Argentum

Capítulo 67

– Eu acho que a sua mãe já sabia sobre nós duas – sussurrou Maia depois do riso das duas ter passado.

Elas continuavam no mesmo lugar, praticamente na mesma posição. Alicia estava com as mãos em volta da cintura da mais nova e Maia tinha colocado suas mãos espalmadas nos ombros da veterinária. O sorriso nos lábios delas não havia morrido após o riso cessar e elas se encaravam com olhares ternos.

– Não é que fosse ser muito difícil dela imaginar. Talitha meio que contou tudo sobre eu ter me apaixonado por você – disse a veterinária dando de ombros – Até me surpreende o fato dela não ter me perguntado sobre você antes.

– Quando contou a Talitha que se apaixonou por mim? – quis saber a menor curiosa porque Alicia nunca havia comentado sobre ter falado algo sobre o que sentia para alguém.

– Ela é minha melhor amiga. Foi um tanto impossível não falar algo a ela quando comecei a realmente me apaixonar por você – respondeu a veterinária se inclinando para beijar o canto da boca de Maia – Ela percebeu que eu fiquei diferente. Notou meu olhar apaixonado para o meu celular toda vez que você falava comigo. Foi um tanto impossível esconder dela.

– Você tinha um olhar apaixonado para seu celular quando eu falava com você? – Maia perguntou rindo e passando seus braços em volta do pescoço da mais alta porque Alicia estava se inclinando mais e escondendo o rosto no pescoço da mais nova.

– Ainda tenho – respondeu a veterinária, sua voz saindo abafada por estar com os lábios colados no pescoço de Maia.

– Nós não deveríamos estar subindo? Junto com nossos amigos e sua mãe? – perguntou a menor com um sorriso discreto e os olhos fechados enquanto sentia Alicia respirar contra sua pele e deixar leves beijos em seu pescoço.

– Eu realmente acho que nenhum deles vai se incomodar muito se ficarmos aqui por mais alguns instantes – foi a resposta que a dona do Rancho recebeu, mas logo depois Alicia ergueu o rosto para encara-la nos olhos – E eu tenho algo de que quero falar com você antes de tudo.

– O que? – Maia quis saber encarando os castanhos claros que pareciam brilhar.

– Foi sério o que disse agora a pouco na recepção? – perguntou Alicia com um olhar sério, mas um início de sorriso no canto da boca.

– Não me recordo de ter dito nada não sério nas últimas horas – respondeu Maia mordendo o lábio inferior para não sorrir – Pode ser mais específica? – a veterinária riu e rolou os olhos, mas continuou sorrindo ao encostar sua testa na dela.

– Sobre ser minha futura nova namorada – sussurrou mordendo o próprio lábio ao notar Maia repetindo o gesto.

– Bom – começou a menor com um suspiro e um sorriso, ela afastou os rostos de ambas para segurar o da mais velha com ambas as mãos – Achei que já era muito óbvio isso. Apesar de não ser oficial ainda. Não posso te considerar minha namorada sem um pedido de uma das partes, mas sei que isso não vai demorar – falou ela dando de ombros com um sorriso enquanto acariciava com os polegares a linha do maxilar da veterinária.

Um pequeno silencio se instalou na sala. Uma olhava para os olhos da outra e suas mãos acariciavam-se de forma suave e sem nenhuma outra intenção além de dar carinho.  Alicia ergueu a mão direita tocando de leve a lateral do rosto de Maia com as pontas dos dedos e a menor fechou os olhos sorrindo.

– Namora comigo – pediu a veterinária num sussurro que fez os olhos verdes se abrirem rapidamente – Vamos fazer isso oficial aqui e agora. Queria muito ter me adiantado e comprado algo para usarmos, um anel ou uma pulseira ou qualquer coisa, mas não precisamos de nada além de nós para fazer disso algo sério e oficial – disse ela num tom contente, mas ainda sussurrado – Claro, que se quiser algo mais tradicional posso me ajoelhar aqui e agora – completou com um sorriso divertido que fez Maia rir.

– Não tem que se ajoelhar – respondeu a dona do Rancho ainda sorrindo largamente e segurando o rosto da mais alta de forma mais firme – Nunca fui tradicional – murmurou ela encarando os olhos cor de mel da veterinária e puxando o rosto dela para mais próximo até que os lábios se encontraram e elas trocaram um beijo lento.

Os olhos estavam fechados e os lábios se moviam lenta e delicadamente. Alicia voltou a abraçar o corpo menor pela cintura trazendo-o contra o seu e começou a sorrir. Foi encerrando o beijo com selinhos, mas o sorriso não saia de seu rosto.

– Isso foi um sim? – ela perguntou após o último selinho, mantendo os lábios das duas ainda colados.

– Com toda certeza foi – respondeu Maia com outro sorriso antes de puxar Alicia para outro beijo.

