N/A: Promessa feita é promessa cumprida ;]
Os dias passaram-se sem muitas alterações na rotina de Alicia e com muitas na de Maia. Eram documentos e mais documentos que ela tinha que assinar todos os dias, recibos de vendas e coisas relacionadas ao inventário. Maia também estava estudando as contas e os documentos do Rancho e isso lhe consumia muito tempo. Mas ela sempre tirava alguns minutos para falar com a veterinária por mensagens. Alicia ficava feliz toda vez que via como a mais nova não parecia esquecer-se dela e sorria com a constante preocupação de Maia com seu ombro que já estava muito melhor. Sempre que via o sorriso no rosto da amiga Talitha sabia que era mais uma das mensagens da nova dona do Rancho.
Aliás, os boatos sobre Maia Almeida já começavam a se espalhar pela pequena cidade. Um morador sabia de algo por um, que comentava com outro, que contava a um amigo, que comentava em outro lugar. A típica forma com que boatos se espalham por uma cidade pequena. Todos estavam curiosos com a nova proprietária da maior propriedade rural da região, principalmente porque nem todos os funcionários haviam visto-a. Apenas alguns que se restringiam a família de Giulio e outros que trabalhavam nos estábulos e na casa principal.
Dessa forma os dias foram se passando e, novamente, chegava uma sexta feira. Alicia estava calmamente organizando seu consultório, havia sido um dia cheio. Quatro consultas, dois filhotes, uma gatinha e um idoso cãozinho. Os filhotes haviam apenas vindo para tomar as vacinas necessárias e ter as carteirinhas de vacinação preenchidas. O cãozinho estava com um pequeno problema de visão, infelizmente era um agravo da idade e ela apenas pode orientar a proprietária que, com o passar do tempo, o animalzinho tenderia a perder esse sentido, mas que, com paciência, ele conseguiria se adaptar.
O último atendimento era a gata de quatro anos que tinha um aumento no abdômen que assustou a garotinha de 8 anos que havia adotado a gatinha alguns meses atrás. Alicia adorou essa última consulta que havia terminado a pouco mais de 30 minutos. Sua suspeita inicial havia agradavelmente se confirmado durante o exame ultrassonográfico. Segundo a data aproximada pelo equipamento nos próximos dias a menininha teria mais dois gatinhos dos quais cuidar. Alicia ainda sorria ao lembrar do gritinho animado da garotinha ao descobrir que a gata estava esperando dois gatinhos. Havia sido incrivelmente gratificante.
O relógio digital na parede próxima a porta da sala marcava 150 quando ela terminou de limpar o gel do ultrassom e o resto da sala ajeitando cada coisa em seu lugar. Abriu os dois botões do jaleco que ainda estavam fechados, dos quatro que a peça branca com seu nome bordado no bolso possuía. Era um dia mais quente que os últimos, mas segundo a previsão do tempo a temperatura voltaria a cair drasticamente nos próximos dias. Era esperado, a veterinária nunca havia visto as festas juninas sem o frio que fazia estar perto da fogueira o melhor lugar da festa.
Mas ainda não estava frio, por isso ela só usava uma blusa de malha branca de mangas curtas que mostrava seu corpo magro por ser bem justa, mas não o bastante para ser desconfortável. Como sempre estava de jeans, mas naquele dia tinha escolhido um de seus tênis de corrida. Olhou em volta confirmando que nada estava fora do lugar e se aproximou da mesa. Pretendia deixar o jaleco branco pendurado na cadeira e o estetoscópio em cima do bloco de receitas, mas foi impedida antes de conseguir retirar o objeto dos ombros por uma batida na porta. Não demorou para Talitha colocar a cabeça para dentro pelo vão que abriu.
– Terminou de arrumar tudo? – ela perguntou com um sorriso enorme olhando em volta – Posso mandar entrar a próxima pessoa?
– Não me disse que já haviam acabado os pacientes? – perguntou a veterinária confusa recolocando de forma correta o estetoscópio em volta do pescoço e pegando sua caneta em cima da mesa passando-a para o bolso superior do jaleco.
