Argentum

Capítulo 38

Maia esperou a veterinária sentada naquele banco. Alicia demorou algo perto de cinco minutos na fila e esperando os cachorros-quentes ficarem prontos e então retornou com um em casa mão se sentando ao lado da mais nova e lhe entregando seu lanche. Começaram a comer entre alguns sorrisos por parte da veterinária vendo a mais nova fechar os olhos ao provar a comida se surpreendendo com o sabor. Maia reconheceu que era realmente delicioso e Alicia apenas mordeu mais um pedaço do seu enquanto sorria.

Não demorou muito e ambas viram Talitha se aproximar delas com dois copos de plástico nas mãos. Ela vinha sorridente, mas nenhuma das duas poderia imaginar o que se passava na mente da mais nova. Quando viu as duas sentadas no banco, próximas, mas ainda com certo espaço entre ambas, a jovem imaginou diversas formas de incomodar as duas. Ela havia notado o certo olhar estranho que havia recebido dos olhos verdes enquanto esteve abraçada com a veterinária e decidiu que era a hora de provocar a dona do Rancho.

Ela tinha absoluta certeza de que Maia tinha ciúmes de Alicia e pretendia provocar isso ainda mais durante toda a noite. De longe ela observou os sorrisos de uma para a outra. Era tão fofo que chegava a ser irritante que elas parecessem não notar os olhares admirados que estavam trocando. Enquanto se aproximava delas Talitha estabeleceu para si mesma o objetivo de provocar Maia o suficiente para que ela percebesse seus ciúmes pela veterinária. Se aproximou das duas com um sorriso divertido pelo que pretendia e estendeu o copo para Alicia.

– Aqui seu quentão – disse ela chamando a atenção das duas e vendo o sorriso agradecido de Alicia que pegou o copo com uma mão mantendo o cachorro-quente na outra – Então, cadê o meu cachorro-quente? – perguntou ela com um largo sorriso se aproximando da veterinária, ficando entre as pernas dela e se sentando no colo da mais alta.

– Folgada – falou Alicia rolando os olhos – Seu cachorro-quente está bem ali – apontou para a barraca com a mão que tinha segurava o copo – É só pegar suas fichas e ir lá buscar – completou ela com um sorriso falso antes de, desajeitadamente, conseguir trazer seu copo até sua boca já que seu braço estava nas costas da mais nova.

– Malvada – falou a mais nova pegando a mão da mais velha que segurava a comida e mordendo um pedaço antes que Alicia pudesse reagir – Isso tá muito bom – falou ela com a boca ainda cheia e deu um sorriso ao ver a expressão indignada da veterinária.

Disfarçadamente ela olhou para frente, na direção onde estava Maia, e viu o olhar sério e a expressão mais firme e incomodada que a dona do Rancho tinha no rosto. Os olhos verdes direcionados diretamente para ela pareciam querer derrubá-la do colo da veterinária e Talitha não se controlou em provocar um pouco mais ao passar o braço que não segurava seu copo em volta do pescoço da mais alta.

– Deixa de ser folgada e vai comprar o seu – reclamou a veterinária não se importando com as atitudes da amiga já que elas sempre foram muito carinhosas uma com a outra – Esse cachorro-quente é meu e se você me roubar mais um pedaço te derrubo no chão – disse a mais velha sem notar os olhares de Maia para a mais nova das três.

Mas Talitha estava bem consciente do peso dos olhos verdes e da expressão incomodada no rosto da outra que tentava desviar o olhar e não encara-las enquanto comia silenciosamente seu cachorro-quente. Mas Maia não conseguia disfarçar o maxilar travado sempre que voltava a olhar para a cena da mais nova no colo da veterinária. Decidiu não provocar demais de uma única vez e se levantou notando como os olhos verdes se fixaram nela. Talitha acabou pensando que se um olhar matasse ela já teria morrido algumas centenas de vezes naquele curto espaço de tempo.

– Vou buscar meu cachorro-quente então – disse ela dando de ombros e sorrindo para Alicia logo depois – Quer outro? – perguntou inocentemente, mas viu os olhos verdes se desviarem e a menor sentada no banco parecer soltar um suspiro irritado enquanto Alicia apenas concordava com um sinal de cabeça – Querem mais alguma coisa? Posso buscar pra vocês duas. Talvez um refrigerante pra Maia?