Alguns minutos depois elas haviam subido as escadas e Alicia as conduziu até a cozinha de onde o cheiro de café fresco enchia o ar. Encontraram Enzo e Talitha a mesa, um ao lado do outro, conversando com Dona Marta que ia estava colocando alguns biscoitos e pães sobre a mesa junto com o café.

– Que bom que se juntaram a nós – disse a mais velha sorrindo largamente ao ver a filha e Maia de braços dados enquanto a maior ajudava a mais nova a caminhar até a mesa – Chegaram na hora perfeita, acabei de servir o café.

– Obrigada mãe – falou Alicia puxando uma cadeira do outro lado de Enzo para Maia se sentar e vendo sua mãe servir mais duas xícaras.

– Enzo estava nos contando que Maia se formou em história – disse a senhora e Maia conformou a informação – Eu quase cursei história na minha época de faculdade, mas no final acabei começando a Licenciatura em física. Sempre tive uma inclinação para a matemática – riu ela se sentando entre Alicia e Talitha na mesa redonda.

– Alicia nunca me disse que a senhora havia sido professora – Maia se manifestou surpresa que a mãe da veterinária houvesse cursado algo voltado a educação.

– Oh não querida – Marta sorriu servindo alguns biscoitos num prato – Eu comecei a Licenciatura, mas nunca cheguei a completar o curso.

– Mas porque não? – foi Enzo quem perguntou com uma expressão curiosa antes de colocar um dos biscoitos de coco na boca e começar a mastigar.

– Bom, conheci o pai de Alicia no meu primeiro semestre e acabamos por começar a namorar – contou Marta sorrindo de forma nostálgica e encarando o teto como se recordasse os acontecimentos – Ele era mais velho e estava a um ano e meio de terminar o curso de Medicina Veterinária. Namoramos por um ano, no último semestre ele me contou que voltaria para a cidade dele quando se formasse. Leandro queria saber se nós deveríamos terminar antes ou esperar até o final de seu último semestre. Disse-me que não queria me deixar, porque me amava, mas que não achava justo ele me deixar para voltar para casa. Na época eu morava uma das minhas irmãs, pois nossos pais já haviam falecido a alguns anos. Então perguntei se ele realmente me amava.

– Mamãe praticamente pediu papai em casamento – interrompeu Alicia levando a xícara aos lábios para beber do café quente.

– Foi mesmo – riu Marta alcançando sua xícara – Seu pai era tão lerdo quanto você, filha – disse Dona Marta fazendo Alicia quase engasgar com o café e ficar extremamente vermelha, fato que só aumentou a gargalhada que Enzo e Talitha estavam soltando.

Maia não controlou o riso, mas colocou uma mão sobre o ombro esquerdo da veterinária enquanto a mesma tossia. Quando Alicia finalmente conseguiu respirar direito, ainda com o rosto completamente vermelho, todos na mesa estavam rindo. A dona do Rancho foi a primeira a parar de rir e alcançou a mão esquerda da mais velha que estava sobre a mesa entrelaçando os dedos de ambas.

– Mas realmente – continuou Dona Marta com um sorriso no rosto – Leandro me amava, eu o amava. Nada me prendia naquele lugar. Disse que quando ele voltasse eu queria que me levasse com ele. Não propus casar-nos – ressaltou ela erguendo o indicador direito em frente ao rosto – Mas ele era um homem correto demais para a época e casamos num cartório em Porto Alegre antes de embarcarmos.

– Que história – comentou Enzo impressionado – Nunca se arrependeu de não ter concluído a faculdade?

– Não, fui feliz sem um curso superior tanto quanto teria sido com ele – respondeu Marta com um sorriso gentil no rosto – Meu lugar era aqui depois de tudo. E mesmo que Leandro não esteja mais comigo ele me deixou algo tão precioso quanto ele mesmo – sorriu ela segurando o queixo de Alicia e acariciando o rosto da filha com o polegar rapidamente – Às vezes temos de abrir mão de algo que gostamos para ter o que realmente queremos.

– Ótimo conselho – respondeu Enzo tendo consciência de que havia feito algo parecido ao se mudar com Frederico deixando tantas coisas que gostava para trás.

– Acho que só podemos dizer que a senhora fez a escolha certa, já que lhe trouxe felicidade – respondeu Maia com um sorriso carinhoso enquanto olhava de mãe para filha.



Notas:



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2 Respostas para Capítulo 67

  1. AEE, enfim namoradas! Eita, casal lindo!
    Amo ler as historia de D.Marta!
    Beijos
    Fica na Paz
    Mascoty

    • Enfim mesmo kkkkk, já era hora!
      Dona Marta tem as melhores histórias kkkkk e o melhor jeito de contá-las também hehe.

      Bjs
      ;]

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