Capítulo Final
N/A: Gente…eu não sei se comemoro ou choro.
Esse é o último capítulo de Argentum (no final da semana eu posto o epílogo) e eu estou com o coração apertado porque vou sentir muita falta de vocês e de Alicia e Maia. Mas eu preciso encerrar ela e dar atenção a outros projetos.
Eu quero muito voltar logo com novas histórias, mas acho que minha rotina não vai permitir que seja tão cedo, mas vou continuar com Who You Are aos pouquinhos e assim que possível trago outras personagens pra vocês.
Espero que estejam todas bem, se cuidando e ficando em casa. E força pra gente passar por isso tudo que está acontecendo no nosso país.
Bjs pessoinhas e nos vemos no epílogo
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Ela estava em um dos quartos mais mais na lateral do casarão, a janela mostrava parte da frente da casa. Era o quarto que Fabiana costumava usar quando vinha passar tempo com Juliet. Sentada em frente a uma penteadeira de mais de um século, seu cabelo estava preso em uma trança grande amarrada com duas pequenas tranças que nasciam das laterais de sua cabeça e envolviam a base da trança maior que estava sobre seu ombro esquerdo. A veterinária se encarava no espelho, sua expressão tensa e ansiosa, ela fazia um esforço tremendo para não morder o lábio inferior e borrar o batom marrom que o contornava. Seus dedos alisavam ansiosamente o tecido branco em suas pernas enquanto Dona Marta ajeitava um pequeno enfeite azul em seus cabelos.
– Você sabe que esse nervosismo todo é desnecessário e chega a ser irritante, não sabe? – Juliet perguntou deitada na cama da namorada com seus pés, em uma sandália verde clara de salto alto, erguidos sobre a colcha azul.
– Eu vou casar com a sua irmã – Alicia pontuou – A mulher mais incrível que eu já conheci na minha vida. Como quer que eu não esteja nervosa, Juliet?! – ela perguntou tentando virar o rosto para encarar a cunhada por sobre o ombro, mas sua mãe segurou seu rosto no lugar para terminar de ajeitar o enfeite.
– Oh, God! – Juliet resmungou se sentando na cama – Ela não vai fugir da cerimônia, cunhadinha. Você está tão nervosa que parece que está com medo dela estar tentando escapar do quarto dela.
– Talithaa! – Alicia chamou a melhor amiga fazendo drama e pedindo o apoio de alguém.
A jovem, que estava sentada numa cadeira em frente a escrivaninha ao lado da janela do quarto, após ter sido expulsa da cama pela loira, rolou os olhos parecendo estar irritada, mas adorando a cena.
– Vamos lá, amiga. Não tem razão para esse nervosismo todo mesmo – ela falou se levantando e se aproximando da penteadeira para encarar a melhor amiga pelo espelho.
– Mas e se ela achar que não é a hora ainda? E se ela resolver que não quer mais casar ou se ela perceber que talvez a gente não seja a melhor coisa pra ela?? – Alicia perguntou genuinamente temendo aquelas coisas.
Talitha rolou os olhos sendo acompanhada pela loira que se levantou da cama e parou do outro lado de Dona Marta que estava em silêncio com um sorriso esperando para ver o que as madrinhas de sua filha fariam para tentar acalmá-la.
– Minha irmã te ama – Juliet falou encarando a cunhada pelo espelho e vendo os olhos castanhos se fixarem nos seus azuis pelo reflexo – Vocês ficaram noivas por mais de um ano e meio, já tá mais que na hora. Você é a melhor amiga dela, o amor da vida dela, a pessoa que mais faz ela sorrir nesse mundo. Confia em mim, ela quer e vai casar com você daqui a pouco.
Alicia respirou fundo tentando se acalmar e não entrar em pânico. Dona Marta também acalmou a filha dizendo que Maia a amava. Não que a veterinária não soubesse disso, mas ela estava ansiosa e nervosa e não conseguia realmente pensar de maneira coerente. Enquanto isso, em outro quarto do casarão, Maia passava por uma crise nervosa muito parecida e era acalmada por Enzo e o namorado.
– Pelo Amor de Deus! Eu não aguento mais tua crise – falou Enzo jogando as mãos para o alto e se afastando de Maia que o encarou com uma expressão chocada com a reação do amigo – Aquela mulher é doida por você, Maia. Ela literalmente venera o chão que você pisa. Não faz sentido nenhum você pensar que ela não apareceria no casamento de vocês.
