Argentum

Capítulo 57

Elas seguiam pelo corredor do hotel da mesma forma que sempre caminhavam juntas, Maia com o braço esquerdo apoiado sobre o antebraço direito de Alicia. Mas naquela manhã sentiam que tudo era diferente, mesmo que parecesse igual. Os toques eram mais delicados, cada um também sendo sentido como um carinho. Alicia estava com a chave no bolso de traz apenas para ter a mão esquerda livre para deixar sobre a de Maia em seu braço. Os olhares também eram diferentes, naquela primeira manhã depois de se declararem pela primeira vez elas não davam olhares furtivos uma para a outra. Sempre que seus olhares se cruzavam era como se prendessem um ao outro e sorrisos se espalhavam pelos rostos com facilidade.

Juntas elas entraram no elevador e Alicia apertou o botão do térreo onde ficava o restaurante do hotel, o quarto delas era no terceiro andar. Enquanto as portas se fechavam Alicia começava a pensar na viagem de volta. Parte dela ainda tinha medo do que poderia acontecer quando elas retornassem, mas a forma como Maia acariciava seu braço com a mão esquerda enquanto estavam paradas esperando o elevador a tranquilizava. Além de ser um carinho que nunca tinham trocado era uma forma da menor mostrar, sem sequer perceber, que não pretendia esconder o que sentiam já que era um carinho completamente visível para qualquer um que olhasse. Mas além dessas preocupações uma questão surgiu em sua mente e ela decidiu compartilha-la logo com a menor.

– Estava aqui pensando – falou a mais velha em tom baixo no momento em que a porta do elevador se abriu no térreo – Quando voltarmos, vamos direto para o Rancho ou para a clínica? – ela questionou dando uma rápida olhada para os olhos verdes curiosos – O que acha que seria melhor?

–  Soaria muito bobo dizer que acho que o melhor é o que vai fazer você ficar comigo mais tempo? – respondeu a mais nova olhando para a veterinária com um meio sorriso entre sem graça e brincalhão que fez Alicia sorrir largamente.

– Você se importa se soar bobo? – perguntou a Veterinária com um sorriso.

– Não realmente, era só uma curiosidade – riu a mais nova e elas chegaram no restaurante que já servia o café – Mas qual a diferença de um lugar ou outro?

– Bom – começou Alicia guiando o caminho das duas para uma mesa mais perto das janelas – Se formos direto ao Rancho alguém precisa me levar para a cidade depois. E se formos direto para a cidade alguém vai ter que vir até a clínica buscar você e o carro.

– E porque você não vai comigo até o Rancho e fica lá até o dia seguinte? Pela manhã é certeza de que alguém pode te levar – sugeriu a menor se sentando de um lado da mesa quadrada e vendo Alicia deixar suas coisas na cadeira ao seu lado esquerdo.

– É tentador – disse a veterinária com uma expressão triste ao se sentar ao na cadeira ao lado da menor – E eu juro que se pudesse aceitaria – ela completou segurando a mão esquerda de Maia em sua direita.

– Eu entendo – sorriu a menor – Você não pode deixar seus pacientes esperando. É muito justo e eu vou aceitar – falou ela colocando a mão direita sobre a de Alicia que acariciava levemente o dorso de sua mão com o polegar.

– Quem dera se fosse um paciente – sorriu a veterinária – Seria muito mais fácil negar sua sugestão se fosse – ela falou levando sua outra mão na direção das mãos das duas juntas sobre a mesa – Tenho que receber um representante comercial de um laboratório químico. Trabalho com os remédios e as vacinas deles a anos, desde quando meu pai era o dono da clínica. Mas compramos tudo de um revendedor numa cidade próxima. Com os últimos reajustes a minha margem de lucro se reduziu de tal forma que eu quase estou tendo prejuízos para manter os preços aqui na cidade. Por isso quero a representação do laboratório, assim posso comprar por preços menores e a clínica passa de consumidor final para revendedor.

– Nossa, você além de veterinária é uma empresária – comentou Maia com um sorriso admirado, seus dedos e os da maior se acariciavam sobre a mesa – Por isso precisa estar na cidade.

– Só sei que o representante vem pela manhã. Se passar a noite no Rancho alguém teria que sair muito cedo para me trazer – falou ela com um suspiro alto, mas conformado.

– Acho que a melhor forma é falar com Giulio – disse a menor com um sorriso calmo – Talvez alguém já esteja vindo para a cidade, podemos aproveitar essa viagem. Vou ligar para ele agora mesmo e perguntar – disse ela soltando sua mão direita e pegando o celular.

– Certo, vou buscar frutas e suco para nós – avisou a maior deixando um beijo no dorso da mão esquerda de Maia antes de se levantar deixando a menor com um sorriso e o rosto corado.