– Acabaram, essa pessoa acabou de chegar – respondeu a mais nova dando de ombros e mantendo o sorriso um pouco menor – Posso autorizar a entrada? – tornou a perguntar e viu Alicia assentir com um movimento de cabeça.
No segundo seguinte não se viam mais os fios negros. Não demorou muito e a porta tornou-se a abrir. Por um momento ela só viu Talitha, no segundo seguinte a figura de Maia cruzava a porta com um sorriso e um olhar de agradecimento para sua secretária e amiga que fechou a porta assim que a de olhos verdes parou do lado de dentro. Não sem antes lançar um piscar de olhos na direção da veterinária que estava de olhos arregalados em surpresa. Só depois que a porta se fechou foi que ela reagiu abrindo um largo sorriso e se aproximando da mais nova.
– Espero não estar atrapalhando seu trabalho – disse Maia num tom ameno e com um sorriso discreto, ela usava um jeans escuro e uma blusa de mangas compridas com gola alta, a muleta se fazia presente, mas não parecia tão incomodada por dores naquela tarde – Boa tarde, Alicia – completou ela quando a veterinária parou a poucos passos de distância.
– Ótima tarde, senhorita Almeida – falou a maior com um sorriso que aumentou quando Maia rolou os olhos – E como pode ver não tenho pacientes na sala de espera. Também lhe garanto que não há nenhum agendado – antes que a menor pudesse responder Alicia chegou ainda mais perto e tomou a mão esquerda sobre as suas, apoiando-a em sua própria mão esquerda e colocando o braço direito protetoramente atrás das costas de Maia – Venha, vamos nos sentar – disse ela guiando ambas até as duas cadeiras de frente para a mesa.
– Obrigada – disse ela com um sorriso e os olhos verdes direcionados a veterinária que virava a outra cadeira para sentar-se a sua frente.
– A que devo sua ilustre presença? – perguntou Alicia com o mesmo sorriso largo ainda em seus lábios fazendo Maia sorrir também.
– Tive de vir a cidade, mais precisamente ao cartório. Finalmente assinei os papéis que transferem o Rancho Aureus para o meu nome – contou ela sorrindo animada e vendo como Alicia também se alegrava com a notícia – Após isso pude ter acesso às contas do Rancho e precisei ir ao banco. Fiz questão de lhe trazer seu pagamento pessoalmente.
– Não precisava disso – falou Alicia, mas seu sorriso não parecia concordar – Poderia simplesmente ter feito uma transferência, meus dados bancários estão nos registros.
– Eu sei que estão – respondeu Maia dando de ombros e colocando a mão no bolso de trás de seus jeans puxando um papel – Vim apenas lhe trazer o comprovante da transferência – falou ela estendendo o papel e fazendo a veterinária rir – Já estava na cidade, decidi que não faria mal vir lhe ver. Faz tempo que não conversamos pessoalmente.
A vontade de Alicia era abraçar Maia. Sua mente lhe recordava que a nova dona do Rancho estava apenas com saudades da nova e, provavelmente única, amida que tinha na cidade. Mas seu coração não conseguia não se aquecer e bater acelerado ao entender que Maia havia sentido falta da sua presença. Obviamente não tanta falta quando ela sentiu durante esses dias, mas ainda assim, havia sentido.
– Tivemos dias cheios eu e você – finalmente ela conseguiu algo a dizer, manteve o sorriso e continuou encarando os olhos verdes dos quais tanto sentiu falta – Além de que o Rancho é um pouco distante para uma simples visita.
– Não posso discordar – riu Maia recostando as costas contra o apoio da cadeira, seus joelhos estavam juntos e suas mãos sobre as coxas – Mas você terá motivos práticos em pouco tempo. Entrei em contato com a Associação dos Puro Sangue, precisava alterar a documentação de proprietário passando tudo para o meu nome também. Aproveitei e perguntei a respeito da documentação para o registro do potro de Lua. Quem resolvia todas essas questões era meu tio-avô então Giulio não tinha muita noção também.