– Ele tem razão – Frederico, noivo de Enzo, reforçou as palavras – Dá pra ver nos olhares de vocês duas. Aquela veterinária é totalmente apaixonada por você – os olhos verdes encararam o outro rapaz e Maia soltou um suspiro cansado.
– Ouve a gente anjinho, vai dar tudo certo, não pense bobagens – Enzo continuou voltando a se aproximar da amiga – Em algumas horas vai estar casada com a mulher que ama e vão continuar sendo felizes juntas.
Enquanto ambas as crises das noivas eram controladas por seus padrinhos e madrinhas, o tempo passava e os convidados chegavam. Em frente a escadaria do casarão haviam sido montadas filas de cadeiras para os convidados. Havia um tapete azul cobrindo o caminho entre a porta da frente, passando pelas escadas, e seguindo reto até um pequeno espaço a alguns metros dos degraus. Ali estava uma pequena mesa decorada onde um juiz de paz celebraria o casamento delas.
Havia espaço para 80 convidados, nenhuma das duas queria algo grande ou chamativo muito menos convidar pessoas com as quais elas não tinham uma relação próxima. Basicamente os convidados se resumiam aos irmãos e amigos de Maia, a família de Giulius, alguns clientes amigos da veterinária além de Dona Martha, Talitha e a mãe dela e, por fim, alguns amigos em comum das duas como os Cárceres e vários outros funcionários do Rancho.
A ideia inicial de ambas era que Alicia entrasse primeiro, mas Maia estava ansiosa demais para esperar o momento todo. As cadeiras já estavam cheias, da janela de seu quarto ela podia ver que tudo estava em seu devido lugar, o que significava que a veterinária deveria estar terminando de se arrumar para descer. Ela mandou Enzo ir atrás de seus irmãos e em menos de dois minutos os três rapazes voltaram. Jordan estava com um terno cinza, camisa branca e sem gravata enquanto que Giovani usava um de seus melhores ternos pretos, com a camisa branca e um colete azul claro que combinava com a cor da gravata.
– Eu tenho quase certeza de que a programação não era essa – falou o loiro vendo a irmã de pé em seu vestido branco.
– Isso é porque ela não é mesmo – Maia falou com seus olhos verdes observando os irmãos; ela respirou fundo, seus olhos se desviando para os detalhes de renda em seu vestido que apenas cobriam parcialmente as cicatrizes em seus braços e deixavam a parte superior de seu busto e pescoço a mostra por conta do penteado alto – Não estamos seguindo a programação. Vou entrar antes da Alicia – ela afirmou decidida e começando a caminhar em direção a porta onde os irmãos ainda estavam parados – O que estão esperando? Os padrinhos entram primeiro – ela disse se virando para o casal de amigos.
Enzo se apressou em buscar seu blazer rosa e colocá-lo antes de passar à frente da amiga e dos irmãos dela. Frederico acompanhou o noivo e os dois correram para avisar que a música começaria mais cedo. Enquanto Maia chegava na sala e seguia para a porta da frente do casarão, Dona Marta terminava a trança lateral que a filha havia pedido para ser feita por estar incomodada com o penteado de cabelos soltos.
Ela estava se olhando no espelho. A trança embutida começava na lateral esquerda da cabeça da veterinária e quando chegava ao lado direito se tornava apenas uma trança lateral deixando uma mecha longa na frente jogada para a direita. Ela parou para apreciar sua aparência com seu vestido. Dona Marta estava para sair do quarto e ir ver se tudo estava pronto quando as quatro mulheres dentro do quarto ouviram uma música (OutroEu – O que dizer de você). Alicia não precisou nem de dois segundos para identificar a melodia da música que Maia havia escolhido como sua música para ir até o altar. Elas haviam passado uma tarde inteira no mês anterior escolhendo duas músicas, uma para cada. No começo da noite a decisão era de que Maia entraria ao som de O Que Dizer de Você do grupo OutroEu, isso depois dela entrar com a música Pupila da dupla AnaVitória. Mas Maia havia se adiantado e estava entrando antes e Alicia não sabia o que sentir ao ouvir aquela música sem estar olhando para a noiva.