– Aceita um refrigerante? – perguntou Alicia se virando para ela e tendo o foco dos olhos verdes – Assim não come sem nenhum acompanhamento. Posso pedir pra Talitha buscar algum doce para nós também.

– Não precisa, estou bem assim – respondeu Maia com um sorriso pequeno e olhou para cima, na direção da mais nova – Não preciso que me traga nada Talitha, mas obrigada – disse ela, mas a mais jovem pode notar o tom irritado que se disfarçou na voz calma e controlada.

– Litha, me traga mais um então, e uma lata de algum guaraná por favor – pediu a veterinária sorrindo para a amiga que saiu de perto das duas depois de confirmar o que iria trazer.

Quando a mais nova se afastou tudo o que Maia conseguiu pensar era que ela poderia demorar muito para voltar e esse pensamento a assustou. Havia se sentido incrivelmente desconfortável vendo Talitha sentada no colo de Alicia, mas não sabia dizer o motivo. Nenhuma das duas estava fazendo nada errado, não haviam feito nada que deveria deixa-la desconfortável, mas mesmo assim a cena a irritou profundamente.

Ela não precisou de muito para entender que sentiu ciúmes. Foi apenas ao mais jovem se afastar que notou não estar mais sentindo aquilo de forma tão intensa e assim ela entendeu que havia ficado com ciúme, mas não sabia do que. Ou talvez não estivesse pronta para admitir que era ciúmes da veterinária. Ela não entendia o porquê sentira-se daquela forma. Afinal, Alicia era apenas uma amiga sua e Talitha também era apenas amiga da mais alta.

Após a mais nova se afastar ela sentiu-se incrivelmente envergonhada pelos olhares que havia lançado à garota. Tentou esquecer o ocorrido e ignorar os ciúmes, mas a consciência de que tinha esse tipo de sentimento pela veterinária de forma tão forte a deixava inquieta e confusa. Seu estado de confusão era agravado ainda mais pelo fato de que, enquanto refletia rapidamente o porquê havia sentido ciúme, se deu conta de que não era a única coisa que havia sentido com o que tinha presenciado.

– Está tudo bem? – perguntou Alicia vendo que os olhos verdes haviam se perdido em algum ponto e o cachorro quente nas mãos da menor havia sido quase esquecido.

– Sim – murmurou Maia quase se assustando com a pergunta – Sim, claro. Tudo bem – ela repetiu tentando fazer com que acreditasse em si mesma, mas como nem ela o fez Alicia também não acreditou.

– Certeza? – tornou a questionar a veterinária amassando o guardanapo onde tinha estado sua comida e se aproximando mais de Maia no banco de concreto – Qualquer coisa, se quiser, posso te levar de volta. Juro que não me importo. Se estiver desconfortável com algo ou quiser apenas ir descansar é só me dizer.

Seu primeiro impulso foi dizer estava desconfortável com Talitha, mas Maia se segurou. Se falasse aquilo teria de explicar o porquê e ela mesma ainda não tinha entendido completamente seus motivos para se sentir desconfortável com os atos da mais nova delas. Por esse motivo ela apenas sorriu e garantiu que estava bem e, logo depois, terminou seu cachorro-quente. Alicia, entretanto, não se afastou da dona do Rancho e se recostou no banco tendo sua perna quase tocando a da menor. De longe Talitha observava toda a interação das duas e notou o sorriso de canto em Maia quando a veterinária arrumou a manga da jaqueta e acabou por encostar os braços de ambas.

Quando Talitha voltou, sentou-se na outra ponta do banco fazendo a mais velha ficar entre as duas. Como ela já imaginava Alicia havia pedido o refrigerante apenas para convencer a outra a beber e, enquanto assistia a conversa entre as duas, ela teve que segurar o riso por conta do quão óbvio parecia que elas estavam interessadas uma na outra. Nas horas seguintes as três mulheres caminharam pela festa conversando e comendo, as vezes jogando algum jogo nas barracas.

