Argentum

Capítulo 76

Depois de vários minutos cavalgando Maia viu ao longe a paisagem mudando do pasto onde vez ou outra avistavam um cavalo ou dois. Alguns instantes depois elas se aproximaram do que os olhos verdes perceberam ser um grande lago de aguas calmas que refletiam o verde em volta. Era um lago grande que tinha, na margem oposta àquela que se aproximavam, o que parecia ser uma mata mais fechada cheia de árvores grandes. Alicia notou o olhar admirado que a mais nova tinha no rosto enquanto observava cada detalhe da paisagem.

– Esse lago é natural? – perguntou Maia quando elas já estavam quase na margem e Angel diminuía a velocidade.

– Parcialmente, eu diria – falou Alicia sorrindo e guiando Angel para uma das poucas árvores que haviam daquele lado do lago – Sempre existiu um lago aqui. Vê a margem oposta? Aquela é a reserva legal e também a área de proteção permanente do Rancho – contou a veterinária – Elas eram separadas, mas Augustus, a muitos anos, decidiu juntar ambas. Existem três nascentes que alimentam o lago desde sempre, mas elas já estiveram a ponto de secar. Nessa época o lago não tinha nem metade do tamanho de hoje. Seu tio avô logo que assumiu o Rancho mandou isolar a área. Nenhum animal chega até aqui sem ser trazido por alguém como fizemos com Angel – contou Alicia rindo e elas pararam embaixo da sombra da árvore.

A maior fez uma pausa para descer de Angel, Maia observou a movimentação da mais velha em segurar a guia da égua e leva-las para mais perto da árvore. Depois de prender a guia em um galho baixo Alicia se voltou para Maia e esticou os braços pedindo para que a mais nova descesse dizendo que a seguraria. Depois dela estar no chão Alicia foi buscar a cesta. Maia ainda observou a veterinária deixar a cesta ao lado de seus pés e ir retirar a cela e os arreios de Angel antes de soltá-la.

– Vamos nos sentar? – perguntou Alicia ao retirar um cobertor da cesta e estender sobre a grama um tanto úmida sobre a sombra da árvore.

– Viemos fazer algum tipo de piquenique? – questionou Maia com um sorriso de canto – Porque se for, talvez deveríamos ter vindo um pouco mais tarde já que não faz nem duas horas que tomamos café – observou ela se apoiando em um das mãos da maior enquanto se ajoelhava sobre o cobertor e sentava no chão.

– Que bom que não foi bem isso o que viemos fazer – falou a veterinária rindo e se sentando ao lado da menor antes de trazer a cesta para mais perto de si – Ao menos não ainda – afirmou ela tirando uma garrafa térmica e duas xícaras – Nós vamos apenas passar algum tempo juntas e depois, perto da hora do almoço, vamos comer o que eu trouxe na cesta.

– Pois então termine de me contar sobre o lago – falou a dona do Rancho olhando em volta do lugar e notando uma pequena construção um pouco distante de onde estavam.

Alicia notou o olhar da menor, mas se permitiu servir as duas xícaras de café e entregar uma delas para a menor antes de voltar ao relato. Ela ainda tomou um pequeno gole de seu café.

– O lago foi propositalmente aumentado em um ponto, mas foi planejado já na época em que o lugar foi isolado – a veterinária voltou a contar sobre a história do lago – Com a recuperação das nascentes o lago naturalmente ficou maior e Augustus já pensava em usar a água como fonte para os animais. Por isso mandou construir aquela pequena sala onde há uma bomba que manda água para um reservatório no centro dos piquetes. Antigamente havia uma rede elétrica que vinha da sede até aqui, mas a uns quatro anos tudo foi trocado por energia solar.

– Eu ainda me surpreendo com o quão inteligente e bom administrador meu tio avô foi para o Rancho – comentou a mais nova, os olhos verdes voltando a admirar a calmaria das águas – Espero ser tão boa quanto ele para as pessoas que trabalham e vivem aqui. Mas é uma responsabilidade imensa.

-Sei o quanto pode ser difícil, mas eu já vi o quanto você tem competência para lidar com isso – falou a veterinária de uma forma séria que atraiu os olhos verdes.

– Não entendo como pode ter essa certeza toda em tão pouco tempo. Ainda não pude provar competência nenhuma, por enquanto tudo o que fiz foi continuar o que ele já tinha começado e organizar um mínimo do que foi preciso – falou a menor encarando os olhos castanhos que tinham uma tonalidade mel esverdeado por conta do reflexo da grama.

Alicia, delicadamente, pegou a xícara que Maia tinha nas mãos e a depositou, junto da sua, ao lado da cesta junto da garrafa. Depois disso ela se moveu sobre o cobertor até se sentar bem em frente a mais nova que estava com os joelhos dobrados e os pés para trás do lado esquerdo de seu corpo. Alicia se ajoelhou de frente para Maia, seus joelhos no cobertor ao lado da coxa direita da menor e então encarou os olhos verdes com uma intensidade diferente.