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Continua …
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Brincadeirinha da Autora =P (minha namorada não deixou eu dividir esse capítulo hehe)
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– Ela está entrando – a veterinária sussurrou correndo para a janela do quarto e tendo um vislumbre dos convidados, em pé, virados na direção da casa antes que Talitha e Juliet a puxassem para trás.
– Você foi passada para trás cunhada – Juliet brincou virando Alicia de frente para a porta do quarto – Vamos indo, você vai ver minha irmã no altar.
Alicia respirou apressadamente de forma ansiosa e Dona Marta a abraçou pelos ombros levando-a para a porta. Juliet e Talitha passaram na frente correndo como podiam em seus saltos para chegarem logo as escadas e prepararem a entrada da segunda noiva que seria acompanhada pela mãe.
Enquanto isso Maia entrava com um braço dado com Giovani e outro com Jordan. Em frente a ela seguiam Enzo e Frederico de braços dados carregando um pequeno buquê de flores amarelas. O Juiz estava sorrindo vendo a expressão ansiosa da primeira noiva, os convidados também sorriam largamente nenhum deles conscientes da troca de ordem entre elas. Antonieta já chorava emocionada e era abraçada pela neta que estava com um largo sorriso. Já Maia se apoiava nos irmãos que não paravam de olhar para ela com carinho, mesmo que ela não devolvesse o olhar. Pela primeira vez em meses ela sentia que poderia cair se andasse sozinha, então parte de si agradecia aos dois por mantê-la caminhando já que ela nem sequer sentia mais suas pernas.
O vestido da dona do Rancho era branco, o tecido liso recoberto com pequenas e delicadas rendas enfeitadas com cristais esverdeados por seus braços e busto deixando as costas descobertas quase até a metade. A luz do sol refletia nos pequenos cristais dando um toque verde claro no tecido branco e também disfarçava a sombra das cicatrizes nos braços e pescoço dela. A renda branca continuava sem os cristais abaixo dos seios, descendo pelo tronco até a cintura onde encontrava a saia do vestido. Dali em diante não havia mais nenhuma renda nem detalhe, apenas a saia com leves ondulações naturais do tecido, apenas o suficiente para que não fosse muito justo e atrapalhasse os passos dela. A grande razão dela agradecer o apoio dos irmãos era por estar usando um sapato branco com um salto de 12cm, quase o dobro do que ela geralmente usava, isso quando colocava saltos.
Ela não reparou nos dois fotógrafos contratados que registravam o momento. Não reparou nos convidados emocionados nas laterais do corredor por onde passava. Ela só conseguia olhar para a mesa embaixo da pequena cobertura enfeitada com flores do campo amarelas e brancas. A mesa com a toalha branca e dois vasos cheios de flores brancas, amarelas, rosas e vermelhas. Ela mal registrava o homem de terno cinza claro segurando nas mãos um pequeno livro fino de capa negra. Apenas se concentrou em chegar até lá e parar em frente à mesa. O homem de olhos castanhos escuros lhe sorriu e indicou que ela se virasse para a entrada da casa, onde ela começou a encarar o topo das escadas com ansiedade esperando que Alicia não se importasse com sua pequena alteração de planos.
A veterinária estava na sala da casa quando ouviu o final da música indicando que Maia já estava no altar. Sua respiração ainda alterada e as mãos tremendo enquanto ela as deslizava pela frente do vestido tentando não se desesperar. Dona Marta estava sorrindo quando entrelaçou seu braço esquerdo no direito da filha para puxá-la das escadas para perto da porta da sala. Talitha e Juliet tinham corrido para a mesa do DJ responsável pela música de entrada, Alicia tinha decidido trocar de música, uma ideia que lhe veio à mente enquanto ouvia a música de Maia e percebeu que haveria outra música de AnaVitória que combinaria muito mais com o momento.
Partilhar da dupla AnaVitória com participação do cantor Rubel começou a soar quando as madrinhas da veterinária pisaram no primeiro degrau da grande escadaria da frente. As duas vinham de braços dados levando um buque idêntico ao que Enzo e Frederico ainda seguravam, parados do lado direito do altar. Os olhos verdes se focaram naquele ponto acima da cabeça das duas mulheres esperando a visão da sua noiva que não demorou a aparecer também, lado a lado com a mãe. O tecido do vestido dela era liso e simples com apenas o braço direito recoberto por uma manga longa. A parte de trás do vestido era toda aberta até a cintura; o tronco justo e a saia era mais curta do lado esquerdo aumentando de comprimento conforme se aproximava da lateral direita, indo da altura do joelho esquerdo da veterinária até o tornozelo direito dela, cobrindo apenas parcialmente a botinha branca de couro com um salto médio. O cabelo preso na trança lateral, a boca com um batom marrom escuro e os olhos marcados pela maquiagem.