Ela discou o número de Giulio e foi atendida depois de três toques. Enquanto conversava com o homem seu olhar não perdeu Alicia de vista. Ela viu a outra seguir primeiro até os pratos, pegar dois e então, de uma forma que ela não conseguiria fazer nem antes do acidente, equilibrar os dois pratos numa mão só enquanto usava a outra para servir diversas frutas para as duas. A veterinária passou pela mesa deixando os pratos antes de ir buscar dois copos que encheu com suco de laranja, deixando o de Maia sem gelo.

A mais nova reparou que a veterinária colocara morangos e melão em seu prato e nenhuma uva, mas no dela apenas melancia e uvas. Notou também que Alicia não precisou que ela lhe avisasse sobre o gelo em seu suco e sorriu bobamente ao ver como a maior parecia já conhecer alguns de seus gostos mesmo tendo tão pouco tempo juntas. No momento em que Alicia voltou a se sentar ela concordou com a sugestão de Giulio e desligou para começar a comer seu café da manhã.

– E então? Giulio deu alguma ideia? – perguntou Alicia cortando pedaços da sua melancia e começando a comer.

– Sim, na verdade ele nos deu a solução – sorriu Maia começando pelo melão e decidindo que deixaria a melancia por último – Ele disse que Carlos já estava pretendendo ir até a cidade, levar alguma coisa que Antonieta fez para a filha deles que mora lá. Segundo ele a melhor solução é irmos direto ao Rancho e você voltar para a cidade com Carlos depois.

– Realmente – falou a veterinária pausando sua mastigação – Se eles tivessem que vir te buscar precisariam voltar em dois carros.

– Foi exatamente o que ele me disse. Se você for com Carlos ele não precisa dispor mais ninguém e assim nada fica prejudicado – falou Maia antes de comer.

Fez-se um pequeno silencio enquanto as duas comiam. Quando terminaram Alicia se levantou perguntando o que Maia gostaria de comer e a menor pediu apenas coisas mais leves. A veterinária novamente equilibrou os dois pratos e serviu ambas, sendo que o seu com muito mais comida e algumas opções não tão saudáveis quanto as de Maia. Alicia ainda buscou café para ambas e, depois, pedaços de bolos. Quando terminaram as duas retornaram ao quarto para buscarem suas coisas e seguirem viagem.

No quarto a menor foi direto para sua cama terminar de guardar seus poucos pertences que continuavam para fora da pequena bolsa. Alicia se encostou a parede próxima a sua cama e ficou olhando a mais nova guardar tudo com paciência. Quando Maia começou a fechar a bolsa a veterinária se aproximou da dona do Rancho colocando suas mãos sobre os ombros da menor e deixando as palmas escorregarem pelos braços cobertos pela blusa. Maia ficou imóvel esperando até as mãos da maior estarem sobre as suas, seus dedos se entrelaçando com o dorso da mão menor contra a palma da maior.

– Tem algo errado? – perguntou a menor preocupada sentindo o rosto de Alicia se esconder na curva de seu pescoço enquanto a veterinária fazia os braços de ambas envolverem seu corpo.

– Eu não quero voltar para casa – contou a mais alta num sussurro – Ainda estou com medo de acordar e descobrir que a noite de ontem e essa manhã foram apenas um sonho. Tudo é surreal demais ainda, mas quando voltarmos vamos ter que enfrentar a realidade. E eu acredito que ela não será nem um pouco fácil.

– Vai ficar tudo bem – respondeu ela num tom firme, mas ainda baixo – Vamos enfrentar o que tiver de ser enfrentado. Vai dar tudo certo, Alicia. Não se preocupe demais antes do tempo.

– Eu só não posso perder você, Maia – murmurou a veterinária se encolhendo contra as costas da menor – Não agora. Eu não quero que esse sonho acabe. Quero que ele dure para o resto das nossas vidas, mas tenho medo do que nos espera em casa.

– Me deixa olhar para você – pediu a menor num sussurro soltando suas mãos das da mais velha e tentando se virar, Alicia afrouxou o abraço e a ajudou até ficarem frente a frente encarando os olhos uma da outra – Preste bem atenção em mim agora – falou a mais nova segurando o rosto da veterinária entre as mãos e fixando seu olhar no dela – Não importa o que está nos esperando lá. A única coisa que importa é isso – falou Maia apontando com o indicador direito para as duas – Nós. É isso o mais importante. Nós e nossa decisão de estarmos juntas. Vamos estar uma ao lado da outra sempre e para tudo. Seja lá o que tivermos de enfrentar, eu tenho certeza que não será maior do que o que eu sinto por você.

Alicia não saberia que palavras usar como resposta aquela declaração da menor. Tudo o que conseguiu fazer foi estreitar o abraço em volta da cintura fina e inclinar o rosto na direção de Maia beijando-a de um jeito delicado. Maia correspondeu abraçando o pescoço da maior e tentando retribuir a delicadeza com que a veterinária a segurava. As duas se entregavam ao beijo que progrediu de delicado para desejoso, mas ainda calmo e carinhoso. Em certo ponto a calma acabou, mesmo que o carinho continuasse talvez até maior.