Assistiram a quatro apresentações, a primeira de um grupo que deveria ter uma média de 6 anos. Na última eram os jovens de 15 a 16 anos. Durante as danças as três precisavam ficar em pé, por isso a cada intervalo Alicia levava Maia para algum banco próximo e se sentavam. Talitha não ficou o tempo inteiro com as duas, ela queria provocar a dona do Rancho, mas ainda queria se divertir com seus amigos e, quem sabe, encontrar alguém agradável. A segunda tarefa seria muito difícil levando em conta que não haviam muitas pessoas novas na cidade e ela já conhecia a todos os homens solteiros da região.

Já a primeira tarefa da noite ela estava conseguindo cumprir com facilidade. Tanta que se perguntava como Alicia não notava os óbvios olhares de ciúme que Maia lhe lançava sempre que ela se jogava sobre a veterinária. Alicia era muito carinhosa, sempre foi. Não era incomum que elas se abraçassem ou ficassem próximas. Talvez por isso a mais velha não tivesse notado que ela estava exagerando um pouco. Mesmo assim Talitha rolava os olhos sempre que a veterinária não via o que estava tão claro, reprovando a negação em que a amiga se encontrava.

Já se aproximava das 21 horas e Talitha começava a ficar entediada daquela brincadeira de provocar Maia. Talvez a amiga não percebesse, mas ela havia notado que a de olhos verdes havia percebido o próprio comportamento. Se depois de tudo a dona do Rancho não entendesse que havia algo acontecendo com ela em relação à veterinária então não haveria nada que ela pudesse fazer pela melhor amiga. Exceto falar com Maia diretamente, mas ela esperaria um tempo para isso, ainda tinha esperanças da outra não ser tão lenta assim. Mesmo com esse pensamento ela decidiu dar mais um empurrão nas duas mulheres mais velhas, quem sabe com aquilo Maia não resolvesse conversar com Alicia.

– Bom, acho que vocês já tiveram o bastante da minha ilustre presença – disse ela se levantando e parando em pé atrás de Alicia que estava sentada no banco, se inclinou abraçando o pescoço da veterinária e deixando seu rosto ao lado do rosto da mais velha mantendo Maia em sua linha de visão – Vou atrás de um quentão mais forte e, quem sabe, alguma festa para mais velhos – disse ela com um largo sorriso vendo os olhos verdes irritados lhe encararem e os castanhos claros rolarem de forma entediada – Não sinta muito a minha falta – falou a mais nova segurando o queixo da veterinária, virando o rosto dela para seu lado e dando um beijo no rosto da mais velha antes de se afastar delas e caminhar para onde sabia que o grupo de jovens da cidade iria se reunir.

Alicia apenas ria do jeito espalhafatoso da amiga enquanto a assistia ir embora, mas Maia tinha o lábio inferior sendo pressionado além da conta entre os dentes. Pelo ângulo em que Talitha havia deixado o rosto das duas ela não conseguia dizer onde exatamente havia sido aquele beijo e, por dentro, se corroía em ciúme e desconforto porque parecia muito que elas haviam dado um selinho. Naquele instante ela quis acertar sua muleta nas pernas da mais nova e fazê-la cair, mas também não pode se impedir de admitir que, além do ciúme, ela havia sentido certa raiva por ver alguém beijar a veterinária.

 

 

N/A: 

Opa hehe =P 

Agora sim até amanhã pessoas 

;]



Notas:



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6 Respostas para Capítulo 38

  1. aee! kk adorei esse capitulo! Talitha é fogo!nossa uma parte de maia que nao conhecíamos agressiva kkk querer tacar a muleta em Talitha,kkk
    Agora vai, tem que ir! esse relacionamento tem que acontecer!rss
    bjs
    fica na paz
    Mascoty

    • Sim kkk, uma parte desconhecida da Maia surgiu hehe. Mas Talitha tbm não facilitou kkkkkkkkkk.
      E vai acontecer, está quase lá

      Bjs
      ;]

  2. Espero que Maia perceba seus sentimentos e tome uma atitude logo!
    Pois, se depender da Alicia essa história não terá fim!

    Parabéns a autora, pelo enredo envolvente.

    • Realmente kkkk, não posso negar que se depender da Alicia ficaremos eternamente esperando uma resolução kkkk

      ;]

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