Os lábios pintados de vermelho de Maia se abriram com a visão, seus olhos verdes surpresos com a mudança da música, mas apreciando demais como ela combinava com sua noiva descendo aqueles degraus. Ela viu o sorriso enfeitando o rosto da veterinária e não conseguiu não corresponder. Suas bochechas um pouco doloridas com o tamanho do sorriso que ela não conseguia diminuir enquanto via Alicia se aproximar do altar, onde ela esperava, com os passos calmos guiados por Dona Marta. Antes de terminar os degraus os castanhos claros percorreram os convidados vendo sorrisos e lágrimas de felicidade, mas quando ela encarou fixamente o altar seus olhos foram capturados por uma imensidão verde de alegria e ela já não conseguia mais perceber nenhum outro detalhe além da sua noiva.
Sua mente só registrava o quanto Maia estava maravilhosa, o quanto ela era linda e o quanto ela queria correr logo para estar ao lado dela no altar. Nesse instante ela teve certeza de que trocar a música foi uma ótima decisão porque aquela letra era, literalmente, tudo o que ela gostaria de estar dizendo a Maia naquele momento. Representava tudo o que ela era capaz de fazer pelo amor que sentia e tudo o que ela pensava sobre o relacionamento das duas. Só o braço de Dona Marta preso ao seu era que a impedia de sair correndo, nem mais conseguia ver suas madrinhas a sua frente, só podia olhar para os olhos verdes e sorrir. Juliet e Talitha alternavam olhares para frente e para trás vendo a troca de olhares das noivas e sorriam divertidas e animadas, elas mantiveram o passo lento sobre o tapete azul, dois passos à frente de Alicia, até chegarem ao final e saírem para o lado esquerdo do altar deixando o caminho da veterinária livre até o pequeno degrau que a levaria para Maia.
Dona Marta parou e virou a filha para si, quebrando pela primeira vez o olhar das noivas. Alicia quase chorou com o sorriso largo da mãe no momento em que ela segurou seu rosto puxando-o para baixo para deixar um beijo em sua testa. Marta passou de leve o polegar direito sobre a pele da filha para limpar um pouquinho de seu batom vinho que havia ficado ali.
– Eu amo você minha pequena veterinária – ela falou com um sorriso – Sei que estou entregando você nas mãos da sua felicidade. Então vá ser feliz minha filha.
Só então ela soltou o rosto da filha segurando Alicia pela mão e estendendo sua outra para Maia que segurou a mão oferecida olhando para a sogra. Marta puxou a filha para que ela subisse no altar e colocou as mãos das duas uma sobre a outra envolvendo-as nas suas antes de deixar um beijo sobre o dorso da mão de Maia. Quando Dona Marta se afastou para se sentar elas se olharam de perto pela primeira vez, suas respirações parando quase ao mesmo tempo e a música ia diminuindo de volume. Enquanto os convidados se sentavam elas colocavam suas cabeças próximas quase com as testas se tocando. Quando a música realmente parou a voz do Juiz as chamou para a realidade fazendo os olhares das duas irem até o homem que sorria cumprimentando a todos os presentes.
– Aqui estamos, hoje reunidos, para celebrar a união dessas duas pessoas que compartilham do maravilhoso sentimento do amor. Um amor baseado em muito mais do que apenas o único sentimento de paixão. Um amor que se encontra fortalecido na amizade, no carinho, na compreensão e no companheirismo. E, o que é o casamento, se não uma celebração desses sentimentos todos que podem ser enxergados nos olhares de um casal. A celebração da cerimônia de um casamento é o reconhecimento desses sentimentos nos corações de duas pessoas que desejam dividir suas vidas da forma mais completa possível – ele fez uma pequena pausa voltando seu olhar para às duas noivas, desviando-se da plateia – Mas não compreendam a palavra dividir com o sentido comum de separar algo em duas partes. Esse dividir é o de compartilhar, é o de deixar que o outro faça parte das suas coisas boas e ruins ao mesmo tempo em que você se dispõem a fazer parte das mesmas coisas na vida do outro. É um dividir que agrega, que soma, que multiplica. Porque não são duas pessoas que se completam, são duas pessoas que não cabem mais em si mesmas e precisam compartilhar-se com uma outra.
