A manhã da veterinária começou muito cedo, 4h50 da manhã exatamente. Foi a hora em que ela acordou e pulou da cama, havia sonhado com Maia. No sonho ela voltava a carregar a mais nova nos braços e elas estavam em algum lugar do Rancho aproveitando um dia de sol fraco e agradável. As imagens que sua mente criativa havia criado durante a inconsciência a deixaram instável e agitada. Vestiu um moletom sem zíper e com capuz, calças de corrida e calçou os tênis. Saiu pelo portão da garagem às cinco da manhã e correu, correu até sentir as pernas doerem e, só então, voltou para casa.
Passou pela cozinha sem parar indo para o corredor, apenas disse um bom dia para a mãe e Talitha que havia chegado muito cedo naquela segunda-feira. Foi até seu quarto, tomou banho e lavou os cabelos, secou-os da melhor forma possível com a toalha e refez o curativo no ombro. Penteou os fios escuros e se encarou no espelho. Olheiras e uma expressão de cansaço foi o que enxergou em seu reflexo. Soltou um suspiro e fez algo que odiava fazer, puxou um pequeno estojo com o que tinha de maquiagem. Corretivo e base apenas, escondendo as olheiras de forma discreta, era tudo o que poderia fazer para disfarçar seu estado.
Vestiu-se com um jeans mais fino, o dia não estava tão frio. Colocou uma blusa polo branca deixando os botões abertos e ajeitando a gola enquanto saia do quarto. Chegou a cozinha com um sorriso no rosto, deu um beijo no rosto da mãe e outro nos cabelos de Talitha que estava com a boca cheia de bolo antes de se sentar servindo seu café. As outras duas mulheres notaram os olhos cansados e tristes, mas decidiram não falar nada. Ainda, porque cada uma teria seu momento de interrogar a veterinária. Alicia comeu menos do que o normal, mas tentou não deixar as duas perceberem e, assim que terminou, pegou apenas uma xícara de café e disse que iria organizar seu consultório.
As duas mulheres se olharam quando ela saiu da cozinha e a mais nova suspirou se levantando para ir atrás da amiga. Era a hora dela conversar com a veterinária. Encontrou a amiga com a porta do consultório fechada, um claro sinal de que Alicia não pretendia ter nenhuma conversa, mas ela tinha que forçar o diálogo. Sabia que se não forçasse ela a colocar aqueles sentimentos e pensamentos para fora Alicia acabaria se afogando em si mesma. Guardar sentimentos sempre foi um defeito da veterinária que consumava, sempre, lhe trazer problemas. Abriu a porta lentamente, sem bater antes. Colocou a cabeça para dentro e encontrou a mais velha sentada atrás de sua mesa no fundo da sala, o notebook no canto ligado e a caneca de café ao lado do mouse.
– Sabe que não vai fugir de mim, não sabe? – perguntou a garota entrando sem pedir permissão e vendo os olhos da veterinária rolarem.
– Eu tenho coisas para fazer, Talitha – respondeu ela com voz cansada – Acabei de ver alguns artigos novos que preciso ler.
– Isso pode esperar – respondeu ela se sentando numa das duas cadeiras do outro lado da mesa – O que aconteceu no Rancho? – ela perguntou sem rodeios e viu os ombros da veterinária caírem e ela se encolher em sua cadeira.
– Eu realmente não quero falar sobre isso, Litha – ela respondeu com um suspiro cansado fechando o notebook.
As duas se encararam, os olhos focados uns nos outros. Conversavam naquele olhar, se conheciam bem demais para precisarem de palavras para tudo. A mais nova se levantou e deu a volta na mesa, viu o sofrimento no olhar da amiga e correu para levar seus braços até ela. Parou ao lado da cadeira abraçando os ombros e a cabeça de Alicia que deixou seus braços rodearem a cintura da mais nova que começou um leve carinho em seus cabelos molhados.
– Eu tentei, Talitha, eu juro que tentei – sussurrou a veterinária se agarrando a amiga – Mas foi impossível não me apaixonar por ela. Deus, qualquer um se apaixonaria por aquela mulher – falou com um riso fraco.
– Qualquer um se apaixonaria por você também – respondeu a mais nova com um sorriso triste ao ver a amiga sofrer – Aliás, só não me apaixono porque você é minha irmã de coração e porque gosto mesmo é de homens – brincou conseguindo tirar uma risada da veterinária.
– Ela é inteligente – murmurou Alicia – Aprendeu tudo o que ensinei em questão de minutos. No domingo já estava praticamente selecionando os potros sozinha. E ela é tão forte Litha, tão forte – continuou contando ainda recebendo o carinho em seus cabelos – Algo aconteceu com ela, só não sei o que foi. Ela não caminha direito, tem dificuldade com as pernas, às vezes tem que sair com uma muleta. Ela tem que andar devagar e as vezes parece sentir dor ao caminhar, mas mesmo assim não para. Foi comigo todos os dias, não saiu dos estábulos nem do redondel em momento nenhum, ficou lá firme olhando como tudo funcionava. E estava sempre com uma expressão calma e tranquila, feliz até quando entendia o que eu explicava. Não reclamou de nada em momento algum. E aqueles olhos ficavam tão lindos com a luz do sol de fim de tarde contra eles. Eu tinha que me policiar para não esquecer os potros e ficar só olhando pra ela concentrada nas fichas.