– Tem se esforçado tanto que sequer conseguiu tempo de notar isso – falou a veterinária com um sorriso de canto, mas com o olhar ainda sério – Tem feito tanto que não tem sequer percebido o que faz. Sabe o que Antonieta me disse hoje mais cedo quando desci antes de você para pedir que ela montasse essa cesta? – ela perguntou e viu a menor acenar negativamente com a cabeça, só então continuou – Ela me falou que estava feliz que eu tivesse vindo passar o fim de semana com você, porque assim te tirava do escritório. Que ela já estava a ficar preocupada com o tempo tem passado lá dentro.

– Antonieta exagera um pouco – Maia murmurou desviando os verdes dos castanhos e olhando para os próprios joelhos – Eu tenho apenas trabalhado bastante, não é como se vivesse no escritório. Apenas evito descer as escadas.

– Porque tem sentido dores e incômodos na perna, não é? – Alicia questionou com um tom gentil e calmo para que a menor não ouvisse como uma acusação.

– São apenas alguns incômodos – Maia afirmou de forma um tanto mais séria do que antes ao voltar a encarar os olhos da maior – Talvez porque eu ainda não esteja acostumada a andar tanto.

– Ou talvez porque não esteja acostumada a ficar tantas horas seguidas sentada no mesmo lugar – Alicia voltou a falar com o mesmo tom fazendo Maia desviar o olhar novamente por saber que não conseguiria negar que aquela era uma possibilidade.

– Não consigo trabalhar deitada – ela resmungou com os olhos verdes se desviando para o lago apenas para que não encarasse os castanhos cor de mel que a olhavam tão fixamente.

– E nem de pé ou caminhando não é? – a veterinária disse quase com um toque de tristeza na voz que fez o olhar da menor baixar para o chão ao mesmo tempo em que soltava um longo suspiro – Maia, você tem cuidado de todos os funcionários, animais, campos, plantações e tantas mais coisas, mas não tem cuidado de si mesma – disse ela esticando a mão esquerda para tocar a lateral direita do rosto da mais nova – Apostaria até que sequer foi atrás da fisioterapia que me disse que acharia um jeito de fazer.

– Você bem sabe que muitas coisas aconteceram esses dias – murmurou Maia, mas seu olhar já tinha um reflexo de culpa que não conseguiu se ocultar na voz também.

Alicia acariciou a linha do maxilar da mais nova com seu polegar. Ambas ficaram em silencio por alguns segundos enquanto a veterinária erguia a outra mão para fazer o mesmo com o lado esquerdo da dona do Rancho. Os olhos verdes se fecharam relutantes com o carinho, então a maior se inclinou até tocar sua testa contra a testa de Maia e deixar seus narizes um ao lado do outro.

– Você é uma das mulheres mais incríveis que eu já vi – Alicia sussurrou – A mais impressionante que eu já tive a oportunidade de conhecer pessoalmente. Tem feito tanto por todos que já é possível notar a admiração que você ganhou de quem vive no Rancho. Não se cobre demais. Não descuide da sua saúde. Sei que falar não vai adiantar muito, já sei o quão cabeça-dura pode ser, mas eu vou estar aqui para falar e para cuidar de você quando não estiver cuidando de si mesma – disse a veterinária causando um pequeno riso em Maia que abriu os olhos para encarar o rosto da mais velha – Apenas não cobre de si mesma algo que vai além do que é preciso e possível ser feito.

– É péssimo pensar assim – Maia sussurrou erguendo a mão esquerda até tocar a lateral do pescoço da mais velha – Mas não consigo não me sentir grata por meu tio avô ter falecido e deixado o Rancho para mim e meu irmão. Nunca iria te conhecer se isso não acontecesse.

Dois pequenos sorrisos desconcertados surgiram. A veterinária não conseguia não ter o mesmo pensamento. Com os olhos fechados elas se mantiveram naquela posição por vários segundos apreciando o carinho delicado que uma deixava no rosto da outra. Os rostos se movendo levemente para que os narizes se tocassem também e os sorrisos discretos ainda presentes.

– Se você não tiver ao menos encontrado um fisioterapeuta até segunda, na terça de manhã eu mesma farei isso e não te darei o direito nem de negociar como será o atendimento – Alicia murmurou aproximando seus lábios dos de Maia que sorriu com o que ouvia.

– Segunda vou encontrar alguém e acertar minhas consultas de fisioterapia para o mais cedo possível – a menor respondeu antes de inclinar o rosto apenas o que faltava para beijar os lábios que já estavam quase colados aos seus.

Alicia não evitou sorrir antes de apoiar a mão esquerda no chão e aprofundar o beijo que a menor havia iniciado. Apesar do assunto anterior ser importante ela havia notado a sinceridade na voz da menor de que ela não deixaria aquilo para outro dia. Notar isso tranquilizou a veterinária que decidiu não pensar em mais coisas muito sérias pelo resto daquela manhã e apenas beijar sua namorada.

N/A: 

Primeiramente: Perdoem os erros e me avisem se encontrarem (não vou corrigir esse capítulo para postar ele ainda hoje).

Espero que gostem kkkk, infelizmente está mais curto do que o último, mas se conseguir eu trago outro no meio da semana, pq acho que terei mais tempo.

Bjs pessoinhas, até o próximo

;]



Notas:



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