As mãos da mais alta que tinham estado pousadas na cintura de Maia desceram para o quadril da menor, os dedos longos e fortes fazendo mais pressão do que o que a menor havia se acostumado nas poucas vezes anteriores. Seu corpo foi pressionado mais ao da maior e os lábios da veterinária acariciavam os dela com mais vontade. A mão direita de Alicia foi até a base das costas de Maia pressionando o quadril da menor contra si. A outra mão da mais velha começou a descer alguns centímetros de cada vez apertando o quadril de Maia indo na direção da coxa da mais nova. Antes que a mão esquerda de Alicia descesse demais Maia conseguiu um milésimo de segundo onde pode colocar as mãos espalmadas contra os ombros da maior e desviar os lábios parando o beijo.

– Calma – conseguiu sussurrar a menor respirando de forma irregular fazendo a veterinária se afastar um pouco, mas antes que Alicia conseguisse se separar completamente dela as mãos da mais nova se agarraram ao tecido da camisa.

– Perdão, Maia perdão – começou Alicia quase desesperada – Eu passei dos limites, mil perdões. Eu juro que não tinha a intenção.

– Alicia se acalme – murmurou a menor ainda com certa dificuldade para respirar, mas com um sorriso divertido – Não foi nada demais. Não passou dos limites – disse ela erguendo os olhos verdes – Eu só fiquei sem fôlego – contou ela escorregando as mãos para as laterais do pescoço de uma veterinária que a encarava de volta com um enorme ar de confusão – A última vez que fiquei tão sem fôlego assim foi quando ainda estava no hospital – falou a menor, mas a lembrança não lhe trouxe sensações ruins como o normal – Você só tirou meu folego – falou ela com um sorriso dando um selinho na veterinária.

– Você está bem? Bem mesmo? – perguntou Alicia ao notar que a mais nova estava demorando demais para voltar a respirar normalmente – Eu ainda não entendi o que acabou de acontecer.

Maia sorriu e pousou a cabeça contra o peito de Alicia enquanto respirava fundo e deixava o cheiro da mais alta lhe acalmar. Quando conseguiu respirar normalmente ela afastou o rosto fazendo Alicia desencostar suas cabeças e elas se encararam.

– Por causa do acidente eu tenho um pouco menos de fôlego e capacidade pulmonar que a maioria das pessoas – contou a mais nova com um sorriso discreto sob o olhar atento e preocupado de Alicia – Não é nada sério, mas eu demoro a recuperar meu fôlego quando ele some muito rápido. Dois anos de natação ajudaram na minha capacidade pulmonar, mas acho que nem aulas de mergulho me prepararia para esse beijo seu – ela terminou num sussurro tocando os lábios da mais alta com a ponta dos dedos da mão direita.

– Eu, provavelmente, posso considerar isso um elogio, mas ainda estou preocupada com quanto tempo você demorou para respirar normalmente de novo – respondeu a veterinária também em um sussurrou acariciando a lateral do rosto da menor.

– Você só me pegou desprevenida – respondeu Maia com um sorriso bobo com todo o cuidado que sentia nos toques e no olhar da maior – E não pense nem por um minuto que passou dos limites.

– Ainda acho que passei – retrucou Alicia de um jeito sério.

– Não passou – garantiu Maia – Porque em nenhum momento eu me senti desconfortável com seu beijo ou seus toques. Apenas meus pulmões preguiçosos que não conseguiram acompanhar o seu ritmo sem um aviso prévio.

– Esse realmente é um assunto que você não deveria usar para fazer brincadeiras – Alicia respondeu de um jeito sério quase em tom de repreensão que fez Maia sorrir – Mas tudo bem, acho melhor fazermos o check-out na recepção antes que tenhamos que pagar outra diária por usarmos o quarto além do tempo que deveríamos.

– Vamos fazer o Check-out – concordou Maia puxando o rosto de Alicia para um selinho antes de deixar a maior se afastar.

Alicia não controlou o sorriso e pegou a bolsa de Maia antes de colocar sua mochila sobre o ombro esquerdo. Maia já estava pronta com a muleta na mão direita e elas saíram do quarto indo para a recepção. Ainda teriam algumas horas de estrada antes de estarem de volta as suas casas.

 

 

N/A: 

A pessoa pede pra namorada atualizar um capítulo e quando volta vê as notas mais fofas que você poderia esperar *-*

Entendem agora o motivo pelo qual eu amo essa mulher?

Bom, esse capítulo é dedicado especialmente para o meu anjo que está sempre me apoiando e me ajudando em tudo (Amo vc minha carioca).

Mas então, o que acharam???
Espero que tenham gostado hehe. Na quarta eu volto =P
 
Bjs pessoinhas.
;]


Notas:



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2 Respostas para Capítulo 57

  1. Que beijo! Essa veterinaria é fogo! rsss. gostando demais desse casal! quero vê elas sozinhas na fazenda, kkk!
    beijos
    fica na paz
    Mascoty

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