– Aconteceu alguma coisa séria lá não foi? – sussurrou Talitha quando sentiu a respiração entrecortada da veterinária, como se ela estivesse se segurando para não chorar, e isso lhe partia o coração.
– Ontem, quando acabamos, era bem cedo ainda – começou a contar – Ela disse que não sabia montar e eu a convenci a aprender. Eduardo selou uma égua bem calma e eu a coloquei em cima. O sorriso dela era tão lindo. A felicidade tão clara no rosto dela. Foi a primeira vez que vi ela esquecer das pernas, porque durante o dia ela estava sempre esfregando-as e alongando-as ou apenas se movendo desconfortável. Mas lá em cima não, ela estava tão feliz. Mas então o irmão dela chegou. Um babaca, chegou gritando e assustou Angel e Maia. Ela quase caiu de cima da sela. Achei que meu coração ia parar, fiquei completamente desesperada. Quando achei que ela pudesse se machucar foi como se eu peito estivesse destruído. Ela ficou tão assustada que, quando consegui controlar Angel, ela não conseguia soltar a égua. E eu só respirei aliviada quando a puxei para os meus braços. Eu nunca deixaria nada atingi-la enquanto estivesse ali, nem que fosse o cavalo mais selvagem, muito menos o irmão imbecil que quis armar um circo sobre o fato dela estar aprendendo a montar. Tirei ela de lá nos meus braços Talitha, carregando-a e ela pareceu tão frágil e pequena que eu queria ser capaz de protege-la do mundo inteiro. E ela se aconchegou ao meu peito, amiga – falou num sussurro soltando um suspiro sofrido e apertando mais a cintura da mais nova – O rosto dela no meu pescoço, a respiração dela na minha pele. Eu nunca vou consegui esquecer essas sensações. Da primeira vez que eu salvei um animal, era um gatinho, naquele dia eu senti em cada célula do meu corpo que aquele era o meu lugar, mas isso não chega nem perto do que senti quando Maia abraçou meu pescoço e se aconchegou ao meu peito colocando o rosto contra minha pele e se deixando ser carregada por mim. A sensação de pertencer aquele lugar, aquele momento, foi tão avassaladora que eu fiquei com medo que ela percebesse como meu coração estava maluco dentro do meu peito.
Talitha queria ter algo para dizer naquele momento que impedisse o que estava para acontecer, mas não conseguia. Não havia o que ser dito e as lágrimas teimosas começaram a escorrer pelo rosto da veterinária que terminou de contar o que havia acontecido com o irmão de Maia, omitindo a parte em que havia se machucado, mas falando sobre os olhares que trocou com a mais nova. E as lágrimas continuavam a cair vez ou outra, mas ela era teimosa também e tentava a todo custo segura-las.
– Esse irmão é um completo imbecil – falou Talitha vendo a amiga se afastar e passar os pulsos contra o rosto para limpar as lágrimas – Mas agora eu acho que entendo melhor sua admiração por essa mulher. O jeito que ela lidou com ele não é algo que qualquer pessoa teria conseguido.
– Eu realmente espero que ela o coloque para longe logo, não confio naquele homem perto dela – murmurou Alicia se levantando e soltando um suspiro pesado.
– Eu ainda não concordo com essa sua ideia de continuar sofrendo calada – reclamou Talitha vendo-a se afastar da mesa – Uma hora, quando esse sentimento não sumir, você vai ter que contar a ela.
– Não acho isso, posso continuar pro resto da vida assim, Talitha – resmungou a veterinária – De que me adianta contar algo a ela? Vou apenas afastá-la. Prefiro ficar por perto como uma amiga e garantir que ela seja feliz aqui. Um dia sigo em frente, afinal, quem nunca teve um amor não correspondido que atire a primeira pedra, não é?
– Prefiro o refrão ‘Quem não tem teto de vidro que atire a primeira pedra’ – resmungou a mais nova – Apesar de que essa música também é tão velha quando o ditado – ela completou dando de ombros fazendo Alicia rir baixo – Mas tenho que fazer uma observação. Depois de conhecer mais sobre essa Maia, eu me pergunto mais curiosamente, como foi que você conseguiu namorar anos com o Lucas? Desculpa amiga, mas aquele seu ex era mais lerdo que tartaruga e mais tapado que uma porta. Completamente o oposto da Maia.