Maia e Alicia não conseguiam encarar o homem, estavam presas nos olhares uma da outra, o castanho mel e o verde totalmente conectados uns aos outros, mas elas ouviam as palavras e cada uma delas lhes trazia lágrimas de felicidade aos olhos. Os convidados também se encontravam emocionados, vários lenços sendo erguidos para evitar que maquiagens fossem borradas. Giovanni com o braço esquerdo passado sobre os ombros da namorada chorava em silêncio com um sorriso no rosto; Dona Marta mantinha o lencinho branco junto aos olhos. O Juiz retornou seus olhos aos convidados enquanto as duas continuavam a se encarar sem realmente perceber o que acontecia em volta delas.
– Hoje, estas duas jovens a nossa frente, reuniram aqueles que mais amam e aos quais mais prezam para que pudessem testemunhar a oficialização perante os olhos da lei daquilo que seus corações já tem por certo a muito tempo – ele voltou seu olhar para o casal e sorriu antes de continuar – Pelos olhares de todos aqui é óbvio dizer que não há uma única pessoa presente que não seja a favor dessa união, pergunto por mera formalidade se existe alguém ou algo contra essa cerimônia e, que se houver, que se pronuncie agora – o tom de brincadeira fez vários convidados rirem e o olhar das duas se voltou aos presentes enquanto elas sorriam – Visto que podemos continuar, acredito que cada uma de vocês tenha preparado algumas palavras.
Elas se olharam outra vez com sorrisos e Alicia foi quem tomou a frente falando antes que a mais nova tivesse a chance.
– O programado era que eu entrasse primeiro e você fosse a primeira a dizer os teus votos – a veterinária falou com um sorriso enquanto controlava algumas lágrimas que não caiam – Foi tu quem inverteu a coisa toda, então vamos continuar ao contrário agora – ela falou brincando.
Maia riu, mas não contestou tampouco, ela só estava feliz demais para se preocupar com programações. Alicia sorriu para a, ainda, noiva e ergueu as mãos de ambas que estavam uma na da outra até a altura de seus corações. Ambas, automaticamente se aproximaram mais mantendo pressionando suas mãos entre elas enquanto sorriam uma encarando profundamente o olhar da outra.
– Te conheci da maneira mais inusitada possível – ela começou com seus olhos castanhos com um brilho nostálgico – Eu jamais imaginaria que viria atender uma emergência e nela conheceria o amor da minha vida, mas foi o que me aconteceu. Tu me aconteceu, numa tarde onde eu estava toda suja e ao mesmo tempo imensamente satisfeita. Naquela tarde eu ajudei a pôr no mundo um pequeno potro que, hoje, eu sei que foi a peça fundamental do universo para me juntar contigo – elas sorriram uma a outra se recordando principalmente de Argentum – Eu estava desarmada – Alicia continuou alternando os olhares em admiração aos olhos verdes – Aliviada e feliz. Não estava nada pronta para resistir a esse teu olhar. E lembro como se fosse hoje essa primeira vez em que teus olhos verdes encontraram os meus. Eu, que nunca tinha me preocupado com aparências, fiquei tímida com você me olhando – ela falou rindo e Maia acabou rindo junto.
– Você estava imunda – a mais nova comentou rindo e fechando os olhos, o que fez uma pequena lágrima escapar pelo canto de seu olho esquerdo.