– Eu tenho que ir fazer a resenha dele não é? Para que você envie os documentos para o registro de nascimento – interrompeu a veterinária se recordando das outras vezes em que o velho Augustus registrou animais.
– Sim, mas, além disso, por algum motivo eles resolveram pedir um teste de DNA para comprovar a paternidade do garanhão. Preciso enviar uma amostra do potro e também uma das doses que ainda temos do sêmen para realização do teste. Eu consegui uma autorização para que você colete a amostra do potro, mas agora preciso descobrir como fazer o transporte do sêmen congelado – contou Maia cruzando os dedos sobre seu colo.
– Não é muito comum inseminação de éguas com sêmen congelado – falou a veterinária – Talvez por isso o receio deles em aceitar o registro do potro. Aliás, você precisa pensar em um nome para ele. Precisa ser nomeado antes da emissão do registro definitivo.
– Eu não sabia disso, achei que poderia fazer a qualquer outro momento – falou Maia soltando um suspiro.
– Quanto a dose que precisa enviar, eu vou ver o que consigo com alguns clientes. Os produtores de leite usam muito sêmen sexado e, quase sempre, não compram muitas doses. Devo conseguir um dos botijões de nitrogênio pequenos, você só teria que alugar deles e comprar o nitrogênio do transporte – falou a veterinária pensando nas leiterias da região que haviam feito esse tipo de pedido recentemente, os proprietários costumavam deixar a clínica como endereço de entrega porque nem sempre as estradas estavam boas o bastante.
– Eu sabia que conversando com você encontraria todas as respostas que precisava – disse Maia com um sorriso satisfeito encarando os olhos castanhos que estavam um pouco escuros pela iluminação da sala não ser direta.
– Estarei sempre a disposição para ajudar – Alicia devolveu o sorriso se perdendo por alguns segundos nos olhos verdes que lhe encaravam – Posso ir amanhã ver isso da amostra de DNA e da resenha do potro – ela falou se levantando, naquele instante a vontade de tocar Maia havia chegado a níveis extremos e ela precisava se afastar para não cair na tentação de fazê-lo – Vou fazer algumas ligações e até amanhã já devo ter conseguido algum botijão de transporte pra você – ela completou chegando perto de um armário de arquivos e abrindo-os.
Antes que Maia respondesse algo uma batida na porta se fez presente e Alicia saiu de perto dos arquivos para ver quem era. Encontrou sua mãe com uma bandeja, duas xícaras e uma garrafa pequena de café. Estreitou seus olhos ao ver o sorriso no rosto de Dona Marta, um sorriso divertido e que parecia lhe dizer: ‘achou mesmo que eu não ficaria sabendo que ela está aqui?’. Rolou os olhos deixando a mãe passar e tornando a fechar a porta.
– Boa tarde, senhorita Almeida – disse Marta entrando e caminhando em direção a mesa – Talitha me disse que tínhamos visitas inesperadas e, como conheço a filha que tenho, sabia que ela não se lembraria de oferecer nada. Trouxe um café feito agora para vocês e alguns biscoitos.
Maia ficou claramente surpresa e agarrou sua muleta se apoiando a ela para levantar e cumprimentar a senhora que entrava. Compreendendo pelas frases dela, que era mãe de Alicia.
– É um prazer conhece-la, senhora – disse a mais nova abrindo um sorriso gentil que foi claramente analisado pela mais velha – Não havia necessidade de me oferecer nada, é muita gentileza da sua parte.
– Marta, pode me chamar de Marta – disse ela se aproximando e segurando a mão que Maia desajeitadamente estendeu após passar a muleta para o lado esquerdo, mas Dona Marta apenas segurou a mão dela para tirá-la do meio e segurar os ombros da jovem para deixar um beijo em cada bochecha da mesma – Alicia fala muito bem de você.
– Obrigada pelo café, mãe – disse Alicia soltando um suspiro contido.