– Eu nunca amei o Lucas, você sabe disso – riu ela sem realmente poder discordar das observações da amiga – Aceitei o namoro apenas porque decidi tentar. Não é como se eu não gostasse de homens, eu gosto, até me sinto atraída por alguns, mas minha preferência sempre foi mulheres. Tanto que quando precisei voltar não foi difícil deixar ele. Até acho que o próprio Lucas não lutou mais pelo relacionamento por ver que nunca foi capaz de realmente me conquistar. Mas ele era um bom rapaz. E no fim, as coisas se ajeitam como tem que ser. Tenho Dona Marta e você, não preciso realmente de um namoro, nem nada do tipo.
– Mas mesmo assim não consegue não fazer o possível e o impossível para ter a amizade da Senhorita Almeida – murmurou a mais nova encarando a mais alta que deu de ombros com um sorriso cansado – Não posso me meter mais do que já me meti – ela começou caminhando para a porta do consultório – Mas ainda acho que você deveria estar tentando conquistar o coração da garota ao invés da amizade. Afinal, é isso o que você realmente gostaria de ter.
– Mas não sou eu quem decide de quem vai ter o coração dela – falou Alicia vendo a amiga abrir a porta e começar a sair – O que for para ser, será.
Durante a hora do almoço, enquanto ela descansava numa rede na varanda da parte de trás após comer, uma mensagem chegou em seu telefone. Foi impossível controlar o sorriso que surgiu nos lábios dela ao ver o nome de Maia. Ela contava que o irmão havia assinado o necessário e embarcado de volta para Minas, que ela teria que esperar mais alguns dias para oficializar tudo e que no final da semana seria realmente a única dona do Rancho. Dizia também que estava muito bem, agradeceu por tudo o que ela havia feito no dia anterior e, por fim, perguntava como estava o corte no ombro.
Com o mesmo sorriso ainda no rosto ela respondeu que estava bem e o corte já estava cicatrizando perfeitamente. Disse que ficava aliviada por Giovani não estar mais lá e feliz pela notícia sobre o Rancho. Iria esperar a resposta dela, mas Talitha a chamou para um atendimento e ela só teve tempo de avisar que iria atender um paciente antes de guardar o celular de novo. No fim do dia a veterinária achou que enfrentaria outra conversa daquelas durante o jantar com sua mãe, mas não foi o que aconteceu. Dona Marta encarou a filha o jantar inteiro, mas em nenhum momento pareceu disposta a iniciar a tal conversa. No fundo ela sabia que não adiantaria argumentar com a filha e, por isso, se mantinha com o olhar de repreensão.
No fim, ela também concordava com o que Alicia tinha dito no fim da conversa com Talitha. Dona Marta também sabia e acreditava que o que tivesse de acontecer aconteceria de uma forma ou outra. Apenas esperava que a filha não sofresse demais.
N/A: Olha quem voltou nessa agradável segunda =]
Vim terminar de curar a ressaca de Enem de algumas pessoas (me incluindo principalmente)? Pois sim e não kkkkkk
Minhas pessoinhas lindas, uma amiga minha está participando de um concurso e eu decidi ajudar e pedir a cooperação de vocês.
Quem tem instagram passa lá e curta essa foto: https://www.instagram.com/p/BbcmUFwj1TL/?r=wa1 (quem não tinha, assim como eu até a pouco, não precisa, mas se quiser pode criar um kkkkkk).
E depois comentem que vieram por um pedido da meu para eu saber.
Como recompensa, se vocês aparecerem lá, eu trago o capítulo 29 e o 30 juntos até amanhã.
(Spoiler de que Maia vai até a cidade conhecer certa clínica hehe)
Espero contar com vocês
Bjs
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Não,! Essa atitude de Alicia de querer maia so como amiga e nem tentar nada é que me deixa com raiva!
Será que ela não vê que Maia esta correspondendo?!
Me diz uma coisa, esse beijo delas rola antes dos 40 capítulos?! kkk
bjs
Mascoty
Ai, eu não concordo, mas ela tem motivos para temer (mas ela foi realmente covarde tomando essa decisão).
Esse beijo não rola antes do cap 40 kkkkkkkkk Está avisada
Bjs
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Pedido feito, pedido atendido.
História viciante, viu!
Já na espera dos próximos capítulos…
Muito obrigada =]
Próximos saindo
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Missão dada. Missão cumprida! Hahahaha
Cada vez melhor essa história!
Minhas leitoras estão eficientes mesmo kkkk Adorei, preciso escrever mais rápido kkkk
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Pronto, missão cumprida… Foto curtida e divulgada! Aguardando a recompensa, rsrs.
Recompensa está para sair kkkkkk
E muito obrigada pela ajuda =]
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Gente, que autora inspirada nesta segundona brava! Adoro! Obrigada pela surpresa!
Ai, coitada da Alícia, nessa “sofrência”… O babado precisa começar a desenrolar senão ela vai infartar, coitada!
Inspirada mesmo kkkkk
Mas a sofrência da Alicia vai durar mais um pouquinho (tadinha)
Entretanto as coisas vão começar a acontecer agora hehe
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