalhes da sua vida para as mulheres com quem saia. Geralmente as encontrava em bares gays ou sites de relacionamento casual.

Laís entra no seu carro, um Corolla preto e vai rumo ao banco. Como sempre, chega exatos 15 minutos antes do horário.

No almoço, resolve chamar sua colega Carla para irem a um restaurante italiano.

– Obrigada pelo convite, mas entrei na onda da comida saudável. Trago minha marmita e quando não, vou ao vegetariano que tem há duas quadras daqui.

– Ai meu Deus, até você foi pega pela onda natureba?

– Mas me sinto tão melhor! No começo é difícil, porque muda um monte de hábitos e até a forma de pensar a vida, mas estou amando!

Laís acha meio exagerado, mas acaba se interessando pelo assunto e acabam conversando mais.

– O ruim que é tudo extremamente caro… – diz Laís.

– Olha tem uma loja ótima que vende diversos produtos orgânicos e que de verdade, não são caros. Fui a várias lojas até que achei essa e olha, economizo muito.

– Que milagre é esse que fazem?

– Acho que na verdade não é milagre e sim, não querer levar vantagem.

– Mas será que são de fato orgânicos?

– Depois do trabalho vou lá, quer ir comigo?

– Vou sim, fiquei curiosa.



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