– Estava – a veterinária concordou rindo e desviando o olhar dos verdes por alguns segundos – Eu soube quando te olhei que tu não era como as outras pessoas e, definitivamente, não teve absolutamente nada a ver com sua aparência ou seu corpo – ela voltou a encarar os olhos da noiva e deixou seu sorriso diminuir até estar com uma expressão séria, mas apaixonada – No momento em que eu senti seu olhar em mim eu soube que estava a ponto de ter algo mudando na minha vida – ela falou num tom mais baixo e separando sua mão direita para erguê-la e acariciar a bochecha da outra – Quando eu saí do Rancho naquele dia eu tinha a plena certeza de que estava em um ponto crucial, eu sabia que se me apaixonasse poderia pôr tudo a perder e que eu estava correndo grandes riscos de me apaixonar. Não é preciso muito tempo para se perceber o quão impossível é não se apaixonar por você. E eu lutei, tem gente aqui que sabe o quanto eu lutei comigo mesma contra esse sentimento – Alicia deu um sorriso bobo e divertido com um rápido olhar para Talitha antes de continuar – Mas era impossível não amar a mulher mais incrível, decidida, altruísta, justa, comprometida, forte e decidida que eu já havia conhecido. Não te amar nunca foi uma opção, além de tudo isso, tu ainda era a mulher mais linda que eu já tinha visto na vida – ela sorriu e limpou com o polegar uma lágrima que escorreu no rosto de Maia – Naquela época eu jamais imaginaria nós duas aqui hoje. Eu só havia vindo fazer o parto de um potro e acabei encontrando a mulher da minha vida por isso. E, o mesmo tanto que eu agradeço a quem quer que seja o responsável por isso e ao Argentum por ter sido o ponto que me permitiu ter contato contigo, eu também agradeço a você, Maia. Obrigada por me permitir te amar, obrigada por confiar em mim para cuidar de você e te apoiar, mesmo quando você não precisa de cuidado ou apoio. O que eu te peço hoje é para que me deixe continuar, me deixe ser seu porto seguro, me deixe ser quem te cuida, quem te dá carinho, quem está ao teu lado. Porque eu vou te amar pelo resto dos meus dias e quero passar cada um deles sabendo que sou quem tu escolheu pra ter do teu lado em toda e qualquer situação. E, se você me permitir isso, eu te prometo nunca deixar de te cuidar, nunca parar de lhe dar carinho e jamais sair do teu lado.
Maia estava chorando e sorrindo ao mesmo tempo, Alicia soltou suas mãos das dela para segurar o rosto da noiva e limpar as lágrimas que estavam rolando discretamente. Houve um pequeno intervalo enquanto a veterinária realizava essa ação com cuidado para não borrar a maquiagem da noiva. Depois de respirar fundo Maia ergueu suas mãos para segurar as da noiva outra vez antes de começar a falar.
– Eu não esperava amar alguém – ela começou com um sorriso sem jeito – Na verdade eu não esperava que alguém um dia pudesse me amar, mas você surgiu e, antes de tudo, antes de eu perceber que o que havia no meu peito era mais do que só carinho, mesmo antes disso, você foi capaz de me mostrar que eu poderia sim ser amada pelo que eu era, total e completamente, por quem eu era em todos os aspectos do meu ser. Você foi, antes de tudo, minha amiga e me mostrou que eu poderia ser amada, me ajudou a me abrir e permitir que outras pessoas se aproximassem, outras pessoas que também me mostraram que eu poderia ser amada – foi a vez de Maia erguer a mão esquerda para afastar algumas lágrimas, mas nenhuma delas parava de sorrir – Eu achei que estava encontrando uma amiga, uma melhor amiga, eu nunca imaginei que estava encontrando um amor. Era tão inesperado que eu só me dei conta quando já estava completamente apaixonada. Eu nunca senti isso antes de você, eu nunca amei assim. Quando me dei conta o único medo que tive foi que você não retribuísse os meus sentimentos e eu perdesse sua amizade. Mal sabia eu que você esteve fazendo a mesma coisa – Maia baixou a mão e voltou a segurar as mãos de Alicia que continuava com lágrimas caindo, mas não conseguia desgrudar o olhar da mais nova – Eu me apaixonei por uma mulher incrível, íntegra, justa, gentil, compreensiva. Os sentimentos nos seus olhos me deram coragem de não esconder o que eu sentia. Você me passava tanta segurança que algo em mim soube que eu não precisava me esconder e fingir que não sentia nada. E, se eu fiquei com alguma dúvida ainda após decidir me abrir para você, elas sumiram em definitivo quando eu me declarei, porque eu nunca me senti tão amada por alguém, segura e cuidada quando me senti quando você me olhou sabendo o que eu sentia por você. Tu não me disse nem uma palavra, mas teu olhar fez meu peito se acalmar e me prometeu tudo o que eu precisava para perceber que estava no lugar certo com a pessoa certa. Todas as promessas que você me fez hoje já haviam sido feitas todas as vezes em que seus olhos encontraram os meus – Maia segurou o rosto de Alicia com as duas mãos aproximando as testas das duas, mas sem que elas se tocassem – Eu nunca vou ter palavras suficientes pra agradecer a força que você me passa, teu olhar faz com que me sinta a pessoa mais capaz e segura do mundo, graças ao teu olhar eu fui capaz de enfrentar a mim mesma e aos meus maiores medos. Só pela sua presença eu fui capaz de me tornar uma pessoa melhor do que eu era. Então, hoje, eu espero que você me permita fazer o mesmo por ti durante o resto das nossas vidas. Cuide de mim e me deixe lhe cuidar também, seja meu porto seguro e me deixe ser o teu. Porque eu prometo que amor nunca vai faltar nas nossas vidas, até mesmo nas desavenças e desencontros, nunca vou deixar de te amar, porque hoje eu sei que eu te amei desde a primeira vez em que encontrei esses olhos cor de mel tão límpidos e honestos.
