A postura daquele homem já estava tirando Maia do sério, mas ela faz um esforço para se controlar e manteve-se apenas a encará-lo.
– Pelo visto o que lhe disseram a meu respeito foi no mínimo ofensivo – ela conseguiu falar no mesmo tom calmo e controlado de antes – Não se preocupou em confirmar essas informações?
– Não há o que confirmar – ele respondeu em tom de deboche – O que fiquei sabendo não me foi dito como algum tipo de fofoca, não é uma mentira. Fiquei sabendo do fato e fatos não mentem. E, ao que parece, quem está mal informada é a Senhorita – Maia até poderia ter respondido algo, mas o gerente do banco sequer lhe deu tempo e logo continuou – Que interessante, mesmo com toda a sua proximidade com Alicia, ainda assim, sequer tem noção de quem eu seja – ele comentou com um tom de sarcasmo maior ainda, principalmente ao citar a veterinária – Isso realmente me surpreende, esperava que ela lhe falasse algo, afinal, sou o irmão da melhor amiga dela. Talvez não sejam tão próximas quanto seria de se esperar, não é?
Aquelas últimas frases foram o bastante para Maia compreender as motivações do rapaz. Havia ouvido Talitha comentar sobre um irmão, mas nunca ela ou Alicia falaram algo mais a respeito. O que lhe causou desgosto e vontade de sair daquela sala o mais rápido possível foi compreender que todo aquele discurso e a raiva contida eram vindos do preconceito do homem com seu relacionamento com Alicia. Não que a dona do Rancho não soubesse que passaria por situações como aquelas, apenas não tinha se preparado ainda para uma e nem sequer esperava enfrentar a primeira delas sem a presença da namorada.
No primeiro instante teve vontade de se levantar e sair daquele lugar sem dar resposta alguma, mas pela sua outra parte, sentiu o sangue ferver com o tom usado por ele durante toda a conversa. Engoliu o nó que havia se formado em sua garganta e respirou profundamente colocando no rosto uma expressão calma e um sorriso falso.
– Agora compreendo todo o cenário – sua voz soou tranquila e firme enquanto ela entrelaçava os dedos sobre seu colo – Mas me surpreende. Entretanto, agora entendo porque não lhe relacionei ao “Renato irmão de Talitha” – ela disse se recordando do nome sendo citado uma vez pela melhor amiga da veterinária – É realmente surpreendente que uma pessoa tão incrível quanto Talitha tenha um irmão como você. Talvez seja por isso que não tenha sido muito citado por ambas – ela completou aumentando um pouco seu sorriso e vendo o que ele tinha no rosto sumir aos poucos.
– É melhor que vá embora de uma vez, antes que destrua a carreira da Alicia – Renato começou a falar e ergueu o indicador direito apontando-o para Maia – Suma daqui e volte para seja lá de onde tenha vindo. Estávamos muito bem antes de você chegar, a cidade e o Rancho, ficarão melhores ainda quando for embora e levar com você essa palhaçada que trouxe para nosso lar.
Maia sentia vontade de gritar o quanto ele estava sendo preconceituoso e ridículo, mas lembrava-se de situações que presenciou com Enzo e Frederico e sabia que de nada adiantaria dizer algo do tipo. Por esse motivo ela apenas sustentou sua expressão calma e seu sorriso forçado, mas convencido.
– O que faço ou deixo de fazer cabe a mim. Se vou ou se fico, quem decide sou eu – ela respondeu dando de ombros e sustentando o sorriso, mas suas mãos alcançaram seu celular que estava no bolso do sobretudo.
– Não permitirei que destrua a carreira dela – Renato falou alterando um pouco o tom – O Senhor Ferraz foi um grande homem que construiu a reputação da família com honestidade e honra. Não permitirei que você acabe com o bom nome da família Ferraz. Alicia é uma mulher correta, de família, com princípios. Não vai destruir isso, está me entendendo? Não permitirei que jogue na lama o nome dos Ferraz com essa pouca vergonha – ele continuou tentando e falhando em controlar o tom de voz – Ou vai embora logo e evita um transtorno maior ou tomarei providências quanto a isso – completou com um olhar de raiva.
– Está me ameaçando, Senhor Borges? – Maia questionou erguendo uma sobrancelha, mas não expressando nenhuma surpresa.