O rosto da veterinária havia ganhado uma coloração avermelhada difícil de se disfarçar e Maia segurou o riso ao notar. Dona Marta não ficou muito tempo, fez algumas perguntas à Maia, observou muito bem a moça e se retirou com um sorriso indecifrável. As duas acabaram por tomar uma xícara de café e comer alguns biscoitos, mas a conversa se desviou do assunto profissional e se resumiu a Maia perguntando sobre Dona Marta e a vida de Alicia ali. A veterinária se sentia um tanto desconfortável ainda, mas tentava não transparecer. Ainda sentia a necessidade de tocar Maia, mas mantinha suas mãos na xícara para não correr o risco. O celular da mais nova vibrou em seu bolso e ela o puxou para fora lendo a mensagem de Carlos.
– Carlos terminou de pegar o que precisava na cidade – disse ela com um suspiro descontente – Vim com Giulio, mas ele teve que voltar e decidi voltar com Carlos para vir até aqui.
– Já vai ter que ir embora? – perguntou a veterinária tentando disfarçar seu descontentamento, mas via na expressão de Maia que ela também não estava tão contente com ter que voltar.
– Infelizmente sim – falou a mais nova se levantando – Ele vai estar aqui na frente em alguns minutos.
– Bom, acho que nos vemos amanhã então – falou Alicia levantando também e sorrindo.
– Sim – concordou Maia encarando a mais alta.
Havia algo faltando para a mais nova e ela não conseguia entender o que. Tinha passado a semana toda pensando em ver a veterinária e, estando ali, ainda sentia falta de algo que não sabia definir. A troca de olhares durou algum tempo, Maia via carinho no olhar de Alicia, e algo mais. Com um suspiro a veterinária cortou a troca de olhares retirando o jaleco e colocando-o sobre a cadeira dizendo que a acompanharia até a porta da frente. Viu a mais velha se aproximar e deixou que sua mão esquerda se colocasse em volta do braço direito da veterinária.
As duas foram caminhando lentamente até a porta de vidro da frente da clínica. Passaram pela recepção onde ela se despediu de Talitha que lançou olhares avaliativos sobre as duas quando passaram. Chegaram do lado de fora e a caminhonete de Carlos foi vista mais ao longe na rua vindo devagar. Elas se encararam novamente e sorriram, então Maia se aproximou passando um braço em volta da cintura da veterinária e a abraçando como podia sem soltar a muleta.
Automaticamente Alicia envolveu os ombros da menor apertando-a de leve e respirando profundamente para sentir o cheiro de Maia. A própria Maia não sabia porque estava se despedindo da veterinária com um abraço, nunca havia sido o tipo de pessoa que abraçava os outros. Mas seguiu suas vontades e, ao sentir os braços de Alicia a sua volta se deu conta do que estava, todo aquele tempo, faltando. Faltava aquela sensação de segurança por estar perto da mais velha.
Mas elas logo se separaram e a caminhonete estacionou em frente a clínica. Alicia abriu a porta e ajudou Maia a se sentar do lado do passageiro segurando a muleta da mais nova enquanto ela prendia o cinto de segurança e, depois, fechando a porta do veículo. Alicia ficou na calçada enquanto o carro se afastava e soltou um suspiro quando eles viraram a primeira esquina sumindo de vista. Mas seu coração bateu mais rápido ao se lembrar de que a veria de novo no dia seguinte.
Não,Cara! Voce esta abusando da nossa paciência! só pode! Maia vai na clinica, conhece a Talitha e a mãe da Alicia, mas nao rola nem um beijo!
Você nunca foi de torturar a suas leitoras assim! 🙁
vou ate dormir depois desse capitulo,kkk!
Beijos
Fique na paz
Mascoty
Não rola beijo kkkkk, tenha paciência com elas (e cmg tbm pfvrzinho).
Espero que tenha dormido bem kkkk
Bjs
;]
Não sei mais nem o que falar desse casal rsrs
Belo capítulo!! Parabéns pela sutileza e sensibilidade ao escrever!
Obrigada. E estou adorando essa lentidão delas kkkkkk, parece deixar tudo mais intenso
;]