Alicia não conseguia falar, suas mãos também envolveram o rosto de Maia e ela apenas juntou as testas das duas e acenou afirmativamente com a cabeça fechando os olhos e deixando as lágrimas de felicidade descerem e encontrarem seu sorriso aberto. O Juiz fez sinal para que os padrinhos e madrinhas trouxessem as alianças e tocou de leve os ombros das duas noivas que continuavam de olhos fechados com as testas coladas fazendo com que elas se separassem e o encarassem.
– Que o amor que trouxe essas duas até aqui hoje continue para sempre presente nos corações de ambas – ele falou para todos e depois voltou seu olhar e baixou a voz para falar apenas com elas – Que ele permaneça pelo resto das vidas de vocês com a mesma força que nós o vemos hoje – Depois ele indicou para que elas se virassem, atrás de Maia estava Enzo segurando uma pequena almofada com a aliança dourada, atrás de Alicia estava Talitha segurando outra almofada idêntica – Maia Augustus Almeida, é de livre e espontânea vontade que você aceita Alicia Pereira Ferraz como sua legítima esposa, para amá-la, respeitá-la e honrá-la, na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza, nos bons e maus momentos da vida, como sua companheira durante todos os seus dias daqui ao resto das suas vidas?
– Sim – Maia conseguiu dizer e Enzo entregou a aliança que tinha os nomes Augustus e Ferraz gravados no interior; os olhos verdes encaram os castanhos quando ela pegou a mão esquerda da veterinária e começou a deslizar a aliança – Alicia, eu prometo te amar, respeitar e honrar, daqui até o fim das nossas vidas – quando a joia dourada estava em seu lugar ela puxou a mão de Alicia deixando um beijo sobre os dedos e o metal.
– E você, Alicia Pereira Ferraz, é de livre e espontânea vontade que aceita Maia Augustus Almeida como sua legítima esposa, para amá-la, respeitá-la e honrá-la, na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza, nos bons e maus momentos da vida, como sua companheira durante todos os seus dias daqui ao resto das suas vidas? – o Juiz repetiu a mesma pergunta para a veterinária.
– Sim, com todos os sim’s do mundo – ela respondeu já segurando a outra aliança e erguendo a mão de Maia – Eu prometo, vou te amar, respeitar e honrar, daqui até o fim das nossas vidas e além delas também – Alicia repetiu o gesto de beijar a mão de Maia sobre a aliança.
– Pelo poder investido em mim pelas leis do estado do Rio Grande do Sul e do Brasil eu as declaro casadas – o homem falou com um largo sorriso – As noivas podem se beijar agora.
O aviso quase foi dado depois da hora, porque assim que ouviram que estavam casadas as duas sorriram uma para a outra, Maia segurou o rosto de Alicia e a veterinária puxou a dos olhos verdes pela cintura. Assim que o Juiz terminou de falar os lábios das duas estavam se pressionando uns nos outros num beijo delicado e amoroso que tinha que dividir lugar com os sorrisos largos de ambas.
Ah, que pena que está chegando ao fim… Sorri e chorei no decorrer da história com Alicia e Maia. Elas são fofas e o casamento foi o melhor encerramento que você poderia dar.
Parabéns, e mais uma vez, obrigada!
Abraços e sucesso na jornada.
É uma pena, mas é necessário.
Eu sempre imaginei que encerraria no casamento *-* Fiquei muito contente com todos os capítulos até aqui. Muito obrigada por acompanhar S2
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Muito amor e carinho! Família e cumplicidade. Parabéns e obrigado por compartilhar conosco essa linda história
Eu que agradeço a presença de vocês aqui acompanhando essa trajetória toda
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