– Não, Senhorita Almeida – ele respondeu com sarcasmo – Não sou homem de ameaçar. Isso é um aviso. Não tem noção de quem sou e do que sou capaz. Farei o que for preciso para que saia daqui antes de acabar com tudo o que Alicia construiu.
– Não seja hipócrita – Maia falou com seu tom mais frio e sério, seu sorriso se desfez e os verdes se fixaram com raiva no rapaz – É nítido que está me ameaçando.
– Entenda como quiser – Renato deu de ombros com um meio sorriso convencido – O fato é que você não vai durar muito aqui. Eu vou garantir isso. Farei de tudo para proteger a reputação de Alicia e…
– Então o mal informado aqui é você, senhor Borges – Maia o interrompeu voltando a sorrir de forma calma e colocando seu celular sobre a mesa de forma a mostrar claramente o gravador e fazer a expressão de Renato mudar de confusa para séria – Alicia é adulta, consciente e responsável pela própria vida. E, obviamente, você parece não a conhece nem um pouco. Do contrário, saberia que Alicia Ferraz não é uma mulher que necessite de proteção. Mas não me admira que nunca tenha percebido isso, é só um machista preconceituoso que não sabe reconhecer a força de mulher alguma. Mas já que quer medir esse tipo de força comigo, que assim seja – os olhos verdes se direcionaram a muleta que ela agarrou e usou como apoio para se levantar – Quer medir forças, pois vamos a isso. Vamos descobrir o que o gerente de uma agência pequena em uma cidadezinha do interior é capaz, apenas lhe aviso para se preparar para as consequências dos seus atos – ela completou quando finalmente se colocou em pé.
Renato compreendeu que ela havia gravado alguma parte da conversa, mas estava tão cego de raiva por estar sendo confrontado que não se preocupou com nada além de responder em tom agressivo e irritado.
– Não tem noção de com quem está se metendo, sua.. – ele começou a dizer, mas Maia acertou a muleta nas pernas metálicas da cadeira onde estava sentada até a pouco e o susto o calou.
– Vai descobrir logo, Senhor Gerente, com quem você está se metendo – ela falou de forma séria, mas num tom baixo e lento – E vamos começar de imediato. Quero todas as contas do Rancho congeladas, nem um centavo sai nem entra nas contas até segunda ordem, saques, depósitos, investimentos, aplicações. Nada vai ser movimentado.
– Pretende acabar com a fortuna que o velho Augustus ergueu? É assim que vai medir forças comigo? – Renato perguntou sem controlar o riso.
– Prefiro perder os rendimentos do ano todo a permitir que você ganhe mais uma comissão ou um bônus em cima das contas e dos investimentos que meu Tio-avô realizou até falecer – a dona do Rancho disse dando as costas para o gerente e indo em direção a porta – Sugiro que não pense em manter as contas ativas, se houver uma única movimentação processarei você e o banco. Quanto às contas, acredito que em 48 horas ou menos tudo estará resolvido de forma que de um jeito ou de outro nada que me pertence vai continuar sob a gerência de um homem mesquinho, machista e desrespeitoso como você, Senhor Borges. Vamos ver o que a instituição vai prezar mais, os seus anos de serviço ou as cinco contas que hoje existem em meu nome nesse banco. Agora, se me der licença, tenho ligações importantíssimas a serem feitas – ela completou chegando a porta – Passar bem e espero não repetir nunca o desprazer de encontra-lo.
Sem olhar para trás Maia abriu a porta e passou por ela fechando-a com força e desligando o gravador. Passou pela secretária de Renato e foi direto para a saída da área reservada do banco. Sentia as mãos tremerem, mas não parou por nada, nem quando encontrou com Carlos no corredor que levava para a área dos caixas. O rapaz se assustou com a passagem da patroa, mas logo a seguiu preocupado ao notar como ela não parecia nada normal.
– Senhorita Almeida, o que aconteceu? A senhorita não parece nada bem – Carlos perguntou, seu tom confuso e apreensivo, enquanto abria as portas que surgiam em frente a ambos para que Maia passassem.
– Uma péssima conversa com o gerente desse banco, Carlos. Isso foi o que me aconteceu – ela conseguiu responder tentando caminhar e buscar em seu celular o número de seu gerente – A pior conversa que já tive na vida.
– Renato nunca foi conhecido pela gentileza – comentou o rapaz quando fechou a última porta que atravessaram para sair da agência.
– O conhece? – Maia parou encarando o empregado ao fazer a pergunta.
– Estudamos juntos, na mesma escola na verdade – respondeu Carlos se adiantando para o carro e abrindo a porta do passageiro para que Maia pudesse entrar – Nunca fomos muito próximos, não nos dávamos muito bem. Sempre o achei um tanto arrogante demais.
– Arrogância é o menor dos defeitos desse cidadão – reclamou ela ao se sentar.
– O que houve? – Carlos insistiu na pergunta preocupado com a expressão séria e tensa no rosto da patroa.
– Aparentemente ele tomou conhecimento do meu relacionamento com Alicia e reagiu da pior forma possível – ela respondeu soltando um suspiro nervoso e colocando as mãos no rosto.
– Fez-te algo? – Carlos perguntou preocupado e de forma séria – Por que se lhe fez algo volto lá e o coloco no devido lugar e – ele iria continuar, mas a mão direita de Maia se colocou sobre seu ombro fazendo-o parar.
– Não fez nada além de usar palavras como armas – ela respondeu – E eu mesma vou coloca-lo em seu devido lugar – ela confirmou de forma séria – Até segunda feira, ou eu estou abrindo contas em outro banco ou ele está procurando um novo emprego – ela afirmou de forma séria – Agora, por favor, apenas vamos embora daqui sim?
O rapaz afirmou fechando a porta e se dirigindo para o lado do motorista onde se sentou e ligou o carro. Maia pegou o celular enquanto Carlos manobrava o veículo para saírem do estacionamento.
– Vou seguir para o Rancho – avisou ele com os olhos focados na rua calma.
– Não, não Carlos – pediu Maia rapidamente – Preciso fazer algumas ligações, não vou ter sinal na estrada e quero fazer isso o mais rápido possível.
– O que faço então, Senhorita? – ele questionou confuso e preocupado com o claro nervosismo de sua patroa.
– Apenas…Não sei – Maia respondeu colocando as mãos no rosto e escorregando-as pelos cabelos – Vamos rodar pelas ruas um pouco, se demorarmos muito você estaciona em algum lugar enquanto eu falo ao telefone.
– Certo – ele concordou – Depois vamos para o Rancho?
Os olhos verdes encararam o rapaz ao seu lado, claramente preocupado com seu estado e querendo fazer algo para ajudar. Por um instante ela cogitou confirmar a sugestão dele, mas não se sentia nem um pouco disposta a enfrentar as poucas horas de viagem até o Rancho. Não se sentia bem, nada bem, queria uma segurança, queria ter de novo a paz que estava sentindo quando saiu da cama naquela manhã.
– Não, Carlos – ela respondeu com um pequeno sorriso cansado – Não me sinto bem para fazer essa pequena viagem de volta. Depois vou pedir que me deixe na Clínica Ferraz. Daí então vai poder voltar para casa.
– Pois bem – Carlos sorriu aliviado – Paro algumas esquinas a frente e envio uma mensagem a Dona Antonieta avisando que a senhorita não vai jantar em casa essa noite. Assim fica tranquila por aqui – ele falou voltando sua atenção para a rua.
Maia sorriu com a compreensão dele e se voltou ao celular. Tinha muitas ligações para fazer e para tratar de um tema muito sério e complicado. Mas só ao pensar que veria a veterinária, depois disso tudo, ela já se sentia com mais força para encarar o que fosse preciso no resto daquele dia.
N/A:
Desculpem-me a demora, não consegui terminar esse capítulo a tempo do fim de semana. Eram cenas fortes como já viram (escrevi todas com muito desgosto devo ressaltar >< )
Logo deve sair mais um, antes do fim de semana muito provavelmente.
Bjs pessoas e até o próximo
;]
Este tipo de preconceito, ainda mais vindo de um suposto profissional, me dá náuseas…
Espero que a Maia resolva a situação da melhor forma possível, e que o irmão da Talita se lasque! Kkkkkk
Vingativa? Imagina… Kkkkk
Infelizmente esse tipo de preconceito pode vir de qualquer lugar ><
Mas Maia é inteligente, ela vai dar um jeito de lidar com isso.
Kkkkkkkkkkk Magina, vingativa nunca kkkk, é só um rancorzim que a gente guarda qnd a pessoa merece =P (sou assimkkkkkk)
;]